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Objetivo 3 Contribuir para uma melhor qualidade de vida por via da preservação e da

1. Minimizar conflitos entre

4.1 Fundamentos teóricos da Economia do Ambiente

As preocupações relacionadas com o uso dos recursos naturais e com os aspetos ambientais daí decorrentes começaram a ser assumidas como um ramo efetivo da ciência económica no início dos anos setenta. Apesar disso, este ramo da economia

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assenta em princípios e teorias económicas bastante mais recuadas no tempo. São particularmente dois os paradigmas da ciência económica que estão na génese da economia ambiental: o clássico e o neoclássico. O primeiro é marcado pelos contributos do pensamento económico do século XVIII e XIX (Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo e John Stuart Mill) o qual evidencia o poder do mercado para estimular o crescimento e a inovação. O pensamento clássico acompanha temporalmente a Revolução Industrial evidenciando, na sua abordagem, o contacto direto com os processos de transformação do território, dos recursos naturais, dos processos produtivos e da própria sociedade. Trata-se de uma abordagem essencialmente preocupada com as perspetivas de crescimento de longo prazo, e que defendia que os elevados índices de crescimento económico presenciados eram temporários, correspondendo a uma fase intermediária que antecede um estado estacionário (steady-stead economy) (Tisdell, 2005; Pearce and Turner, 1990).

Uma das principais limitações da teoria clássica diz respeito ao conceito de valor, o qual resultava essencialmente nos custos necessários para produzir um determinado bem ou serviço. Em grande parte, é neste ponto que se verifica um grande afastamento entre o primeiro e o segundo paradigma, o da economia neoclássica. Neste, a determinação do valor de um bem ou serviço baseia-se não nos custos de produção mas na utilidade que dá ao consumidor. Com efeito, a utilidade (ou as preferências do consumidor) é um aspeto central da revolução neoclássica, sobretudo quando enquadrada nos pressupostos da corrente marginalista. Neste domínio, destaca-se particularmente o conceito de utilidade marginal e a lei da utilidade marginal decrescente. O termo marginal respeita à utilidade adicional obtida pelo consumo de uma unidade extra de um bem ou serviço. À medida que se consome mais, cada unidade extra consumida vai tendo uma contribuição menor na utilidade total, isto é a utilidade marginal do bem ou serviço vai decrescendo (Samuelson and Nordhaus, 1999).

A atividade económica, em contextos reais, era vista como o resultado da interação entre a atividade produtiva e as preferências individuais dos consumidores, os quais apresentavam constrangimentos associados à diversidade de opções e ao rendimento disponível. A economia neoclássica, além da sua vertente positiva, com o enfoque na

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utilidade, alargou o seu âmbito a abordagens normativas, nomeadamente com a exploração dos conceitos ligados à economia do bem-estar (Faucheux and Noël, 1995). Segundo esta, muito centrada na teoria utilitarista, cada indivíduo obtém utilidade ou satisfação mensurável pelo consumo que faz dos bens e serviços disponíveis. Como tal, o uso (a gestão e transformação) que a sociedade faz dos recursos necessários à produção desses bens e serviços deve ser de tal modo que permita maximizar a (agregação da) utilidade obtida pelos indivíduos. Para o efeito, a economia do bem-estar baseia-se no conceito de eficiência económica (na afetação dos recursos) visando a melhoria do bem-estar social (Tisdell, 2005; Edward-Jones,

et al., 2000).

As bases da economia ambiental são geradas pela teoria da utilidade e pela economia do bem-estar, com um enfoque particular para a questão da afetação eficiente dos recursos naturais e ambientais, principalmente quando essa eficiência pode falhar. Isto acontece sobretudo aquando do caráter público desses recursos e quando os tipos e escalas de usos a que são sujeitos produzem custos ou benefícios externos que não são traduzidos no custo final dos bens e serviços criados.

Nestes casos, em que os mercados não apresentam as soluções mais eficientes de afetação dos recursos ambientais, a escola intervencionista (que eclodiu no início do século XX), defende que cabe ao Estado intervir para permitir a maximização do bem-estar social. Segundo Faucheux and Noël (1995), esta corrente da escola neoclássica, e particularmente Arthur Pigou, deu importantes contributos na sustentação da economia e política de ambiente, ao defender a criação de instrumentos económicos (impostos/subsídios) visando a internalização dos efeitos externos das atividades humanas, fossem eles positivos ou negativos.

Segundo o teorema de Coase (Coase, 1960), se os direitos de propriedade forem claramente definidos e se os custos de transação (custos de informação, definição de contratos e compromissos, especificações de direitos de propriedade, entre outros) não existirem, ou forem reduzidos, o causador da externalidade e aquele que é afetado poderão negociar e alcançar o ponto de eficiência (Edward-Jones, et al., 2000), sem que se recorra à intervenção do Estado. No caso dos recursos ambientais, os custos de transação são em geral elevados, nomeadamente devido ao elevado

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número de agentes envolvidos. Assim, a definição de direitos de propriedade geralmente não é suficiente para conduzir a soluções eficientes (Pearce and Turner, 1990).

A partir da década de 70, ultrapassado o período de recuperação pós-guerra e numa altura em que as principais economias mundiais alcançavam elevados níveis de crescimento, agudizam-se as preocupações com a sustentabilidade dos recursos naturais e com os impactes no ambiente. Segundo, Pearce and Turner (1990) este cenário suscitou um conjunto de preocupações, cristalizadas no ambientalismo, que conduziram ao aparecimento da subdisciplina da economia do ambiente. De referir, no entanto, que o ambientalismo cresceu seguindo diferentes linhas ideológicas, como o tecnocentrismo2 e o ecocentrismo3, as quais vão inspirar o surgimento de abordagens distintas relativamente à relação entre a economia, o ambiente e os recursos naturais.

4.1.1 Economia do ambiente vs economia dos recursos naturais e economia ecológica

A relação entre a economia, os recursos naturais e o ambiente tem vindo a ser abordada dentro de fundamentos teóricos distintos conduzindo a abordagens muito próprias e independentes. A teoria económica distingue a economia do ambiente, da economia dos recursos naturais e, mais recentemente, da economia ecológica.

A assunção base da economia ambiental é que o ambiente e a economia são áreas que estão intrinsecamente ligadas independentemente do tipo e dimensão das intervenções e atividades humanas. Turner, et al. (1994: vii) referem a propósito que

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O Tecnocentrismo inclui posições extremadas, designadamente: as que se opõem a quaisquer limitações ao uso dos recursos naturais, quer por parte dos consumidores individuais quer dos mercados, e as posições que reconhecem que o uso humano desses recursos e os problemas ambientais decorrentes constituem um sério obstáculo ao crescimento económico. Esta situação que poderá ser minorada, recorrendo a “barreiras a respeitar e uma utilização hábil dos instrumentos económicos de incentivo. Encontram-se aqui os mais fervorosos adeptos do desenvolvimento sustentável” (Faucheux and Noël, 1995: 26).

3 O Ecocentrismo apresenta duas posições: a preservacionista, conhecida por deep ecology, assente na preservação integral da biosfera que obrigará a uma redução absoluta da atividade e dos outputs económicos, defendendo uma transformação dos sistemas económicos em sistemas “minimum resources-take” (Turner et al., 1994: 30); e, a conservacionista, que defende que o crescimento económico deve parar (steady-stead economy) para fazer face ao desgaste dos recursos naturais e aos problemas ambientais.

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“no economic decision can be made that does not affect our natural and built environments. No environmental change can occur that does not have an economic impact”. Neste contexto, a economia do ambiente preocupa-se com as consequências que as atividades económicas provocam no ambiente, podendo dar importantes contributos já que assenta, em parte, numa avaliação económica dos efeitos externos da atividade económica sobre o ambiente, na identificação das causas económicas que os originaram e, por fim, na identificação dos instrumentos económicos que permitirão reduzir ou reverter o processo e as dinâmicas que geram esses efeitos danosos. Os investigadores desta área focaram a sua atenção na poluição e em formas de controlo e minimização dos impactes (nomeadamente em situações onde os preços não refletiam todos os custos externos). Ao longo dos tempos a economia do ambiente começou a incluir outras questões como a conservação e gestão da biodiversidade, a tomada de decisão política e questões de desenvolvimento de setores como a agricultura, floresta, recreio e turismo e conservação (Edward-Jones

et al., 2000). O seu campo de investigação preocupa-se sobretudo com as falhas de

mercado e baseia-se nos princípios da economia do bem-estar.

Já a economia dos recursos naturais, inspirada grandemente na teoria neoclássica (Hussen, 2000), preocupa-se com o uso dos recursos não renováveis (sobretudo minérios como o petróleo, cobre, etc.), a exploração dos recursos renováveis (como é o caso dos mananciais pesqueiros ou florestais, a água ou fontes renováveis de energia). Quanto à economia ecológica, eclodiu nos anos 80, num contexto de consciencialização da dimensão e gravidade dos problemas ambientais, e da necessidade de uma abordagem interdisciplinar. Distingue-se da economia ambiental por assumir a economia como um subsistema de um sistema mais amplo – a Terra – sendo o objetivo principal a preservação do capital natural (Perman et al., 2003), rejeitando a proposição de que o capital natural pode ser substituído por capital de origem humana (Goodstein, 2008). De um outro modo, Bergh (2000) refere que a economia ambiental tende a focar-se nas preferências humanas e na afetação eficiente dos recursos naturais enquanto que a economia ecológica centra-se nas consequências ambientais de decisões económicas, num quadro de justiça social e distribuição equitativa dos recursos, em que se garanta a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento social e económico de longo prazo. A utilização de recursos ambientais é analisada pela economia ecológica num contexto de desenvolvimento

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sustentável, assente numa avaliação multidimensional onde se privilegiam indicadores físicos e biológicos e onde se abordam questões éticas. Por sua vez, a economia ambiental enquadra-se num contexto de eficiência, recorrendo a medidas de valor para avaliar economicamente os recursos naturais e ambientais e realizar análises de custo-benefício de projetos e políticas.

4.2 Eficiência de recursos naturais e ambientais e o suporte da economia do

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