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O recreio florestal no mundo, na Europa e em Portugal: dados sobre a procura, a oferta e o valor económico

2.4 O Recreio Florestal

2.4.1 Representatividade do recreio florestal: alguns números e tendências Há muito que as florestas são usadas como um local de recreio e turismo Numa

2.4.1.2 O recreio florestal no mundo, na Europa e em Portugal: dados sobre a procura, a oferta e o valor económico

Os estudos e relatórios internacionais e europeus são consensuais relativamente à importância dos espaços florestais em termos dos usos de recreio e turismo e à crescente procura que têm vindo a revelar. Apesar desta ser a mensagem frequente, na generalidade das regiões mundiais, é comum partilharem a mesma dificuldade em quantificar de modo preciso o número de utilizadores da floresta para fins de recreio,

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principalmente em contextos de recreio informal e de espaços florestais de livre acesso. As dificuldades são ainda maiores quando se pretende obter o valor económico total das florestas, incluindo o valor dos serviços de recreio associados (MCPFE/UNECE/FAO, 2007; UNECE/ FAO, 2005). Habitualmente esta dificuldade não se coloca ao nível da oferta (espaços, equipamentos, infraestruturas e atividades) a qual está devidamente identificada e quantificada. Todavia, considerando que, por exemplo, mais de 90% das florestas na Europa são de acesso livre ao público, essa é uma realidade que dificulta e inviabiliza a quantificação do valor de recreio implícito, uma vez que grande parte respeita a ofertas que não são comercializadas (FAO, 2009). Existem algumas exceções como a caça e a pesca, atividades que estão relativamente bem documentadas através dos registos das licenças obrigatórias.

Apesar de não existirem dados suficientes que permitam estimar rigorosamente o número global de utilizadores de recreio nas florestas e o valor total dos serviços de recreio, os estudos realizados nos últimos anos permitem perceber que a floresta tem consolidado a sua importância no que respeita à procura por experiências de recreio e turismo. Neste campo, destacam-se os dados obtidos pelos Serviços Florestais Norte Americanos que, desde os anos 60, monitorizam regularmente a evolução do recreio nas suas florestas nacionais. Assim, a quantificação da participação no recreio florestal, a produção de estatísticas e a definição das tendências futuras verificadas nas florestas norte americanas servem frequentemente para traçar um quadro generalizador do que está a acontecer na Europa, em termos de procura efetiva e principalmente ao nível das perspetivas futuras.

Segundo os Serviços Florestais Norte Americanos, o uso de recreio das florestas norte americanas tem verificado um elevado crescimento, consolidando uma tendência iniciada na segunda metade do século XX (Smith and Darr, 2005). Os últimos 20 anos desse século revelam que a participação em muitas das atividades de recreio aumenta a um ritmo mais acelerado do que a população. As atividades com maior número de participantes são a caminhada, a observação da paisagem, a natação, os piqueniques e a observação de aves. As maiores variações percentuais verificam-se ao nível da observação de aves (mais 155,2%) da escalada (mais 93,52%) e das caminhadas (mais 72,73%).

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Figura 2.11: Tendências na participação nas atividades de recreio outdoor mais populares nos EUA

Fonte: Smith and Darr (2005)

A adesão a atividades de recreio outdoor nas florestas norte-americanas manteve a tendência de crescimento entre 2000 e 2007, em cerca de 4,4% (USDA/FS, 2008), rondando atualmente os 90% os americanos que participam em pelo menos numa dessas atividades. Em 2007/8 (Ibidem), o top das atividades de recreio florestal com maior número de visitas mostrava algumas alterações face a 2000 (Figura 2.11), destacando-se: as caminhadas por prazer, a observação e fotografia de paisagens naturais, de flores, árvores e outra vegetação, de aves e de vida selvagem, a escalada, a visita a áreas selvagens, passeios de jipe, reuniões de família e a visita a centros de natureza. Do ponto de vista das perspetivas para o futuro, Cordell et al. (2004) prevê que as próximas décadas (até 2050) sejam particularmente fortes no que respeita à

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Caminhadas Visitas locais de interesse Piqueniques Nadar Observação de aves Pedestrianismo Campismo em parques Campismo selvagem Passeios de jipe Esquiar (downhill) Passeios de mochila Andar de mota de neve

133,7 113,4 98,3 78,1 54,1 47,8 41,5 28 27,9 16,8 15,2 7,1 93,6 81,3 84,8 56,5 21,2 24,7 30 17,7 19,4 10,6 8,8 5,3

Participação (em milhões)

1980 2000

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prática de esqui (nas versões cross-county e downhill), equitação e atividades de

outdoor motorizado. A caminhada além de continuar a ser a atividade com mais

participantes, continuará a verificar elevadas taxas de crescimento. Por oposição, o crescimento será mais moderado ao nível do campismo selvagem, dos caminhantes de mochila e das atividades consumptivas como a caça.

Quanto à caracterização da procura por recreio florestal na Europa, trata-se de um processo limitado pela falta de estatísticas e de estudos de monitorização em alguns países. Por consequência, é difícil delinear tendências além das que se baseiam na realidade norte-americana. Como referem Bell et al. (2007:16) “it is very likely that many of the trends that are now seen in the United States, are likely to develop in Europe”. Apesar de tudo, alguma da investigação realizada sobre a floresta, a nível europeu contribui para a perceção da importância das matas e florestas enquanto locais de recreio. No Reino Unido, as estimativas para as visitas de lazer, de um dia, a espaços florestais, nos anos 2002 e 2003, rondavam os 252 milhões, correspondendo a cerca de 20% do total de visitas de um dia em enquadramentos rurais (TNS Travel and Tourism, 2004). Na Finlândia, dois em cada três finlandeses participam pelo menos uma vez por semana em atividades de recreio outdoor, a maior parte destas ocorrendo em espaços florestais, principalmente privados (de referir que neste país está instituído o direito público de utilização de espaços florestais privados que não estejam a ser desenvolvidos) (Pouta and Sievänen, 2001). Na Suécia, onde há uma forte tradição em utilizar as áreas florestais para fins de recreio, Hörnsten and Fredman (2000) referem várias investigações desenvolvidas, na década de 90 e no ano 2000, nas quais se revelava a tendência da população sueca para visitar as florestas, em média pelo menos uma vez por semana. Esta tendência é particularmente forte junto das zonas urbanas, onde vive a maioria da população e onde se verifica uma maior procura por florestas, nestes caso florestas urbanas que são, segundo os autores, 250 vezes mais procuradas do que as restantes. A avaliação global dos recursos florestais europeus para 2000 menciona que a visita a florestas na Polónia e na Federação Russa é a principal atividade de lazer do país e na Dinamarca, 90% de dinamarqueses adultos visitam a floresta pelo menos uma vez por ano (UNECE/FAO, 2005). A mesma fonte identifica a caminhada como a atividade de recreio mais comum nas florestas europeias, seguida por um conjunto de

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outras atividades mais específicas como a caça, a orientação, a equitação, o BTT de montanha e o paintball.

A mais recente esquematização de dados relativos à procura por recreio nas florestas de alguns países europeus consta do relatório da 5.ª MCPFE (Tabela 2.6). Há, porém, que ressalvar o facto destes dados resultarem da utilização de fontes e métodos distintos e reportarem-se a diferentes anos.

Tabela 2.6: Visitas aos espaços florestais, em alguns países Europeus

País

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