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"As associações surgem não apenas como lugar de sociabilidade e de convívio entre os imigrantes, ou de resgate de identidade nacional, mas aparecem como actores fundamentais no processo político em curso que vem delineando um novo caminho para as relações entre imigrantes e nacionais. Quer como canal legítimo de diálogo com o poder público e os órgãos europeus, quer como mediadoras em situações de crise e de violação dos direitos humanos, as associações e organizações de protecção ao imigrante têm conseguido abrir espaço para sua actuação e um lugar de visibilidade. São muitas as associações de imigrantes em Portugal. Algumas com décadas de actuação e com papel de destaque no cenário local e nacional" (Barreto, 2011, p.308).

A primeira fase do Sabiá foi composta de 38 exemplares entre os anos de 1992 e 1996, um período com muitas secções e diversidade de assuntos tratados. Neste momento havia uma ampla produção textual, com vários autores a escreveram no jornal. As secções ou colunas mais duradouras desta primeira fase foram organizadas no quadro 4 abaixo com o número de vezes que estiveram presentes no jornal e o nome do seu autor.

Colunas e autores do jornal Sabiá durante a primeira fase.

Nome da Secção Em quantas edições esteve

presente no Sabiá

Autor

Juca Brasuca 32 Jô Fevereiro

Curtas 25 Não identificado

Nós da Política 20 Carlos Viana

Pérolas e porcos 14 Não identificado

159

Saudade do Brasil 9 Vários autores

Economia em foco 8 Marco António Pontes

Pé na estrada 7 Aloizio Campomizzi Filho

Quadro 4 Fonte jornal Sabiá 1-38.

A continuidade das colunas e dos autores nesta primeira fase do Sabiá contribuiu para um discurso afinado e um projeto editorial coeso, mesmo dentro da diversidade de escritores. Em entrevista, um associado da Casa do Brasil de Lisboa que escreveu neste período ressaltou o sentimento de unidade que os integrantes do Sabiá e da CBL tinham naqueles primeiros anos da associação. Como será analisado adiante, o caso do impeachment de Collor, por exemplo, foi um dos vários momentos em que a leitura das páginas do Sabiá deixou transparecer a coesão dos autores em relação a um tema.

O autor com maior participação com uma única secção foi o publicitário mineiro Jô Fevereiro, com a sua banda desenhada Juca Brasuca. A parte superior da última página do Sabiá era o local destinado à tira de histórias em quadrinhos feita pelo cartunista Jô Fevereiro. Foram publicados 32 exemplares com suas bandas desenhadas ao longo dos anos de 1992 e 1995.

O humor e a imagem têm sido muito utilizados na construção dos estudos sobre História Social. Ambos permitem interpretações ricas, leituras e visões de mundo, que muitas vezes constituem um importante instrumento de crítica. Neste caso, sobre o cotidiano dos imigrantes, propomos perceber como estas histórias apresentadas no Sabiá se relacionaram com o tempo histórico em que ele foi socialmente produzido e consumido.

Por exemplo, Jô Fevereiro apresentou a chegada de Juca Brasuca a Portugal, logo na sua primeira história, chegando ao Aeroporto de Lisboa da Portela na imagem abaixo:

A construção e a apresentação do personagem permitem as interpretações do imigrante como alguém que faz de tudo, mas também associa a ideia de que este imigrante brasileiro é composto de múltiplas identidades. O último quadro ressalta o espanto do guarda ao saber que este brasileiro dá aula de português, contradição que provoca humor, uma vez que o português é o idioma oficial de Brasil e de Portugal. Contudo, ao acentuar as pronúncias diferentes dos dois personagens, o autor chama a atenção para as múltiplas possibilidades dessa comunicação.

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Sobre essas diferenças na forma de falar, o autor retoma o assunto no número 15, publicado em agosto de 1993, onde Juca Brasuca e mais um imigrante brasileiro estão em uma mesa de bar e não conseguem ser atendidos. Eles conversam sobre o livro de Mario Prata, Schifaizfavoire76 e, no momento em que acertam na pronúncia do livro, se espantam quando a atenção dos garçons se volta para os dois. Ou seja, não existe uma falta de vontade em atender os dois, existe sim uma falta de comunicação entre os dois imigrantes brasileiros e os atendentes de mesa. O autor deixa claro como, apesar de a língua ser a mesma e, para muitos, a motivação do deslocamento destes imigrantes, ela pode ser, sim, um desafio para o imigrante brasileiro em Portugal, como, por exemplo, constata Maria Xavier, que entrevistou uma série de brasileiros e destacou os relatos:

"A gente não fala o mesmo português deles, é totalmente diferente do Brasil, totalmente”, diz Sérgio (...) Patrícia lembra a primeira vez que foi à praça: “Eu não entendia uma palavra do que as pessoas diziam. Eu tive um acesso de choro no meio do mercado, porque eu dizia “eu tô em Portugal, em Portugal as pessoas falam português!” aquela coisa das feirantes, das mulheres do mercado que falam depressa, eu não entendia nada” (Xavier, p.101 e 102).

Essa constatação da autora foi partilhada por outros imigrantes nas entrevistas e também em outros trabalhos. Os próprios portugueses utilizam o neologismo “brasileiro” para se referirem ao português falado no Brasil, como na expressão bastante comum “vocês falam brasileiro”. O “brasileiro” é um estereótipo criado pela sociedade portuguesa para se diferenciar dos portugueses, isso porque, ao criar uma nova língua, cria-se mais uma barreira entre portugueses e brasileiros. Dessa forma, o idioma passa a ser um tema de segregação e não de união77.

Em maio de 1993, na edição de comemoração do primeiro ano do Sabiá, o entrevistado foi Juca Brasuca. Nas páginas 4 e 5 as suas histórias foram reproduzidas novamente e no meio da paginação dupla estavam seis perguntas. O personagem na entrevista é cuidadosamente definido. Por exemplo: até àquele momento, Juca aparecia em bares, na praia, sem visto de trabalho e, a partir de então, ele passa a ser apresentado como filho de português e dentista. Opções mais aceitáveis dentro da luta da associação contra os estereótipos da sociedade portuguesa, que construía a imagem do brasileiro como o "malandro".

76 Classificado como um dicionário do português falado pelos portugueses.

77 Como referimos anteriormente, muitos imigrantes utilizam o idioma português como motivação maior para a

escolha de Portugal como destino. Ao considerar o idioma utilizado pelos brasileiros como sendo diferente do utilizado pelos portugueses, gera-se uma inversão desse fator de proximidade e a criação e a utilização deste estereótipo não pode ser vista de maneira ingénua. Existe a proposta ideológica de criar mais um motivo de separação com a utilização desse estereótipo, pelo que um estudo mais aprofundado dele e também das repercussões dos Acordos Ortográficos em Portugal seria muito útil.

161 A escolha da profissão de Juca como dentista está diretamente relacionada com os já citados problemas diplomáticos que existiam entre Brasil e Portugal, quando brasileiros foram deportados por autoridades portuguesas. Os dentistas ganharam o estatuto de heróis na luta dos imigrantes brasileiros contra a sociedade lusitana e, após a entrevista, Juca Brasuca assumiu esse posto como exemplo. O motivo da imigração do personagem foi o congelamento das poupanças realizado pelo presidente Fernando Collor, outra informação vinculada na entrevista, que procurou moldar Juca Brasuca dentro da comunidade brasileira.

A coluna Nós da política, assinada por Carlos Viana, foi a coluna de textos mais presente no Sabiá, demonstrando a importância deste associado dentro da associação. Além de ter assinado diversos textos, esteve presente em vários cargos da associação e também foi presidente da CBL mais de uma vez. Na terceira vez que escreveu esta coluna, começou o texto com esta definição: "Esta coluna propôs-se a abordar temas controversos. Sendo um instrumento de reflexão sobre a realidade política e social do Brasil." (p.3)

A coluna Vitrine Marginal foi escrita por Ligório Nery sempre sobre aspetos culturais. A música foi um espaço privilegiado: artistas renomados, como Caetano Veloso, ou músicos imigrantes brasileiros em Portugal, viram os seus trabalhos apresentados com uma recensão ou tinham seus concertos divulgados. Alguns foram até mesmo entrevistados por Ligório Nery, como na edição de dezembro/janeiro de 1993/1994, com o título Um sopro de intuição, onde o artista Geová Nascimento foi entrevistado da seguinte forma:

"Sabiá: Geová, como tudo começou com o sax?

Geová: O Sax foi por acaso. Na verdade, eu sempre quis tocar violão e cantar. Eu ouvia

MPB, Milton Nascimento, este pessoal todo e isto me fascinava. Fui pra escola de música estudar violão, mas como era uma escola erudita me incentivaram a tocar clarinete porque teria um futuro mais garantido como músico de orquestra. Assim, fui mexendo com este lado dos sopros e depois mudei para o saxofone, me formei neste instrumento e agora tenho estudado também o clarinete e violão.

S.: Por quê um músico com tanto futuro no Brasil deixou tudo e veio embora?

G.: A principal razão no meu caso, foi a necessidade de busca como artista; a busca de

novos horizontes para criar e definir melhor o que eu queria, principalmente em composição e acho que isto estou encontrando agora.

S.: Você hoje se sente mais influenciado por Charlie Parker, John Coltrane, Michael

Bricker ou por Paulo Moura?

G.: O Paulo Moura é o músico que mais me influenciou. Como saxofonista, ele tem uma

linguagem muito brasileira, uma maneira muito própria de tocar e estes outros grandes músicos do jazz são muito especiais para todo mundo que toca saxofone. Temos que aprender esta linguagem do jazz e é isto que eu quero, aprender de todos os lados, fazer um trabalho com características próprias e com influências de tudo o que possa absorver de outros músicos. (…)

S.: Você acha a vida do músico melhor em Portugal do que no Brasil?

G.: A vida do músico é muito parecida em todo lugar do mundo. Em Nova York, que é um

centro muito grande de música, a concorrência é enorme. Proporcionalmente, Portugal não tem tanto espaço, mas também a concorrência é menor. Mas se o músico não entra

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numa linha comercial ou não acompanha um cantor de sucesso, fica difícil como em qualquer outro lugar. Aqui não é simples viver de música, como no Brasil também não é fácil" (Sabiá, dezembro/janeiro de 1993/1994, n.º18, p.7).

As entrevistas nesta coluna seguem essa postura, com questões técnicas sobre música mas também com questões pessoais e existe uma linha editorial livre em relação às respostas dos entrevistados. As questões sobre sair do Brasil ou a comparação com Portugal não são utilizadas pelo jornal para fazer sobressair o Brasil ou transformar Portugal sempre no papel do vilão. Apesar de algumas reportagens e colunas fazerem esse tipo de associação binária – o Brasil representando o bem e Portugal o mal – esta postura não era uma obrigação nas páginas do Sabiá, como demonstra o exemplo dessa coluna retratada acima.

A coluna Saudade do Brasil é uma seleção de textos feitos inicialmente por portugueses que moraram no Brasil em algum momento das suas vidas, mas que já haviam voltado para Portugal. Esta estratégia desenvolvida pelo Sabiá foi recorrente ao longo da sua existência, buscando ressaltar os laços de um passado comum entre Portugal e o Brasil e destacando a forma como os brasileiros acolheram bem os imigrantes portugueses, como no trecho selecionado abaixo, escrito por António Félix da Cruz, que viveu no Brasil em 1969.

"Conhecer bem o Brasil é amar mais Portugal. Mas conhecer o verdadeiro Brasil, o Brasil defensor número um da língua portuguesa; o Brasil de Agricultura progressiva e de poderosas infra-estruturas industriais; o Brasil de ciência avançada e de técnicas aprimoradas; o Brasil dos intelectuais de renome mundial e dos artistas de mais requintada sensibilidade. Quando for este o Brasil conhecido e não o de anedótico mau gosto, então, sim, a Comunidade Luso-Brasileira será aquela realidade porque ambicionam os brasileiros cultos e os portugueses mais conscientes, uns e outros preocupados com o prestígio do Mundo de Língua Portuguesa" (Sabiá, junho de 1992, n.º 2, p.8).

Aqui existe uma defesa da língua comum e da união entre os dois países, outros usaram mais humor na sua descrição sobre a saudade do Brasil apontando as diferenças entre os dois países, como Carlos Vieira: “Saber a diferença entre veado, bicha e travesti. Pior que um

ladrão é um policial. A trabalhadeira para se arranjar um fiador para o apartamento que pretende alugar e, além disso, o inquilino é quem paga o imposto predial. Um telefone não se aluga à telefónica, compra-se. Cidade ma-ra-vi-lho-sa...! (Sabiá, setembro de 1992, n.º 5, p.2). Houve também depoimentos de imigrantes brasileiros nesta coluna que descreviam suas saudades e seus sentimentos em relação ao Brasil.

Pé na Estrada, que teve alguns trechos analisados no terceiro capítulo, foi uma secção inicialmente concebida com a proposta de apresentar locais aos brasileiros, em um estilo jornalístico consagrado nos guias de turismo. Nas edições 1, 2, 3, 6 e 12 foram retratados

163 locais de Portugal, como Alentejo, Gerês ou Meco, e até locais no estrangeiro, como Sevilha e Marraquexe. Na edição de julho de 1992, em função da EXPO de Sevilha, a cidade espanhola foi o tema da crónica que demonstramos a seguir:

"Mesmo para o meu velho carro, Sevilha é acessível, e continua linda. Com ou sem EXPO, é sempre um prazer desmedido andar por este oásis meio árabe, meio andaluz. Os árabes partiram há mais de 700 anos, mas deixaram aqui como herança formidável a beleza única da arquitetura.

Surpresas e novidades para todos os gostos, já na chegada uma cena inédita: uma autêntica escola de samba com 50 instrumentistas e nenhum negro. Pela primeira vez, uma escola de samba só de brancos. Mas para mim, samba sem crioulo é como aniversário de criança... sem bolo! Eu, por exemplo, um humilde produto da suruba entre negros, índios, portugueses e italianos, sem parentes importantes, sem dinheiro e sem fantasia, jamais teria lugar nessa escola. O que eu fiz foi sair de fininho.

Na verdade, é tudo meio inexplicável, falta verbo. Por isso, para que os seus amigos acreditem em você, é bom levar uma máquina fotográfica e não economizar filme. Eu já vou embora porque assim exige o meu bolso terceiro mundista, vou desarmar minha barraca, mas um dia eu volto. Vale." (Sabiá, julho de 1992, n.º 3, p. 6)

O autor Aloizio Campomizzi Filho usa elementos informais para descontrair a escrita, sem perder a crítica em relação a alguns temas, retratando os lugares conforme o seu ponto de vista. Nas edições 4 e 7 houve uma alteração radical no teor do texto, que se tornou uma crónica livre, com uma remota descrição de um local. Com o título Era uma vez na América Latina, na edição de novembro de 1992, houve muita crítica e humor na descrição feita pelo autor que reproduzimos parcialmente abaixo:

"Há mais ou menos 500 anos atrás, três padres, Ugarte, hoje um santo, Javier, hoje um beato, e José Maria, um herético condenado à morte pelos tribunais do Santo Ofício, foram testemunhas, designadas por Deus, do descobrimento do Novo Mundo, hoje América. Vieram com Colombo e cumpriram, incansáveis, a árdua tarefa de catequese do primitivo povo Maia da localidade de Tivel, na península de Yucatan, hoje Guatemala. - Veja Padre Ugarte, uma pirâmide!

- Pôxa, nem nisso esses caras são originais, que descarado plágio dos egípcios. - Mas estas belas indiazinhas não são nenhum plágio.

- Não, não são. Traga-me umas para eu batizar.

E assim decorriam os dias de conversão dos infiéis.(…) À tarde:

- Quanto ouro! Espantou-se o futuro churrasquinho.

- Este ouro, fruto da boa terra americana, é uma dádiva de Deus. Mande-o já para Espanha, onde ornará as igrejas e emoldurará para sempre as palavras do Criador. Esse colar deixa comigo que eu mesmo levo - ordenou o futuro santo.

- Padre Ugarte, sua bondade ainda leva ao Vaticano - Acrescentou o futuro beato e atual puxa-saco.(…)

À noite:

- Ponha mais uns destes livros no fogo e traga um Jeres que está muito frio

Aposto minha Bíblia nova que as mulheres caribenhas são mais e melhores que estas mexicanas.

- Apostado, irmão Javier. E depois à Jamaica que eu tô doidinho por um reggae. - Vamos que o trabalho é duro!

- Irmãos, acho que vi um disco voador... - Herege! Mata!"

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Na história proposta existe uma crítica profunda à colonização espanhola e à participação da Igreja Católica neste processo. O ano de 1992 foi marcado pelas comemorações dos 500 anos da chegada dos espanhóis à América, houve muitas celebrações e o tema se tornou assunto de várias reportagens ao redor do mundo. Ao criticar a atuação dos espanhóis e da Igreja Católica, o autor também atingia os portugueses que atuaram no Brasil de maneira muito semelhante neste período78.

Duda Guennes foi um associado muito presente, primeiro com a coluna Cobras e Lagartos, e depois com uma série de outros textos no Sabiá. Tal como Carlos Vianna, foi um dos intervenientes mais atuantes na história da associação e ainda na terceira fase do jornal teve uma coluna fixa de longa duração, a Guennes Book. Duda foi correspondente do jornal satírico brasileiro Pasquim em Portugal e também teve uma coluna no jornal desportivo português A Bola.

Dentro da nossa proposta de caracterização das fases do Sabiá, propomos um estudo de caso sobre a forma como a política interna brasileira foi noticiada para seus leitores imigrantes. No começo da década de 1990 ainda não existiam canais brasileiros de televisão por assinatura, a internet não fazia parte do cotidiano da maioria das pessoas e daí a importância atribuída pelos editores e colaboradores do Sabiá em escrever sobre o que se passava no Brasil.

Neste sentido, existiu uma linha editorial comum do jornal, em relação à crítica ao Governo Collor e também aos setores mais posicionados na tradicional direita brasileira. As notícias relacionadas aos períodos eleitorais e não só deixam isso bem claro. Nomes como Paulo Malluf, António Carlos Magalhães, Itamar Franco, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, entre outras figuras da direita e do centro da política brasileira, são extremamente criticados.

Por outro lado, existe um diálogo maior com os partidos da esquerda: o deputado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), António Bivar, e o líder do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Freire, quando estiveram em Lisboa, participaram de debates promovidos na sede da Casa do Brasil de Lisboa e também concederam entrevistas ao Sabiá. Frei Beto, outra figura de destaque na intelectualidade do Partido dos Trabalhadores, teve mais de uma vez um texto seu reproduzido nas páginas do jornal.

Ainda nesta primeira fase mais politizada e crítica, o personagem Juca Brasuca se

78 No final da década houve também essa construção de celebração dos feitos portugueses nos Descobrimentos,

165 posicionou em relação às eleições de 1994 com 3 bandas desenhadas diferentes, em agosto, setembro e outubro. Em agosto aparece o personagem torcendo pela seleção brasileira no Campeonato do Mundo e, após a vitória, Juca diz: “Putzgrila, dessa vez a galera teve que suar a camisa”, na seguinte, trocando de camisola, ele diz: “... e por falar nisso vamos pôr esta pra lavar...” e, na última banda desenhada, aparece com uma camisola com o símbolo do PT e diz: “... e botar uma limpa!”.

Na edição seguinte, Juca está no telefone, como podemos analisar nesta reprodução:

Figura 5 Jornal Sabiá, número 25, setembro de 1994, p.8

Como já foi referido anteriormente, as formas de expressão do personagem Juca são carregadas de significados, e a escolha da expressão “Alô” é um primeiro indício de que a comunicação será realizada com outro brasileiro (em Portugal, as expressões mais usuais para atender o telefone são “Está lá”, “Está sim” ou “Tá”). Em relação à política, Juca utiliza o apelido “barba”, pois esta era a forma como os militantes mais antigos do Partido dos Trabalhadores chamavam o então candidato a presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva. A reposta ainda na primeira banda desenhada não deixa dúvida sobre quem é o interlocutor da ligação telefónica, pois as expressões “companhêro” e “pobrema” são dois erros de português marcantes na fala de Lula.

Juca está preocupado com o desempenho de Lula nas pesquisas eleitorais, ele utiliza a sigla BHC para fazer referência ao candidato concorrente do Partido Social Democrático