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TRABALHO E SOCIABILIDADE

No documento PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 30-35)

Tendo em vista os conceitos estudados até o presente momento sobre o traba-lho e sua relação com homem, as relações de produção e do modo de produção capitalista, é importante assinalar que como categoria fundante do ser social o trabalho é eminentemente primordial para a sociabilidade.

Nessa perspectiva, aponta-se que “[...] o processo de trabalho se converte em meio de subsistência [...]” (ANTUNES, 2005, p. 126), isso porque como vimos anteriormente, o trabalho passa para a condição de mercadoria, o que segundo Marx (1967), precariza o trabalho na sociedade capitalista.

Segundo Antunes (2005), nesse momento há um estranhamento nesse pro-cesso, pois ao invés de satisfazer as necessidades, o trabalho é apenas um meio para alcançar seu objetivo principal, além de ser realizado fora da produção. Isso ocorre porque o modo de produção capitalista visa apenas a acumulação da riqueza socialmente produzida, para apropriar-se cada vez mais da proprie-dade privada e dos meios de produção, condicionando o trabalhador a precárias condições e tornando-o trabalho alienado, isto é, aquele que mutila e/ou exclui o homem de seu pôr teleológico e escolha das alternativas para sua realização.

No entanto, ressalta-se que o trabalho não produz apenas mer-cadorias, produz-se também a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria e, justamente, na mesma proporção com que produz bens. Semelhante fato implica ape-nas que o objeto produzido pelo trabalho,o seu produto, se lhe opõe como ser estranho, como um poder independente do produtor. Por isso, a afirmação de Marx (1967) é inci-siva ao declarar que o trabalho alienado não realiza o trabalhador.

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Na obra “Os Manuscritos de 1844”, Karl Marx faz uma crítica radical à socie-dade capitalista centrada na análise da alienação, cuja matriz explicativa está na alienação sócio-econômica. Uma vez que, para o autor a propriedade privada é a força motriz dos meios produtivos, sendo intrínseca a alienação, por ser a raiz dos antagonismos sociais e políticos, que delineiam a sociedade burguesa.

O capitalismo produz a concentração de riqueza que reduz os que vendem o seu tempo de vida para sobreviverem - os proletários - a um estado de aliena-ção. A teoria marxista, compreende que os processos econômicos determinam toda a evolução social humana. Assim, a organização econômica de uma socie-dade é a sua base, sua “infraestrutura”. A cultura em geral e o próprio sistema educativo, dependem desta e constituem a “superestrutura”. É a propriedade pri-vada dos meios de produção que gera desigualdade e alienação.

Para aumentar a mais-valia, o capital desenvolveu vários métodos, dentre eles destaca-se o fordismo, que é a terminologia adotada para explicar a forma de organização desenvolvida por Henry Ford em 1914 em sua fábrica, a qual estruturou um novo modelo de produção, representou uma etapa importante para o capital, “[...] a era do consumismo: produção em massa para um consumo em massa. Esse processo disseminou-se e atingiu todos os setores das socieda-des industriais (TOMAZI, 2000, p.52).

Em seguida surgiu a expressão taylorismo, que também identificava esse processo de aumento na produtividade, desenharam um modelo de linha de montagem para aprimorar o controle das horas trabalhadas, a divisão das tare-fas e a mecanização de alguns processos, inserção das máquinas para a produção em larga escala.

A revolução que o trabalho no modo de produção capitalista demarca pro-cessos importantes e complexos para a sociabilidade humana, por perpassar, primordialmente, pelas suas condições de sobrevivência, que impõe a garantia de suas necessidades objetivas, como: alimentação e moradia, estendendo-se para outras criadas pelas relações sociais de produção e reprodução de produ-tos e serviços da sociedade moderna.

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[...] de um lado, tem-se o caráter útil do trabalho, relação de intercâmbio entre os homens e a natureza, condição para a produção de coisas social-mente úteis e necessárias. É o momento em que se efetiva o trabalho concre-to, o trabalho em sua dimensão qualitativa [...] (ANTUNES, 2005, p. 84).

De acordo com o autor, a compreensão sobre a finalidade do trabalho, traz a indagação da forma como a sociabilidade vem sendo agregada no valor das mercadorias, por ser considerada como atributo primordial na relação mercado-lógica estabelecida pelo capital. Assim, prevalece a criação dos valores de troca em relação ao valor de uso das mesmas, em que a finalidade do produto em si não é o objetivo principal, mas sim o valor de comercialização.

Por isso, Marx é enfático quando diz que “[...] para produzir mercadorias é preciso que não se produzam apenas valores de uso, mas valores de uso para outrem, valores de uso sociais [...]” (MARX, 1967, p. 28-29). Essa é a lei que rege o processo de circulação do modo de produção capitalista, e seu processo de fortalecimento e acumulação dos bens e riquezas socialmente produzidos.

O capital se corporifica na forma de dinheiro para que haja a produção e a circulação das mercadorias, bem como se expressa nas relações sociais huma-nas que em detrimento desse processo de mercadorização se tornam reificadas. Para Iamamoto, “ao mesmo tempo em que as expressam, as encobrem, pois as relações aparecem invertidas naquilo que realmente são [...] relações entre clas-ses sociais antagônicas [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO 1982, p. 31).

Salienta-se que:

[...] o produtor só se confronta com o caráter social do seu trabalho no mercado: sua interdependência em face dos outros produtores lhe apare-ce no momento da compra-venda das mercadorias; em poucas palavras: as relações sociais dos produtores aparecem como se fossem relações en-tre as mercadorias, como se fossem relações entre coisas. A mercadoria passa a ser, então, a portadora e a expressão das relações entre os homens. Na medida em que a troca mercantil é regulada por uma lei que não resulta no controle consciente dos homens sobre a produção (a lei do va-lor), na medida em que o movimento das mercadorias se apresenta inde-pendentemente da vontade de cada produtor, opera-se uma inversão: a mercadoria, criada pelos homens, aparece como algo que lhe é alheio e os domina; a criatura (mercadoria) revela um poder que passa a subordinar o criador (homens) (BRAZ; NETTO, 2008, p. 41).

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Concomitantemente ao apresentado pelos autores, verifica-se que que há um fetichismo da mercadoria, expressão utilizada por Marx (1967) para explicar como há a desvalorização dos homens pelo capital e por eles mesmos, uma vez que são consideradas a prevalência do Ter ao Ser.

Tal condição é mensurada pela reificação que significa a coisificação nas rela-ções sociais, imbricadas pelo capital para subordinar uma classe sobre a outra. O que faz emergir os interesses antagônicos entre Capital X Trabalho.

Desse modo, é fundamental compreender que é por meio do modo de pro-dução capitalista que se realiza a construção das relações sociais. Assim,

o processo capitalista de produção expressa, portanto uma maneira historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condições materiais da existência humana e as relações sociais atra-vés das quais levam a efeito a produção. Nesse processo se reproduzem, concomitantemente, as idéias e representações que expressam estas relações e as condições materiais em que se produzem, encobrindo o antagonismo que as permeia [...] (IAMAMOTO, 1982, p. 30)

Com base no apontamento da autora, evidencia-se que as relações humanas não são determinadas apenas pelas subjetividades individuais, mas, principalmente, pelas relações materiais que os circundam, sendo esse fator determinante nas relações sociais, as quais não são realizadas de forma isolada.

A partir dos anos 1970 surge o conceito de natureza flexível do trabalho, que traz consigo uma roupagem de “novo capitalismo”, o qual alterou seu significado em relação ao sentido do ofício. Uma vez que a flexibilização do trabalho não passa de uma nova forma de controle, em que penetra nas entranhasdo indiví-duo, em seu caráter, afetando seus próprios valores (SENETT, 2000).

Esses são riscos desconhecidos e geram uma latente configuração no traba-lho, pois não há nenhum estranhamento e/ou indignação dessa relação corrosiva que trabalho exerce no ser social. Assim, esse contexto não fornece condições para a formação do indivíduo sobre o que realmente o trabalho significa, pois a ausência de compartilhar experiências predomina sua fragmentação, impossi-bilitando a formação de identidade de classes sociais.

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Destarte, o trabalho passa a ocupar todo o tempo do indivíduo, sendo a mais--valia sua dedicação exclusiva, o que implica na corrosão do caráter, que está intrinsecamente relacionada como às relações humanas contemporâneas estão associadas à frieza e a exploração do outro, permeados pelo fascismo que estão presentes e contribuem para a quebra dos vínculos, sendo a ausência freqüente no ambiente familiar, fragmentando as relações sociais e familiares. Por isso, o homem burguês é um subproduto do capitalismo.

O homem faz sua história, mas não a faz sozinho, faz de acordo com a reali-dade concreta que o circunda.

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