• Nenhum resultado encontrado

Percurso político (militância) das elites judiciais moçambicanas

CAPÍTULO III – AS CONEXÕES ENTRE O PERFIL SOCIAL, ACADÊMICO,

3.4 Percurso político (militância) das elites judiciais moçambicanas

Atendendo as informações obtidas no campo de pesquisa, verifica-se que a maioria das altas figuras do sistema judiciário analisadas, iniciou a sua carreira política e profissional durante o processo de descolonização e de nacionalizações em Moçambique. Grosso modo é militante do partido no poder (Frelimo). Em alguns deles, nota-se certa combinação de ganhos conquistados em suas trajetórias políticas até alcançar os altos cargos de direção no setor da justiça moçambicano (ver Quadro 33). Analisando o perfil destas elites, verifica-se que ―os padrões de carreira profissional onde o domínio da expertise jurídica e a detenção de capital político aparecem imbricados‖ (ENGELMANN, 2013, p. 3).

Quadro 33 - Elites judiciais com forte militância política

Jurista Membro Trajetória política ou cargos de confiança

Rui Baltazar dos Santos Alves

(Presidente do Conselho Constitucional de 2003 a 2009).

Frelimo

- Ministro da Justiça (1974-1978); - Ministro das Finanças (1978-1986);

- Reitor da Universidade Eduardo Mondlane (1986-1990); - Embaixador de Moçambique no Reino da Suécia (1994- 2001);

- Conselheiro do presidente da República de Moçambique (2002 a 2004).

Luís Mondlane (Presidente do

Conselho Constitucional 2009- 2011)

-

- Membro do Gabinete de Estudos no Ministério da Defesa Nacional;

- Membro do Secretariado do Conselho de Ministros e da Assembleia Popular.

Hermenegildo Maria Cepeda Gamito (Presidente do Conselho

Constitucional, desde 2011).

Frelimo

- Deputado pela bancada parlamentar da Frelimo (1994 – 2009).

Teodato Mondim da Silva Hunguana (Juiz conselheiro do

Conselho Constitucional de 2003 a 2009). Frelimo - Ministro da Justiça (1978-1983); - Vice-Ministro do Interior (1983-1986); - Ministro da Informação (1986-1991); - Ministro do Trabalho (1991-1994);

- Deputado da Assembleia da República (1977-2003).

Mateus da Cecília Feniasse Saize (Juiz conselheiro do Conselho Constitucional, desde o dia 12 de setembro de 2014).

Frelimo - Chefe da bancada da Frelimo na Assembleia Municipal da Beira (2005 a 2014);

- Vice-chefe da bancada da Frelimo (1998 a 2004);

- Presidente da Comissão Provincial de Eleições de Sofala (1999).

Orlando da Graça

(Juiz conselheiro do Conselho Constitucional de 2003 a 2014).

Renamo - Deputado e Membro da Comissão Permanente da Assembleia da República (1994 a 2000).

Manuel Henrique Franque

(Juiz conselheiro do Conselho Constitucional desde 2004).

Renamo

- Deputado da Assembleia da República;

- Mandatário e Membro do Gabinete Central de Eleições da RENAMO União Eleitoral para as Eleições Autárquicas de 19 de novembro de 2003;

- Membro da Comissão Nacional de Eleições (1994-1995).

Eduardo Joaquim Mulémbwè

(Procurador-geral da República 1980 e 1994).

Frelimo

- Presidente da Assembleia da República (1995-2009); - Deputado Assembleia da República pela FRELIMO; - Membro da Comissão Política do partido FRELIMO; - Chefe da brigada central do partido FRELIMO para as províncias de Tete e da cidade de Maputo.

Maria Benvinda Delfina Levi Frelimo

- Ministra da Justiça (2008 - 2015);

- Assessora Jurídica do Gabinete Jurídico de presidente da República

Fonte: Elaboração própria com base em dados da pesquisa.

Nota-se que, o capital político acumulado pelos juristas ao longo da democratização do país, permite uma entrada fácil para os órgãos máximos da administração da justiça em Moçambique. Pois, verifica-se que, o percurso político ou a militância política tem sido um dos requisitos fundamentais para a nomeação, indicação e ocupação de cargos de direção na administração pública e, em particular no setor da justiça em Moçambique. Ou seja, o capital humano, combinado com o capital social, herdados no regime de partido único, continuam sendo as variáveis determinantes da reprodução das elites em Moçambique e, em particular das elites do Poder Judicial.

Assim, ―nota-se que para ascender à cúpula judicial, o domínio da expertise jurídica relacionada a ideia de profissionalização e mesmo ao ethos presente na concepção da magistratura enquanto carreira de Estado, não são suficientes‖ (ENGELMANN, 2013, p. 4). É necessária a conjugação destes elementos com o capital social e político de cada jurista.

Pelo menos até hoje, o pesquisador deste trabalho, não conhece nenhum jurista, que se declare explicitamente membro de um dos partidos da oposição e, que já tenha sido nomeado ou indicado, pelo presidente da República ou pela bancada majoritária da Frelimo, para ocupar os altos cargos do setor da justiça em Moçambique. Por outro lado, é vernáculo afirmar que nenhum dos propostos pelo maior partido da oposição (Renamo), para o CC é militante de outro partido que não seja o partido Renamo, ou que tenha certa simpatia política com este partido.

No entanto, em 2009, houve uma tentativa e uma dúvida em relação à militância política de Isabel Rupia, jurista proposta pela bancada da oposição, Renamo-União Eleitoral para o cargo de juíza conselheira do CC, com vista a se dar provimento aos dois lugares que o maior partido da oposição tinha, conforme o critério da representação proporcional. A proposta foi rejeitada pelo voto majoritário da bancada parlamentar da Frelimo, na Assembleia da República.

Havia uma grande incógnita que se levantava no seio da sociedade, pairava então a dúvida sobre se Isabel Rupia era militante da Renamo, para que pudesse merecer aquela indicação pelo maior partido da oposição. Enquanto que no seio do partido Frelimo a dúvida residia na personalidade desta jurista. No ato da votação dos candidatos à juízes conselheiros, indicados pelas bancadas parlamentares, os deputados da Frelimo votaram contra a indicação da Isabel Rupia, pela alegação de que ela não era idônea para ocupar o cargo de juíza conselheira do CC. Estranho é que Isabel Rupia é magistrada do Ministério Público, na categoria de Procuradora-Geral Adjunta (a carreira máxima da magistratura do MP).

A capacidade de o sistema judiciário moçambicano ser um poder heterogêneo é menor, pois as trajetórias profissionais das elites jurídicas mostram uma profunda ligação destas com a elite política, uma vez que estão profundamente inseridas em mesmas redes partidárias, em função da indicação direta das elites judiciais pelo poder político. Percebe-se claramente esta reprodução das elites profissionais do sistema da justiça moçambicano nas filiações partidárias. O que leva várias vozes a se levantarem, questionando sobre se algumas decisões do sistema judiciário moçambicano não são essencialmente políticas. Dado que, estas decisões judiciais têm, quase sempre, estado em conformidade com as vontades das elites políticas ou governantes.

Ademais, a salvaguarda de posições por estas elites no setor judiciário está dependente daquilo que Dezalay (2004, p. 19), chamou de ―investimento em formação profissional‖, conjugado com as estratégias multiposicionais, que facilitam a reciprocidade de favores e a mobilidade de carreiras. É verdade que, no cômputo geral, a ampla maioria das elites que ocupam cargos do topo no setor da justiça moçambicano, foi recrutada no sistema de partido único, o que faz crer que suas ideias jurídicas se hegemonizavam com a anuência das elites políticas governantes, bastante radicais e conservadoras do sistema socialista. Como afirma Bourdieu (1989), o capital social fornece suporte útil quando necessário para a reprodução destas elites, já que relações estáveis criam honra e reputações entre seus membros e, assim, constroem e mantêm confiança e intercâmbios simbólicos ou materiais entre o grupo.

Este fato é visível no perfil dos juristas indicados para compor o Poder Judicial. Os resultados apontam que os juristas que são escolhidos para os cargos mais altos do Judiciário moçambicanos não são jovens e recém-formados em Direito. Ao contrário, a maioria destas elites jurídicas, nasceu muito antes da independência e, teve uma longa experiência profissional no decurso do regime socialista de partido único, que foi caracterizado por uma longa história de submissão dos funcionários do Estado ao poder político. O recrutamento e a seleção dos magistrados eram meramente políticos. Até eram recrutados moçambicanos sem formação jurídica (entre médicos e professores) para exercer a função de magistrado. O recrutamento indiferenciado de juristas para o topo do sistema judiciário moçambicano, sobretudo, os nascidos depois da independência continua reduzido (ver Quadro 34).

Quadro 34 - Ano de nascimento das elites judiciais em Moçambique e ano de formação em Direito Elites Judiciais Ano de nascimento Bachar elato Licenci atura Primeira atividade profissional Moçambique CONSELHO CONSTITUCIONAL

Rui Baltazar dos Santos Alves 1933 - 1956 Advocacia, 1959

Luís António Mondlane 1955 1977 1981

Delegado do Procurador da República, 1978.

Hermenegildo Maria Cepeda Gamito 1944 - 1975 Perito Jurista, 1975 Teodato Mondim da Silva Hunguana 1946 1972 Advocacia, 1972 Orlando António da Graça 1942 1977 1994 Advocacia, 1976

Lúcia da Luz Ribeiro 1963 1994 Advocacia, 1995

João André Ubisse Guenha 1963 1994 Assessor Jurídico, 1994

Lúcia Fernanda B. Maximiano do Amaral 1953 1977 1990

Delegada do Procurador da República, 1978.

Manuel Henrique Franque 1943 1980 Advocacia, 1980. José Norberto Rodrigues Baptista Carrilho 1955 1977 1978

Delegado do Procurador da República, 1976.

Domingos Hermínio Cintura 1967 - 1997 Advogado, 2003.

Mateus da Cecília Feniasse Saize 1969 1994 Jurista do Banco de Moçambique, 1995

Ozias Pondja 1953 1977 1990 Delegado do Procurador da

República, 1978.

TRIBUNAL SUPREMO

Mário Bartolomeu Mangaze 1955 1997 - Delegado Procurador da República, 1978.

Adelino Manuel Muchanga 1974 - - Assessor Jurídico, 1994. Luís Filipe de Castel-Branco Sacramento 1945 Delegado do Procurador da

República (1970/1972). João António da Assunção Baptista Beirão 1969

Jurista na Inspeção-geral de Finanças (1995/1996). Maria Benvinda Delfina Levi 1960 - 1993 Magistrada judicial, 1992.

PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Sinai Josefa Nhatitima 1943 1977 - Delegado do procurador da República, 1979.

António Paulo Namburete 1954 1977 - Delegado do Procurador da República, 1978.

Joaquim Luís Madeira Não

revelado

1978 Delegado do procurador da República, 1978.

Augusto Raúl Paulino 1961 Professor, 1978.

Beatriz da Consolação Mateus Buchili - - 1999 Procuradora Distrital, 1994.

André Paulo Cumbe 1957 1993 Ministério da Justiça, 1976 Irene da Oração Afonso Micas e Uthui 1965 1997 Técnica de Contas, 1980. Fonte: Elaboração própria com base em dados da pesquisa.

Como se pode observar nos dados acima, a elite judicial moçambicana é constituída por juristas que vêm do período socialista (de partido único – Frelimo). Apesar das transformações ocorridas no sistema judiciário, impulsionadas pela vigência de cada constituição (1975-1990; 1990-2014; 2014-2017) havidas no país, a cúpula judicial continua fechada para a entrada da nova geração (1990 em diante). A aposta dos governantes, com poder de nomear as altas figuras do judiciário, continua a recair em juristas que estudaram e

começaram a trabalhar no período em que o país estava numa fase de transição da guerra colonial (contra o colonialismo português) para a guerra civil (a guerra dos dezesseis anos), em que se registravam as primeiras experiências de planejamento e de intervenção estatal para o desenvolvimento (ver no Quadro 34).

Entre as elites do sistema judiciário moçambicano, verifica-se uma clara circulação e troca de papéis e de lugares (Tribunal, Ministério Público, Conselho Constitucional, e vice- versa). Praticamente são as mesmas elites jurídicas que umas vezes desempenham as funções políticas e outras vezes às jurídicas. Umas começaram nas funções políticas, mais tarde foram indicadas para ocupar posições-chave no Poder Judicial. É o caso dos que saíram de Deputado da Assembleia da República diretamente para o Conselho Constitucional. Hermenegildo Maria Cepeda Gamito, Teodato Mondim da Silva Hunguana, Orlando António da Graça e Manuel Henrique Franque, são alguns exemplos de elites que saíram da política (Assembleias Parlamentares) para o judiciário - Conselho Constitucional (ver Quadro 35). Portanto, o capital político relacionado à ocupação de mandatos parlamentares é muito visível na trajetória profissional destes juristas.

Orlando António da Graça, juiz conselheiro de 2003 a 2014, proposto pela bancada

parlamentar da oposição, Renamo-União Eleitoral, nasceu à 14 de maio de 1942, na cidade de Quelimane, Província da Zambézia (Centro do país). Em 1976 concluiu o Bacharelato em Direito na Universidade Eduardo Mondlane. No mesmo ano, iniciou a exercer a advocacia, por imposição governamental. Em 1977 fez o 1º ano de Licenciatura em Direito e, em 1978 (ano em que deveria ter concluído a Licenciatura) foi encerrada a Faculdade, por questões políticas. Em 1994 viria a concluir a Licenciatura em Direito na Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

De acordo com o Portal do Conselho Constitucional – Juízes cessantes (2016), Orlando António da Graça tem Pós-Graduação em Direito das Empresas (CEPPA/Universidade de Lisboa) e em Ciências Jurídico-económicas (UEM / Universidade de Coimbra), mestrando em Ciências Jurídicas (concluiu a parte acadêmica) UEM/Universidade de Lisboa. Foi advogado de profissão durante 27 anos. É docente em três Instituições do Ensino Superior no país (UDM, ISPU e ISCTEM). Na arena política foi Deputado da Renamo, Membro da Comissão Permanente da Assembleia da República durante a primeira legislatura multipartidária (1994 a 2000). Em 3 de novembro de 2003, tomou posse como juiz conselheiro do Conselho Constitucional e, era o substituto legal do Presidente do Conselho Constitucional.

Manuel Henrique Franque é juiz conselheiro desde o dia 21 de maio de 2004, indicado pela bancada da oposição, Renamo-União Eleitoral. É natural da Província de Tete (1943). Tem duas licenciaturas em Direito: uma na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (1980), a outra na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1990). Dentre os cargos ocupados destacam-se: deputado da Assembleia da República, relator da Comissão de Assuntos Jurídicos, Direitos Humanos e de Legalidade, (2000-2004); membro da Comissão Ad-Hoc para a Revisão da Constituição (2000-2004); mandatário e membro do Gabinete Central de Eleições da RENAMO União Eleitoral, para as Eleições Autárquicas de 19 de Novembro de 2003; vice-presidente da Assembleia Geral da Ordem dos Advogados de Moçambique (2001); membro da Comissão Nacional de Eleições (1994-1995); relator da Comissão Ad-Hoc para a Revisão do Regimento do Estatuto do Deputado e Reestruturação do Secretariado da Assembleia da República (2000); membro do Conselho de Administração do Banco Popular de Desenvolvimento (1994/1997). (Portal do Conselho Constitucional – Juízes, 2016). Como se pode perceber na sua trajetória, saiu da política (Assembleia da República) para o Conselho Constitucional.

Mateus da Cecília Feniasse Saize é outro jurista que saiu da política diretamente para o Conselho Constitucional. De acordo com o Portal do Conselho Constitucional – Juízes, 2016, Feniasse é juiz conselheiro desde o dia 12 de Setembro de 2014, indicado pela bancada parlamentar do Partido Frelimo. Nasceu a 04 de Março de 1969, no Posto Administrativo de Mungari, Distrito de Guro, Província de Manica. É mestre em Direito na área de ―Ciências Jurídico-empresariais‖, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (13 de janeiro de 2005); Licenciado em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane (14 de dezembro de 1994). De entre as funções e os cargos ocupados por Mateus da Cecília Feniasse Saize, o destaque vai para jurista do Banco de Moçambique, afeto na Filial Regional Centro, nas províncias de Sofala, Manica, Tete, e Zambézia, de 1995 a 2014; presidente da Assembleia Municipal da Beira (2009 – 2014); chefe da bancada parlamentar da Frelimo na Assembleia Municipal da Beira – durante dois mandatos (2005 a 2014); vice-chefe da bancada parlamentar da Frelimo (1998 a 2004); e presidente da Comissão Provincial de Eleições de Sofala (1999).

Conforme os dados coletados em CV_Ministra_da_Justica_moz, 2017, Maria Benvinda Delfina Levi é outra jurista que por duas vezes trocou o Judiciário com a política. Juíza de carreia, nascida aos 24 de março de 1960, no distrito de Maxixe, província de Inhambane, sul de Moçambique. Em julho de 1993, licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

No âmbito profissional, de junho de 1992 a fevereiro de 1994, Maria Benvinda foi juíza na 2.ª Seção do Tribunal Judicial do Distrito Urbano n.º 1, Cidade de Maputo. Em 1995 a 1997, foi 1.ª vice-presidente da Associação Moçambicana das Mulheres de Carreira Jurídica. Levi foi se destacando aos poucos na magistratura judicial e, de 4 de março de 1994 a 13 de setembro de 2006, acabou sendo indicada juíza presidente da 3.ª Seção Cível do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo. Em 1º de agosto de 2002 a 13 de setembro de 2006, Maria Benvinda Delfina Levi foi indigitada juíza presidente do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo. De 1998 a 2004, foi membro da Subcomissão de Reforma Legal, na área de Família e Sucessões (chefe desde 2001), tendo estado envolvida em todas as atividades relativas à aprovação da Lei da Família.

De 5 de maio de 2006 a 10 de março de 2006, ocupou o cargo de diretora do Centro de Formação Jurídica e Judiciária. De agosto de 2001 a março de 2008 (dois mandatos), exerceu as funções de membro do Conselho Superior da Magistratura Judicial e da sua Comissão Permanente, até a sua nomeação para o cargo de ministra da Justiça, a 11 de março de 2008. Em setembro de 2012, foi aprovada no concurso público curricular e nomeada juíza conselheira do Tribunal Supremo, com deferimento da posse para quando terminasse a sua comissão de serviço. Em janeiro de 2015, o atual presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, nomeou-a para o cargo de assessora jurídica do Gabinete Jurídico de Presidente da República, tendo deixado o Tribunal Supremo. Levi é investigadora associada da Women in

Law in Southern Africa (WLSA - Moçambique).

Outras elites jurídicas começaram do sistema judiciário e depois se foram firmando elites do poder no campo político e no Estado. Eduardo Joaquim Mulémbwè é disso o melhor exemplo. Foi o primeiro procurador-geral da República na história de Moçambique independente, que ocupou o cargo desde finais de 1980 até 1994. Nascido em Niassa, é magistrado de carreira do Ministério Público e membro sênior do partido Frelimo. Após deixar a função de procurador-geral da República, Mulémbwè ocupou altos cargos no seio do partido FRELIMO e do Estado. De entre os quais se destaca o de deputado e o de presidente da Assembleia da República (1995-2009) - segundo mais alto magistrado da Nação. Foi presidente da Comissão Ad-Hoc de Revisão da Constituição da República (2010); Membro da Comissão Política do partido Frelimo. Chefe da Brigada Central do partido Frelimo para as províncias de Tete e da cidade de Maputo, entre outras funções.

Conforme o Jornal @verdade.co.mz (29 Maio 2012), após três mandatos consecutivos como membro do parlamento moçambicano, em 2010, Eduardo Joaquim Mulémbwè foi indicado pelo Governo para representar o Estado moçambicano no Conselho de

Administração da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH). Refira-se que A CMH é uma sociedade anônima de direito privado, mas controlada pelo Estado que detém 70 % do capital social detido pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) e 20 % pelo próprio Estado. Mais tarde foi indicado Administrador não-executivo da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos.

Alguns juristas, depois de deixar o Judiciário são nomeados para os altos cargos do Estado, do governo e do partido. Teodato Mondim da Silva Hunguana e Eduardo Joaquim Mulémbwè são alguns exemplos. Hunguana deixou o Judiciário (após não ter sido renovado o seu mandato como juiz conselheiro do Conselho Constitucional, pela bancada parlamentar da Frelimo) e foi nomeado presidente do Conselho de Administração da Moçambique Celular- Mcel.

Quadro 35 - Juristas que trocaram cargos políticos por cargos judiciais em vice-versa

Juristas 1º Cargo de destaque 2º Cargo de destaque 3º Cargo de destaque 01

Rui Baltazar dos Santos Alves

Ministro da Justiça (1974- 1978).

Ministro das Finanças (1978-1986). Presidente do CC (2003 a 2009). 02 Hermenegildo Maria Cepeda Gamito Juiz Desembargador no Tribunal Superior de Recurso (1978 a 1981). - Deputado da AR pela bancada parlamentar da Frelimo (1994 – 2009). Presidente do CC desde 2011. 03 Teodato Mondim da Silva Hunguana - Ministro da Justiça (1978-1983). - Deputado da Assembleia da República (1977-2003) Juiz conselheiro do CC (2003 a 2009). 04 Mateus da Cecília Feniasse Saize Vice-chefe da bancada da Frelimo (1998 a 2004). Chefe da bancada da Frelimo na Assembleia Municipal da Beira (2005 a 2014). Juiz conselheiro do CC (2014 - atual). 05 Eduardo Joaquim Mulémbwè Procurador-geral da República (1980 e 1994). - Presidente da Assembleia da República (1995-2009). - Administrador não- executivo da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (2010). 06 Maria Benvinda Delfina Levi - Membro do Conselho Superior da Magistratura Judicial. - Juíza conselheira do Tribunal Supremo (2012). - Ministra da Justiça (2008 - 2015); - Assessora Jurídica do Gabinete Jurídico de presidente da República (2015). Fonte: Elaboração própria com base em dados da pesquisa.

Estes exemplos constituem fatos para dizer que os poderes não estão efetivamente separados. A interferência, ou o ruído entre o sistema judiciário e o poder político continua maior. É preciso delimitar bem os dois campos, de modo que não existam políticos na justiça; nem juízes na política. Por um lado, deve-se evitar a politização da justiça e, por outro, deve- se evitar a judicialização da política. Só assim é que se pode garantir a neutralidade do sistema judicial face às interferências externas e eventualmente as relações clientelistas.

Contudo, com a introdução do novo método de ingresso (concurso público) para as carreiras do todo da Magistratura Judicial e do Ministério Público, já se verifica uma pequena homogeneidade, em termo de idade ou gerações. Pelo menos ao nível do Tribunal Supremo, já é visível, embora ainda seja pouco. O Conselho Constitucional é que continua com políticas

Outline

Documentos relacionados