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Objetivo 3 Contribuir para uma melhor qualidade de vida por via da preservação e da

1. Minimizar conflitos entre

1.2 Criar zonas de recreio motorizado para separar

usos com maior propensão a conflitos.

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Segundo Bürger-Arndt and Bell (2009) a fase anterior, de recolha e caracterização da área em estudo (e da envolvente), é determinante para reavaliar e reformular as ideias iniciais relativas às metas e objetivos dentro de um quadro de concretização efetiva. São várias as indicações para uma determinação cuidada e eficaz das metas e objetivos, nomeadamente: não haver incompatibilidades entre metas e entre objetivos; respeitar as características ecológicas da zona; considerar a capacidade ambiental da zona; evitar ou minimizar intervenções que possam ser danosas para as dinâmicas biofísicas e socioeconómicas. Por sua vez, o cariz operacionalizável das metas e objetivos traçados é essencial num contexto onde se pretende proceder ao ordenamento dos usos de recreio florestal.

Segue-se a fase de identificação das várias opções de desenvolvimento que podem ser seguidas. Cada opção tem implícita uma proposta de afetação das oportunidades de recreio num determinado espaço florestal, podendo haver, a título de exemplo, propostas com um forte cunho no recreio infraestruturado e outras que valorizam um recreio não infraestruturado, centrado essencialmente nos recursos naturais existentes. Tratando-se de um plano de gestão de uma infraestrutura ou equipamento, área de recreio florestal ou parque florestal, poderá corresponder a diferentes abordagens e modelos de gestão. Em ambos os casos, cada opção deve corresponder a uma conjugação distinta dos atributos ecológicos, físicos e socioeconómicos do local, considerando por um lado as suas características específicas e por outro a concretização das metas e objetivos delineados.

Após a fase de identificação, sucede-se a análise e avaliação de cada opção. Para que seja o mais eficaz possível, este processo deverá (Baas, 2009):

- Verificar a existência de falhas graves, como é o caso do não cumprimento de regulamentos e outras imposições legais (por exemplo, não cumprir com índices de utilização e ocupação do solo legalmente instituídos ou propor atividades que são interditas em determinadas zonas);

- Cartografar cada uma das opções no sentido de melhor avaliar as diferentes propostas de afetação dos recursos e do território bem como a articulação entre os vários elementos propostos (trilhos pedestres, ciclovias, áreas de recreio motorizado, zonas de estacionamento, áreas de descanso, parques de merendas, acessibilidades,

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sanitários, postos de receção, centros de interpretação ambiental, zonas naturais interditas, etc.);

- Identificar os potenciais impactes ambientais de cada opção de recreio e eventualmente destacar a opção que é ambientalmente menos penalizadora;

- Avaliar o impacto de cada opção ao nível das oportunidades de recreio propostas (em termos dos tipos de oportunidades, da sua variedade, das área(s) afetas a cada oportunidade, das regras de utilização, etc.)

- Recolher considerações políticas e contributos e opiniões de especialistas e do público em geral.

À priori este processo permitirá reunir informação suficiente para identificar os prós e os contras de cada opção contribuindo fortemente para a fase seguinte, isto é, a seleção de uma das opções. A tomada de decisão relativamente à melhor opção pode ser especialmente difícil no setor público (Veal, 1994), sobretudo quando existem limitações (físicas, técnicas, financeiras) à concretização de algumas opções, quando algumas das propostas são de difícil quantificação ou quando algumas das metas e objetivos são tendencialmente conflituosos. Além dos procedimentos listados atrás (incluindo análises de impacte ambiental, considerações políticas, consultas públicas e contributos de especialistas) e que podem sustentar a tomada de decisão, Veal (1994) destaca o contributo das técnicas económicas através de análises do impacto económico de cada opção de desenvolvimento ou por intermédio de uma análise custo-benefício. Segundo o autor, a grande dificuldade desta técnica resume-se ao facto dos bens e serviços ao nível do recreio florestal serem de difícil tradução monetária. Apesar destes bens e serviços traduzirem-se frequentemente em importantes benefícios para a sociedade habitualmente não são considerados ou é- lhes atribuído um valor ou um peso inapropriado, uma vez que não apresentam valor de mercado. O mesmo pode acontecer com a importância atribuída pela sociedade à possibilidade de (vir a) contactar com uma determinada espécie animal, vegetal ou um habitat florestal específico.

Ignorar a informação quantitativa do valor do recreio florestal para as comunidades e para a dinâmica de desenvolvimento socioeconómico significa, segundo Bell and Petursson (2009), ignorar um conjunto de coordenadas essenciais na atividade de planeamento (desde as políticas de uso do solo florestal ao planeamento estratégico

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de âmbito mais geral). Perrings (1995) especifica, referindo que o maior risco é que o verdadeiro valor do recreio florestal não se veja refletido no processo de tomada de decisão e que a decisão final não tenha em consideração o que a sociedade efetivamente valoriza.

Segundo Baas (2009), a tomada de decisão política nem sempre recai sobre a opção aparentemente mais eficiente (pelo menos à luz dos dados apresentados pela equipa de planeamento). As perspetivas de (não) financiamento de algumas fases de implementação, a perceção das implicações políticas associada à escolha de uma determinada opção e até fatores intangíveis (como a perceção muito pessoal de quem detém o poder) podem ser determinantes. Entenda-se como opção mais eficiente aquela que, face aos meios ou recursos disponíveis, permite maximizar os resultados obtidos e, consequentemente, a satisfação das necessidades, pressupondo também a ausência de desperdícios (Jafari, 2003).

Portanto face à opção escolhida, além das oportunidades de recreio previstas, do seu zonamento e das intervenções ao nível de infraestruturas, equipamentos de recreio e de apoio, o plano deverá contemplar (Bürger-Arndt and Bell, 2009):

- o cronograma da implementação das diversas ações previstas (face à sua urgência, localização e tempo de execução);

- os recursos necessários (financeiros, técnicos e humanos);

- os regulamentos e normas em vigor que vinculam as intervenções de recreio em espaços florestais;

- os procedimentos formais e as recomendações a seguir para minimizar potenciais impactes negativos, riscos e conflitos.

A fase de implementação deverá ter em consideração todos estes itens. Esta fase deverá ser acompanhada por um processo de monitorização a manter-se mesmo após a finalização da implementação do plano. Por exemplo, a conceção de uma rede de percursos pedestres na floresta, a sua homologação, a sua abertura ao público, a forma como é utilizada, as necessidades e procedimentos de manutenção devem ser devidamente monitorizados, visando um processo de melhoria contínua quer para o utilizador, quer para quem gere quer para a envolvente natural. Este processo permite identificar se os objetivos foram alcançados e, caso isso não se tenha verificado,

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ponderar quanto à necessidade de alterar ou adaptar algumas das intervenções previstas. Este contexto justifica a pertinência da fase de revisão do plano. A necessidade de rever algumas das metas e objetivos do plano e, consequentemente, as ações que lhe estão implícitas, pode decorrer de fatores intrínsecos ao mesmo e à sua implementação mas, também, de fatores externos (Bürger-Arndt and Bell, 2009). Aqui incluem-se alterações na política florestal, a inviabilização de apoios financeiros inicialmente previstos, alterações nos comportamentos e exigências da procura ou até fatores imponderáveis de caráter humano ou natural (por exemplo, incêndio).

A atividade de planeamento tem vindo a valorizar, cada vez mais, os contributos da participação pública. O termo compreende o envolvimento dos diferentes grupos de pessoas e entidades que estão afetas, direta ou indiretamente, ao desenvolvimento do recreio florestal, nomeadamente: visitantes, comunidades locais, entidade gestora, administração local, entidades públicas responsáveis pela tutela da floresta, conservação da natureza, ordenamento do território e outras, organizações ambientalistas, empresas privadas na área do recreio, da produção e transformação de madeira e outras, clubes, federações ou associações relacionadas, por exemplo, com atividades específicas de recreio (pesca, caça, orientação, pedestrianismo, etc.). Apesar de se defender a utilidade da participação pública ao longo de todo o processo de planeamento (Bürger-Arndt and Bell, 2009), ela deverá ser formalizada pelo menos em dois momentos. Em primeiro lugar, o contacto com os diferentes atores (públicos e privados) permite reunir dados que podem ser fundamentais no processo inicial de caracterização da área em foco. Os conhecimentos empíricos de quem domina as dinâmicas do território poderão constituir dados fundamentais para complementar e compreender os dados científicos. Além disso, é primordial perceber os interesses, necessidades e expectativas dos diferentes atores. É fundamental que a equipa de planeadores identifique, logo de início, os principais benefícios associados à floresta e também os aspetos que suscitam (ou poderão suscitar) mais conflitos. Em segundo lugar, é importante obter feedback relativamente aos objetivos traçados e às diferentes alternativas identificadas para a sua concretização. Nesta fase, a disponibilização ao público de um conjunto de dados (principais pontos positivos e negativos da área em foco, as oportunidades e ameaças, informação sobre as diferentes opções de desenvolvimento, as respetivas propostas de zonamento e

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efeitos) poderá à priori ajudar a perceber quais são as opções mais polémicas e as que reúnem maior consenso. Com efeito, estes contributos por parte do público poderão ser uma mais-valia durante a implementação do plano e respetiva monitorização. Por sua vez, o facto de se manter um contacto com os vários atores permite à equipa de planeamento atuar numa perspetiva de educação e consciencialização quanto às boas práticas ambientais, quer em termos dos utilizadores ou visitantes, quer ao nível das associações e empresas de recreio, silvícolas e outras.

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