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3 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

3.4 Acessibilidade da estrutura física

Para que a Sala de Recursos Multifuncionais funcione de forma satisfatória é necessário que a escola onde ela está implantada e o entorno onde ela se encontra tenha Acessibilidade. Este é um dos conceitos mais importantes nas discussões sobre Educação Especial e servem de base para garantir que o principio da Inclusão seja de fato posto em prática. A Acessibilidade é conceituado no art. 8°, inciso I do Decreto n° 5.296/2004, como sendo a:

(...) condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2004).

Apesar da conceituação ampla, basicamente são as adaptações das estruturas físicas e dos objetos que direta ou indiretamente influenciam na vida plena da pessoa com deficiência, como por exemplo, proporcionam o acesso autônomo do indivíduo desde a sua casa até a escola, incluindo aí também sua mobilidade no interior de sua residência.

E falando especificamente da escola, algumas das principais adaptações da estrutura física que proporcione a Acessibilidade satisfatória para os alunos com deficiência são: construção de rampas; adaptação de banheiros; adaptação de bebedouros; adequação da iluminação das salas de aula; adaptação de cadeiras e mesas para atender a necessidade específica do aluno; colocação de pisos táteis para alunos cegos, entre outros.

Este olhar mais atento sobre a Acessibilidade do ambiente escolar também é garantido pelo Decreto n° 5.296/2004, já que neste documento todo o artigo 24 é reservado para tratar sobre as instituições de ensino:

Art. 24. Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários.

§ 1o Para a concessão de autorização de funcionamento, de abertura ou renovação de curso pelo Poder Público, o estabelecimento de ensino deverá comprovar que:

I - está cumprindo as regras de acessibilidade arquitetônica, urbanística e na comunicação e informação previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica ou neste Decreto;

II - coloca à disposição de professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida ajudas técnicas que permitam o acesso às atividades escolares e administrativas em igualdade de condições com as demais pessoas; e

III - seu ordenamento interno contém normas sobre o tratamento a ser dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qualquer tipo de discriminação, bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas.

§ 2o As edificações de uso público e de uso coletivo referidas no caput, já existentes, têm, respectivamente, prazo de trinta e quarenta e oito meses, a contar da data de publicação deste Decreto, para garantir a acessibilidade de que trata este artigo (BRASIL, 2004).

Para que todas essas adaptações sejam executadas dentro de um padrão de qualidade, elas precisam respeitar a Norma de Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos, a NBR 9050, já tendo diversas versões publicadas, sendo a mais atual a de 2015. Esse documento é produzido e revisado pelo Comitê Brasileiro de Acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que norteia uma série de parâmetros técnicos a serem seguidos na construção de um novo prédio ou durante a reforma de algum já existente.

Apesar de ter um importante arcabouço legal publicado há mais de 15 anos e constar no parágrafo 2º do Decreto n° 5.296/2004 um prazo longo para adequações de Acessibilidade nas instituições educacionais, alguns estudos demonstram que infelizmente o referido decreto não vem sendo respeitado em sua totalidade.

Isto pode ser constatado através dos estudos de Almeida (2012) e Sloboja (2014) que investigaram a Acessibilidade de diversas escolas públicas, tanto

municipais quanto estaduais, respectivamente das cidades de Telêmaco Borba/RS e Goioerê/PR e chegaram basicamente ao mesmo resultado. A maioria das escolas públicas analisadas estão completamente fora das normas mínimas exigidas pela ABNT, especificamente a NBR9050/2004.

De acordo com o Dischinger et al (2009), os problemas de Acessibilidade mais comuns existentes em Salas de Recursos Multifuncionais são: a falta de contraste entre as cores do piso, parede e móveis; pequeno espaço circular; mesas de atendimento muito próximas umas das outras; falta separação entre os diferentes ambientes de atendimento; obstáculos nas mesas que impedem as pessoas em cadeira de rodas de se aproximarem; mesas muito baixas ou muito altas para uma pessoa em cadeira de rodas; falta de um computador com software de leitor de tela para alunos cegos; falta de locais adequados para armazenamento de material didático em geral, que sejam acessíveis a todos.

De acordo com Deimling (2013) o trabalho com alunos com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais pressupõe que diversas adaptações sejam implementadas no local onde a aula ocorre, além da implantação de serviços de apoio, de material pedagógico adequado e uma atenção maior do professor acerca de sua intervenção.

Porém, segundo Glat e Oliveira (2003) garantir o acesso e a permanência do aluno com deficiência no interior da escola não se converte automaticamente em garantia de uma aprendizagem satisfatória. Isto porque uma simples inclusão física sem que haja um trabalho pedagógico sólido, pode acabar agravando a exclusão desse aluno, podendo gerar um sentimento de fracasso e consequentemente levar a desistência do aluno. Assim, concordando com os autores, é necessário que os docentes que atuem no AEE possuam uma formação inicial e continuada de qualidade, que seja proporcional a magnitude da responsabilidade que lhe é atribuída. Algumas outras adaptações que frequentemente estão presentes na Sala de Recursos Multifuncionais e que servem de importante auxilio para o desenvolvimento cognitivo e a autonomia dos alunos público-avo do AEE são os recursos de Tecnologia Assistiva (TA), tema do próximo tópico.