• Nenhum resultado encontrado

DA AMAZÔNIA CENTRAL Jorge Hugo IRIARTE MARTEL 1* , Bruno Araújo CRUZ

e Newton Paulo de Souza FALCÃO1

1 Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Coti/Inpa, Avenida André Araújo, 2936, Petrópolis. Manaus, AM. Caixa Postal 2223, CEP: 69080-971, e-mail: nfalcao@inpa.gov.br;

2 Programa de Pós-graduação em Agricultura no Trópico Úmido – PPG-ATU, Manaus, AM.

*in memorium

Palavras chave: Fruticultura, Fenologia, Solos Antrópicos, Latossolo Amarelo.

INTRODUÇÃO

A aceroleira é uma planta perene, originária da região das Antilhas e também nativa de outros países da América Central e do norte da América do Sul (Donadio, 1992). É conhecida em muitos locais como “cereja-das-Antilhas”. A acerola é uma planta arbustiva de 2-3 m de altura, que desenvolve uma copa perenifó- lia, com ramos densos e espalhados (Couceiro, 1985). O tamanho e formato da copa dos pés de acerola podem variar com o manejo do plantio, em resposta às podas de formação e frutificação. As folhas da aceroleira são verde-escuras, pequenas, ovaladas, com 2-7 cm de comprimento e 1-6 cm de largura. As flores formam-se próximo às regiões de inserção das folhas nos ramos, em número de dois a oito e, com pétalas que variam de cor: entre rosadas, violetas ou brancas. As flores são perfeitas, dispostas em cachos axilares de três a cinco, pedunculadas, com 1-2 cm de diâmetro e de cor rosa esbranquiçada a vermelha (Donadio, 1992).

A autopolinização é predominante nas aceroleiras, mas ocorre também a polinização cruzada em razoáveis proporções, e estes cruzamentos intraespecíficos estão relacionados a formação dos frutos de maior tamanho. O grão de pólen é viável apenas no dia da antese (Donadio, 1992), contribuindo para a incompatibilida- de na polinização, que é bem maior quando em autocruzamento. Simão (1971), estudando a morfologia reprodutiva da acerola, ob- servou que, nos ramos primários a diferenciação da gema floral acontece entre 8-10 dias e a antese em ± 7 dias após a emergência,

09

ção floral as flores surgem continuamente em todas as axilas de folhas dos ramos do ano anterior e nas ramas novas.

A formação do fruto processa-se ra- pidamente; da antese à maturação do fruto decorrem três semanas. A acerolei- ra começa a produzir cedo, a partir de estacas 1 a 1,5 anos e de sementes 2 a 2,5 anos, dependendo da origem de estacas ou sementes. Os ciclos de frutificação ocorrem de três a quatro vezes por ano e em condições favoráveis já foram regis- tradas até sete frutificações anuais.

Desde os anos 1940, quando o teor de ácido ascórbico (vitamina C) contido nos frutos de acerola foi reportado em Porto Rico como elevado (Asenjo & Guzman, 1946), que a planta tem sido pesquisada em toda parte e o seu cultivo passou a ser industrial em alguns países. No Brasil, foi introduzida nos anos 1950, mas somente nos anos de 1980 o cultivo da acerola passou a ser conduzido em escala comer- cial (Donadio, 1994). As regiões quentes do país constituem o principal mercado consumidor da acerola, quase sempre para o preparo de sucos. A demanda no mercado interno é para frutos in natura ou congelados como polpa. O mercado externo, adquire o produto na forma de polpa (Araújo & Minami 1994). Os teores de vitamina C encontrados nos frutos de acerola são comparáveis apenas aos de camu-camu (Myrciaria dubia), e ambas são consideradas as mais importantes fontes naturais desta vitamina. Os teores de vitamina C da acerola são 50-100 vezes maiores que os encontrados nos cítricos (laranja, limão, tangerina), que são popularmente reconhecidos como ricos nesta vitamina (Donadio, 1992).

Após a maturação, os frutos caem com facilidade. Em cada fruto há de três e quatro sementes, rugosas, e a maioria não germina, porque não têm embrião formado. Os frutos da aceroleira podem variar em tamanho, coloração, concen- tração de vitamina C, teores de frutose e sabor, dependendo da variedades cul- tivada. A qualidade dos frutos pode ser alterada por outros fatores tais como o uso de irrigação, a adubação do solo, as podas e edafo-climáticos. Nos plan- tios tecnicamente conduzidos produção pode alcançar de 30-60 kg de frutos por planta, produzidos em 4-6 ciclos anuais de frutificações (Donadio, 1998). Além do consumo de suco e in natura, como fruta fresca, a produção pode ser usada no preparo de xaropes, sorvetes, geleias, com- potas, balas, licores, produtos liofilizados, etc. Além dos benefícios da vitamina C, o suco de acerola também contém vitamina A (caroteno), e é rico em ferro e cálcio, recomendado para lactentes, contra des- nutrição, prevenção do envelhecimento e para enfermos (Felipe, 1997).

Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores, consumidores e exportadores mundiais de acerola (Araújo & Minami, 1994) e 40 % da produção é destinada ao mercado externo. O cultivo de acerola ocorre em quase todas as regiões onde o clima é ameno a quente. A qualidade e composição dos frutos depende das con- dições climáticas, do cultivar, dos tratos culturais aplicados no manejo da cultura, do estádio de maturação dos frutos por ocasião da colheita, e outros (Carvalho & Guerra, 1995).

As principais áreas produtoras de acerola no Estado do Amazonas são o

baixo rio Solimões e no município de Manaus e da região metropolitana, in- cluindo Manacapuru e lranduba. Nesta parte da Amazônia Central as áreas cul- tivadas incluem manchas de terra preta, sobre diversos tipos de solos, mas normal- mente estão em locais bem drenados, em terra firme, próximas às margens de rios.

As terras pretas são solos antropo- mórficos conhecidos pedologicamente como Terras Pretas Antrópicas (TPA) e são identificadas por sua cor escura, pela alta concentração de substâncias orgâ- nicas e são áreas de fertilidade elevada com boa disponibilidade de nutrientes essenciais. Entretanto, as pesquisas já realizadas em solos de terra preta, identi- ficaram em alguns locais a deficiência de potássio (Sombroeck, 1966; Falesi, 1972; Falcão et al., 2001). Há informações dis- poníveis sobre a produção e qualidade dos frutos de acerola em outros locais de cultivo, mas pouco se sabe sobre o de- sempenho da cultura em solos de Terra Preta de Índio e Latossolo Amarelo, o que demanda novas pesquisas sobre a fe- nologia, produção e qualidade dos frutos de acerola em solos não hidromórficos da Amazônia Central.

DESENVOLVIMENTO DA

PESQUISA

A pesquisa experimental foi realiza- da na região metropolitana de Manaus, AM, em duas propriedades agrícolas se- lecionadas na rodovia AM 070, Km 59, na localidade da Costa do Laranjal, Comuni- dade de Nossa Senhora da Conceição, em Manacapuru, AM, por apresentarem cul- tivos de acerola em solo de terra firme.

Nas áreas cultivadas foram selecionadas 10 árvores matrizes em cada sítio, que foram dimensionadas, tiveram a sua pro- dução monitorada e os frutos foram sub- metidos a testes de qualidade. Para carac- terização dos frutos foram realizadas três colheitas nas safras de 2005-2006. Para cada matriz, dez frutos foram seleciona- dos considerando-se a homogeneidade de tamanho e cor, para as avaliação físi- co-químicas, empregando-se a metodolo- gia descrita em IAL (2005).

Para caracterizar as matrizes, a altura da planta foi tomada com régua topográ- fica, e correspondeu a medida do solo até a parte superior da copa. O diâmetro da copa foi medido com trena e corres- ponde à média de duas medidas, uma no sentido da linha de plantio e outra per- pendicular a esta. Foi também medido o diâmetro da base do tronco utilizando-se uma suta, no ponto situado a 10 cm do solo. O índice de conformação de copa foi assim avaliado pelo ICC que corres- ponde a razão entre a altura da planta matriz e o seu diâmetro de copa.

A fenologia das aceroleiras foi moni- torada por oito meses, entre outubro de 2006 e maio de 2007. Usando como cri- tério os pontos cardeais, em cada planta matriz foram marcados quatro ramos, no sentidos norte, sul, leste e oeste, para registro da presença e contagem quin- zenal dos frutos e flores. Para obter o volume de copa foi usada a fórmula V = 2 π r2.h/3, onde: π = constante (3, 1416); r = raio, V = volume e h = altura (Mendel, 1956). Foram feitas três amostragens para avaliar a qualidade dos frutos, nos meses de setembro, novem- bro e abril e para tanto foram coletados

20 frutos da mesma florada para compor uma amostra por parcela (cinco frutos por planta) e 100 frutos por sistema, to- talizando 200 frutos analisados em cada um dos meses definidos.

Foram tomadas medidas biométricas do comprimento e o diâmetro dos frutos de acerola, com auxílio de paquímetro e estes foram pesados individualmen- te em balança digital. Com o auxílio de um refratômetro, foi colocada uma gota do suco no espelho do aparelho e em seguida foi feita a leitura direta em oBrix, a 27ºC. A acidez titulável foi determina- da seguindo a metodologia recomendada por Tressler & Joslyn (1961) e IAL (2005) onde: em 10 g de suco foram adicionados 75 mL de água destilada. A amostra foi titulada com NaOH a 0,05 %, padroni- zada, usando como indicador o azul de bromotimol a 0,1 %. Os resultados foram expressos em g de ácido cítrico 100 g-1 de suco. As análises foram realizadas no Laboratório Temático de Solos e Plantas LTSP, do Inpa, em Manaus, AM.

As sementes dos frutos foram extraí- das e contadas. A cor do suco foi determi- nada através da carta de Cores da Royal Horticultural Society. O pH dos frutos foi determinado com um pHmetro elétri-

co (MS TECNOPON® – MPA210/MPA210

P). Foi também pesado o “descarte” dos frutos que é constituído por polpa, cascas e sementes. O Índice de Qualidade do suco foi estimado pela relação: IQ = Relação Sólidos (Brix)/Acidez (Chitarra & Chitar- ra, (1990). Para a produção de sucos con- centrados, a matéria prima é qualificada pelo Índice Tecnológico e calculado pela fórmula: IT = B.S/100, onde: B = Sólidos Solúveis (Brix); S = % de Suco.

O delineamento experimental em cada local (Terra Preta e Latossolo Amarelo) foi completamente casualizado com três tratamentos (épocas de avalia- ção: outubro e dezembro de 2006 e maio de 2007), e com dez repetições, tendo uma planta por parcela. Os dados foram submetidos ao ANOVA conjunta após ve- rificar a homogeneidade dos quadrados médios do erro pelo critério de Pimentel Gomes. QME maior/ QME menor < 7. Em seguida foi feito o teste de compa- ração de médias de Tukey (P<0,05). O programa utilizado foi Estat (Unesp).

FENOLOGIA DE ACEROLA