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PROCESSO DE TRABALHO NO SERVIÇO SOCIAL Prezado(a) aluno(a), o processo de trabalho do Serviço Social, requer a

No documento PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 76-82)

compre-ensão de que este se desenvolve a partir de seu objeto, isto é, a questão social e suas múltiplas expressões. Gentilli apresenta que “o processo de trabalho é con-figurado por todo o fazer profissional que abrange metodologias, utilização do arsenal técnico da profissão [...]” (GENTILLI, 1998, p. 25).

Nesse sentido, o desenvolvimento do fazer profissional está intrinsecamente relacionado as dimensões: teórico-metodológica, ético-política e técnico-opera-tivo, por serem complementares umas outras, não sendo indissociável a teoria da prática e vice e versa.

Após o Movimento de Reconceituação, especificamente no final da década de 80 e início dos anos 1990, o debate da categoria perpassou sobre a compreensão de que o Serviço Social é trabalho e possui um processo próprio, desencadeou na revisão das diretrizes curriculares, materializadas em 1996.

[...] por ser requisitado para ocupar-se de expressões da questão so-cial, situadas no centro da tensão entre as classes fundamentais, o assis-tente social tem condições de favorecer às necessidades da população atendida e seu desenvolvimento como sujeito político. Nessa direção, a formação teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política das

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profissões, também presente nas organizações das categorias profissio-nais, inserem-se nessa dinâmica contraditória, juntando-se à singulari-dade de cada profissional (FREIRE, 2010, p. 78).

Batista (2014) aborda que foram Iamamoto e Carvalho em 1982 que fizeram a discussão dessa temática, ao renderem a compreensão da natureza do Serviço Social, “[...] é uma disciplina que intervém na esfera da reprodução social, nos espaços públicos ou privados, onde a atuação dos profissionais se caracteriza como trabalho assalariado” (BATISTA, 2014, p. 150).

Pautando-se nessa compreensão dos autores, em que o profissional de Serviço Social também é um trabalhador assalariado e por isso está inserido no modo de produção capitalista, na relação de compra e venda de sua força de trabalho, que molda sua inserção, “[...] pois o salário faz sua equivalência com o mundo das mercadorias [...]” (IAMAMOTO 2012, p. 330).

Nessa perspectiva, a compreensão de que o Serviço Social é trabalho e tem um processo de trabalho, baseados na teoria social de Marx se afirma com as análises de Iamamoto e outros autores que trazem para o debate da categoria profissional, elementos essenciais para a formatação do currículo, que:

[...] o trabalho como elemento fundante do ser social. Especificidade do trabalho na sociedade burguesa e a inserção do Serviço Social como es-pecialização do trabalho coletivo. O trabalho profissional face às mudan-ças no padrão de acumulação capitalista e regulação social. Os elementos constitutivos do processo de trabalho do Assistente Social considerando: a análise dos fenômenos e das políticas sociais; o estudo da dinâmica institucional; os elementos teórico-metodológicos, ético-políticos e téc-nicos-operativos do Serviço Social na formulação de projetos de inter-venção profissional; as demandas postas ao Serviço Social nos espaços ocupacionais da profissão, nas esferas públicas e privadas e as respostas profissionais a estas demandas. O Assistente Social como trabalhador e o produto do seu trabalho. A Supervisão do processo de trabalho e o estágio (CADERNO ABESS, 1997, p. 70 apud BATISTA, 2014, p. 153).

Para tanto, o processo de trabalho do Serviço Social, se materializa nos diversos espaços sócio-ocupacionais como um “arsenal de técnicas”, terminologia utilizada por Iamamoto para descrever os recursos que a profissão desenvolve em seu fazer.

Em Gentilli (1998), identifica-se que o profissional está inserido em dois pólos: o primeiro se refere às organizações normativas, legais e jurídicas, como as universidades,

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o Conselho Federal de Serviço Social e os Conselhos Regionais, conjunto CFESS/ CRESS, são nestas organizações que são formadas a identidade profissional e

[...] são desenvolvidos e articulados os discursos básicos da profissão, que deverão influenciar decisivamente as representações, a partir das quais o processo de trabalho profissional ganhará racionalidade no mercado de trabalho (GENTILLI, 1998, p. 27).

O segundo pólo diz respeito aos campos de atuação que, por sua vez, “[...] expres-sam modos de trabalha; dificuldades para implementar decisões sobre “como fazer” profissional [...]” (GENTILLI, 1998, p. 29). Esta baliza pelo que Faleiros (2008) denominou de “Saber profissional e poder institucional”, obra em que o autor discorre sobre os embates entre a categoria profissional dos assistentes sociais e as instituições em que realizam seu trabalho, pois apesar de ser consi-derada um profissional liberal, a mesma não se realiza com tal, por necessitar dos aparatos para efetivação da garantia de direitos, sejam eles estatais, do ter-ceiro setor e empresariais.

Destaca-se que “a intervenção profissional passa a ser enquadrada não em função da problemática real da população, mas em função da perturbação da ordem institucional” (FALEIROS, 2008, p. 61). Esse risco que o autor vislumbra é o mais comum no cotidiano profissional e deve ser enfrentado com o conheci-mento ético e político, articulando estratégias e conheciconheci-mento sobre o processo de trabalho.

Iamamoto (2008), destaca que há duas implicações que precisam ser analisa-das: a primeira refere-se “[...] não se tem um único e idênticoprocesso de trabalho do assistente social [...] e sim de processos de trabalho nos quais se inserem os assis-tentes sociais [...]” (IAMAMOTO, 2008, p. 106). E a segunda, apresenta que:

“[...] o processo de trabalho em que se insere o assistente social não é por ele organizado e nem é exclusivamente um processo de trabalho do assistente social, ainda que nele de forma peculiar e com autonomia ética e técnica” (IAMAMOTO, 2008, p. 107).

Os apontamentos da autora, propiciam a reflexão de que enquanto trabalhador assalariado o profissional irá realizar suas funções de acordo com as deman-das impostas pelo empregador, mas em contrapartida é função do profissional desempenhar seu trabalho no processo coletivo. Para Camargo, “[...] o Assistente

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social não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu trabalho: financeiros, técnicos e humanos necessários ao exercício profissional autônomo” (CAMARGO, 2008, p. 02).

Corrobora-se da afirmação da autora, a profissão mesmo sendo considerada liberal, não se vincula no processo de trabalho desvinculada de uma instituição, seja ela pública ou privada.

Assim,

[...] a qualificação serve tanto ao processo de modernização tecnológica quanto para atender aquelas situações em que as mudanças situam-se ape-nas nos mecanismos de reorganização do processo de trabalho, a partir de uma nova cultura de trabalho (KAMEYAMA; NOGUEIRA, 2002 p. 32).

Desse modo, a compreensão do processo de trabalho deve considerar três ele-mentos: objeto, meios e o próprio trabalho, definidos por Iamamoto como:

[...] os resultados ou produtos dos processos de trabalho em que par-ticipam os assistentes sociais situam se tanto no campo da reprodução da força de trabalho, da obtenção das metas de produtividade e ren-tabilidade das empresas, da viabilização de direitos e da prestação de serviços públicos de interesse da coletividade, da educação sociopo-lítica, afetando hábitos. Modos de pensar, comportamentos e práticas dos indivíduos sociais em suas múltiplas relações e dimensões da vida quotidiana na produção e reprodução social, tanto em seus componen-tes de reiteração do instituído, como de criação e re-invenção da vida em sociedade (IAMAMOTO, 2008, p. 111-112).

Entretanto, Batista (2014), traz em sua obra “Trabalho, questão social e Serviço Social”, que autores como Lessa (1999, 2000a, 2000b) e Costa (1999), consta-tam que o Serviço Social é trabalho e que possui seu processo próprio. Por isso, vamos compreender a análise por eles realizada:

[...] o Serviço Social é um complexo social da esfera da reprodução. Não é trabalho, nem processo de trabalho, porque não efetua transfor-mação da natureza nos bens materiais necessários à sociedade, antes participa como uma das mediações que, indiretamente na maior parte das vezes, organizam a sociedade de tal modo a tornar a produção ma-terial (o trabalho) possível na sua forma contemporânea, capitalista. Neste preciso sentido, embora seja um assalariado, o assistente social, como todo outro assalariado não operário, vive da riqueza produzida pela classe operária (LESSA, 2000b, p. 29 apud BATISTA, 2014, p. 157).

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Seguindo essa perspectiva, Costa salienta que:

[...] se o Serviço Social exerce uma função no âmbito dos conflitos, a busca de dirigir-se ao comportamento dos indivíduos decorre essen-cialmente dessa sua prática, enquanto manifestação da função ideoló-gica. Os conflitos derivados da totalidade social manifestam-se basica-mente na consciência dos indivíduos. Isso significa que o serviço social age na realidade tendo por base um momento ideal a partir do qual opera como posição teleológica secundária. Entendemos ainda que, por isso, a prática profissional dos assistentes sociais é perpassada por ações muito próximas aos processos educativos e, muitas vezes, adqui-rem também a dimensão política, inserindo-se no campo das lutas por melhores condições de vida, de saúde, educação, trabalho etc. (COSTA, 1999, p. 97 apudBATISTA, 2014, p. 158-159).

Frente a esse contexto, verifica-se que a compreensão da categoria trabalho na profissão é essencial por ser ela o eixo fundante do ser social, bem como o cerne da questão social, que é o objeto de trabalho do Serviço Social. Tem-se a impor-tância de retomar os conceitos de trabalho produtivo e improdutivo, em que o primeiro refere-se aquele que produz mais-valia e o segundo são os trabalhos que desfrutam dos serviços, tais como: advogado, alfaiate, cantor, professor e o assis-tente social, por serem socialmente determinadas na esfera da reprodução social.

Destarte,

[...] o Serviço Social também é responsável por preparar a força de traba-lho para servir ao capital, ao mesmo tempo em que garante, por meio das políticas sociais ‘modernas’, a atenuação dos conflitos cotidianos, os que colocam na esfera das necessidades ou da política (BATISTA, 2014, p. 162).

Concomitante a afirmação do autor, tem-se que elucidar que ao negar a pro-fissão enquanto trabalho, descaracteriza-se sua origem na divisão sociotécnica do trabalho coletivo, sendo o trabalho e a questão social categorias fundamen-tais para a formação do Serviço Social.

Salienta-se que:

[...] o efeito útil do trabalho do assistente social incide sobre as condi-ções materiais e sociais daqueles que são objeto de sua ação, “cuja so-brevivência depende do trabalho”. A título de ilustração, citamos: “[...] o Serviço Social em uma empresa produz treinamentos, realiza progra-mas de aposentadoria, viabiliza benefícios assistenciais e previdenciá-rios, presta serviços de saúde, faz prevenção de acidentes de trabalho etc.”. A contribuição do Serviço Social no processo de valorização do valor estaria ligada ao fato da ação do assistente social incidir sobre as

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condições sociais e materiais daqueles que vivem do trabalho; “tem um efeito no processo de reprodução da força de trabalho”, [...] que é a úni-ca merúni-cadoria que sendo coloúni-cada em ação tem a úni-capacidade de criar mais valor do que ela custou (CASTRO, 2012, p. 79).

Considerando que o trabalho é o que causa a ruptura entre o ser orgânico para o ser social, o homem nesse processo para trabalhar precisa criar instrumen-tos, meios que possam auxiliá lo nesse processo. Assim, o Serviço Social realiza sua ação profissional por meio de vários instrumentos específicos a sua área ou competência, uma vez que as propriedades sociais se evidenciam quando o assis-tente social atribui capacidade ao instrumental, pelo pôr teleológico, potenciam ações para o alcance de sua finalidade.

O instrumental é uma categoria que se constrói permanentemente a partir das finalidades da ação que se quer realizar e dos determinantes políticos, sociais e ins-titucionais a ela referidos. Porém, não se pode centrar o trabalhalho profissional apenas na dimensão microssocial, geralmente focada na regulação e fiscalização de ações subjetivas. Há que se estabelecer a dialética entre o singular-particular-uni-versal, priorizando instrumentais que potencializam práticas de interesse coletivo. Portanto caro(a) aluno(a), é imprescindível a compreensão de que a medida que a classe trabalhadora se impõe enquanto classe social, maior será o espaço de atuação do assistente social, pois o acompanhamento dos processos sociais passam a ser encarados como componentes indissociáveis do exercício profis-sional (IAMAMOTO, 2008).

Sendo assim, a mediação entre o singular-particular e universal é funda-mental para compreender os meandros que envolvem os processos de trabalho do Serviço Social.

O Serviço Social tem, em seus processos de trabalho, particularidades, em especial conforme a área de atuação, seja por segmento, política pública, dentre outras. Mas qual é sua relação na produção e reprodução social?

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SERVIÇO SOCIAL COMO ESPECIALIZAÇÃO DO

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