• Nenhum resultado encontrado

Existem várias possibilidades de estudos para aqueles que pretendem investigar o Portugal contemporâneo. Por exemplo, os livros campeões de venda produzidos para o grande público por pesquisadores das universidades, com linguagens menos técnicas e com edições cheias de imagens ilustrativas. Algumas obras literárias são muitas vezes fontes ricas de

40

descrições sobre o cotidiano das pessoas. Por outro viés temos as obras produzidas por antropólogos, cientistas sociais e geógrafos que, preocupados com temáticas específicas, acabam registrando nas suas obras a contemporaneidade do momento.

Devido à essas múltiplas de possibilidades, neste o estado da arte sobre Portugal contemporâneo, vamos tentar abarcar as várias, vertentes, reconhecendo desde já a dificuldade de os conseguir representar todas.

Existem alguns livros sobre Portugal contemporâneo que foram encomendados por editoras para atender a crescente demanda do mercado editorial por materiais históricos. Um fenómeno mundial da indústria livreira que são os Best Sellers de história contemporânea ou de romances históricos, na maioria das vezes escritos por jornalistas ou escritores profissionais. Para atender a essa demanda as editoras investem cada vez mais em obras escritas por historiadores ou por professores universitários, como forma de atrair esse público consumidor.

Um bom exemplo desse tipo de livro campeão de venda foi a História de Portugal publicado pela Esfera dos Livros em 2009. A obra foi dividida em três partes, cada parte foi a responsabilidade de um historiador: Parte I – Idade Média (Séculos XI – XV), por Bernardo Vasconcelos e Sousa; Parte II – Idade Moderna (Séculos XV – XVIII), por Nuno Gonçalo Monteiro e Parte III – Idade Contemporânea (Séculos XIX – XXI), por Rui Ramos. O último capítulo da Parte III, intitulado: “Uma democracia europeia (desde 1976)”, foi muito importante para analisar a sociedade portuguesa no período que aborda este estudo, principalmente nas referências e exemplos utilizados na construção do texto.

Outra obra em estilo de coletânea sobre Portugal contemporâneo foi a coleção financiada pela Fundación Mapfre com direção dos professores do Instituto de Ciências Sociais, António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro: História contemporânea de Portugal: 1808-2010 (2015). Este período temporal foi divido em cinco volumes, o último dos quais se chama: A busca da Democracia 1960-2000, sob coordenação de António Costa Pinto e com seis capítulos, “As chaves do período” e “A vida política”, escritos pelo coordenador, e que se seguem: Nuno Severiano Teixeira “Portugal no mundo”, Luciano Amaral “O processo económico”, António Barreto “População e sociedade” e João Pedro George “A cultura.”

O livro contém excelentes textos voltados para o grande público, mas produzidos por académicos, com formações em História ou em Ciência Social com vasta obra produzidas nos

41 temas que tratam. Este estudo historiográfico é um dos melhores e mais completos, sobre o período recente, com muitas referências e exemplos concretos, que auxiliam a interpretar as transformações ocorridas no país durante o período proposto, por nós estudado.

Em 2000 no âmbito das “comemorações” dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) promoveu entre os dias 25 e 27 de setembro de 2000, o evento Projeto Resgate/ Agenda do Milênio. Deste evento surgiu o livro Brasil-Portugal: História, agenda para o milênio, organizado por José Jobson Arruda e Luís Adão da Fonseca, e contou com cinquenta e sete professores de história dos dois países. Esta obra de grande fôlego possibilita comparações entre as histórias de Brasil e Portugal.

A História da Vida Privada de Portugal foi dirigida por José Mattoso sendo seu último volume coordenado por Ana Nunes de Almeida e dedicado ao período de 1950 até 2010. A obra foi dividida em três partes, com quatro capítulos para cada parte, escrito por dez autores. Apesar do nome da coleção ser História da Vida Privada não houve nenhum autor desse volume com formação de historiador. Esta opção do diretor, da coordenadora e da editora, demonstra as dificuldades e preconceitos que a História do Tempo Presente enfrenta na academia e no mundo editorial português.

Fábio Chang de Almeida escreveu A direita radical no Portugal democrático: os rumos após a revolução dos cravos (1974-2012) para a obtenção do título de Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS em 2013. Neste trabalho o autor estuda detalhadamente a história do tempo presente de Portugal, com uma grande pesquisa de fontes históricas das mais diversas naturezas. O resultado é uma excelente história sobre a direita radical em Portugal e a contemporaneidade portuguesa, feita com muitas análises sobre escritos, panfletos, jornais, livros e entrevistas, entre outros documentos.

Amado Cervo e José Magalhães organizaram em conjunto a obra Depois das Caravelas. As relações entre Portugal e Brasil, 1808-2000 (2000), na qual vários autores brasileiros e portugueses escrevem sobre o passado comum dos dois países. A obra foi produzida com uma preocupação de analisar as relações internacionais bilaterais dos dois países. No fim do livro os autores consideram que Brasil e Portugal chegaram à maturidade nas relações diplomáticas no final do século XX, devido à inversão migratória e ao forte investimento empresarial português no Brasil.

42

O professor e historiador José António Telo escreveu o livro História contemporânea de Portugal. Do 25 de abril à actualidade em dois volumes. O primeiro, sobre o período 1975-1985, foi publicado em 2007, o segundo, sobre o período 1985-2006 foi publicado em 2008. Com muitas fontes, o autor realiza um estudo bastante centrado na história política do país, sendo a análise sobre o “cavaquismo” e o governo Guterres muito detalhadas e criteriosas. No capítulo “Sociedade e mentalidade de 1974-2006” o autor faz uma série de críticas à sociedade portuguesa, relacionadas com o machismo e também a questão corporativista da sociedade, que são vistas como duas questões e necessitam ser resolvidas.

Na conceção moderna de história qualquer registro de atividade humana é considerado como uma fonte histórica. Por isso, em vários momentos da tese utilizámos essa dupla relação de obras que são referências teóricas e ao mesmo tempo são também fontes históricas para o período em que foram produzidas. Este trabalho busca contribuir para o diálogo e para construção de um campo maior na História do tempo presente produzida também por historiadores.

SEGUNDO CAPÍTULO: METODOLOGIAS

“O historiador passou a construir o seu texto no jogo entre pormenores significativos e processos globais, em correspondências, sínteses e reacertos de perspectiva, que redundaram na historiografia contemporânea, na construção de narrativas explicativas, em que se elaborava a dialética entre a materialidade social e a semântica, perseguindo-se a historicidade dos signos e conceitos.” (Dias, 1998, p.243)

Neste segundo capítulo apresentamos as principais metodologias utilizadas para a realização desta tese de Doutoramento em História Contemporânea. Primeiro expomos uma defesa da História do tempo presente enquanto forma de analisar os acontecimentos recentes, independente da distância temporal existente entre os factos estudados e o investigador. Nossa

43 proposta de investigação se baseia principalmente na interpretação de duas fontes históricas: a imprensa (jornais e revistas) e as entrevistas orais. Por isso, abordaremos neste capítulo questões metodológicas sobre a História da imprensa e sobre a História oral.

A investigação histórica científica baseia-se na análise das fontes e nas críticas feitas a essas fontes. Entende-se por fontes históricas, qualquer registro do tempo vivido realizado por seres humanos. Esta visão metodológica foi proposta e desenvolvida pela chamada Escola dos Annales desde a década de 1930 do século passado, quando se questionou a utilização só das fontes oficiais e ao longo do século o leque das fontes foi crescendo cada vez mais (Le Goff e Nora, 1977).

A história do tempo presente e a história oral, que serão utilizadas nesta investigação, partem deste mesmo preceito, uma fonte histórica é fruto do registro dos seres humanos no tempo. Isto não significa que todas as fontes sejam iguais, pelo contrário, neste trabalho serão usadas metodologias diferentes de acordo com as especificidades dos objetos e das fontes, essa premissa será sempre importante. Iremos expor neste capítulo exatamente as bases metodológicas utilizadas ao longo da tese.