• Nenhum resultado encontrado

Conceito e abordagens de planeamento no contexto do recreio florestal A atividade de planeamento está fortemente associada aos impactes resultantes das

Alemanha 1 700,0 20,6 Estimativa a partir do nº de visitantes florestais e frequência

3.2 Conceito e abordagens de planeamento no contexto do recreio florestal A atividade de planeamento está fortemente associada aos impactes resultantes das

ações humanas. Sem planear (Williams, 1998) há o risco de uma qualquer atividade ser desregulada, de não estar devidamente estruturada ou acontecer e desenrolar-se por mero acaso, podendo conduzir a situações de utilização pouco cuidada e ineficiente dos recursos e suscitar um conjunto de impactes nocivos, no campo económico, social e ambiental. Neste contexto o planeamento procura encontrar

52

soluções ótimas para resolver problemas existentes e/ou esperados face ao quadro de desenvolvimento, atual e futuro.

O planeamento está associado à necessidade de organizar atividades e práticas no sentido de minimizar a incerteza que está implícita a situações futuras (Westlake, 1995), identificando e prevenindo efeitos negativos e aumentando e maximizando os benefícios ambientais, sociais e económicos do desenvolvimento (William, 1998; Murphy, 1985). Trata-se de um processo composto por uma sequência ordenada de ações que visa alcançar um objetivo (ou conjunto de objetivos) e que, partindo da situação atual permite não só identificar um caminho para o futuro mas também a forma como alcançá-lo. McCabe et al. (2000: 235) afirmam, quanto ao papel do planeamento, “it should clarify the path to be taken and the outcomes or end results. It also draws attention to the stages on the way and…helps to set and establish priorities that can assist in the schedulling of activities”.

Pormenorizando o caso do recreio, a Associação Norte Americana de Planeadores de Recursos de Recreio (NARRP) define planeamento de recreio como (Haas, 2009: 2- 1):

“a rational systematic decision-making process, and as such, (…) a fundamental tool that deters our human tendencies to make decisions based on predisposition, bias, inadequate analysis, groupthinking, insular perspetive, resistance to change and excessive self-confidence”.

Trata-se pois de um processo que, a partir da recolha, sistematização e análise de informação atualizada, permite tomar e sustentar decisões de um modo mais eficiente, eficaz, justo e tecnicamente fundamentado relativamente à gestão de recursos e oportunidades de recreio. O planeamento do recreio a um nível público é assumido como um processo não só técnico mas essencialmente político (Jenkins and Pigram, 2003; Hall, 2000; Veal, 1994; Gunn, 1988). Isto é, enquadra-se num contexto de política pública ou, de um outro modo, no percurso de ação (política) adotado por um organismo governamental ou um governo (Mason, 2008).

A formulação de políticas num contexto público está envolta e é influenciada pelo quadro socioeconómico e ambiental existente, pelo regime político vigente, pelas

53

prioridades institucionais e sectoriais bem como por fatores externos (tendências

globais de crescimento, recomendações internacionais de organismos

governamentais e não-governamentais, etc.). O planeamento do recreio no setor público ocorre neste contexto político preocupado em servir os interesses públicos, mas onde um largo conjunto fatores, indivíduos e organismos podem influenciar o processo de tomada de decisão.

Sumariando, o processo de planeamento ao nível público culmina com a conceção de um documento – o plano – que deve ter em consideração a política sectorial em questão (por exemplo, a florestal), a sua articulação com outras políticas sectoriais (conservação da natureza, transportes, recreio e turismo, entre outras), o estabelecimento de metas, o processo de decisão e as ações necessárias para implementar os objetivos políticos. Este plano é fruto do trabalho de uma equipa de técnicos que concebem uma série de elementos descritivos, estratégicos e cartográficos a partir dos quais devem estar reunidas as condições para que a decisão política seja tomada de forma democrática e informada (Hall, 2000). A fase de ação ou implementação do plano decorre habitualmente da tomada de decisão. Num caso de recreio florestal a decisão deverá recair sobre a opção mais ajustada de desenvolver e organizar as oportunidades de recreio no território e, dependendo do âmbito espacial, será encimada pela administração local, regional ou central. Entenda-se “opção mais ajustada” num contexto em que deverão ser consideradas as orientações globais da política florestal, as prioridades de desenvolvimento no local em foco e as eventuais limitações de recursos (financeiros, humanos e técnicos). Pressupõe igualmente a ponderação dos diferentes interesses relativos aos atores afetos, direta ou indiretamente, ao território em causa.

Mitchell (1983) enumera algumas das dificuldades que se colocam ao planeamento público do recreio. A primeira decorre do compromisso político de satisfazer a população na sua generalidade e portanto de encontrar alternativas, o mais possível, consensuais. A segunda tem a ver com a necessidade de considerar o impacto das suas ações tendo em conta um leque abrangente de questões públicas (no campo político, social, económico e ambiental) que se manifestam em termos organizacionais e espaciais (ao nível da comunidade, do município, da região ou país). Por sua vez, as questões do recreio habitualmente não se circunscrevem apenas

54

à jurisdição de uma entidade, necessitando de articular-se com diferentes esferas de atuação política e estando condicionadas por medidas e regulamentos que vinculam o seu desenvolvimento, mesmo que este assuma um cariz estritamente público. Isto pressupõe o envolvimento e o parecer de diferentes organismos públicos com diferentes jurisdições territoriais e sectoriais, cuja frequente falta de cooperação torna o processo difícil e moroso. Mitchell (1983) refere ainda o facto de o processo de planeamento poder ser fortemente influenciado por interesses políticos. Os indivíduos ou organismos com ligações ao poder político reúnem condições para influenciar e pressionar as entidades envolvidas no processo de planeamento podendo determinar a forma como os dados são interpretados e, em consequência, a própria formulação final do plano. Por fim, no campo da avaliação da performance do plano, nem sempre é fácil estimar o alcance das ações concretizadas principalmente quando se tratam de ações que visam satisfazer objetivos de difícil quantificação como é o caso do bem-estar social e da satisfação de necessidades sociais e culturais. Segundo Veal (1994) este é um contexto particularmente importante e não deve ser menosprezado pela atividade de planeamento. Tratam-se dos valores de cada indivíduo, aqui interpretados na perspetiva da importância que cada indivíduo atribui ao recreio e aos benefícios que daí obtém. Por isso defende que o seu planeamento deve refletir fortemente os valores dos agentes e das partes interessadas, facto que remete para a primeira dificuldade apontada: a de conseguir encontrar uma opção consensual que responda à diversidade de valores e interesses que caracterizam a sociedade ou uma comunidade em particular.

3.2.1 Abordagens ao planeamento do recreio florestal

A análise da evolução do planeamento, quer de um modo geral, em termos territoriais, quer mais especificamente, ao nível do recreio e dos espaços florestais, conduz-nos a duas abordagens principais. A primeira reporta-se ao planeamento racional compreensivo, a segunda dá resposta às exigências contemporâneas de planear o desenvolvimento num contexto sustentável, integrador e participativo, dando corpo ao planeamento estratégico (Baas, 2009; Hall and Page, 1999; Veal, 1994).

55

O planeamento racional compreensivo baseia-se na experiência e conhecimento científico do planeador para recolher, organizar e interpretar a informação, identificar as opções, os objetivos e as metas de desenvolvimento e encontrar a melhor solução para todas as questões que se colocam no processo de planeamento. Esta abordagem considera que o conhecimento científico e o suporte técnico e tecnológico permite ao planeador identificar o interesse público comum, as diferentes alternativas de desenvolvimento e racionalmente determinar a solução ótima. Trata-se de uma abordagem encimada na figura do planeador e na sua capacidade em resolver e controlar os problemas recorrendo exclusivamente aos seus conhecimentos técnicos e onde os indivíduos e a sociedade em geral não são chamados a intervir (McCool and Patterson, 2000; Friedmann, 1987). Os planos assentam em modelos prescritivos, apoiados numa forte componente cartográfica, na qual se determina o tipo de ocupação e utilização futura em cada parcela de território. Apresentam um caráter pouco flexível, partindo do pressuposto da evolução contínua dos territórios (a qual segue as tendências do passado) e na frequente não assunção dos valores das instituições e dos efeitos dos fatores externos (Alves, 2007).

O planeamento racional compreensivo assumiu maior destaque nas décadas de 60 e 70, em geral associado ao planeamento do uso do solo, quer na Europa quer na América do Norte. É nesta última região que assume maior destaque, designadamente ao nível do planeamento do recreio nos parques naturais e nacionais, muito por via do trabalho desenvolvido pelos Serviços Florestais norte-americanos. Ao nível do recreio outdoor (incluindo o florestal), este tipo de abordagem recorre a um conjunto de ferramentas específicas, como o ROS (Recreational Opportunity Spectrum) e o LAC (Limits of Acceptable Change), respetivamente associadas ao conceito de zonamento e de capacidade de carga (Tabela 3.2).

56

Tabela 3.2: Ferramentas de suporte ao planeamento do recreio

Ferramenta

ROS

(Zonamento de diferentes oportunidades de recreio)

LAC

(Limites aceitáveis de mudança)

Esquema base

Categorias de Zonas de Recreio: 1. Primitivo;

2. Semiprimitivo não motorizado;

3. Semiprimitivo motorizado; 4. Natural, com acessos; 5. Rural;

Documentos relacionados