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Na tentativa de combater diversos tipos de crimes, alguns bens acabam recebendo marcas de identificação que permitem a sua individualização. Este tipo de marcação é mais comum em veículos e armas de fogo. De modo geral, a individualização acontece com a gravação do número de série (que é único) em algumas peças dos veículos (principalmente o chassi e o motor) e das armas de fogo (especialmente na armação, na culatra e no cano da arma), que dificilmente podem ser trocadas sem desconfigurar a estrutura original.

O procedimento de gravação dos números de série (uma sequência de caracteres alfanuméricos) acontece, geralmente, por punção (marcação em baixo relevo) nas superfícies metálicas a serem identificadas. Neste tipo de gravação, produz-se uma deformação da superfície pela “compactação diferenciada na região da estrutura cristalina abaixo e adjacente aos referidos

caracteres” (OLIVEIRA, 2006, p. 18), os quais passam a ser visualizados em baixo relevo.

Portanto, o processo de adulteração dos números identificadores consiste basicamente no desgaste mecânico e polimento da área originalmente marcada, podendo haver ou não a aplicação de nova numeração – que também pode ser por punção, na grande maioria das vezes, mais superficial que a marcação original de fábrica.

Adicionalmente, esclarece-se que os veículos que são roubados ou furtados têm três opções de destino: usados para cometer outros crimes, desmonte ilegal e comercialização de suas peças ou remarcação/adulteração de sinais de identificação (como a numeração de placas, chassi e motor) para a utilização deles como clones (VELHO et al., 2015, p. 316). Já a adulteração do número de identificação de armas de fogo é feita para dificultar o seu rastreamento, na tentativa

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de impedir que se descubra as suas origens, como por exemplo: quando e onde ela foi produzida, quem a comprou ou a roubou/furtou, etc.

Deste modo, quando ocorre este tipo de adulteração, cabe à perícia forense tentar identificar tais alterações e se possível obter as informações originais. Para tanto, uma técnica bastante utilizada é o exame metalográfico.

O exame metalográfico se constitui num ataque químico, que nada mais é do que uma reação de corrosão (oxirredução) controlada. Este exame só é possível porque o processo de cunhagem dos caracteres (punção) produz uma compactação diferencial permanente da estrutura cristalina do suporte metálico, ao qual cria uma região mais densa em átomos. Logo, mesmo que a superfície seja desgastada o suficiente para remover os números (no sentido de não ser possível visualizá-los à olho nu), ainda haverá a marcas latentes, já que a adulteração normalmente não modifica a estrutura cristalina, permanecendo as diferenças de densidade.

Quanto à realização do ataque químico, dois fatores devem ser previamente considerados: o tipo de estrutura metálica ao qual se encontra a marcação e o tipo de adulteração realizada. Isso é extremamente importante para a escolha da técnica e dos reagentes (soluções fortemente oxidantes) a serem empregados.

Um exemplo de exame metalográfico para superfícies contendo ferro é o que utiliza a aplicação do reagente de Murakami – uma solução aquosa alcalina (com hidróxido de sódio, NaOH) de hexacianoferrato de potássio, K3[Fe(CN)6] – sobre a superfície pesquisada. Assim, a

revelação pode ser obtida pela diferença de reatividade dos sítios da referida superfície metálica, em que é observada uma maior velocidade de reação do reagente de Murakami no local com maior densidade (de onde a numeração original foi removida). Como resultado, há a precipitação do hexacianoferrato de ferro III – ou Azul da Prússia, Fe[Fe(CN)6], conforme a reação:

Velho et al. (2015, p. 320-321), Farias (2015, p. 124-125) e Velho et al. (2012b, 218-220), por sua vez, sugerem alguns reagentes para serem usados em superfícies metálicas especificas, aos quais foram organizados no Quadro 8:

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Quadro 8. Reativos recomendados para exame metalográfico de acordo com o tipo de superfície metálica. TIPO DE SUPERFÍCIE

METÁLICA

REATIVOS RECOMENDADOS PARA O EXAME METALOGRÁFICO

Alumínio e suas ligas

Reagente de Keller (ataque químico brando):

2mL de ácido fluorídrico (HF) + 3mL de ácido clorídrico (HCl) + 5mL de ácido nítrico (HNO3) +

190mL de água destilada (H2O).

Reagente de Tucker (ataque químico agressivo):

15mL de ácido fluorídrico (HF) + 45mL de ácido clorídrico (HCl) + 15mL de ácido nítrico (HNO3) + 75mL de água destilada (H2O).

Reagente de Hume Rothery (reação lenta, de 45 a 60 minutos):

500g de cloreto de cobre II + 5mL de ácido clorídrico (HCl) + 1L de água destilada (H2O).

Aço carbono e titânio

Reagente de Hatcher (ataque químico brando):

55mL de ácido clorídrico (HCl) + 4g de cloreto de cobre I (CuCl) + 11g de cloreto de cobre II (CuCl2) + 31mL de água destilada (H2O).

Reagente de Hatcher (para superfícies pouco oxidadas):

40mL de ácido clorídrico (HCl) + 5g de cloreto de cobre II (CuCl2) + 30mL de água destilada

(H2O) + 25mL de etanol anidro (CH3CH2OH).

Reagente de Hatcher (para superfícies bastante oxidadas):

120mL de ácido clorídrico (HCl) + 90g de cloreto de cobre II (CuCl2) + 100mL de água

destilada (H2O).

Aço inoxidável

Reagente de Besseman-Haemers (ataque químico brando):

120mL de ácido clorídrico (HCl) + 130g de cloreto de ferro III (FeCl3) + 80g de cloreto de

cobre II (CuCl2) + 1L de etanol anidro (CH3CH2OH).

Reagente de Besseman-Haemers (para superfícies altamente desgastadas por raspagem):

120mL de ácido clorídrico (HCl) + 8g de cloreto de ferro III (FeCl3) + 6g de cloreto de cobre II

(CuCl2) + 100mL de etanol anidro (CH3CH2OH).

Cobre, latão e outras ligas de cobre

Solução Reveladora:

19g de cloreto de ferro III (FeCl3) + 6mL de ácido clorídrico (HCl) + 100mL de água destilada

(H2O).

Ferro fundido e ligas de magnésio

Solução Reveladora:

120mL de ácido clorídrico (HCl) + 130g de cloreto de ferro III (FeCl3) + 8g de cloreto de

cobre II (CuCl2) + 1L de metanol (CH3OH).

Ligas que contenham ferro

Reagente de Murakami:

Hidróxido de sódio (NaOH) + hexacianoferrato de potássio (K3[Fe(CN)6]) + água destilada

(H2O).

Todavia, ressalta-se que para proceder o exame metalográfico, deve-se inicialmente fazer a limpeza da superfície, usando-se principalmente solventes orgânicos (para desengordurar) e lixamento prévio da superfície (para remover camadas oxidadas do metal), de maneira a impedir que esse tipo de interferência ocorra na reação química e, por sua vez, atrapalhe a revelação.

Por fim, é importante ressaltar que o processo de revelação dos números de série, por ataque químico, em veículos automotores e armas de fogo ocorre muito rapidamente. E sendo ele um processo corrosivo e, consequentemente, um exame destrutivo, a revelação deve ser imediatamente fotografada (VELHO et al., 2012b, p. 217).

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Para a realização desta atividade, sugere-se que o professor atue como orientador e acompanhe os procedimentos executados pelos estudantes, especialmente no que se refere à segurança, uma vez que ao se trabalhar com substâncias inflamáveis e tóxicas, todas as precauções devem ser seguidas, fazendo-se o uso, por exemplo, de EPI’s e da capela – ou ainda, de um local que tenha satisfatória circulação de ar (caso seja realizado no laboratório, certifique-se que os exaustores estejam funcionando corretamente).

ROTEIRO DE ATIVIDADE DIDÁTICO-PEDAGÓGICA IX