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CAPÍTULO IV: REVELANDO OS POLICIAIS

4.6 DIREITOS HUMANOS

4.6.1 Significado dos Direitos Humanos

Tabela 14

O que significa Direitos

Humanos para você? OFICIAIS% PRAÇAS%

Tem significado positivo 50 100

Tem significado negativo 30 0

Outros 20 0

TOTAL 100% 100%

Gráfico 20 Gráfico 21

O que significa Direitos Humanos para você? OFICIAIS 50% 30% 20% Tem significado positivo Tem significado negativo Outros

O que significa Direitos Humanos para você? PRAÇAS 100% 0% 0% Tem significado positivo Tem significado negativo Outros [...] Uma bússola.

(PM 13 - MAJ - 15 anos de serviço).

[...] Significa a garantia da fiscalização e da proteção dos direitos individuais e coletivos do cidadão especialmente quando o estado não assume essa responsabilidade. Preservar a vida.

(PM 02 – CEL PM RR - 23 anos de serviço).

[...] Liberdade individual e respeito aos direitos do outro, como forma de praticar a igualdade.

(PM 04- SD- 3 anos e 7 meses de serviço)..

Nessa questão, 100% das praças atribuíram um sentido positivo aos direitos humanos, enquanto que para os oficiais, mesmo prevalecendo o sentido positivo, as variações são mais difusas.

Sobre Direitos Humanos, considero importante ampliar o foco e situar que no contexto mundial, as leis antiterroristas pós-11 de setembro têm causado grande impacto nos direitos humanos, provocando um esvaziamento do conteúdo civil e político dos direitos e garantias

básicas das Constituições nacionais, porém sem a sua suspensão formal, “[...] emerge uma nova

forma de Estado, o Estado de exceção, que, contrariamente às antigas formas de Estado de sítio ou de Estado de emergência, restringe os direitos democráticos sob o pretexto da sua salvaguarda ou mesmo expansão78” (SANTOS, 2009, p.14).

Nesse panorama parece que a “[...] modernidade ocidental só poderá expandir-se globalmente na medida em que viole todos os princípios sobre os quais fez assentar a

legitimidade histórica do paradigma da regulação/emancipação deste lado da linha”. Direitos

humanos são, desta forma, violados para poderem ser defendidos, a democracia é destruída para garantir a sua salvaguarda e a vida é eliminada em nome da sua preservação. Linhas abissais são traçadas tanto no sentido literal como metafórico. No sentido literal, estas são as linhas que “[...] definem as fronteiras como vedações e campos de morte, dividindo as cidades em zonas civilizadas (gated communities, em número sempre crescente) e zonas selvagens, e prisões entre locais de detenção legal e locais de destruição brutal e sem lei da vida” (SANTOS, 2009, p.14- 15).

É importante dizer que direitos humanos não significam assistencialismo, filantropia ou caridade. Os direitos humanos servem para EMPODERAR as pessoas, ou seja, fazer com que elas sejam as donas de suas próprias vidas para fazerem o que quiser delas – e não ficarem apenas

como vítimas que aguardam esmolas. As pessoas devem ser as protagonistas, os “atores e atrizes principais” das suas próprias vidas. Esse EMPODERAMENTO significa, principalmente, que as pessoas não podem ficar esperando que um salvador da pátria chegue para “conceder” os direitos

humanos. A sociedade precisa se organizar para reivindicar seus direitos humanos, seja por meio das associações de bairro, sindicatos ou até partidos políticos ou ONGs.79

[...] Não existe Direitos Humanos principalmente para nós. (PM 05 - CAP QOAPM, 31 anos, 03 meses e 26 dias de serviço).

78

Santos (2009, p.14) utiliza o conceito de Estado de exceção para expressar a condição jurídico-política na qual a erosão dos direitos civis e políticos ocorre, abaixo do radar da Constituição, isto é, sem a suspensão desses direitos, como acontece quando é declarado o Estado de emergência.

79

Baseado no módulo 1 do Curso de Direitos Humanos e Mediação de Conflitos, promovido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

[...] É uma necessidade, mas cercada de hipocrisia. De “boa vontade” o inferno esta cheio. Mas é verdade, é muita hipocrisia em qualquer troca de tiros haver os “defensores” dos direitos humanos quando tomba um marginal e não tem nada a ver. O policial nesses casos age em legítima defesa, pois não somos pagos para morrer e sim “arriscar a própria vida” e, nesses termos, que vença o melhor. É impossível ver em todos os marginais o grande problema social que assola o país, onde a condição de pobreza seja determinante para se torna criminoso, bandido, marginal. Contudo, prender alguém que se entregou a continuar agredindo-o, submetendo à violência é covardia desnecessária, além de brutalizar o serviço, acaba com o policial por dentro, pois se iguala ao bandido. Digo também que é hipocrisia porque na minha polícia esse programa não foi levado a sério, algumas pessoas foram qualificadas, houve certo investimento e multiplicação e parou ninguém explica porque parou, nem se vai continuar algum dia e, salvo engano, isso também era critério para receber viaturas e armamentos da SENASP, por isso o investimento.

(PM 07 – CAP - 15 anos de serviço).

Essa dimensão de empoderamento ainda está enfraquecida no meio policial, e circula a

noção que “os direitos humanos” deveriam ver mais a situação dos policiais, geralmente

referindo-se as entidades e as organizações não governamentais de direitos humanos, que desde a abertura democrática tiveram uma atuação marcante em denunciar os abusos cometidos pelo Estado, por meio seu aparato repressivo, no caso em estudo da polícia. Isso com o foco exclusivo em denunciar as violações, ficam obscurecidos os seus mecanismos de produção, entre eles, as violações de direitos que ocorrem no meio policial, desde o direito a uma carga horária de trabalho definida como o da licença-maternidade, que já foi exemplificado nesta tese.

Logo, torna-se necessário um duplo repensar, tanto das práticas das Organizações Não Governamentais de Direitos Humanos centradas nos aspectos denúncias, quanto dos policiais de que ter direitos humanos é se empoderar e ser protagonista.

Concordo que ter direitos humanos significa assumir o controle de sua própria vida, como também significa trabalhar muito, organizar a sua comunidade, seus companheiros de trabalho, exigir políticas públicas que atendam seus direitos. Significa exigir a realização dos direitos que o Governo é obrigado a cumprir e também cooperar, mas principalmente significa sermos pessoas independentes e autônomas, que sabem viver em sociedade, promover a igualdade, mas sabem respeitar as diferenças. São ideais como esse que a Declaração Universal dos Direitos Humanos procurou resgatar, em 1948. Passados 60 anos, ainda se está muito longe de realizar tudo o que foi contemplado pela Declaração Universal, mas a criação desse documento foi um passo muito importante para a realização dos direitos humanos80.

80

[...] O ser humano vem buscando desde sua origem satisfazer seus desejos. Talvez isso nunca tenha fim. Assim ocorre nas diversas civilizações. Busca-se sempre mais liberdade e direitos. Porém, o que para algumas culturas é normal e aceitável, a outras não se permite. Diante desse contexto, o ser humano provocou e enfrentou diversas revoluções, a fim, sempre, de garantir novos direitos. O que se tem hoje, deve ser resguardado, protegido, cuidado, enaltecido, pois certamente, muitos se sacrificaram para consegui-los e garanti-los. O cuidado que se deve ter, é somente quanto ao fato de não se ferir tradições de povos e comunidades que convivem muito bem com práticas ou princípios que não achamos certo, mas que suas culturas permitem.

(PM 01 – MAJ – 16 anos de serviço).

4.6.2 Atividade policial e Direitos Humanos

Tabela 15

Qual sua opinião sobre atividade

policial X direitos humanos? OFICIAIS% PRAÇAS% TOTAL%

Associáveis 52 25 44

Desassociáveis 35 58 42

Outros 13 17 14

TOTAL 100% 100% 100%

Gráfico 22 Gráfico 23

Qual sua opinião sobre atividade policial X direitos humanos? OFICIAIS 52% 35% 13% Associavéis Desassociavéis Outros

Qual sua opinião sobre atividade policial X direitos humanos? PRAÇAS 25% 58% 17% Associavéis Desassociavéis Outros

[...] Relação cultural incipiente por falta de compreensão e, portanto, completa ignorância por parte dos agentes praticantes da atividade policial no que diz respeito a aplicação dos direitos humanos. Não sabem o significado de polícia.

(PM 02 – CEL RR – 23 anos de serviço).

[...] No que pese os direitos humanos, a atividade policial militar avançou um pouco esses últimos anos. Hoje já é tema nas escolas de formação, hoje já existe a preocupação dos comandantes quanto a essa questão. Ainda há equívocos quanto ao conceito, como ao entendimento e a prática desse entendimento dos policiais, sobretudo de muitos praças, que acham que direitos humanos estão relacionados à proteção de bandidos, mas muito se avançou.