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CAPÍTULO IV: REVELANDO OS POLICIAIS

4.6 DIREITOS HUMANOS

4.6.5 Respeito aos Direitos Humanos no Brasil

Você considera que os Direitos Humanos

são respeitados no Brasil? Comente OFICIAIS% PRAÇAS% TOTAL%

SIM 10 0 8

NÃO 90 100 92

TOTAL 100% 100% 100%

Gráfico 28 Gráfico 29

Você considera que os Direitos Humanos são respeitados no Brasil? OFICIAIS 10% 90% SIM NÃO

Você considera que os Direitos Humanos são respeitados no Brasil? PRAÇAS 0% 100% SIM NÃO

[...] Queremos que isso aconteça, mas em minha opinião os direitos humanos têm uma

longa historia de desrespeito, começando pela colonização do Brasil na época da escravidão.

(PM 03 - CB Feminino -17 anos de serviço).

[...] Não, porque ainda é um instrumento visto pelo estado como um intruso que veio para questionar suas ações especialmente quando violam os direitos individuais e coletivos do cidadão. É portanto um instrumento fortalecedor da democracia e isso implica em mudança cultural, o que , no meu entendimento envolve o fator geracional. (PM 02 - CEL RR - 23 anos de serviço).

Assim como na resposta anterior, nenhuma praça considera que, no Brasil, os direitos humanos são respeitados e, nesse ponto, há uma similitude com os oficiais, pois 90% considerou que os direitos humanos não são respeitados no Brasil.

Essa resposta remete a pergunta de Dahl (2009, p.75): “[...] a igualdade é óbvia?” Ele

ressalta que a ideia de que todos os homens (e mulheres) foram criados iguais não é nada evidente para a maioria das pessoas. Lembro que - apesar da Declaração da Independência dos

Estados Unidos, em 1977, declarar que “[...] todos os homens foram criados iguais e que todos

são dotados pelo Criador com certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a

busca da felicidade” - no mesmo período, os autores da Declaração deixaram de lado o fato que

muitos estavam excluídos destes direitos proclamados, entre eles: “[...] mulheres, escravos,

negros libertos e povos nativos”.

No Brasil, um traço marcante da história dos direitos humanos vincula-se à existência de descompasso, uma falta de sincronia entre aquilo que se encontra inscrito na ordem normativa e o que se apresenta no plano da realidade social, o que levou e continua a levar à construção e/ou legitimação da existência de duas nações, radicalmente diversas entre si, no interior de uma única

e mesma nação chamada Brasil. Isso dá vida à dicotomia de um “Brasil legal” e um “Brasil real”

(Mondaine, 2009), como expressa um pesquisado:

[...] Não, tudo é apenas exteriorizado na teoria e a prática não alcança a todos. (PM 04- SD- Fem - 03 anos e 07 meses de serviço).

Também dá forma a “[...] uma estranha relação entre um país avançado em termos legais,

de um lado, e outro que vive absolutamente à margem das conquistas obtidas no plano das

normas e das leis, de outro lado” (MONDAINI, 2009, p.13). Um Brasil uno e dividido pela linha

abissal, onde de uma lado prevalece a regulamentação e de outro a arbitrariedade, a violência e a opressão aspectos marcantes do jugo colonial.

4.7 DEMOCRACIA

4.7.1 Definição de democracia

Nas respostas a essa pergunta, identifiquei várias representações ou faces da democracia, tanto a sua abordagem clássica como poder que emana do povo, quanto a sua representação liberal mais conhecida e difundida de democracia representativa:

[...] Originalmente é o regime onde “o poder emana do povo” hoje é o “poder da representatividade” e as ações devem ser praticadas com base na ordem política, jurídica e social, o que garante a legitimidade.

(PM 02 - CEL RR - 23 anos de serviço).

[...] É poder particular efetivamente das decisões tomadas pelos nossos governantes e lideranças.

(PM 03- CB Feminino-17 anos de serviço).

Lembro a afirmativa de Dahl (2009, p.50) sobre as oportunidades que a democracia

proporciona: “[...] 1. Participação efetiva. 2. Igualdade de voto. 3. Aquisição de entendimento

esclarecido. 4. Exercer o controle definitivo do planejamento e 5. Inclusão de adultos”. E apesar das falhas e das deficiências de viabilizar praticamente a democracia, ela traz benefícios que a torna mais desejável que qualquer alternativa viável a ela:

A democracia ajuda a impedir o governo de autocratas cruéis e perversos.

A democracia garanta aos cidadãos uma série de direitos fundamentais que os sistemas não-democráticos não proporcionam (nem podem proporcionar).

A democracia assegura aos cidadãos uma liberdade individual mais mapla que qualquer alternativa viável.

A democracia ajuda a proteger os direitos fundamentais das pessoas.

Apenas um governo democrático pode proporcionar uma oportunidade máxima para os indivíduos exercitarem a liberdade de autodeterminação – ou seja, viverem sob leis de sua própria escolha.

Somente um governo democrático pode proporcionar uma oportunidade máxima do exercício da responsabilidade moral.

A democracia promove o desenvolvimento humano mais plenamente que qualquer sistema viável.

Apenas um governo democrático pode promover um grau relativamente alto de igualdade política.

As modernas democracias representativas não lutam umas contra as outras.

Os países com governos democráticos tendem a ser mais prósperos que os países com governos não-democráticos. (DAHL, 2009, p. 74).

4.7.2 Democracia no Brasil

Tabela 21

Para você o Brasil vive numa democracia? OFICIAIS% PRAÇAS% TOTAL%

SIM 50 0 39

NÃO 40 67 46

OUTROS 10 33 15

TOTAL 100% 100% 100%

Gráfico 30 Gráfico 31

Para você o Brasil vive numa democracia? OFICIAIS 50% 40% 10% SIM NÃO OUTROS

Para você o Brasil vive numa democracia? PRAÇAS 0% 67% 33% SIM NÃO OUTROS

Enquanto 50% dos oficiais identificaram que o Brasil vive numa democracia, 67% dos

praças consideram que não, conforme ilustro com as „falas‟:

[...] Sim, sem dúvida. Aprendendo mais e mais sobre ela e aperfeiçoando-a, o Brasil vive sim a sua Democracia. (grifos meus).

(PM 01 – MAJ – 16 anos de serviço).

[...] Do ponto de vista de outros momentos históricos vive, mas como disse ainda há equívocos à respeito do que é democracia, consequentemente as atitudes, os interesses individuais, advindos da influencia do sistema em que vivemos, acabam por afetar essa questão.

(PM 06 – SGT – Feminino - 14 anos e 7 meses de serviço).

[...] Na realidade, não. Porque há muitas coisas que são decididas “na calada da noite”. (PM 03 - CB – Feminino - 17 anos de serviço).

[...] Não, apesar das melhorias ocorridas nos últimos anos, ainda há muito a ser feito, em todos os aspectos: social, legal, respeito aos direitos humanos.

Dahl (2009, p.42) ensina que “[...] em todos os países democráticos há uma grande lacuna

entre a democracia real e a democracia ideal”. E no Brasil, assim como em muitos outros países da América Latina, há um enorme gap entre o que está escrito na lei e a realidade brutal da aplicação da lei. A Constituição do Brasil, promulgada em 1988, conseguiu incorporar muitos dos direitos individuais que foram violados sistematicamente no período da ditadura militar. Os direitos à vida, à liberdade e à integridade pessoal foram reconhecidos, e a tortura e a discriminação racial são consideradas crimes. No entanto, apesar do reconhecimento formal desses direitos, a violência oficial continua (PINHEIRO, 1997).

Esse gap entre a lei e a realidade é a raiz do fracasso das democracias latino-americanas consolidarem um dos grandes marcos de governo democrático: o controle legítimo da violência. É esse fracasso também que explica a persistência da violência endêmica em muitos países da região. Por um lado, a violência usada pelas elites como forma de manter a ordem social – a tortura e a detenção arbitrária continuam a caracterizar o comportamento policial em países como o Brasil. E devido a tais atos oficiais de violência, gozam de uma ampla impunidade, e o comportamento policial arbitrário continua fora do debate. Por outro lado, o crime violento e a delinquência, também aumentaram na América Latina, particularmente nos anos 80 e 90 (PINHEIRO, 1997)