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Objetivo 3 Contribuir para uma melhor qualidade de vida por via da preservação e da

1. Minimizar conflitos entre

5.6 Agregação das estimativas DPP/DPA

Depois de estimar e validar o valor médio da DPP/DPA da amostra o passo seguinte passa por estimar o valor total para o universo populacional que está afeto ao recurso, bem ou serviço em estudo. Em contextos ideais, isto é, em que a população alvo de dimensão N está devidamente delimitada, a amostra foi obtida de modo aleatório, a totalidade de questionários foi preenchida na íntegra e foi realizado um cálculo não enviesado da DPP/DPA média, o processo para estimar a DPP agregada consiste

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simplesmente no produto da DPP/DPA média pela dimensão da população (Bateman

et al., 2002).

Contudo, mesmo tratando-se de um estudo que assenta num instrumento de pesquisa consistente, que contorna os principais riscos de enviesamento e que foi aplicado a uma amostra representativa, poder-se-á não conhecer a dimensão da população alvo. Nestes casos, Pearce et al. (2002) consideram que o procedimento mais adequado passa por efetuar um estudo complementar para estimar a população total. Habitualmente a área geográfica de proveniência dos respondentes poderá constituir um fator determinante na delimitação da população total. Voltando ao exemplo do recreio em áreas naturais, há uma forte probabilidade de que a maior parte dos seus utilizadores de recreio provenha das regiões envolventes. Nestes casos, pode-se considerar todos aqueles que residem nessas regiões (Verbič and Slabe-Erker, 2009; Jenkins et al., 2002; Tyrväinen, 2001) ou optar por uma abordagem mais conservadora e incluir apenas os “residentes” que utilizam a área em estudo para fins de recreio.

Os objetivos do estudo, as características do bem ou serviço a estudar, a alteração proposta e a relação (por exemplo, tipo e frequência de utilização) entre o bem e o respondente, poderão determinar se a agregação da DPP/DPA tem em conta cada indivíduo ou o agregado familiar. Na maior parte dos estudos segue-se a opção utilizada na questão de avaliação, isto é, se se pede ao respondente para apresentar a sua DPP/DPA individual ou familiar então o valor agregado terá em conta essa escolha. No entanto, nem sempre a unidade de medida do universo populacional corresponde à utilizada para estimar a DPP/DPA. Por exemplo, poderá acontecer que o universo anual de visitantes de um Parque Natural seja contabilizado pelo número de entradas por indivíduo, sendo a DPP/DPA estimada em termos de agregado familiar. Neste caso, o processo de agregação terá de recalcular o número aproximado de famílias que visitam a área em estudo anualmente (Bateman et al., 2002).

Existem outros fatores a considerar no cálculo da DPP/DPA agregada. Por exemplo, se a amostra for composta por subgrupos de utilizadores representativos da população em estudo (por exemplo, ciclistas, pescadores, montanhistas e visitantes

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de um Parque Natural), e se cada subgrupo apresentar uma DPP/DPA média distinta, o cálculo do valor agregado total poderá ser obtido a partir do somatório dos valores agregados de cada subgrupo. Para o efeito ter-se-á de conhecer o número de utilizadores de cada subgrupo e multiplicar esse valor pela respetiva DPP/DPA média (Ibidem). Analogamente, a amostra pode ser subdividida em termos de utilizadores e não utilizadores do bem em estudo.

O mesmo poderá acontecer se se verificar que as diferentes proveniências (ou local de residência) dos respondentes influenciam a DPP/DPA média. Neste caso, cada subgrupo da amostra corresponderá a uma determinada proveniência com uma DPP/DPA média específica. No que respeita ao cálculo da DPP/DPA total agregada, corresponderá ao somatório das DPP/DPA agregadas por proveniência (número de

utilizadores em cada proveniência multiplicado pela DPP/DPA média

correspondente). Se surgirem proveniências que distam bastante do bem em estudo e que são pouco representativas do total amostral, Pearce et al. (2002) defendem que a DPP/DPA correspondente pode ser igualada a zero (a distância considerada relevante pode ser determinada a partir dos resultados obtidos pelo questionário ou simplesmente intuída pelo investigador). Por sua vez, se a DPP/DPA não varia com a distância então o procedimento correto é agrupar toda a população alvo.

5.7 Conclusão

O presente capítulo explora as particularidades que envolvem a utilização do MAC. Este método centra-se na criação de um mercado hipotético face ao qual os indivíduos são questionados relativamente à sua disposição para pagar (ou aceitar) por uma alteração num bem que não está traduzido num valor monetário. A forma como essa alteração vai afetar a utilidade individual irá traduzir-se num valor monetário que é expresso por cada respondente. A partir deste valor, é estimada a DPP média individual, para a amostra de respondentes e inferido o valor agregado para a totalidade da população afeta ao bem.

Para o efeito, os estudos de AC assentam na conceção de um questionário, no qual dá-se particular destaque à descrição da referida alteração, em termos de política e de mercado hipotético em que se insere e às opções que rodeiam a questão do

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pagamento (tipo, periodicidade e veículo de pagamento). De um modo geral, privilegiam-se as orientações apresentadas, e devidamente sustentadas, pelo relatório do Painel NOAA, por exemplo: a questão de avaliação contingente deve assumir o formato discreto (admitindo a opção de “não resposta” e uma questão follow-up); o uso da DPP enquanto medida de bem-estar; a alteração em avaliação deve ser descrita de forma clara e completa recorrendo, se necessário, a imagens e outras ferramentas de apoio; devem ser incluídas questões que permitam caracterizar o respondente; o questionário deve ser aplicado de forma direta, etc.

Um dos maiores desafios deste método está associado aos diversos riscos de enviesamento que podem surgir em qualquer uma das fases de design, pré-teste, aplicação e tratamento de dados de um questionário AC. Na prática, o simples facto de se pedir aos indivíduos que tomem decisões num contexto hipotético, poderá conduzir a respostas que se afastam das suas verdadeiras opiniões. Além deste risco de enviesamento hipotético, o distanciamento entre as verdadeiras opiniões dos indivíduos e aquelas que expressam em questionários de AC pode ter, na sua base, razões estratégicas, associadas, por exemplo, a interesses individuais dos respondentes. Neste domínio, do enviesamento estratégico, destacam-se os riscos da subavaliação ou da sobreavaliação estratégica do bem ambiental, muito associadas, respetivamente, ao free-riding e ao warm-glow. Refere-se igualmente o risco de

embedding aliado a efeitos de subaditividade do bem/serviço em foco, à dificuldade

do indivíduo perceber a real dimensão do referido bem ou o alcance da alteração (ou da política) em avaliação e, por fim, à falta de informação quanto ao período temporal em que o indivíduo deverá pagar pela alteração. Ainda no que respeita ao pagamento, o veículo escolhido para o efeito é uma das decisões essenciais no design do questionário AC determinando, em larga escala, a veracidade da resposta à questão AC e ao número de respostas de protesto. Por fim, também as decisões relativamente à população alvo e à forma de seleção da amostra poderão aumentar o risco de enviesamento estatístico dos resultados de estudos AC.

Mais uma vez, o relatório NOAA e a investigação que se tem vindo a efetivar sobre o MAC apresentam importantes contributos para evitar os riscos de enviesamento. Neste contexto, particulariza-se o contínuo afinamento de testes de validade que

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consequentemente, legitimar os resultados obtidos em estudos de avaliação contingente. Do ponto de vista dos resultados, os estudos de AC visam a obtenção de uma medida de valor que traduza a reação dos indivíduos a uma alteração num determinado bem/serviço, na perspetiva da eficiência económica. Grande parte dos estudos segue as indicações do relatório NOAA e opta por estimar a DPP em detrimento da DPA, preterindo, em termos estatísticos, a mediana relativamente à média. É a partir desta medida que se obtém o valor agregado da DPP para a totalidade da população afetada pela alteração em foco. No que respeita aos resultados obtidos através de uma questão AC, de formato dicotómico, o cálculo da média é obtido por via de modelos econométricos que estimam o peso das diferentes variáveis nas respostas AC, destacando-se o modelo da utilidade diferenciada de Hanemann como o usualmente escolhido nos estudos de avaliação de alterações nas oportunidades de recreio de base natural.

Os principais resultados de grande parte dos estudos de AC centram-se particularmente no afinamento dos modelos estatísticos para estimar a DPP/DPA bem como no cálculo dos valores agregados. Complementarmente, fruto da estrutura e dos conteúdos usuais dos questionários AC, é ainda frequente a obtenção de dados que permitem caracterizar o utilizador de recreio, a sua postura e opinião face aos recursos naturais e os principais usos de recreio. Apesar de tudo, a diversidade de informação que se pode obter a partir deste tipo de questionários nem sempre é rentabilizada sobretudo no que respeita a tratamentos e interpretações que são uma mais valia ao nível do planeamento e da gestão de recursos naturais. Por exemplo, embora os dados obtidos o permitam fazer, não se encontram estudos de AC que complementem os habituais tratamentos estatísticos com a determinação de categorias de utilizadores de recreio e respetiva segmentação em termos da valorização que fazem de um determinado recurso ou serviço de cariz natural ou ambiental. O painel de estudos apresentado na tabela 4.2 fortalece esta ideia da lacuna existente nos estudos AC no que respeita à diversificação dos tratamentos dos dados e da sua otimização em termos de apoio à atividade de planeamento e gestão.

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