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A falsificação, adulteração ou alteração de medicamentos é uma ação criminosa tão grave que pela Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, passou a ser considerada como crime hediondo, e portanto, é um crime inafiançável e sem direito à liberdade provisória antes da condenação ou à qualquer tipo de abrandamento da pena ou perdão da Justiça (indulto, anistia ou graça) (BRASIL, 1990):

181 Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei

no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)

[...]

VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) [...]

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e

drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto;

II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)

[...]

Em consonância, o Código Penal brasileiro (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) estabelece que os crimes que envolvem falsificação de produtos medicinais ou para fins terapêuticos, e ações correlatas, acarretam pena de reclusão e multa, conforme o seu artigo 273 (BRASIL, 1940):

Código Penal - Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940

Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos

ou medicinais: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.677,

de 2.7.1998)

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico. (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

V - de procedência ignorada; (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente. (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)

[...]

O rigor com que trata a legislação brasileira, assim como a maioria dos tratados internacionais sobre saúde, é justificado pela potencialidade dos medicamentos falsificados

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causarem danos às pessoas que são enganadas por esta prática reprovável e criminosa, aos quais podem incluir diversos efeitos danosos, desde complicações clínicas até levar à óbito, seja pelo não tratamento com o medicamento correto, seja pelo uso de outras substâncias presentes na medicação adulterada. Além disso, muitos outros problemas podem surgir, como o:

[...] alto custo financeiro, uma vez que a empresa fabricante do produto original precisa recuperar sua credibilidade junto ao paciente. Outro risco, ainda mais grave, é a falta de confiança das pessoas no sistema de saúde como um todo, o que pode levar, por exemplo, à baixa adesão da população em um programa de vacinação, comprometendo a eficiência do programa [...]. Outro aspecto crítico, que se desenvolve em longo prazo, é o desenvolvimento de resistência aos medicamentos (NEVES, 2012, p. 140).

Ames e Souza (2012), por exemplo, a partir da análise dos documentos periciais da Polícia Federal, no período de janeiro de 2007 a setembro de 2010, indicaram que foram elaborados 371 laudos com 610 medicamentos falsos apreendidos no Brasil, dos quais se destacaram os medicamentos para disfunção erétil masculina (Cialis® e Viagra®, no total de 69% dos produtos falsificados), esteroides anabolizantes (Durateston® e Hemogenin®, com 26% das apreensões) e inibidores de prostaglandinas (Cytotec®, com 3,5%, usado para o tratamento de inflamações e muitas outras aplicações).

Já Yano et al. (2011), num estudo experimental com cromatografia em camada delgada (CCD), analisaram 25 amostras de medicamentos manipulados naturais para tratamento da dor, da qual identificaram que sete (28%) deles eram falsificados, pois continham corticoides (acetato de dexametasona) e/ou piroxican – ambos usados como anti-inflamatórios e, consequentemente, para tratamento da dor – mas que não estavam declarados em sua composição, conforme obriga a legislação brasileira.

Portanto, para combater este tipo de fraude, os conhecimentos de diversas áreas das Ciências Forenses são requeridos, especialmente os documentoscópicos, para o exame mais preciso das embalagens dos medicamentos, e os de análise química e farmacológica do princípio ativo (substância responsável pelo efeito terapêutico ou medicamentoso) contido ou não nos produtos suspeitos.

Na análise da embalagem, Neves (2012, p. 142) argumenta que ela consiste em três etapas de avaliação: do aspecto geral (cor, fonte, disposição e tamanho das letras e desenhos, por exemplo), dos dados impressos na embalagem (prazo de validade, data de fabricação e número do lote) e das marcas de segurança presentes na embalagem (como a tinta que aparece após a raspagem com um objeto de metal ou com aplicação de luz ultravioleta, conforme a Figura 56).

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Assim, este procedimento acaba sendo um dos mais baratos e simples de realizar, cujos resultados já podem indicar a ocorrência de falsificação.

Quanto às análises químicas, elas requerem procedimentos mais precisos, tanto qualitativos, visando identificar a composição do produto e se há a presença do princípio ativo, quanto quantitativos, no intuito de determinar a concentração das substâncias, uma vez que pode haver excesso ou insuficiência do princípio ativo e de outras substâncias no medicamento. Neste sentido, VELHO et al. (2017a, p. 206) afirmam que a análise quantitativa é importante também porque “geralmente os falsificadores introduzem pequenas quantidades de substâncias genuínas

para tentar frustrar ou confundir o processo de detecção nas fórmulas farmacêuticas” (p. 206).

Ademais, as técnicas usadas para constatar as falsificações à nível de componentes do medicamento podem ser realizados incialmente por kits experimentais – podendo ser levados à campo (para análise presuntiva) – e posteriormente confirmados por técnicas instrumentais, à depender do grau de sofisticação da fraude, como por exemplo: a cromatografia (CG, CLAE, CCD), a espectrofotometria (no UV-VIS e no IV), espectrometria de massas (EM) e a ressonância magnética nuclear (RMN).