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4 METODOLOGIA

4.1 Caracterização do Estudo

Esta pesquisa apresenta diversos elementos considerados obrigatórios que a rigor, podem ser classificados em todos os seus elementos estruturantes. Quanto ao procedimento. Pode ser caracterizada como um estudo de campo, pois se propõe a aprofundar as questões de pesquisa, considerando sempre as características da população estudada e suas variáveis, possibilitando a precisa caracterização de seus segmentos. Além disso, tem como característica a maior flexibilidade, permitindo possíveis reformulações em seus objetivos durante a pesquisa (GIL, 2010).

Quanto ao objetivo, é enquadrada como exploratória. Para Gil (2010) a pesquisa exploratória tem como foco principal desenvolver, elucidar e (des)construir conceitos e ideias, podendo servir também para levantar hipóteses ou formular problemas para futuras pesquisas.

Quanto ao método a pesquisa foi classificada como de multimétodo, articulando um estudo de corte-transversal, de características quantitativas, com uma imersão ao trabalho de campo, de forte natureza qualitativa (OLIVEIRA, 2015). As vantagens do multimétodo também é explicada por Paranhos et al (2016):

Ninguém pode ter tudo. Cada opção metodológica tem vantagens e limitações. Por exemplo, muitas vezes os desenhos experimentais não apresentam os mecanismos subjacentes que explicam como as variáveis independentes influenciam a variável dependente. Muitas vezes não é possível saber em que medida o caso escolhido representa um outlier ou uma observação típica de uma determinada distribuição. Em geral, pesquisas com N grande (large N studies) não apresentam informações suficientes para entender o contexto específico das unidades observadas, assim como é muito difícil garantir a replicabilidade em entrevistas e observação participante. É exatamente contra essas limitações que repousa o ganho analítico da abordagem multimétodo (p. 406).

A escolha pelo corte-transversal se deu por sua característica de coletar os dados e suas variáveis, de uma vez só em cada indivíduo da amostra, como se uma “fotografia” fosse tirada do fenômeno e suas características analisadas apenas nesse momento histórico.

Já as pesquisas de natureza qualitativa, tem como principal característica levar em consideração elementos subjetivos nas pesquisas, de forma que todo o universo de significações, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores podem ser levados em consideração (MINAYO, 1999).

De acordo com Minayo (2010) a principal vantagem da pesquisa qualitativa é a sua característica em ser melhor empregada em estudos com sujeitos bem delimitados, de histórias baseadas no olhar dos próprios atores sociais, de relações e análises de discursos e de documentos.

Segundo Moura (2004), as pesquisas de natureza qualitativa nasceram da dificuldade do método cientifico positivista em explicar muitos dos fenômenos sociais, já que as pesquisas quantitativas minimizam a influência do ser humano, como ser

crítico, tirando do pesquisador a possibilidade de análise e valoriza a neutralidade absoluta para garantir a validade de sua pesquisa.

Assim, outras correntes epistemológicas foram surgindo, no sentido de preencher esta lacuna do conhecimento deixada pelo positivismo. Novos caminhos de pesquisas acadêmicas foram propostos, rompendo com os métodos rígidos de explicar todos os acontecimentos do mundo e fomentando novos tipos de estudos focados no ser humano e suas relações sociais, na busca de analisar, compreender e solucionar os problemas do cotidiano.

De acordo com Macedo (2009) a rigidez e etnocentrismo que garantia a generalização de estudos quantitativos na pesquisa positivista é substituída, nas pesquisas qualitativas, por uma generalização que possibilita a análise dos contrastes entre os tipos de conhecimentos produzidos e seus processos de produção, não para apresentar semelhanças, mas para aproximar diferenças.

Os dados coletados devem privilegiar as amostras escolhidas intencionalmente e na análise, o pesquisador não pode perder de vista o contexto ao qual seu objeto de estudo está inserido. Além disso, apesar do foco estar na prática social politicamente referenciada, os estudos de abordagem qualitativa não devem ser confundidos com ativismo disfarçado de ciência (MACEDO, 2009).

De acordo com Galeffi (2009) a abordagem qualitativa apresenta um rigor científico próprio, nem inferior, nem superior ao rigor das pesquisas positivistas, apenas diferente:

É estupidez pensar que o rigor seja um procedimento exclusivo dos filósofos lógicos e dos cientistas matemáticos e geômetras. O rigor, a rigor, é um comportamento atitudinal de quem faz qualquer coisa com arte. O rigor é o ethos de toda produção artística. Por que a ciência teria que ser diferente em relação ao ethos artístico? (GALEFFI, 2009, p. 44).

Assim, a pesquisa qualitativa não partilha do mesmo conceito de rigor do positivismo. Ela tem uma forma particular, que proporciona novas olhares para “uma pesquisa outra, para uma ciência outra, para um rigor outro” (MACEDO, 2009, p. 79). O uso de um estudo de multimétodo, de natureza qualitativa (entrevista) e quantitativa (questionário), no sentido de se complementarem mutuamente, vem ao

encontro da proposta do estudo e serve como um aporte metodológico confiável e já consagrado no meio acadêmico, como nos cita Oliveira (2015a, p. 136):

Combinar dados quantitativos e qualitativos não é algo novo, estando essa combinação presente na Sociologia e nas Ciências Sociais em diversas pesquisas ao longo do tempo, de diferentes formas. Mas o que a abordagem multimétodo tem a acrescentar é pensar as implicações metodológicas dessa combinação. Discussões sobre se e

de que forma combinar métodos de pesquisa social remontam pelo

menos à década de 1950. Um exemplo é a combinação de survey e trabalho de campo, que tem sido o tipo mais comum de utilização de métodos mistos.

Pensamento também defendido por Santos Filho (1999):

Os fenômenos físicos e humanos estão se mostrando mais complexos do que se imaginava. Do princípio da simplicidade e economia, está- se caminhando para a adoção dos princípios de complexidade, consistência, unidade dos contrários e triangulação na elaboração e comprovação das teorias. Em vista disso (...) é pragmaticamente defensável que no presente estágio de desenvolvimento do conhecimento humano e de modo especial na área das ciências humanas e da educação, se admita e se adote a articulação e complementaridade dos paradigmas a fim de fazer avançar o conhecimento (p. 54).

Desse modo, Oliveira (2015a) sugere a triangulação como a abordagem do multimétodo mais difundida e aceita. Ela se caracteriza como o uso de métodos diferentes, permitindo a compreensão de um determinando fenômeno social a partir de diferentes olhares.

É importante deixar claro que isso não significa que os diferentes métodos sejam usados para verificar e se confirmar mutuamente, haja vista que pesquisas de natureza qualitativa e quantitativa possuem características particulares e que a validação de uma a partir da outra seria um contrassenso e algo metodologicamente inviável.

A opção da triangulação foi baseada na concepção de amplitude defendida por Kelle (2005), onde entende que a partir do momento que se observa um fenômeno por diferentes ângulos e com diferentes lentes (ferramentas) é possível uma maior e mais refinada compreensão do mesmo. E ele ainda explica:

(…) the construction of a multimethod design requires that methodological tools are selected in regard to theoretical assumptions about the nature of the social reality under investigation. Quantitative and qualitative methods usually provide information on different levels of sociological description: quantitative analyses show phenomena on an aggregate level and can thereby allow the description of macrosocial structures. Although qualitative data may also relate to phenomena on a macrosocietal level, their specific strength lies in their ability to lift the veil on social microprocesses and to make visible hitherto unknown cultural phenomena. In order to formulate adequate sociological explanations of certain social phenomena it will often be necessary to combine both types of information18 (KELLE, 2005, p. 103).

Assim, o multimétodo parece ser a maneira mais apropriada para conduzir nosso estudo, haja vista que cada ferramenta proporciona resultados para elementos variados de nossa pesquisa, o que proporciona adquirir um olhar mais abrangente acerca da realidade analisada.