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Objetivo 3 Contribuir para uma melhor qualidade de vida por via da preservação e da

1. Minimizar conflitos entre

5.4 Modelo teórico para estimar a DPP/DPA

As principais preocupações que rodeiam o design dos questionários de avaliação contingente visam garantir que os indivíduos respondem às questões de um modo que é consistente com a teoria económica do bem-estar. De outro modo, o importante é que as respostas dos indivíduos a todo o questionário e, em particular, à questão de avaliação, traduzam efetivamente as suas preferências (Nunes, 2000). Em termos empíricos, a premissa da racionalidade pode suscitar algumas expectativas quanto à relação entre os valores da DPP/DPA e as características e preferências dos respondentes, obtidas através do questionário. Do ponto de vista teórico, segue-se uma abordagem explicativa dos modelos económicos relativamente aos comportamentos dos respondentes à avaliação contingente e às medidas de bem-estar alternativas para avaliar alterações nos recursos, bens e serviços de base natural ou ambiental.

Na perspetiva económica, o postulado base é que as decisões de consumo dos indivíduos visam otimizar o seu bem-estar. Estas decisões podem traduzir-se em funções procura do consumidor relativamente a bens e serviços. Incluem-se nesta procura os bens e serviços de base natural e ambiental, como a paisagem, a qualidade do ar ou o recreio florestal. Considerando a seguinte função de utilidade individual:

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onde a utilidade (u) que um indivíduo obtém, deriva do consumo de bens de mercado (x) e de bens e serviços ambientais (q), podendo contemplar também os atributos destes bens e serviços. A diferença entre x e q tem a ver com o facto do indivíduo controlar a quantidade consumida, isto é, o indivíduo escolhe o seu x mas seu q é exógeno (Habb and McConnel, 2002; Nunes, 2000). Recorrendo ao exemplo de Habb and McConnel (2002: 5): “…the individual chooses their xi, how much water

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to draw from a tap; the public determines qj, the quality of the water”. Assume-se ainda que x está disponível ao preço p e que o indivíduo maximiza a sua utilidade sujeita ao rendimento y. Assim, a função de utilidade indireta é traduzida por:

v(p,q,y) (2)

a qual decorre da seguinte maximização (Habb and McConnel, 2002), por:

(3) s.a.

Isto é, o indivíduo maximiza a sua utilidade sujeito à restrição orçamental, assumindo quantidades não negativas. A função de utilidade indireta constitui a estrutura teórica para estimar as alterações no bem-estar individual. Isto é, as alterações nos bens/serviços avaliadas através dos métodos de preferências reveladas, como o MAC, implicam alterações na utilidade (bem-estar) dos indivíduos, que são traduzidas nesta função. A título de exemplo, supondo que se prevê uma alteração num bem ambiental decorrente da introdução de uma política ou projeto público. Se a alteração no bem ambiental for traduzida num incremento na utilidade do indivíduo (suponha-se mais e melhores ofertas para recreio informal numa floresta urbana), a função de utilidade indireta daquele indivíduo apresentará um q1 maior que q0, isto é:

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Perante um questionário AC em que os indivíduos são abordados relativamente a esta alteração, parte-se do princípio que a sua resposta terá em conta a comparação da utilidade ou bem-estar relativos a estes dois níveis (q0 e q1) face ao bem ambiental em avaliação. Considerando que a utilidade obtida na situação final é mais elevada do que inicialmente pressupõe-se que os indivíduos estarão dispostos a pagar um determinado valor para obter q1 (variação compensatória Hicksiana). Neste caso, a medida da variação compensatória (C) pela alteração no bem-estar é o montante

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máximo que o indivíduo está disposto para pagar (DPPcmax) para obter o aumento e

melhoria no bem ambiental, traduzida por:

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Mantendo o contexto em que se prevê uma alteração num bem ambiental que gera uma melhoria no bem-estar do indivíduo (aumentando a sua utilidade), poder-se-á medir essa melhoria questionando o indivíduo relativamente ao montante que estará disposto a aceitar para prescindir do bem. Neste caso, a disposição para aceitar (DPA) corresponde ao excedente monetário que o indivíduo vai acrescentar ao seu rendimento pelo facto de renunciar ao bem ambiental e à melhoria associada. De um outro modo, a DPAE traduz a medida Hicksiana equivalente – E – para o indivíduo renunciar à melhoria do bem ambiental de q0 para q1, refletindo o que tem de ser pago ao indivíduo para que este permaneça indiferente à alteração no bem ambiental. Confrontando as funções de utilidade indireta nas situações antes e depois da alteração, temos:

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Semelhante exercício pode verificar-se num contexto que acarreta um decréscimo na utilidade do indivíduo, isto é, em que o nível de utilidade na situação inicial é maior do que na situação final. Neste caso a função de utilidade indireta do indivíduo poderá corporizar a medida equivalente DPPE, isto é, o montante de rendimento que o indivíduo está disposto para pagar equivalente à perda na sua utilidade, ou a medida compensatória DPAC relativa ao montante que compensaria o indivíduo pela redução na sua utilidade.

A opção por uma das medidas Hicksiana – DPP ou DPA – é uma das tarefas que faz parte do processo de implementação de um estudo de avaliação contingente. Estudos comparativos da DPP e da DPA face à avaliação do mesmo bem, no mesmo contexto, mostram que o montante da primeira medida é substancialmente inferior ao da segunda. Alguns estudos (Horowitz and McConnell, 2002; Hanemann et al., 1991) chegam mesmo a determinar um rácio entre os valores médios da DPP e da DPA, o qual pode exceder a razão de 1 para 5, respetivamente. Esta disparidade é

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uma questão genericamente aceite pela literatura respeitante à avaliação contingente, tal como são os fatores que podem explicá-la. Entre os mais debatidos, encontra-se o efeito substituição (a fraca existência de bens substitutos, por exemplo ao nível de bens públicos, propícia que os indivíduos apresentem uma disposição mais elevada para aceitar a perda do que para pagar para evitá-la), o efeito rendimento (os indivíduos interpretam o aumento do rendimento como uma utilidade substancialmente mais pequena quando comparado com o decréscimo do rendimento, que é assumido como uma perda de utilidade muito maior) e, segundo a teoria prospetiva, a perda de um bem para um indivíduo revela-se maior do que o ganho derivado da compra desse mesmo bem (Venkatachalam, 2004). Neste contexto, a revisão de literatura sustenta que a DPP apresenta-se como a medida mais adequada em estudos de AC, aliás, como atesta o relatório do Painel NOAA (Arrow et al., 1993).

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