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SERVIÇO SOCIAL COMO ESPECIALIZAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO

No documento PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 82-88)

Com a divisão social e técnica do trabalho,

[...] o Serviço Social se afirma como um tipo de especialização do tra-balho coletivo, ao se constituir em expressão de necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais [...] (IAMAMOTO, 2008, p. 88).

especialmente no ato de produzir e reproduzir seus meios de vida e de traba-lho de forma socialmente determinada. Ressalta-se que apesar da profissão ter sido construída para servir aos interesses do capital, ela não produz necessidades exclusivas do capital, pois participa de respostas às demandas da classe trabalha-dora, enfrentadas seja coletivamente, por meio de movimentos sociais, na busca de acesso aos recursos sociais existentes por meio dos equipamentos do Estado, que fazem face aos direitos sociais do cidadão, elementos estes que fundamen-tam o significado social da profissão.

O trabalho coletivo é definido por Marx como aquele que os indivíduos ao despender sua força de trabalho no processo de produção, podem desempenhar uma função do outro, chamado também de trabalho combinado.

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“Essa relação entre trabalho coletivo e especialização profissional merece desdobramento, considerando que o trabalho coletivo permite ilumi-nar a qualificação de um trabalho particular na totalidade dos trabalhos combinados” (IAMAMOTO, 2008, p. 108).

Vamos exemplificar esse processo ao analisar por exemplo uma escola, o pro-fessor, diretor, psicólogo e o assistente social tem a mesma finalidade, garantir o acesso a uma educação de qualidade para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, porém cada um tem sua competência privativa, mas que com “[...] a visão da totalidade da organização do trabalho que torna possível situar a con-tribuição de cada especialização do trabalho no processo global” (IAMAMOTO, 2008, p. 108).

[...] o controle do processo de trabalho assume progressiva importân-cia, integrando-se à tecnologia à qual o trabalhador fica subordinado, inclusive nos seus elementos subjetivos de conhecimento e habilidades, implicando visões de mundo, sentimentos e comportamentos de con-sentimento e resistência, de cuja construção o Serviço Social participa (FREIRE, 2010, p. 76).

Concomitante a afirmação da autora sobre a centralidade dos meios de trabalho, traz a partir das conclusões marxianas a questão do trabalhador coletivo, em que

[...] o Serviço Social, como as demais atividades-meio que produzem melhores condições para o consumo da força de trabalho no próprio processo produtivo-fim, situar-se-ia como subfunção paralela a este processo (FREIRE, 2010, p. 77).

Por isso, é fundamental no trabalho coletivo, em que se insere o assistente social, o trabalho multi e interdisciplinar. Mas esse conceito de trabalho coletivo, foi materializado por Marx para identificar os processos de trabalho da indústria, em que os trabalhadores podem desenvolver o trabalho de outrem, com o único objetivo de reduzir os custos da produção e da força de trabalho, isto significa ampliar a proporção entre a mais-valia e o valor total.

[...] o trabalhador coletivo é o conjunto de envolvidos na produção, desempenham eles atividades manuais ou não: sob a grande indústria capitalista, na qual se operou a subsunção real do trabalho ao capital, “não é o operário singular, mas cada vez mais, uma capacidade de tra-balho socialmente combinada, que se converte no agente real do pro-cesso de trabalho em seu conjunto (MARX, 1985, p.78-79 apud BRAZ; NETTO, 2008, p. 113).

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Tendo em vista este conceito, o qual se relaciona diretamente com a questão do trabalho produtivo e improdutivo, sendo essa uma das maiores polêmicas do debate da Economia Política:

o objeto da sua análise é o modo de produção capitalista e [Marx] sim-plesmente determina o que é produtivo ou improdutivo para o funcio-namento [...] desse sistema , e só dele. Em termos de utilidade ou ne-cessidade social, um médico [...] é indispensável para a sobrevivência de qualquer sociedade humana.Se trabalho, portanto, é eminentemente útil. Apesar disto, trata-se de trabalho improdutivo sob o ponto de vista da produção e da expansão do capital. O contraste fornecido pela pro-dução de projéteis, drogas estupefacientes ou pornográficas – inútil e deletéria para os interesses gerais da sociedade humana – : como essas mercadorias encontram ávidos compradores, a mais-valia incorpora-das nelas se realiza e o capital se reproduz e amplia; o trabalho nelas investido é, portanto, trabalho produtivo (MANDEL, 1998, p. 122 apud BRAZ, NETTO, 2008, p. 114).

Desta forma , verifica-se que o trabalhador coletivo pode desenvolver atividades laborativas que envolva tanto o trabalho produtivo quanto o improdutivo, uma vez que, somente a criação do valor sobre a mercadoria é que define qual fun-ção do trabalho realizado, sendo, portanto, trabalho produtivo, apenas aquele que produz mais-valia ao capital, independentemente de sua finalidade no pro-cesso de relações sociais para assegurar condições úteis para a vida humana.

[...] vão sendo construídas formas particulares de trabalho, relativas a cada especialização do trabalho coletivo, incorporadas como formas singulares de exercício profissional, resultantes da conjunção entre mandas, formação profissional e organização do trabalho coletivo, de-terminadas e mutáveis, de acordo com o movimento histórico (FREI-RE, 2010, p. 78-79).

Assim, Pola (2009) afirma que:

[...] como trabalhador produtivo, o assistente social é um legítimo inte-grante do trabalhador coletivo, porque participa do processo de criação de valor. Tal assertiva encontra respaldo em Marx no entendimento de trabalho coletivo que explica como a subsunção real do trabalho no capital modifica a forma de existência deste no capitalismo (POLA, 2009, p. 91).

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Contudo, para o assistente social ser considerado como um trabalhador pro-dutivo, este deve estar relacionado ao capital, isto é, seu vínculo empregatício tem que ser com instituições privadas e não públicas, como por exemplo com o Estado, que não tem a função de gerar mais-valia, diferentemente do mercado.

[...] o assistente social é chamado a desempenhar sua profissão em um processo de trabalho coletivo, organizado dentro de condições sociais dadas, cujo produto, em suas dimensões materiais e sociais é fruto do trabalho combinado ou cooperativo, que se forja com o contributo es-pecífico das diversas especializações do trabalho (IAMAMOTO, 2008, p. 107).

A égide do capital sobre a profissão do Serviço Social está intrinsecamente rela-cionada com as relações sociais e relações de produção, em que o assistente social é um partícipe da classe trabalhadora.

Trata-se de um esforço de captar o significado social dessa profissão na sociedade capitalista, situando-a como um dos elementos que partici-pam da reprodução das relações de classe e do relacionamento contra-ditório entre elas. Nesse sentido, efetua-se um esforço de compreender a profissão historicamente situada, configurada como um tipo de escialização do trabalho coletivo dentro da divisão social do trabalho pe-culiar à sociedade industrial (CARVALHO, IAMAMOTO, 1982, p.71).

Por isso, nota-se, sobretudo, que inserida na divisão social e técnica do trabalho, a profissão faz parte da classe trabalhadora assalariada, a qual vende sua força de trabalho para o capital e perece como as demais das insídias impostas por esse modo de produção capitalista.

[...] o serviço social desenvolve um movimento constante no conjunto do trabalho coletivo, na medida em que acompanha as modificações internas e políticas que se realizam fora e dentro da grande empresa [...] (KARSCH, 1998, p. 37).

Assim, o Serviço Social, enquanto especialização do trabalho coletivo, integra um projeto de sociedade que, por sua vez, determina o Projeto Ético Político da profissão, o qual tem como pressuposto a equidade e a democracia. Do ponto de vista profissional, o projeto implica no compromisso com a competência técnica, teórica e política, que tem como base o aprimoramento intelectual do assistente social, que se configura a partir da investigação da realidade.

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b[...] não há um único e idêntico processo de trabalho do assistente social, mas [...] eles vão sendo construídos dentro dos limites e possi-bilidades das condições particulares do exercício profissional, por sua vez articulados à totalidades das relações sociais, através de múltiplas mediações (FREIRE, 2010, p. 78).

Para construir uma prática baseada no empoderamento e emancipação humana dos usuários é preciso tornar público os recursos institucionais, articular com outras profissões propostas e ações que se vinculam com as lutas gerais da classe trabalhadora.

Desse modo, é preciso estar pautado na prática crítica, a qual implica nas 3 dimensões da profissão:

Teórico-metodológica: as correntes, matrizes teóricas, a literatura da profissão que orienta a prática, por meio da teoria social para explicar a realidade;

Ético-política: os compromissos do profissional com a classe trabalha-dora, com os usuários e a com a profissão, considera ontologicamente a prática social com suas determinações sócio-históricas. Esta dimensão é movida pela teleologia, ou seja, pelo projeto e pela concepção de socie-dade que o profissional busca, para isso é necessário romper com práticas e discursos hegemônicos;

Técnico-operativa: refere-se às estratégias, instrumentos, táticas e ferra-mentas utilizadas pelo profissional. Esta ação é desenvolvida por meio das aproximações sucessivas, a partir do momento que o profissional entra em contato com a realidade, posteriormente se distancia para refletir sobre esta, a reconstruindo teoricamente, é um processo dialético. É nesse pro-cesso que se insere a prática profissional.

Para que a prática seja concebida em práxis profissional é necessário que pos-samos compreender que ela é reflexiva e intencional, sendo constituída pelas seguintes características:

INVESTIGATIVA: ato de conhecer, em que é necessário unidade de arti-culação entre teoria e prática;

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PRODUTIVA: ato de transformar materialmente, sendo a reflexão teórica; ■ SOCIAL/POLÍTICA: opção que se faz de manter ou transformar as rela-ções sociais estabelecidas, apresenta o compromisso com a classe social que representa.

Tais elementos são fundamentais para a compreensão e o exercício de constru-ção/desconstrução/reconstrução dos objetos, uma vez que, estes são constituintes e constitutivos da síntese/totalização/difusão do fazer profissional, em que se contribui para a reprodução social das relações sociais na direção da liberdade e da justiça social.

A sociedade de classes no capitalismo monopolista cria uma civiliza-ção de serviços. A idéia de “prosperidade” desencadeia um avanço nas formas diversificadas que garantem,no mercado, o circuito do capital e das mercadorias. As necessidades exacerbadas pela publicidade justifi-cam novos serviços para novas necessidades que, no mundo moderno, desenvolvem uma proliferação de formas de atendimento ao homem, administrado por profissionais (KARSCH, 1998, p. 31-32).

Destarte, a análise da profissão perpassa pela compreensão de que no modo de produção capital, o assistente social está inserido entre a luta constante do capi-tal e trabalho.

Em sua obra “O serviço social na era dos serviços”, Ursula M. S. Karsch (1998), traz indagações pertinentes sobre a prestação de serviços que a profissão realiza, uma vez que contribui indiretamente para o processo produtivo do trabalho.

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