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4 METODOLOGIA

4.5 Análise dos dados

De acordo com Gil (2008) a análise dos dados de uma pesquisa objetiva visa organizar e categorizar as informações coletadas de forma a permitir o provimento de respostas aos objetivos e aos problemas propostos no estudo.

Para o questionário as respostas foram tabuladas, categorizadas estatisticamente e o processo de compreensão dos dados seguiu os princípios da Teoria Crítica23 que pregam pela não-neutralidade, pela historicidade do

conhecimento, compreendendo o processo de produção, reprodução e contradições capitalista, estabelecendo nexos e paralelos entre os dados e as condições materiais subjacentes.

A análise dos dados obtidos na entrevista foi feita através da técnica da Hermenêutica objetiva, método de base qualitativa, desenvolvida através dos conceitos da Teoria Crítica por Ulrich Oevermann, sociólogo da Universidade de Frankfurt e tendo como base a interpretação social de Theodor Adorno, a partir da

23 A Teoria Crítica da Sociedade foi criada por Marxistas não ortodoxos e tem como principais autores

Horkheimer, Adorno, Benjamin, Marcuse e Habermas. Sua gênese ocorre no Instituto de Pesquisa Social, órgão fundado no auditório da Universidade de Frankfurt, na Alemanha em 22 de junho de 1924, razão do instituto ser conhecido posteriormente como “Escola de Frankfurt”. O arcabouço teórico - metodológico da Teoria Crítica foram, além do materialismo histórico dialético, a Hermenêutica de Dewey, a Sociologia de Weber e a Psicanálise de Freud.

crítica dos pensadores da Escola de Frankfurt e das tentativas do positivismo em se inserir nos estudos qualitativos. Adorno criticava principalmente a técnica da Análise de Conteúdo, por conta da sua pretensão de objetividade em que apenas examinava os fatos, mas não propunha uma interpretação e nem se preocupava em tecer críticas (VILELA; NAPOLES, 2010).

Na tentativa de suprir esta lacuna que eles enxergavam na Análise de Conteúdo, os pesquisadores da Escola de Frankfurt desenvolveram outra técnica, voltada a uma análise da realidade social, que tem como objetos a serem analisados os textos, trazendo a luz os significados escondidos na aparência da realidade. Isso ocorre porque os dados geralmente não expõem a realidade e somente organizam os elementos que só serão revelados quando são indagados e críticados (VILELA; NAPOLES, 2010).

Oevermann (2004) desenvolve a técnica da Hermenêutica Objetiva como uma ferramenta de pesquisa que reordena as questões sociais que estão sendo analisadas, revela o agrupamento de detalhes que a priori não são capturados em sua manifestação e direcionam totalmente à assimilação final. De acordo com Vilela e Napoles (2010) a Hermenêutica Objetiva tem como finalidade expor em um texto a lógica da estrutura social e suas transformações. Esse texto pode ser obtido através de relatórios de campo ou da transcrição de entrevistas gravadas ou de situações observadas. O produto dos dados transcritos para o formato de texto é chamado de “protocolo”.

Assim, seguindo os passos da análise da realidade social utilizada por Adorno que procurava obter o significado de dados coletados através de textos, o objeto analisado é submetido a um diagnóstico preciso que possibilita uma elucidação sólida baseada na teoria da sociedade. Desse modo, a hermenêutica compreende que podem existir múltiplas interpretações do mesmo texto, de maneira que sua qualidade pode ser mensurada a partir de sua coerência.

Oevermann (2004) entende que o pesquisador deve evitar analisar seu objeto de estudo através de uma ótica interpretativa meramente espontânea e imediata, necessitando assim fugir de uma síntese meramente arbitrária para evitar que a análise seja transformada numa idealização, por conta da proximidade do pesquisador com o objeto. Isso significa que a reconstrução do fato analisado precisa focar

exclusivamente na própria lógica que produziu o fato, criou o sentido e que através dele se expressa.

Apesar de não existir um modus operandi específico para o uso dessa técnica, Vilela e Nápoles (2010) apresentam cinco regras que norteiam o procedimento metodológico de análise a partir da Técnica da Hermenêutica Objetiva.

A primeira regra trata sobre à independência do contexto, pois sugere que a interpretação dos dados precisa estar restrita apenas ao registro do protocolo, sempre considerando a sequencialidade do texto, evitando inserir informações anteriores sobre o que se está pesquisando, pois a interpretação só pode ter sua validade atestada a partir do próprio texto. O contexto então pode entrar a partir da análise final, onde ocorre a discussão dos dados e o diálogo com a literatura, haja vista que toda e qualquer pesquisa social, qualitativa, está inserida em um contexto social que não pode ser excluido.

A segunda regra diz respeito à literalidade da análise, que recomenda ao pesquisador focar apenas no que está escrito, sem fazer suposições teóricas ou imaginar o que os sujeitos pensaram, já que texto foi construído a partir de uma relação social e seu sentido é manifestado do jeito que foi expressado pelos interlocutores.

A terceira regra fala sobre o princípio da sequencialidade, onde aconselha que os protocolos devem ser analisados e interpretados frase a frase a partir da primeira palavra registrada, considerando todos os detalhes, pois eles podem trazer importantes pistas acerca do objeto analisado e possibilitar a elucidação dos sentidos ocultos no texto.

A quarta regra diz respeito a substancialidade da informação onde é necessário que se formule algumas proposições a fim de ajudar na compreensão do registro e assim construir a explicação mais razoável, pois a interpretação precisa estar âncorada a um sentido lógico entre a situação registrada e o texto escrito. Também é sugerido, se necessário, que outros pesquisadores de diversas áreas possam ajudar na análise.

A quinta regra traz o princípio da parcimônia durante a interpretação, pois a análise precisa ser realizada exclusivamente a partir dos dados coletados, evitando imaginar, fazer considerações hipotéticas ou incluir situações que não existem no texto, pois afirmações de fora do texto não são objeto de interpretação hermenêutica.

Se Ulrich Oevermann desenvolveu a Hermenêutica objetiva, seu colega Andreas Gruschka, outro pesquisador da Universidade de Frankfurt, teve o mérito de adaptar o método para estudos empíricos na escola, principalmente com o foco na dinâmica da sala de aula. Para o autor “o imperativo econômico tem empreendido uma forma de organização social, que se apropria da escola, como uma mediação estratégica da lógica própria de funcionamento de um sistema” (GRUSCHKA, 2008, p. 175). Desse modo a ciência e consequentemente a formação escolar acabam por passar a coexistir sob a sombra da indústria cultural de consumo. Isso ocasiona a abnegação do conteúdo formativo cuja mediação tem na sala de aula, um dos principais elementos de integração social (GRUSCHKA, 2008, p. 178).

Gomes (2017), autor que desenvolveu estudos a nível de pós-doutorado em Frankfurt, considera a Hermenêutica objetiva como um importante método, dentre as diferentes perspectivas de pesquisa em educação, inclusive tendo ela atualmente grande destaque na Alemanha, onde foi criada, sendo uma das mais difundidas e reconhecidas abordagens, no que tange a estudos de natureza sociológica qualitativa. E o autor ainda completa:

Trata-se, portanto, de um pertinente e sofisticado método de pesquisa social empírica, e que pode dar outro significado às pesquisas em educação que estamos desenvolvendo na área de Teoria Crítica e Educação, especialmente àquelas situadas na área de fundamentos da educação brasileira (p. 356).

Assim, entendemos que os professores que atuam com Atendimento Educacional Especializado, trazem consigo uma série de compreensões subjetivas sobre suas condições de trabalho, que passaram à margem das respostas do questionário, pelas limitações do instrumento, mas puderam ser captadas através da Entrevista com roteiro semiestruturado e analisadas a luz da Hermenêutica objetiva.

Na parte final da análise, o pesquisador deve estabelecer as conexões entre os dados coletados com os “contextos, realidades culturais e históricas conectadas com a problemática analisada e constitutiva do objeto de pesquisa”, pois “É neste momento que se inicia o esforço de organização e síntese, que vai ter seu momento final nas considerações conclusivas” (MACEDO, 2009, p. 100).

Isso significa propor um intenso diálogo entre os dados coletados, categorizados e analisados, com a bibliografia já apresentada nesse trabalho, a fim

de conhecer, compreender e analisar a realidade levantada e propor novos olhares e possibilidades acerca do tema.