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Alargando o tema – a década de 2000 – o Brasileirinho

"Em tempo: já adianto que vou ignorar as cartas dos portugueses que responderem esta matéria comparativamente com o Brasil ou ofendidos. Estes são, além de tudo racistas, e não é porque minha revista chama-se O Brasileirinho que vou deixar de expressar minhas opiniões. Não se acovardam, está na hora de deixar de serem acomodados e lutar pelo mínimo de conforto para viver em paz. ‘Tapar o sol com a peneira’ não é a melhor solução. A comunicação social vive criticando a situação atual do país e não é atacada cada vez que isso acontece. Portanto, se sou atacado, só posso ver isso como uma atitude xenófoba." (O Brasileirinho, janeiro de 2003, n.º 20, p.50)

Como sucedeu nas outras duas décadas, em que selecionámos a Revista Cadernos do Terceiro mundo para falar da década de 1980 e o jornal Sabiá para a década de 1990, na década de 2000 selecionamos a revista O Brasileirinho69. O intuito é conseguir ilustrar a década de 2000 com exemplos práticos de fontes produzidas, neste caso por imigrantes brasileiros para serem lidas por imigrantes brasileiros. Buscamos por meio da leitura destes

69 Por uma série de problemas alheios à minha vontade não foi possível encontrar uma grande coleção da revista

O Brasileirinho. Na Casa do Brasil de Lisboa, devido a uma briga entre o proprietário da revista e a direção da

associação, o arquivo da CBL não guardou as revistas. Na Biblioteca Nacional Portuguesa só estão à disposição quatro exemplares.

143 materiais, tentar perceber como a maior presença maior de imigrantes brasileiros vai se refletir na produção de um meio de comunicação voltada para este público.

O Brasileirinho foi uma revista mensal publicada desde maio de 2001, de acordo com seu editor Ricardo Castro, com uma tiragem de 12 mil exemplares. Com distribuição gratuita em locais como a embaixada do Brasil e nos consulados brasileiros em Portugal (Lisboa e Porto), Casa do Brasil de Lisboa, restaurantes, lojas de câmbio e outros lugares que anunciavam produtos ou serviços em suas páginas. A sua sustentação económica foi realizada por meio dos anúncios e assinaturas.

Neste período houve duas condições que devem ser pensadas para analisar o sucesso do empreendimento comercial dessa revista. Uma delas foi o grande número de imigrantes brasileiros que chegaram naqueles anos. A outra foi o período de inatividade do jornal Sabiá, que circulou com apenas um exemplar em 1999, dois em 2000 e nenhum no ano 2001.

Essa comparação entre o jornal Sabiá e a revista O Brasileirinho esteve presente quando entrevistei os envolvidos com as duas publicações, e também na literatura académica. Segundo Isabel Salin a revista se enquadraria no ramo do entretenimento em contraponto ao Sabiá, que seria mais social devido à sua linha editorial:

"Os média que cumprem uma função menos “social” e mais voltada para o “entretenimento” fazem igualmente parte da realidade dos média étnicos, tanto em Portugal como nos outros países. Assim como encontramos em Portugal revistas como O Brasileirinho, encontramos também este tipo de média noutros países. Em Londres, por exemplo, a revista mensal brasileira Leros, que pretende fornecer aos leitores informações sobre a vida cultural em Londres, foi considerada “a must for brazilians and lovers of all things brazilian” pela Time Out London Magazine. O jornal Correio da Venezuela, uma iniciativa da comunidade portuguesa nesse país, é outro exemplo deste tipo de media, cuja linha editorial é especialmente voltada para o desporto e a cultura, e fazem questão de não abordar temas políticos no jornal" (2008, p.68).

Entretanto, precisar o campo de atuação de uma revista é sempre um assunto complexo (Martins 2000 e Dias, 2014), no Jornal Sabiá por exemplo, houve várias matérias sobre futebol e eventos sociais; na revista O Brasileirinho houve um leque diversificado de assuntos e até mesmo textos extensos sobre política. Neste sentido a autora faz uma análise um pouco superficial, ao não levar em consideração que se faz política de várias formas, e negar a esses meios as condições de fazer política parece ser um equívoco.

Por isso mesmo, características mais abrangentes também podem ser um objeto de análise pertinente, pois um assunto considerado tenso ou político, ao ser tratado em uma revista de entretenimento ressalta sua importância social desta enquanto veículo de

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informação. Eventos retratados em suas páginas registraram lugares de sociabilidades entre os imigrantes e destes com a sociedade. A particularidade de ser um meio privado, com fins lucrativos de manutenção, imputava ao o Brasileirinho. uma linha editorial diferente do Sabiá que foi produzido pela associação, sem qualquer preocupação comercial. Isto porque, ao depender dos anunciantes e das assinaturas para sua manutenção, a revista teve que equilibrar suas matérias para agradar ambos, pois sua existência financeira dependia dessa equação. Nesse sentido, essa é uma singularidade em relação aos outros meios impressos abordados nesta tese.

Essa singularidade deste meio impresso, que alcançou sucesso ao longo de seus treze anos de existência, justifica sua escolha enquanto ator social relevante nas disputas identitárias a serem analisadas neste trabalho. Enquanto projeto editorial a revista conseguiu convencer seus anunciantes de que estes alcançavam o objetivo de se comunicar com seu público-alvo ao comprarem um espaço publicitário nas páginas de O Brasileirinho. A revista foi publicada em nome da Câmara de Negócios Luso-Brasileiros empresa importadora de produtos brasileiros para Portugal de propriedade do empresário brasileiro Carlos Millinger70. O primeiro número da revista continha um texto justificando o seu nome, que reproduzimos aqui para analisá-lo mais detalhadamente:

"Foram várias as razões pelas quais escolhemos o nome desta revista.

Como o informativo é dedicado, principalmente à Comunidade Brasileira residente em Portugal, o primeiro passo para a escolha foi procurar um nome essencialmente Brasileiro e relativamente curto.

Após termos várias sugestões e idéias, decidimos pelo 'O Brasileirinho'. Primeiramente, porque os Portugueses, em geral muito amáveis com a nossa colônia, utilizam muito o diminutivo como sinal de respeito e estima. Este diminutivo também aplicar-se-ia ao fato de que nossa revista deve ser informal e não será extremamente vasta, tendo-se a objetividade como uma de nossas prioridades.

Não desconsideramos também o fato da canção Brasileirinho, que muito bem nos representa, ser de extrema beleza e apreciada pela grande maioria da população, 'Brasileirinho' foi composta em 1951 por Waldir Azevedo no Rio de Janeiro. Classifica-se como samba, mas passou a ser um "segundo hino" dos Brasileiros, junto a 'Aquarela do Brasil' e 'Tico Tico no Fubá’ completará 50 anos em dezembro próximo.

Mais um motivo para a escolha do nome foi o fato de que os Brasileiros que aqui vivem (pelos a grande maioria) têm saudades da terra natal e sonham em um dia voltar,

70 As secções que tiveram maior continuidade foram: Cartas, Economia/ Câmbio, Política, O Brasil em 1

minuto, o Mundo em 1 minuto, Rapidinhas da Terrinha, Esporte, Saúde/ Estética e Beleza, Brasil, História, Espaço Cultural, Capa, Gastronomia, Classificados/ Vitrine, Agenda Cultural, Viagem e Turismo, Arte e Lazer e Imigração, Café Espiritual, Gabinete Jurídico, Quebra Cuca.

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realizados, com mais estudos, com mais experiência de vida e, sobretudo, com alguma poupança. No ínterim, longe de seus familiares esperam por uma melhora da situação sócio-política econômica Brasileira. A esta classe específica dedicamos também o nosso nome; muitos estão felizes pela oportunidade que lhes é conferida, mas o fato é que por trás desta aparente felicidade, estão sofrendo com as mudanças culturais e climáticas. O último fator de escolha foi tentar expressar algo alegre, como somos os Brasileiros. Além da canção já mencionada. 'O Brasileirinho' espalha alegria, saúde e fé em Deus" (p.4).

Na explicação sobre a escolha da revista, temos a reprodução de vários estereótipos que serão reforçados nas matérias e editoriais ao longo de toda a publicação. A justificação para o seu nome foi relacionada com a necessidade de ser associada ao Brasil e depois construiu-se um elogio aos portugueses e à maneira como eles tratam os brasileiros. Existe também o reforço do estereótipo do samba e da alegria como representante da nacionalidade brasileira, cria-se um tipo de imigrante brasileiro que tem saudade da terra natal e quer voltar com dinheiro.

No final do texto existe uma grande generalização dos imigrantes brasileiros, ao contrário do Sabiá que nunca abordou a questão de voltar ao Brasil. O Brasileirinho escreve no seu primeiro texto que a grande maioria quer voltar “realizado” e com alguma poupança ou seja, existe uma delimitação do seu público leitor bem clara e ainda uma crítica à situação “sócio-política-económica” do Brasil. E por fim novamente são deixados de lado os problemas que o autor abordou, reforçando a alegria duas vezes, e ainda considera que “O Brasileirinho espalha alegria, saúde e fé em Deus”.

A revista promovia momentos de sociabilidade entre os leitores ao divulgar eventos que aconteciam em Portugal. Ao publicar esses momentos O Brasileirinho criava locais de afirmação identitária, pois existia a chancela do meio de comunicação, para aquele acontecimento ou estabelecimento em relação ao lazer dos imigrantes brasileiros. Na edição número 5, de outubro de 2001, é feito um convite para um espetáculo de música com este texto:

"Toda a comunidade brasileira e amigos lusitanos estão convidados a comparecerem ao show de música brasileira com o vocalista Rosildo Oliveira. O evento terá entrada gratuita e será realizado no saguão do Edifício Biarritz. O início do show será às 19:00. Haverá serviço de bar completo, caipirinha, guaraná e petiscos que incluem coração de galinha, asinhas de frango, casquinha de siri à brasileira, filet aperitivo e linguiça." (p.26)

Além da música existe a estratégia de conquistar mais público por meio da descrição do serviço do bar e da produção de alimentos ligados à cultura gastronómica brasileira. Esses pratos ou petiscos foram destacados com o intuito de angariar mais pessoas, o que nos permite

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supor que eram especialidades do local onde o espetáculo foi realizado e que não deviam ser encontradas com facilidade na AML por isso este destaque do texto.

Em qualquer processo migratório podem existir, por parte dos seres humanos, tentativas diversificadas de manter ligações com a terra natal, por meio de várias estratégias como o consumo de alimentos e/ou práticas associadas ao lazer. Neste artigo podemos perceber as duas tentativas sendo exploradas pela revista.

Enquanto negócio a revista o Brasileirinho teve bem claro qual era o seu público-alvo, como pudemos perceber neste trecho. Pretendem-se que a revista seja lida pelos imigrantes brasileiros que vieram para Portugal com o projeto migratório de trabalhar, conseguir dinheiro e voltar para o Brasil. A preocupação não vai ser em relação a direitos dos imigrantes ou à integração desses imigrantes em Portugal. O objetivo era informar aos imigrantes sobre acontecimentos voltados para eles.

Enquanto empreendimento que visava o lucro, a revista o Brasileirinho pode ser considerada um sucesso uma vez que não houve interrupções e conseguiu se manter em circulação ao longo desse período de 2001 a 2007. Na comparação do número de anunciantes do o Brasileirinho e do Sabiá, existe uma grande diferença, pois o Brasileirinho tinha muitos anunciantes. Não se pode negar que o aumento do número de imigrantes brasileiros em Portugal, naturalmente, também causou o crescimento de serviços e comércios vocacionados para brasileiros.

A revista o Brasileirinho neste sentido buscou anunciantes que, por exemplo, nunca tinham aparecido no Sabiá. Houve anúncio de duas lojas de produtos de Umbanda e Candomblé a Armazém do Xangô e a Loja esotérica Divino & Sabat do Brasil ambas localizadas no bairro de Arroios. Outros anunciantes relacionados com a religiosidade, foram as igrejas neopentecostais como, por exemplo a Igreja Pentecostal de Nova Vida, a Assembleia de Deus de Londres em Portugal e Sara Nossa Terra. Ainda nesse campo, outro anunciante foi a livraria espírita Verdade & Luz, especializada em literatura espírita.

Ainda relativamente à relação entre a religiosidade dos imigrantes brasileiros e o conteúdo da revista, durante todo esse período houve uma coluna chamada Café Espiritual. Era escrita por pessoas diferentes, líderes religiosos como o Pastor Ragner Chagas, de 2001 a 2004, e o casal Pastor Vieira e Rose Vieira, de 2004 a 2007. Em ambos os casos as igrejas onde os autores atuavam eram anunciantes da revista o Brasileirinho.

147 Outra parceria nova ligando um produto ou serviço anunciado e a assinatura de uma coluna foi a Quebra Cuca, em que uma psicóloga abordava problemas relacionados com a imigração. E isso rendia um anúncio do consultório na revista. Essa preocupação em oferecer um serviço de atendimento ao imigrante relacionado com a psicologia foi pioneira71. Selecionamos uma das primeiras colunas da psicóloga Vânia Weissberg, publicada na edição número 6, de novembro de 2001.

A produção textual estava repleta de conselhos discutindo os assuntos de maneira detalhada com ações práticas para a solução dos problemas apresentados. No final do texto, além do nome, constava o endereço e telefone de sua clínica. Para exemplificar essa construção, reproduzimos aqui uma parte da coluna dessa a edição n.º 6:

P: "Estou aqui há 2 meses com o meu marido e tenho dificuldades de adaptação.

Sinto saudades do Brasil, parece tudo difícil e complicado pois acho que sou muito diferente dos portugueses. Será que tomei a decisão certa de sair do Brasil? Estou confusa principalmente porque meu marido está há mais tempo, está conseguindo se adaptar melhor do que eu e tem projetos de ficar.

R: Não se assuste, o importante é não desistir e enfrentar o conflito reagindo para não se arrepender depois sem dar a oportunidade de se conhecer. Eu não defendo que as pessoas têm que ficar, eu defendo que as pessoas têm que reconhecer sua condição, seus limites, suas dificuldades e perceber a sua realidade como forma de enfrentá-la tomando a decisão mais adequada para si e assumindo responsabilidades.

Quando estamos em outro país precisamos abdicar de certos comportamentos e “vícios” e integramos a cultura respeitando os nossos limites e os limites dos outros.

Este processo é inevitável, pois precisamos e procuramos um equilíbrio, estabilidade, segurança, relacionamentos, vizinhança e familiaridade. Mudar de país comporta riscos e instabilidades como problemas de emprego, de habitação, escolaridade, segurança social, identidade cultural e religiosa. Temos uma capacidade limitada de adaptação a novos lugares e novas circunstâncias, quando conseguimos queremos instalar-se, continuar, permanecer para serem pessoas e terem famílias e parece que é isto que seu marido quer. Converse com pessoas imigrantes sobre as experiências e como conseguiram superar as dificuldades, esclareça as suas dúvidas e tenta resolver os seus conflitos com ajuda. A sua escolha é uma das mais difíceis para enfrentar e gera uma dúvida sistemática sobre o futuro. Boa sorte e coragem." (p.30)

71 Em nenhuma outra obra relacionada aos imigrantes brasileiros no exterior se encontra referência a esse tipo de

serviço para brasileiros e tão pouco de profissionais brasileiros oferecendo tal serviço. (Sasaki,1998 e Dias, 2014). Pode-se interpretar como mais uma singularidade da imigração brasileira para Portugal, devido aos acordos entre os dois países existe uma facilidade maior de reconhecimento de Diplomas mais fácil. Mesmo com o exemplo dos dentistas que será explorado na próxima parte da tese. Existe uma procura desses serviços de atendimento ao imigrante retornado ao Brasil com vários estudos e centro especializados, mas este tratamento sendo praticado ainda no exterior não se têm nenhuma referência bibliográfica.

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Neste trecho é dada uma resposta à pergunta de uma imigrante brasileira, que se encontra em dificuldades em relação à adaptação ao novo lugar. A psicóloga aborda a situação de maneira realista e sem maniqueísmos, ao considerar que nem todos conseguem ficar e mudar. Em outros textos ou colunas da impressa imigrante existe normalmente uma insistência na permanência do imigrante que não está adaptado.

Por questões financeiras, por exemplo, pode existir uma separação familiar em virtude da migração e, mesmo quando acontece a família se reunir, existem diversos conflitos decorrentes desse distanciamento. Em uma entrevista com um imigrante que chegou ainda adolescente, em 2002, essa questão ficou muito explícita:

"Meu pai e meu tio brigaram com o outro irmão e mudaram para essa nova casa. E isso foi na altura que a gente veio. Na verdade aquilo não pode ser chamado de casa era um barracão todo mofado... horrível moravam meu pai e o Edézio. E pior meu pai, falou tá tudo tratado podem vir, a gente achou que ia chegar aqui e ia ter uma condição... as coisas direito sabe como é?

E quem veio do Brasil?

Eu minha mãe e minha irmã, chegamos e era um puta barraco! E meu pai achava que tava tudo bom! mas era horrível (risos)

Cara nessa época a gente tava morando num lugar legal em BH(Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais), no Jaraguá que é perto da Lagoa da Pampulha por que meu pai já tinha dado entrada em um apartamento com o dinheiro que vinha de Portugal. A gente saiu de uma parada muito boa para vir prum lixo de um lugar, minha mãe pirou nessa época!"

Essa situação de desacordo, entre o imigrante que chegou primeiro e a sua família quando esta chega ao país de imigração, foi recorrente em vários relatos. Nesses processos migrantes modificavam suas vidas aceitando outras situações e condições muito abaixo dos padrões que possuíam no Brasil. Por isso, a chegada da família acaba gerando conflitos em torno da comparação entre o que tinham e da nova realidade em Portugal. No exemplo acima, o entrevistado deixa claro que a vida no Brasil havia melhorado exatamente devido às remessas de dinheiro enviadas pelo trabalho do pai.

A coluna Nós, brasileiros foi construída como uma maneira de promover os imigrantes brasileiros na sociedade portuguesa e também incentivar novas atitudes dos imigrantes. O espaço foi destinado a contar histórias dos imigrantes nas mais diversas atividades (técnico de som, cantor, pintor, entre outras profissões). Para o editor Ricardo Castro essa era uma das partes da revista que lhe dava mais prazer, porque podia entrevistar imigrantes e divulgar as suas vitórias na sociedade portuguesa. A parte que pedia contribuições dos leitores era assim:

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"Você que é brasileiro e já passou por maus bocados ou que já esteja bem, escreva-nos e conte sua história, conte seus problemas e como você fez para resolvê-los, as suas sortes, conte-nos tudo o que passou aqui. Nos enviem informações que podem ser úteis para outros brasileiros, lembrem-se que outros podem estar passando exatamente a mesma coisa que você esta passando ou que já passou, ajude o próximo. Mande-nos seus dados e se possível fotos, todas deverão estar devidamente identificadas. E-mail: obrasileirinho@clix.pt" (Sabiá, n.º 41, novembro de 2004, p.38).

O apelo aos imigrantes para partilharem as suas histórias, coloca o enfoque na parte negativa, como podemos perceber pelas expressões “passou por maus bocados”; “Conte seus problemas”, “ajude o próximo”, mas a outra vertente desse mesmo discurso foi abordar a vitória desse imigrante e a forma como superou esses obstáculos. Na revista o Brasileirinho existe muito essa linha editorial, o leitor imigrante alvo quer voltar, passa por dificuldades, preconceitos, mas ele pode vencer essas questões. A história do imigrante Sandro, retratada na edição de janeiro de 2002, se destaca nesse sentido:

"Sandro, de Pérola a Cascais, 30 anos pintando imóveis

Nasceu em Pérola, Paraná. Família simples, mas honesta e trabalhadora. Aprendeu a ser pintor aos 7 anos de idade e abraçou a profissão que exerce até hoje. Sandro Gabarrão é um exemplo vivo de ser humano a ser seguido. Há 10 meses atrás, porém, resolveu deixar o Brasil, face à péssima situação financeira. Talvez pelo fato de viver em Pérola, pequena cidade paranaense próxima a Umuarama, não conseguiu visto para os Estados Unidos, o destino desejado inicialmente. Partiu então para a segunda opção: Portugal. Após meses de contrato com um empregador, este simplesmente não pagou e Sandro passou a estar em situação delicada mais uma vez na vida. O medo de voltar para o Brasil derrotado e sem dinheiro passou pela mente dele, mas com o apoio moral que recebeu de amigos e incentivos de outros imigrantes, lutou e deu a volta por cima.

‘Os principais problemas que os imigrantes sofrem com a mudança de país são saudades, principalmente dos familiares que ficam para trás, dificuldade de entrada no meio social, burocracias imigratórias e a desonestidade de patrões que se aproveitam das condições de