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CAPÍTULO IV: REVELANDO OS POLICIAIS

4.8 DITADURA MILITAR

4.8.1 Significado da Ditadura Militar para o Brasil

Tabela 23

Qual o significado que a ditadura

militar teve para o Brasil? OFICIAIS% PRAÇAS% TOTAL%

Significado positivo 20 0 15 Significado negativo 40 100 54 Ambos 30 0 23 Outros 10 0 8 TOTAL 100% 100% 100% Gráfico 34 Gráfico 35 Qual o significado que a ditadura militar teve para o

Brasil? OFICIAIS 20% 40% 30% 10% Significado positivo Significado negativo Ambos Outros

Qual o significado que a ditadura militar teve para o Brasil? PRAÇAS 0% 100% 0% 0% Significado positivo Significado negativo Ambos Outros

[...] Houve muitos estudiosos que já dissecaram o assunto, sobre os diversos significados que a Ditadura teve para o povo brasileiro. Para mim, uma em especial eu ressalto: o significado moral. O país vivia e ainda vive sobre turbulência política. Via-se e continua se vendo acirrada disputa pelo poder. Disputa, muitas vezes veiculada, desonesta. Muitos escândalos que promoveram a completa falência da imagem do homem representante público político. Quase ninguém confia no que eles pregam. Há sempre desconfiança. E por ocasião da Revolução Militar, fez-se o povo brasileiro refletir sobre a moral. Boa ou má gestão não importa, o que importa é colocar na mesma balança ditadura/revolução de um lado e democracia do outro, percebendo que tanto em uma quanto na outra houve desvios de conduta, que afogam a esperança dos brasileiros em ver representantes políticos austeros. Que provocam no povo a reflexão sobre suas próprias condutas, sobre suas raízes, sobre as justificativas plausíveis a tanta desonestidade. Que, quiçá, encaminhe-nos a uma nova revolução, mas uma revolução moral.

Nessa „fala‟, o entrevistado apontou a importância da revolução moral e pelo menos duas

dimensões para pensar a moralidade, relacionando o eu consigo mesmo e o eu com o outro, e nas duas dimensões está intrínseca a necessidade de reflexão e de percepção do ser como ser no

mundo. Situo Arendt (2004, p.140), em todas as línguas “[...] o termo consciência significa

originalmente não a faculdade de conhecer e julgar o certo e o errado, mas o que agora chamamos consciência de si (consciousness), isto é, a faculdade pela qual conhecemos a nós mesmos, nos tornou cientes de nós mesmos.

Lembro um trecho do discurso de Ulysses Guimarães em 1978: “[...] Nós do MDB

sabemos que escola e faculdade são para dar o diploma, mas somente o caráter é que faz o homem. E o jovem, sem liberdade e democracia, não será homem para servir a si, aos seus e à

sociedade”.

A ditadura militar para os 100% das praças pesquisados teve um significado negativo. Torna-se prudente e preciso lembrar a violência da ditadura brasileira, onde há liberdade foi tolhida por meio de dura repressão contra muitas pessoas que quiseram pensar a realidade brasileira e o seu papel na história. Alguns entrevistados registram essa dimensão nas suas falas:

[...] De repressão, de impunidade de humilhação e principalmente de domínio do poder. (PM 03- CB Feminino -17 anos de serviço).

[...] Muito negativo, ainda hoje a sociedade tem medo e repúdio dos militares e tentam nos ridicularizar, não sabe o quanto nos arriscamos para que não sejam vitimas da criminalidade.

(PM 04 - SD Feminino - 03 anos e 07 meses de serviço).

4.8.2 Influência do período ditatorial para a polícia brasileira

Tabela 24

Qual a influência do período

ditatorial para a Polícia Brasileira? OFICIAIS% PRAÇAS% TOTAL%

Militarismo 10 0 7 Ações Violentas 10 67 23 Continuidade Autoritária 60 33 54 Profissionalização 10 0 8 Outros 10 0 8 TOT 100% 100% 100%

Gráfico 36 Gráfico 37

Qual a influência do período ditatorial para a Polícia Brasileira? OFICIAIS 10% 10% 60% 10% 10% Militarismo Ações Violentas Continuidade Autoritária Profissionalização Outros

Qual a influência do período ditatorial para a Polícia Brasileira? PRAÇAS 0% 67% 33% 0% 0% Militarismo Ações Violentas Continuidade Autoritária Profissionalização Outros

[...] Esquecimento do verdadeiro sentido e missão do trabalho policial, desvirtuamento desde a ação de planejar/pensar (que se deixou de fazer) até a de executar a tarefa de proteger as pessoas, acima da tarefa de proteger o estado.

(PM 01- MAJ - 16 anos de serviço).

A persistência da violência na ação policial é associada à influência do período ditatorial para as praças, enquanto para os oficiais persistem práticas autoritárias na maneira de administrar a polícia. Vale lembrar a mudança de ação da polícia militar nesse período, quando uma tropa

prioritariamente aquartelada e só com treinamento militar é “colocada na rua”, ou seja, passa a ter

como atribuição a realização do policiamento ostensivo e realizar a manutenção da ordem pública.84

É importante registrar que no período da ditadura militar, o ensino e a instrução nas Polícias Militares eram controlados pelo Exército Brasileiro e, nesse período, prevalecia a Doutrina de Segurança Nacional.

Lembro os versos de Geraldo Vandré, em Para não dizer que não falei das flores:

Há soldados armados Amados ou não Quase todos perdidos De armas na mão

Nos quarteis lhes ensinam Uma antiga lição:

De morrer pela pátria E viver sem razão...

(Geraldo Vandré)85

84

Na constituição de 1988 ocorre a mudança de manutenção para preservação da ordem pública.

85

A doutrina de Segurança Nacional atribuía às Forças Armadas a função de combate, não apenas aos inimigos externos da nação, mas também aos seus supostos inimigos internos. O regime ditatorial de 1964 prendeu, torturou, baniu e assassinou inúmeros opositores: tanto os que aderiram à luta armada como forma de resistência quanto aqueles que se limitaram a fazer uso da palavra como instrumento de denúncia das não poucas arbitrariedades cometidas no período (MONDAINI, 2009).

Recorde que, no período ditatorial, as policiais militares assumem com exclusividade o policiamento ostensivo, seguindo os ensinamentos dos militares e, desde então, eles existem nas ações práticas desenvolvidas pelos PMs, como identifica uma entrevistada:

[...] Infelizmente algumas ações de certos policiais que atuam nas ruas nos remetem ao Período da ditadura militar.

(PM 03- Cabo PM Feminino-17 anos de serviço).

Fig. 11 – Despreparo Policial86

.

Como uma entrevistada responde como resquício da ditadura militar o seguinte

“aprendizado”:

[...] Que devemos oprimir e reprimir para sermos respeitados. (PM 04 - Soldado PM Feminino - 03 anos e 07 meses de serviço).

[...] Até hoje perdura na formação.

(PM 05- Capitão QOAPM, 31 anos, 03 meses e 26 dias).

86

Será que essa realidade Vai Passar?

Num tempo

Página infeliz da nossa história

Passagem desbotada na memória

Das nossas novas gerações

Dormia

A nossa pátria mãe tão distraída

Sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações87.

Cabe destacar que o marco repressivo perdura no Estado Brasileiro, desde a sua fundação como Estado Nacional, e as forças policiais sempre um pilar central nesta ação repressiva. Por meio dos estudos de Bretas (1998), pode-se visualizar como ocorreu o processo de construção e estruturação das forças policiais no Brasil e a sua relação com o contexto político nacional.

A construção do aparato estatal brasileiro no século XIX teve a elaboração de um sistema repressivo como um de seus pontos principais e uma observação mais cuidadosa de como se construiu o aparelho policial parece extremamente necessária e servirá para problematizar os modelos mais aceitos sobre a construção do Estado nacional brasileiro. Pois ao enfrentar as

dificuldades de recrutamento e disciplinarização dos agentes locais do Estado, “[...] os gestores

políticos tiveram de fazer concessões para tornar efetivo o funcionamento desse Estado, por onde se incorporaram elementos de favor que comprometeram qualquer projeto de implantação de uma

racionalidade estatal moderna” (BRETAS, 1998, p.231).

87

A composição musical de Vai Passar foi iniciada em 1983 e concluída em 1984. Disponível em: