• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS ACÓRDÃOS DO CONSELHO CONSTITUCIONAL

4.1 Acórdãos e Deliberações do Conselho Constitucional

A consolidação do Estado Democrático e de justiça social, conjugados com o crescimento da cultura política e jurídica em Moçambique, originou um desafio crescente pela justiça. Desde a Constituição de 1990, os efeitos desta crescente demanda pela justiça constitucional, no país, são bem visíveis e notórios.

Como se referiu no capítulo II, a corte constitucional moçambicana começou a funcionar autonomamente em 03 de novembro de 2003. Antes desta data, as suas funções foram transitoriamente exercidas pelo Tribunal Supremo (TS). Contudo, logo após a entrada da Constituição de 1990, que estabeleceu a República de Moçambique como um Estado independente, soberano, unitário, democrático e de justiça social. Esta constituição pôs fim ao sistema socialista, que vinha vigorando no país desde 1975 (data da independência). Os processos relacionados com a justiça constitucional começaram a dar entrada aos poucos, naquele órgão (ver Quadro 38).

Quadro 38 – Processos, Recursos Contenciosos Eleitorais e Ações de Fiscalização da Constitucionalidade.

Ano Natureza Número de processos que deram entrada

1990 Recurso Eleitoral 01

1999 Recurso Eleitoral 06

2000

Recurso Eleitoral 02

03 Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 01

2003 Recurso Eleitoral 11 12 Fiscalização da Constitucionalidade 01 2004 Recurso Eleitoral 11 14 Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 03

2005

Recurso Eleitoral 01

03 Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 02

2006 Fiscalização da Constitucionalidade 01

2007

Contencioso Relativo ao Mandato dos Deputados 01

05 Fiscalização da Constitucionalidade 04 2008 Recurso Eleitoral 05 12 Fiscalização da Constitucionalidade 06

Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 01

2009

Recurso Eleitoral 30

41 Fiscalização da Constitucionalidade 06

Impugnação de Deliberações dos Partidos Políticos 01 Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 05

2010 Fiscalização da Constitucionalidade 05

2011

Fiscalização da Constitucionalidade 01

02 Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 01

2012

Recurso Eleitoral 01

05 Fiscalização da Constitucionalidade 03

Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 01

2013 Recurso Eleitoral 03 05 Fiscalização da Constitucionalidade 02 2014 Recurso Eleitoral 13 19 Fiscalização da Constitucionalidade 03

Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 03

2015 Fiscalização da Constitucionalidade 07

08 Validação e Proclamação dos Resultados das Eleições 01

2016 Fiscalização da Constitucionalidade 06

207 Fiscalização da Constitucionalidade 09

TOTAL 157

Fonte: Elaboração própria com base em dados da pesquisa.

Como se vê no quadro acima (Quadro 38), no total foram analisadas 157 decisões. Estes dados foram descarregados no site oficial do Conselho Constitucional e são resultados dos processos analisados no período de 1999 até 2017. Os autores25 das ações ou recursos que resultaram destes acórdãos são: o presidente da República, os deputados da Assembleia da República; o Tribunal Supremo, o Procurador-Geral da República, os partidos políticos, o

25

Relativamente a declaração de inconstitucionalidade das leis ou de ilegalidade dos atos normativos dos órgãos do Estado, o nº 2, do artigo 245 da CRM, alista os seguintes agentes com legitimidade para propor ao conselho Constitucional: o Presidente da República; o Presidente da Assembleia da República; um terço, pelo menos, dos deputados da Assembleia da República; o Primeiro-Ministro; o Procurador-Geral da República; o Provedor de Justiça; e dois mil cidadãos. Quanto ao recurso contencioso eleitoral, qual cidadão político pode interpor o seu recurso para a reposição da legalidade violada.

grupo de cidadãos, o Provedor de Justiça, o Tribunal Aduaneiro, o Tribunal Administrativo, entre outros atores da sociedade moçambicana.

Para facilitar a análise e a interpretação, os acórdãos e as deliberações foram classificados em duas modalidades: (i.) quanto à matérias e (ii.) quanto ao sujeito requerente. Quanto à matéria, os acórdãos foram divididos em três elementos de análise: fiscalização concreta da constitucionalidade; recurso contencioso eleitoral; e validação e proclamação das eleições eleitorais (ver Quadro 39).

Importa destacar que, das cento e cinquenta e sete (157) ações e recursos submetidos ao Conselho Constitucional, cinquenta e nove (59) são referentes à fiscalização da Constitucionalidade, oitenta e um (81) foram recursos de contencioso eleitoral, submetidos pelos partidos políticos e grupos de cidadãos. E dezessete (17) são acórdãos que validam os resultados eleitorais e, os requisitos legais exigidos para as candidaturas à presidente da República. Em relação às ações de fiscalização (sucessiva, concreta e preventiva) da constitucionalidade, vinte e uma (21) foram acolhidas e declaradas inconstitucionais, como era pretendido pelos seus peticionários; trinta e oito (38) foram rejeitadas, sendo mantidas as decisões anteriores (vide Quadro 39).

Quadro 39 – Natureza dos Acórdãos e Deliberações do Conselho Constitucional

ÂMBITO DE ATUAÇÃO QUANTIDADE Acórdãos/ Deliberações Aceites Rejeita dos Intemp estivos Desistê ncia Fiscalização da constitucionalidade 59 21 38 - -

Recurso contencioso eleitoral 81 06 55 19 01

Validação e proclamação dos resultados eleitorais 17

Total de acórdãos/deliberações 157 27 93 19 01

Fonte: Elaboração própria com base em dados da pesquisa.

Relativamente aos atores das ações ou recursos remetidos ao Conselho Constitucional para a verificação da constitucionalidade da lei, nove (09) foram ações submetidas pelo presidente da República, sendo uma ação interposta pelo antigo presidente Joaquim Alberto Chissano (1986-2005) e oito (08) requeridas pelo antigo Estadista, Armando Emílio Guebuza (2004-2014), treze (13) pelos deputados da Assembleia da República, vinte e seis (26) pelos tribunais26, quatro (04) pelo procurador-geral da República, quatro (04) pelo Provedor de

26

Um recurso da 2ª Seção do Tribunal Aduaneiro da Cidade de Maputo (rejeitado); um recurso da Cidália Mariza da Rocha Lopes Coelho, funcionária do Conselho Constitucional (rejeitado); um recurso da Meritíssima Juíza da 1ª Seção do Tribunal Fiscal da Província de Sofala (rejeitado); um recurso da Meritíssima Juíza do Tribunal Judicial da Província de Tete (aceite); três recursos da Meritíssima Juíza Profissional da 1ª Seção do Tribunal Fiscal da Província de Sofala (um aceite e dois rejeitados); um da Meritíssima Juíza Profissional da 2ª Seção do Tribunal Aduaneiro da Cidade de Maputo (rejeitado); dois do Meritíssimo Juiz de Direito da 2ª Seção

Justiça, uma (01) pelos dois mil cidadãos27, uma (01) pela Autoridade Nacional da Função Pública e uma pelo Advogado28 (ver Quadro 40).

Em relação aos resultados, verifica-se que há maior aceitação das demandas oriundas do Provedor da Justiça e da Procuradoria-Geral da República. As ações impostas pelo Provedor de Justiça foram as mais eficazes. No período analisado, o Provedor de Justiça submeteu quatro queixas de inconstitucionalidade, todas foram aceites pelo CC e, as respectivas leis foram declaradas inconstitucionais. Para a figura do Procurador-Geral da República, foram quatro (04) requeridas, sendo aceite três (03) e uma ação rejeitada. Os deputados da oposição, cujas bancadas na Assembleia da República são minoritárias, submeteram ao CC treze (13) solicitações para a apreciação e declaração da inconstitucionalidade. Em decisão do CC, dois (02) foram aceites e onze (11) recusados por falta de fundamentos legais (vide Quadro 40).

Quadro 40 – Atores e Ações da Fiscalização da Constitucionalidade (1990 a 2017) Atores de recurso ou da ação da

declaração da (in)constitucionalidade

Ações Ações declaradas inconstitucionais

Ações não declaradas inconstitucionais

Presidente da República 09 03 06

Deputados da Assembleia da República 13 02 11

Tribunais (TS, TA, Judiciais, etc.) 26 08 18

Procurador-geral da República 04 03 01

Provedor de Justiça 04 04 -

Dois mil cidadãos. 01 01 -

Autoridade Nacional da Função Pública 01 - 01

Advogados 01 - 01

TOTAL 59 21 38

Fonte: Elaboração própria com base em dados da pesquisa.

Outline

Documentos relacionados