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Objetivo 3 Contribuir para uma melhor qualidade de vida por via da preservação e da

1. Minimizar conflitos entre

4.3 Conceito de valor económico

4.3.1 O valor económico total da floresta

O conceito de valor económico total (VET) baseia-se no conceito de utilidade, ou seja, nos benefícios que os agentes económicos obtêm quando usam (ou simplesmente beneficiam dos outputs gerados pelo seu bom funcionamento) os serviços ambientais, direta ou indiretamente, para diversos fins. Desse uso geram-se vários benefícios, diretos ou indiretos, com ou sem valor de mercado diretamente quantificável. O VET apresenta-se como um esquema estruturado que permite identificar todos os tipos de benefícios, assim como o número de indivíduos que deles auferem. Com efeito, a importância socioeconómica de um dado serviço aumenta com o número de indivíduos que dele beneficiam (Kettunen et al., 2009).

Quando se aborda o conceito de valor económico total pressupõe-se a inclusão dos diferentes tipos de valorização de um bem ou serviço – o valor de uso (VU) e o valor de não uso (VNU). O valor de uso – também denominado de valor ativo – compreende o valor direto, o valor indireto e o valor de opção. Especificando o caso de ecossistemas florestais (Figura 4.3), o valor direto está associado ao uso efetivo dos bens materiais e imateriais disponibilizados pela floresta.

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Figura 4.3: Valor Económico Total de Ecossistemas Florestais

Fonte: Stenger (2006)Habitats, espécies ameaçadas

Assim, o valor de uso das florestas inclui o valor comercial da madeira, de materiais como a cortiça e o látex, e alimentos como frutos, bagas e cogumelos. Complementarmente, os potenciais benefícios resultantes de atividades de lazer (quer numa perspetiva de recreio informal quer em termos de atividades turísticas) contribuem para o valor de uso direto. Os valores de uso podem ser categorizados em consumptivos e não consumptivos, correspondendo os primeiros a atividades que consomem recursos físicos da floresta (como é o caso da caça e pesca), e os segundos ao usufruto do ambiente que se vive na floresta (campismo, caminhadas, observação de espécies, entre outras). O valor de uso indireto está associado aos benefícios que os indivíduos vivenciam ou usufruem indiretamente, ou como consequência da função primária de um dado recurso. São exemplos, a capacidade da floresta absorver o carbono da atmosfera, a sua função na defesa efetiva contra a erosão do solo, o controlo de cheias e a regulação das águas. Os valores de opção referem-se a todos os valores de uso (diretos e indiretos) que podem vir a ser realizados, de algum modo, no futuro. Isto é, o valor de opção é o valor atribuído à manutenção e preservação do bem, para garantir a possibilidade de vir a usá-lo no futuro.

Decréscimo do valor tangível Ecossistema Florestal Valor Económico Total

Valor de Não Uso

Valores de Uso Direto

Valor de Uso Valores de Uso Indireto Valor de Opção Valor de Legado Valor de Existência Consumptivo Comercial Subsistência Não consumptivo Turismo/Recreio Cultural/Espiri- tual/Histórico Científico/ Educaciolnal Funções ecológicas e paisagísticas Valores de uso indiretos e valores diretos futuros Biodiversidade, habitats conservados Valor atribuído a um bem apenas pelo facto de se saber que existe Valor que gerações atuais

atribuem a um determi- nado bem/serviço por saberem que vai estar disponível para as gerações futuras. Habitats, alterações irreversíveis Habitats, espécies ameaçadas

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Segundo Mendes (2006), no valor de uso de um bem poder-se-á incluir o valor de uso vicário, derivado da satisfação obtida a partir da observação de imagens, livros e ou materiais de divulgação de bens/serviços ambientais (mesmo que nunca se tenha a oportunidade de visitá-los) e o valor quasi opção, associado à possibilidade de aceder a informação que contribua para que, no futuro, os indivíduos optem pela melhor decisão, quando avaliarem amenidades (é o prémio pago para assegurar mais informação científica, permitindo, assim que se sigam as opções mais coerentes no futuro). A nível florestal, poderá corresponder a futuras descobertas relativamente a novos usos medicinais e agrícolas de espécies arbóreas ou arbustivas e a novos benefícios ecológicos providenciados pela floresta (Amirnejad et al., 2006).

O valor de não uso (ou valor passivo) corresponde ao valor que os indivíduos atribuem a um bem ambiental e que não está associado a qualquer utilização presente, ou mesmo futura, desse bem. São considerados valores de não uso o valor de legado (associado à predisposição para pagar pela preservação do bem ambiental como garante de que assim vai estar disponível para as futuras gerações) e o valor de existência (valor atribuído a um bem meramente pelo facto de se saber que existe, mesmo que não seja objeto de utilização ou usufruto, nem hoje nem no futuro). O VET da floresta é pois um valor compósito traduzido por:

VET=VU+VNU

onde se agrupam os benefícios decorrentes do uso atual do recurso floresta e os benefícios associados à existência de uma determinada quantidade e/ou qualidade desse recurso traduzidos pela disposição a pagar pela sua manutenção (Mendes, 2006). A par do que acontece com os bens de mercado, também os recursos naturais – como a floresta – geram benefícios associados aos seus serviços ao longo de um determinado período de tempo. Neste sentido, o valor económico total de um recurso natural é igual à soma dos benefícios atualizados, gerados ao longo do período de tempo considerado (Idem).

Na perspetiva desta investigação, e num contexto em que os espaços de floresta são cada vez mais procurados pelas experiências de recreio que propiciam, a atenção recai sobre o valor de uso direto das florestas, especificamente relacionado com os

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bens e serviços de recreio. Avaliar os benefícios obtidos por este tipo de uso é particularmente valorizado em situações de florestas públicas, onde o acesso é livre e em que o atual panorama de política florestal enfatiza o desenvolvimento multifuncional da floresta. A afetação eficiente do recurso floresta passa, pois, por avaliar as alterações decorrentes entre os usos que comporta e os que poderá vir a comportar, incluindo não só os usos comerciais mas também os usos de recreio, estes usualmente não traduzidos num valor de mercado.

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