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2 CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS PROFESSORES

2.5 Condições salariais da profissão docente no Brasil

De acordo com Assunção e Oliveira (2009) as condições de trabalho docente começaram a entrar em declínio, por um lado por conta da desvalorização salarial e por outro pela criação de novas funções docentes, entre as quais podem ser destacadas: atendimento individual aos discentes, controle coletivo da turma, preenchimento de diversos instrumentos e formulários exigidos pela gestão, são algumas dessas funções que causam a intensificação do trabalho e invariavelmente ajudam a explicar o aumento do cansaço físico e mental dos professores, além de problemas na voz e outras enfermidades.

Por conta disso, alguns dados sugerem que os cursos de Licenciatura estão cada dia sendo menos procurados pelos jovens que saem do ensino médio, o que gera um grande número de vagas ociosas, potencializado também por conta dos abandonos de alunos que desistem de concluir o curso.

De acordo com Mazzeto e Carneiro (2002), ao citarem o Censo da Educação nacional, a situação se agrava porque o Brasil tem dificuldades de ampliar seu quadro de docentes, já que “faltam professores qualificados para dar aulas no ensino fundamental e no ensino médio. Cerca de 825 mil professores desses dois níveis de ensino não possuem formação superior” (p. 1207).

Um estudo realizado por Adachi (2009), que analisou a evasão dos alunos dos cursos de Licenciatura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontaram em seus resultados que, para além do salário, outros elementos também contribuíram para essa evasão, tais como:

Baixo prestígio da profissão, baixos salários, dificuldades financeiras dos estudantes para permanecerem no campus, qualidade pedagógica dos docentes, pouca atratividade dos cursos, currículos inchados, repetitivos e desarticulados, distanciamento entre teoria e prática, matematicidade dos cursos, baixa qualidade do ensino médio – que contribuem para a mobilidade, se não para a exclusão e, por isso, precisam ser adequadamente trabalhadas (ADACHI, 2009, p. 61).

Porém, para Monlevade (2000), ainda que o salário não necessariamente seja o elemento determinante para a valorização da profissão docente, ele invariavelmente expressa um determinado grau de relevância, no que diz respeito ao status social e o interesse dos jovens em ingressar na carreira. Além do que, ele é o meio de subsistência do professor e consequentemente as suas condições materiais estão atreladas a ele.

A preocupação que Adachi (2009) e Monlevade (2000) demonstraram acerca da situação do salário docente também pode ser constatada a partir do Anuário Brasileiro da Educação Básica, em sua edição de 2019 apresenta dados comparativos entre a média salarial dos professores da educação básica, para os profissionais de outras áreas. Os dados podem ser observados no quadro 1:

Quadro 1 - Rendimento médio dos professores da Educação Básica e de profissionais de outras áreas com curso superior no ano de 2018

Áreas Valor médio em

2018 Professores da Educação Básica - rede pública R$ 3.823,00

Profissionais da área de Exatas R$ 7.542,11

Profissionais de Humanas R$ 6.070,59

Profissionais de Saúde R$ 7.718,36

Média do rendimento dos profissionais com curso superior (exceto professores da rede pública)

R$ 5.477,05 Proporção da média salarial dos professores em relação à média

dos profissionais com curso superior (em %)

69,8% Adaptado do Anuário Brasileiro da Educação Básica (BRASIL, 2019)

É flagrante a diferença entre a média do salário dos professores que atuam na educação básica, comparada com os outros profissionais com nível superior, chegando a 69,8% de defasagem em relação à média. Entretanto a diferença é muito maior, se comparado especificamente com a média salarial dos profissionais da área de saúde, por exemplo.

Como forma de atenuar essa discrepância e garantir um vencimento mínimo e uniforme para todos os docentes do país, foi instituída pelo governo federal em 16 de julho de 2008 a Lei nº 11.738, também conhecida como Lei do piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica (BRASILa, 2008).

Apesar de ser uma lei bem enxuta, ela já deixa claro logo nos seus dois primeiros artigos os principais elementos referentes as normas usadas para referencia para o vencimento, pois fixa um valor inicial de remuneração, como carga horária do trabalho docente não superior a 40 horas semanais. Além disso, apresenta as atribuições de estados e municípios no que tange a responsabilidade em garantir esses vencimentos, além da abrangência daqueles que estão cobertos pela lei.

Art. 1º Esta Lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica a que se refere a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Art. 2º O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinqüenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

§ 1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais. § 2º Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional.

§ 3º Os vencimentos iniciais referentes às demais jornadas de trabalho serão, no mínimo, proporcionais ao valor mencionado no caput deste artigo.

§ 4º Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos.

§ 5º As disposições relativas ao piso salarial de que trata esta Lei serão aplicadas a todas as aposentadorias e pensões dos profissionais do magistério público da educação básica alcançadas pelo art. 7o da Emenda Constitucional no 41, de 19 de dezembro de 2003, e pela Emenda Constitucional no 47, de 5 de julho de 2005 (BRASIL, 2008a).

Entretanto, o que deveria ser uma Lei que favorecesse a valorização salarial dos professores, em alguns casos está sendo usado pelas gestões municipais e estaduais como forma de atacar ainda mais a profissão docente, já tão sofrida e precarizada.

Esta afirmação pode ser feita a partir do estudo de Rodrigues (2016), que em sua dissertação investigou as implicações que a Lei do Piso Salarial Profissional Nacional trouxe sobre a remuneração e a valorização dos docentes da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais. Foi feita uma análise documental em sites dos governos federal, estadual, sindicatos dos professores, além de entrevistas semiestruturadas com docentes, diretores de escola e dirigentes sindicais da rede estadual de educação de Minas Gerais. Os resultados indicaram que existe um flagrante descumprimento do estado de Minas Gerais, em relação da lei do piso, balizada por uma série de ambiguidades e lacunas presentes na referida lei, inclusive como pauta de julgamento no Supremo Tribunal Federal, mas que infelizmente ampliam a precarização e desvalorização do trabalho docente.

Situação semelhante também pode ser observada na dissertação de Rocha (2017) que objetivou, entre outras coisas, analisar as alterações implantadas na carreira e na remuneração dos professores da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte após a publicação da lei do piso. Os dados foram coletados através de entrevistas com dez professores, além da Secretária Municipal de Educação e uma Dirigente do sindicato docente. O estudo demonstrou que a prefeitura de Belo Horizonte, por conta das atividades extra-classe não cumpria a lei do piso, além de levar a um rebaixamento na remuneração docente, utilizando a situação econômica como motivo. Além disso, observou-se que foi implantado na referida rede de ensino

um tipo de gestão baseado nos conceitos aplicados a administração de uma empresa privada.

Assim, observa-se que os problemas de desvalorização docente notados em outras partes do mundo também estão ocorrendo no Brasil. Mesmo que existam algumas diferenças, as consequências advindas das políticas neoliberais, que estão desmontando as condições de trabalho dos professores, seguem padrões muito semelhantes.