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REPERCUSSÕES NO MERCADO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL

No documento PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 128-135)

A década de 70 iniciou as configurações do mundo do trabalho, transforma-ções societárias que constituem-se em solo privilegiado para o processamento de alterações profissionais, ou seja, no surgimento de novas ou no redimensio-namento de novas profissões consolidadas, conforme as necessidades do capital na divisão social e técnica do trabalho.

Demarca-se que as mudanças societárias, em movimento, metamorfoseiam a produção e a reprodução das necessidades sociais, uma vez que, ao conside-rar as profissões como umcorpus teórico prático”, que condensam processos sociais para articular respostas a projetos sociais em curso, sendo que uma profis-são não pode ser tomada exclusivamente enquanto resultado de transformações macroscópicas, mas deve-se considerar os complexos que compõem a profissão no modo de produção capitalista.

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Em 1974-1975 explode a primeira recessão generalizada da economia capi-talista internacional, que foi desencadeada desde a II Guerra Mundial. Neste momento houve uma mudança no padrão de crescimento do capital, em que suas “ondas largas expansivas” foram subsidiadas pelo pacto keynesiano expresso no Welfare State, conforme vimos na Unidade III.

De acordo com Castel (1998) as leis do trabalho tem caráter punitivo e repres-sivo e não protetor. Os objetivos eram o de estabelecer o imperativo do trabalho a todos que dependiam de sua força de trabalho para sobreviver, aceitar qual-quer trabalho que lhe fosse oferecido, regular a remuneração do trabalho, não havia negociação de remuneração, proibir a mendicância dos pobres válidos. Entretanto, esse contexto não se difere da situação contemporânea.

A seguridade social procede de uma espécie de transferência de proprie-dade pela mediação do trabalho e sob a égide do Estado. Seguriproprie-dade e tra-balho vão tornar-se substancialmente ligados porque, numa sociedade que se reorganiza em torna da condição de assalariado, é o estatuto conferido ao trabalho que produz o homólogo moderno das proteções tradicional-mente asseguradas pela propriedade privada [...] (CASTEL, 1998, p. 387).

Concomitantemente a esse processo, a Seguridade Social no Brasil é expressa com a promulgação da Constituição Federal de 1988, em que se tem o tripé das políticas públicas de saúde, previdência e assistência social. A Constituição Cidadã como é conhecida, trouxe, por pouco tempo, a esperança de haver no país um Estado de Bem Estar Social, mas que na década de 90 com o desmonte das políticas públicas com a entrada avassaladora do neoliberalismo fica apenas como uma possibilidade remota.

Com o neoliberalismo e o processo de reestruturação produtiva, o desem-prego estrutural tende para o aumento de programas sociais, em contrapartida as demandas do capital apontam para a diminuição dos gastos sociais. Resultado: um processo conflituoso de negociação e luta de classes e seus segmentos, que se colocam em condições desiguais nas arenas de negociação disponíveis no Estado democrático de direito, o que leva à conflitos também extras institucionais.

Nessa perspectiva, no nível social as mudanças provocadas no capitalismo tardio vão além das mudanças na estrutura das classes sociais, estas se relacionam diretamente com as mudanças do perfil demográfico, dentre as quais destacam--se as seguintes características:

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ü crescimento das atividades de prestação de serviços; ü expansão da educação formal;

ü novos circuitos da comunicação social.

Tendo em vista esse processo de reorganização social para atender as demandas do capital, verifica-se que essas mudanças rebatem na estrutura familiar, com a inserção efetiva da mulher no mercado de trabalho, a ascensão do jovem como força motriz atrelado a expansão da indústria cultural e o reconhecimento das expressões da questão social que atingem as minorias.

Contudo, as mudanças também interferem na dinâmica cultural, em que há uma translação da lógica do capital para todos os processos do espaço cultu-ral, desqualificação da esfera pública e a supervalorização do indivíduo sobre a sociedade. Esses elementos impõem a redefinição dos papéis e relações do Estado e da sociedade civil, em que o Estado burguês tem um redimensionamento de suas funções legitimadas, como o corte nas políticas sociais, propagando-se o discurso e ações de desqualificar o Estado para tomar frente o processo de pri-vatização dos aparelhos estatais.

Para isso, desenvolveu-se uma “cultura política” anti-Estado, isto é, desregu-la-se como órgão gestor dos direitos sociais, apresentada pela modernidade para promover a sociedade civil ao transferir as responsabilidades do Estado para a mesma, objetivo do neoliberalismo em detrimento da valorização do voluntariado.

De modo geral, pode-se considerar que a configuração do capitalismo tardio possui três elementos essenciais: crescente alargamento da distância entre o mundo rico e o pobre, a ascensão da xenofobia e do racismo , bem como a crise ambien-tal. Estes são os desafios que a sociedade enfrentará, devido a imposição capitalista para a sobrevivência das espécies dos seres vivos inclusive a dos humanos, uma vez que para expandir seu poder e dominação desconsidera a força da natureza, a qual tem dado inúmeras respostas aos efeitos de degradação do meio ambiente.

A análise do processode trabalho no Serviço Social [...], parte da concep-ção marxiana clássica relativa ao trabalho, como espaço de interaconcep-ção do

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homem com o mundo natural, modificando-o e se modificando nesse movimento. Ele se objetiva num produto, correspondente a um valor de uso, decorrente desse processo, que pode não somente ser consumi-do, mas também transmutar-se em meio para um novo processo de ou-tro produto [...] ( MARX, 1983, p. 149-154apudFREIRE, 2010, p. 71a).

Frente a esse contexto, verifica-se que a categoria trabalho pautada na relação mercadológica, configura-se o processo de compra e venda de produtos para a relação comercial, mas é preciso reconhecer que as relações sociais de produção são consideradas da mesma forma como a mercadoria, o implica em retirar a importância que a força de trabalho humana tem no modo de produção capitalista.

A comunicação de massa popular surgiu no século XIX, com o jornal diário, mas se consolidou no século XX com o rádio, o cinema e a televisão, e no XXI, a internet. Os meios de comunicação de massa são os canais usados na trans-missão de mensagens a um grande número de receptores, uma vez que esta contribui para a modificação dos significados que os homens atribuem a diver-sas situações ou coidiver-sas.

No dia a dia, os meios de comunicação de massa mais comuns são os jor-nais, as revistas, o rádio, a televisão e mais recente a internet. Além destes canais e instrumentos há também a comunicação artística, a qual se reflete por meio do cinema, teatro, dança, entre outros.

Na obra “Serviço Social em tempo de capital e fetiche: capital financeiro, tra-balho e questão social”, Iamamoto (2012), faz uma crítica sobre marxista da economia política atual, em especial no Capítulo III, a autora tece conside-rações importantes sobre as teses dos principais autores do Serviço Social brasileiro.

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Neste sentido, a comunicação não inclui apenas as mensagens faladas, pois o olhar, os gestos e os sinais contribuem e auxiliam para uma efetiva comunicação entre duas ou mais pessoas. Segundo Gramsci a cultura criada pelo povo, é a que articula uma concepção do mundo e da vida em contraposição aos esquemas ofi-ciais, por isso inúmeras manifestações populares tem em seu bojo a sede e a fome de expressar sua revolta e/ou indignação sobre determinadas situações ou assuntos.

Segundo Adorno (2002),“a indústria cultural” impede a formação de indi-víduos autônomos, independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente. Diante desse contexto, pode-se dizer que a cultura de massa não é algo constru-ído por seus membros, mas sim pela própria indústria, que transforma tudo em mercadoria, deixando os indivíduos como meros consumidores, os quais não precisam se dar o trabalho de pensar, é só escolher.

É de extrema importância deixar claro que o conceito de indústria cultural não se refere aos veículos transmissores, mas sim ao uso de tal tecnologia por parte da classe dominante. Portanto, a produção cultural e intelectual passa a ser embasada e guiada pela possibilidade de consumo mercadológico.

Frente a esse contexto social, Iamamoto (2008) discute sobre as condições de trabalho e as respostas profissionais, as quais implicam numa minuciosa reflexão sobre a prática e práxis profissional. Tendo em vista que “a realidade torna-se obstáculo, vista como o que impossibilita o trabalho” (IAMAMOTO, 2008, p. 162). Essa afirmação da autora remete a compreensão da forma como o trabalho do assistente social está se desenvolvendo, por meio de precárias condições de atendimento à população usuária de determinado serviço bem como das con-dições e pressões do trabalho desse profissional.

Nesse sentido, convém ressaltar a importância dos profissionais estarem descrevendo sua prática profissional com a finalidade de informar e produzir conhecimento. Este exercício de produção está se desenvolvendo em um pro-cesso moroso, tendo em vista que com a exigência de elaboração do trabalho de conclusão de curso como requisito para a formação profissional, esse traba-lho tem despertado em alguns acadêmicos e docentes o interesse pela produção científica, o que é algo muito importante tanto para a academia quanto para a categoria profissional se posicionar frente às novas configurações e proliferações das expressões da questão social.

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[...] a preocupação [...] é de construir no âmbito do Serviço Social, uma proposta de formação profissional conciliada com os novos tempos, radicalmente comprometida com os valores democráticos e com a prá-tica de construção de uma nova cidadania na vida social, isto é, de um novo ordenamento das relações sociais.

Conforme a autora descreve, é preciso que a formação profissional do assistente social esteja pautada, não apenas na habilidade técnica, mas na competência de analisar a conjuntura da sociedade atual bem como numa leitura crítica e reflexiva das condições de trabalho. Pois, somente, dessa forma teremos profissionais de qualidade no mercado, prestando um atendimento pautado no Código de Ética e Projeto Ético Político Profissional, e não apenas cumprindo ordens e quantidades.

A perfeita expressão do conceito de qualificação na sociedade capitalista é que o que se encontra nos lemas estéreis e rudes dos primeiros tayloris-tas, que descobriram a grande verdade do capitalismo segundo a qual o trabalhador deve tornar-se um instrumento de trabalho nas mãos do ca-pitalista, mas não haviam aprendido ainda a sabedoria de adornar, obs-curecer, e confundir essa necessidade do modo como o fazem a gerência e a Sociologia modernas [...] (BRAVERMAN, 1987, p. 377-378).

Tendo em vista a afirmação do autor, é importante ressaltar que a qualificação não se refere apenas a questão de estudos acadêmicos, mas também de apri-moramento das atividades laborais diárias, isto é, a qualificação da trabalho executado no cotidiano.

[...] a qualificação serve tanto ao processo de modernização tecnológica quanto para atender aquelas situações em que as mudanças situam-se apenas nos mecanismos de reorganização do processo de trabalho, a partir de uma nova cultura de trabalho (KAMEYAMA, NOGUEIRA, 2002, p. 32).

Conforme a citação, é clara as intenções das empresas ao qualificar o trabalha-dor, em que estas, ao investirem neste processo, visam atingir outras metas que a de apenas “melhorar” o desempenho de trabalho de determinados indivíduos, pois estas, antes de buscar o aprimoramento, analisam os benefícios posteriores.

A partir da crise do trabalho é que surgem as oportunidades, especialmente para o assistente social, em que precisa ser engajado assertivo, ou seja, precisa

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ter presente em sua prática profissional a inovação, bem com o conceito de empregabilidade.

De acordo com a autora, a visão de oportunidades de trabalho para o Serviço Social referem-se:

1º a você, ator social que tenha motivação, visão de negócio, cultura e adminis-tração, isto é, um profissional atento às mudanças e exigências do mercado; 2º à nossa ideia e a nossa fé, significa que o profissional terá que construir a

sua imagem e a do Serviço Social em seu espaço de trabalho;

3º nossos colegas de profissão, dizem respeito a contribuição e até mesmo ajuda que um profissional pode oferecer ao outro, um exemplo disso é a inserção dos acadêmicos no campo de estágio, lugar este que contribui de forma significativa para a formação técnica;

4º nossos parceiros, como o próprio diz, refere-se às oportunidades oferecidas por nossos parceiros para execução de determinado programa e/ou projeto; 5º nossos clientes em potencial, são as empresas que, futuramente, pode-rão contar com a colaboração do Serviço Social em sua gestão, para isso é fundamental a venda de uma profissão que tenha dinamicidade e con-trole das situações emergentes;

6º organizações metanólicas, referem-se a organizações que passaram por mudanças, cujas quais precisam de uma gestão social para o fortaleci-mento das relações.

Nesse sentido, houve, a partir da década de 90, uma expansão nas oportunida-des de consultoria em Serviço Social. Essa, por sua vez, pode ser realizada tanto interna como externa. A primeira diz respeito à prestação de um serviço em que o profissional assessora as pessoas e a empresa na tomada de decisão apresen-tando-lhes instrumentos de mudança; a segunda refere-se a um auxílio sobre os processos de gestão da empresa.

Esse período também ficou marcado pela construção de uma prática pro-fissional interdisciplinar, com a finalidade de aprimorar os serviços oferecidos.

Por isso, Battini (1994, p. 144) afirma que:

[...] pensar os fatos, os acontecimentos, as relações exige questionar, in-vestigar a realidade, criticá-la, tornando-a evidente pela contínua

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cação de questões, fazendo-a emergir de forma cada vez mais rica e viva, recriando-a num contínuo percurso entre a aparência e a essência, entre a parte e o todo, entre o universal e o particular, numa visão dialética.

Sendo assim, o Serviço Social é uma profissão investigativa e interventiva, pois seu exercício profissional está em descobrir as necessidades e causa que determi-nado indivíduo enfrenta para buscar que seja efetiva a garantia de seus direitos.

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES PARA O MERCADO DE

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