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Assim, as armas de fogo, como são objetos muito comuns em locais de crime (especialmente àqueles cometidos contra a vida), são também um dos principais vestígios a serem coletados e examinados pelo trabalho de investigação criminal, sobretudo pela área da Balística Forense – que é a ciência que dedica seus estudos à pesquisa e identificação de armas, cartuchos, projéteis e seus efeitos em ações criminosas, bem como a relação desses objetos com a(s) vítima(s) e o(s) atirador(es), auxiliando potencialmente a tomada de decisões pela esfera judicial.

Armas de fogo, cartuchos e projéteis

Conceitualmente, as armas de fogo podem ser entendidas como “armas de arremesso

complexas que utilizam, para expelir seus projéteis, a força expansiva dos gases resultantes da combustão da pólvora” (TOCCHETTO, 2018, p. 24). Esses instrumentos são classificados como

armas de arremesso porque seus efeitos podem ser produzidos à longas distâncias, e são complexas, pois não são em si os objetos que causam os danos, mas que são construídas para lançar projéteis – que são os que diretamente têm alto potencial ofensivo (e, muitas vezes, letal).

A classificação de um artefato como sendo ou não uma arma de fogo – uma vez que elas existem como um conjunto muito variado de formatos, dimensões e poderio ofensivo – envolve a análise de seu funcionamento. Se este for baseado na rápida produção de gases a partir da combustão e projeção de materiais à alta velocidade, o artefato será considerado como uma arma de fogo. Além disso, como esse funcionamento envolve necessariamente a produção de energia na forma de calor, elas também podem ser consideradas como “máquinas térmicas, obedecendo

os princípios da termoquímica e da termodinâmica” (OLIVEIRA et al., 2012, p. 229).

Cabe destacar ainda que existe a produção artesanal dessas armas ao reaproveitar materiais diversos para a sua fabricação (como peças de carros e de eletrodomésticos e materiais metálicos usados em encanamentos). Com nível de sofisticação bastante variado, as produções mais comuns variam desde adulterações em armas de fogo originais – como em revólveres

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(aumentando o seu calibre) e espingardas (acrescentando mais canos) – até a fabricação de armas em escala industrial, como as de submetralhadoras.

Por sua vez, há também os simulacros que são comumente usados em assaltos. Esses objetos são geralmente muitos semelhantes às armas de fogo, porém não possuem a capacidade de produzir tiros. Contudo, à primeira vista, principalmente para os leigos no assunto, torna-se muito difícil identificar se o referido objeto é de fato uma arma de fogo ou apenas a simulação de uma (como as armas de brinquedo).

Por outro lado, compreende-se também que os cartuchos e os projéteis (Figura 25) contidos neles, juntamente com o dispositivo que os projeta (a arma em si) constituem os elementos essenciais de uma arma de fogo. Assim, entender como se dá a produção de tiro, mesmo que de maneira não aprofundada, torna-se essencial.

As unidades de munição das armas de fogo são denominadas de cartuchos, e estes são compostos basicamente por: estojo, espoleta, carga de inflamação, carga de projeção e projétil (Figura 26).

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O estojo é a parte que envolve e dá forma e dimensão aos cartuchos e é constituído, geralmente, de metais (cobre ou alumínio) ou ligas metálicas (como de latão, que é uma mistura de cobre e zinco, em proporção de 70 e 30%, respectivamente). No estojo, encontra-se em sua base as marcas identificadoras do fabricante e o espaço para a espoleta – que se comunica com a mistura iniciadora, e esta, com a carga de projeção. Já na parte contrária à base, tem-se a boca do estojo, na qual se aloja o projétil.

Já a espoleta é o recipiente que aloja a carga de inflamação (ou mistura iniciadora) (Figura

27). A espoleta tem pequenas dimensões e é de material metálico. Quando o percutor da arma

atinge a espoleta, por meio do choque mecânico, têm-se início a produção do tiro. Figura 26. Estrutura esquemática de uma munição de arma de fogo.

PROJÉTIL ESTOJO ESPOLETA CARGA DE PROJEÇÃO CARGA DE INFLAMAÇÃO

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Quanto à mistura iniciadora (ou carga de inflamação), esta pode ser formada por uma mistura de diversas substâncias, à exemplo: há aquela composta por estifinato de chumbo [PbO2H(NO2)3], trissulfeto de antimônio (SbS3), nitrato de bário [Ba(NO3)2], tetrazeno (H4N4) e

alumínio atomizado (Al). Neste tipo de mistura iniciadora, a ativação se dá quando ela “[...] é comprimida pela bigorna, quebrando os cristais de estifinato de chumbo e tetrazeno. Inicia-se uma chama cujo combustível é o nitrato de bário, e cujo o oxidante é o trissulfeto de antimônio. A queima total das misturas se dá numa fração de tempo muito pequena” (TOCCHETO, 2018, p. 197).

Em relação à carga de projeção, esclarece que ela é comumente composta por pólvora (Figura 27). Já houve, ao longo da história, uma combinação muito grande de substâncias para a sua produção, como a denominada pólvora negra (uma mistura de salitre, enxofre e carvão). Atualmente, têm-se utilizado pólvoras à base de nitrocelulose e/ou nitroglicerina, que são mais vantajosas pela maior estabilidade química e pela menor produção de fumaça. Além disso, ressalta-se que a carga de projeção sofre combustão muito rapidamente pela ação de inflamação da mistura iniciadora, da qual acaba produzindo grande quantidade de gases com elevada pressão e temperatura, o que faz com que o projetil seja disparado com alta velocidade pelo cano da arma.

Por último, e não menos importante, há os projéteis. Estes são materiais metálicos (na maioria das vezes, feitos de cobre ou chumbo – revestidos ou não por outros metais, os chamados encamisados –, de diferentes formatos e dimensões (maciços, pontiagudos ou expansivos, por exemplo). Os projéteis são os elementos que produzem os efeitos do tiro ao atingirem o alvo, após serem expelidos pela arma de fogo.

Desta forma, entende-se que após o acionamento do gatilho da arma pelo atirador, o percutor se choca com a espoleta. Este choque produzirá a inflamação da mistura iniciadora, que imediatamente acionará a rápida combustão da carga de projeção, formando os gases com alta pressão e temperatura e dando impulso para o lançamento do projétil. Logo, pode-se dizer então que o tiro foi efetuado.

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