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Tendências na evolução do recreio e turismo – reflexos ao nível da floresta

2.4 O Recreio Florestal

2.4.1 Representatividade do recreio florestal: alguns números e tendências Há muito que as florestas são usadas como um local de recreio e turismo Numa

2.4.1.1 Tendências na evolução do recreio e turismo – reflexos ao nível da floresta

Por sua vez, os diversos valores sociais, culturais e espirituais das florestas, tão importantes para as referidas comunidades, representam em conjunto com os valores naturais, fatores cada vez mais valorizados no contexto das visitas de um dia e das viagens turísticas. A procura das florestas enquanto espaço de recreio tem acompanhado, em certa medida, a evolução da procura generalizada por recreio e turismo e, tal como esta tem sofrido alterações nas razões que a estimulam, no tipo de atividades desenvolvidas e também no seu volume.

2.4.1.1 Tendências na evolução do recreio e turismo – reflexos ao nível da floresta

O recreio e o turismo em espaços florestais é um tema usualmente explorado em conjunto com o recreio outdoor, uma vez que “few visitors go to observe the forest itself but to carry out recreational activities in it” (Font and Tribe, 2000: 2). A evolução do recreio florestal encontra, assim, algumas similitudes com as abordagens históricas do desenvolvimento do recreio outdoor. Neste campo, o homem sempre encontrou nos espaços naturais diversas formas de ocupar o seu tempo livre. A caça, nas suas versões mais lúdicas e desportivas, é um bom exemplo de recreio desde os tempos mais antigos até à atualidade (Bell, 1997). O pós revolução agrícola e

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industrial, quer na Europa quer nos EUA, ficou igualmente marcado por um crescimento dos passeios e visitas a enquadramentos naturais e rurais. As fracas condições habitacionais nas cidades-fábrica, sobretudo nos bairros operários, a par do desenvolvimento dos transportes (a vapor) foram importantes estímulos nesta fase de redescoberta dos campos e das paisagens rurais. Temporalmente, decorriam os séculos XVIII e XIX, e as principais atividades de recreio outdoor eram as caminhadas no campo, os piqueniques em família, a pesca e a caça. Mais tarde, na primeira metade do século XX, a generalização da produção e aquisição da viatura própria, aliada a um conjunto de outros fatores conduziu a uma crescente e massificada procura por locais e experiências de recreio, quer numa lógica de proximidade quer para locais mais longínquos. Mais uma vez, quer na Europa quer nos EUA, ganham destaque os espaços naturais e as infraestruturas de apoio quer numa lógica de visita de um dia quer para estadas mais longas. Nos EUA, o movimento dos parques nacionais iniciado no século XIX (com a classificação de muitas zonas de montanha, floresta e outros enquadramentos como Parques Nacionais e Monumentos Nacionais) sofre grandes pressões decorrentes de elevadas taxas de visita particularmente nas primeiras décadas do século XX (Bell et al., 2007). Contudo, é no período pós Grande Depressão e II Grande Guerra que o recreio outdoor – com as viagens de férias e em família – emerge como a principal componente do estilo de vida americano. As principais atividades dos anos 50 e 60 estavam relacionadas com o contacto direto com a natureza (nadar, caminhar, jogar ou praticar desporto outdoor, observar a natureza, fazer piqueniques, caçar, etc.) e com o usufruto das infraestruturas e equipamentos de recreio que foram implementados na rede de áreas protegidas (centros de interpretação, trilhos, parques de campismo, etc.) (Cordell, 2008). Na Europa mantém-se a procura pelas estâncias termais, de esqui e de montanha, sobretudo nos países no Norte e Centro da Europa, e pelas praias no Sul da Europa.

Quer nos EUA quer na Europa, o recreio não se restringe apenas às áreas protegidas, verificando-se um crescendo na utilização de parques verdes locais, florestas urbanas e espaços livres nas cidades ou nas proximidades. A evolução verifica-se não só no número de indivíduos que procuram cada vez mais espaços e experiências de recreio, mas também no tipo de atividades e na forma como são organizadas. A crescente procura conduziu ao desenvolvimento de uma oferta mais diversificada e organizada,

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fomentada por empresas especializadas que organizam e preparam esse tipo de experiências, quer em contextos de um dia, quer enquadradas em pacotes ou viagens turísticas. A título de exemplo, incluem-se as atividades de escalada, montanhismo, orientação, o pedestrianismo, as viagens de aventura, as viagens de natureza, as expedições a pé, de bicicleta ou de veículo todo-o-terreno, entre muitas outras (Bell, 1997).

Na perspetiva do turismo, e passada a fase da generalização do pacote turístico assente no transporte aéreo e nos destinos de sol e mar (principalmente das décadas de 60, 70 e 80), tem vindo a evoluir o número de viagens para destinos com uma forte componente natural e rural. Com efeito, as últimas duas décadas têm sido marcadas pelo

desenvolvimento de versões mais ‘verdes’ do turismo – o turismo de natureza e o ecoturismo (ver tabela 2.5) – direcionadas a uma procura que valoriza cada vez mais o contacto com os recursos endógenos, de caráter natural e cultural, dos locais.

Segundo a Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES), no início da década de 90, o ecoturismo crescia entre 20 e 34% ao ano e, em 2004, a sua evolução em conjunto com o turismo de natureza era três vezes superior ao verificado globalmente na indústria turística. Na perspetiva dos mercados internacionais, o turismo de natureza apresenta taxas de crescimento anual que variam entre os 10 e 30% (TIES, 2006; Hassan et al., 2005). A TIES antevê ainda que as viagens turísticas com maior crescimento, nos próximos vinte anos, sejam as que oferecem experiências onde se alia a natureza, o património cultural, a aventura, assim como o turismo rural e o contacto com as comunidades locais.

Dum modo geral, as florestas, bosques e matas, pelos elementos naturais e culturais e pela envolvente paisagística que os caracterizam, enquadram-se inteiramente neste tipo de viagens e experiências (Christ et al., 2003) e, consequentemente, nas tendências mencionadas. São diversos os fatores que permitem compreender a Tabela 2.5: Conceitos de Ecoturismo e Turismo

de Natureza

Ecoturismo: Viagens responsáveis para áreas

naturais marcadas pela conservação do ambiente e melhoria do bem-estar da população local.

Turismo de Natureza: Qualquer forma de turismo

que assenta em primeira instância no ambiente natural como principal atração e enquadramento.

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evolução da procura de recreio outdoor e, mais especificamente, de recreio florestal. Entre eles, destaca-se o crescente aumento do tempo livre e o estilo de vida de grande parte da população dos países desenvolvidos, isto é, uma população tendencialmente urbanizada cujo modo de vida moderno conduz a uma valorização dos espaços naturais e daquilo que representam. Por sua vez, as mudanças demográficas e as alterações na composição das famílias nesses países permite identificar vários segmentos da procura com necessidades de recreio muito próprias, nomeadamente: a população sénior, os jovens adultos, os casais jovens com duplo rendimento, a população infanto-juvenil (com ambos os pais a trabalharem) e os casais de meia-idade (cujos filhos já saíram de casa e deixaram de ser um encargo) (Cunha, 2006; Bell, 1997).

Complementarmente, as preocupações com a saúde e bem-estar individual e com as questões ambientais tem conduzido à definição de novos padrões no uso do tempo livre. Por um lado, os efeitos do stress, da obesidade e da falta de exercício físico na população urbana têm fortalecido os benefícios do contacto com espaços naturais e o desenvolvimento de atividades ao ar livre. Por outro, a perceção comum e os resultados obtidos por alguns estudos evidenciam uma crescente atenção das pessoas face ao ambiente e aos seus principais problemas. Muitos daqueles que revelam estas preocupações apresentam uma maior propensão para ter uma experiência de recreio ou turismo de natureza e, inclusivamente, “they also wish to take part in activities that may have a benefit for their local environment or for that of another country” (Bell et al., 2007: 10). Por fim, e particularizando o caso europeu, a generalização do livre acesso a muitos espaços naturais – incluindo florestas – propicia a sua utilização do ponto de vista do recreio.

2.4.1.2 O recreio florestal no mundo, na Europa e em Portugal: dados sobre a

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