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PROPAGAÇÃO DE Alpinia purpurata (ZINGIBERACEAE) POR RIZOMAS

Jorge Hugo IRIARTE-MARTEL1* Marcelo Domingues Martins RAIZER2

1 Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Coti/Inpa, Avenida André Araújo, 2936, Petrópolis. Manaus, AM. Caixa Postal 2223, CEP: 69080-971. E-mail: jhim@inpa.gov.br;

*in memorium

Palavras-chave: Fitotecnia, Floricultura, Propagação vegetativa, Sombreamento.

INTRODUÇÃO

A produção diversificada de plantas ornamentais constitui uma atividade mundialmente promissora e lucrativa e a demanda desse mercado, estimada para os países do primeiro mundo é de US$ 90 bilhões por ano. No mercado nacional a atividade de produção de flores e folhagens tem apresentado alta taxa de crescimento. Em uma avaliação feita pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRA- FLOR, 2012), o Brasil movimenta, anualmente, cerca de R$ 4,4 bilhões no mercado da floricultura, que ocupa uma área cultivada de ± 9.000 há e gera cerca de 200.000 postos de trabalho.

No comércio de plantas com fins paisagístico ou ornamentais, as flores tradicionais, de clima temperado, sempre dominaram o mercado, entretanto, nos últimos anos, o potencial das flores tro- picais têm merecido destaque, por apresentarem uma beleza e profusão de cores bem especiais, além de vantagens complemen- tares, com menor perecibilidade e maior resistência ao transporte a maiores distâncias. Neste contexto, entre as famílias de plantas monocotiledôneas caracterizadas pela exuberância de suas flora- das destaca-se, dentro das Zingiberaceae a alpínia (Alpinia purpu-

rata (Viell.) Schum. var. Red Ginger), que apresenta inflorescência

com colorido intenso, uma aparência exótica, alta durabilidade após o corte e boa aceitação nos mercados nacionais e externos.

Os principais países produtores de alpínia são os Estados Unidos, a Costa Rica, Jamaica e alguns países asiáticos. Os princi- pais mercados importadores são também os Estados Unidos junto com o Canadá, a Holanda, a Alemanha, a Dinamarca e o Japão. No mercado internacional, a dúzia de inflorescências de alpínia

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do ano, já que a oferta ainda é insufi- ciente para o abastecimento do mercado (Castro, 2007).

Alpinia purpurata é uma planta ar-

bustiva tropical originária das Ilhas do Pa- cífico Sul. É cultivada secularmente como planta de jardim ou flor de corte, em pai- sagismo e jardinagem de parques, praças e residências. As razões que favorecem a sua aceitação pelos consumidores são a sua beleza decorrente do aspecto exótico das brácteas que envolvem e protegem as flores que tem colorido vistoso, intenso e exuberante e, na maioria das vezes, com tonalidades contrastantes. Dentre as qua- lidades agronômicas que viabilizam o seu cultivo em maior escala está a grande rus- ticidade, tolerância a seca, boa resistência ao transporte e longa durabilidade pós-co- lheita. A expansão da sua área de cultivo tem sido observada, face à floração contí- nua por vários meses (Castro, 1993).

O método tradicional de multiplica- ção desta espécie é por rizomas, os quais são caules especializados, que crescem horizontalmente, tanto acima como abaixo da superfície do solo (Hartmann e Kester, 1982). O rizoma característico é tipicamente muito ramificado. As brota- ções novas desenvolvem-se normalmente na base de um pseudocaule vertical. Com fins de propagação a divisão dos rizomas envolve tanto o rizoma horizontal como os pseudocaules verticais (Criley, 1988).

Infelizmente este método de propaga- ção favorece a disseminação e o acúmulo de doenças em cada safra, dificultando a sua multiplicação. Por outro lado, a multiplicação por sementes é limitada por duas características: i) apresenta dor-

mência, e ii) período para florescimento inicial muito longo, entre 3 e 4 anos.

O plantio da alpínia pode ser efetu- ado diretamente no campo ou em sacos plásticos ou vasos para um posterior transplante. Caso seja feito o plantio dos rizomas em recipientes, se recomen- da que as mudas sejam levadas para o campo quando atingirem ± 40 cm de altura e tiverem no mínimo quatro folhas verdadeiras formadas (Lamas, 2004). No cultivo em recipientes, recomenda-se o uso de substratos ricos em nutrientes e há necessidade de irrigação, o que pro- picia um melhor desenvolvimento das plantas. Na escolha do substrato, devem ser consideradas algumas características físicas e químicas relacionadas e outros fatores relacionados como: homogenei- dade, baixa densidade, porosidade, ca- pacidade de campo e troca catiônica e a isenção de pragas, patógenos e de se- mentes indesejáveis (Kämpf, 2001; Bata- glia e Abreu, 2001).

Dependendo do tipo de muda cultiva- da, o florescimento comercial da alpínia ocorre entre 1-3 anos após o plantio, quando as plantas atingem desenvolvi- mento satisfatório. Cada touceira produz em média 30 inflorescências, distribuídas, como já comentado, na maior parte do ano. Entretanto, o pico de produção de flores em alpínia se dá no verão, ou, se assim considerado no ambiente tropical, nos meses mais quentes (Castro, 2007).

A vida útil das plantas cultivadas de alpínia é indefinida, mas estimada entre 10-12 anos, quando há necessidade de renovação dos canteiros. A produtivida- de ótima acontece após o terceiro ano de

cultivo e cresce, desde que mantidos os cuidados com a nutrição e com o con- trole fitossanitário de pragas e doenças (Lamas, 2004). Considerando a produ- tividade média semanal de três inflo- rescências, ou seja, 156 inflorescências por touceira ano-1, é possível que em condições adequadas de manejo, 60 % delas tenham de padrão de exportação. Quando cultivadas em espaçamento 3 x 3 m o estande pode ter 1.111 touceiras ha-1, com estimativas de produção de 273 dúzias de inflorescências semanais e ± 14.400 dúzias de inflorescência ano-1 (Lamas, 2004).

Vários relatos mencionam a propa- gação vegetativa da alpínia por rizomas, mas sem sugerir o melhor tipo de pro- págulo para a formação das mudas. Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar o efeito do tipo de rizoma, do substrato e das práticas de sombreamen- to, na propagação vegetativa de alpínia na região amazônica.

DESENVOLVIMENTO DA

PESQUISA

Foi conduzido um experimento no viveiro de produção de mudas do Campus V-8 do Inpa, em Manaus, AM. Na Amazônia Central, o clima é classifi- cado como ‘Af’ (tropical, quente e úmido) no esquema de Köppen, com precipita- ção média anual de ± 2.500 mm, com estação seca definida entre os meses de julho a outubro, onde o déficit hídrico é estimado ± 140 mm.

O material de propagação utilizado foi constituído por rizomas, procedentes de plantas-matrizes que foram cultiva-

das no Horto Municipal da cidade. Para extração dos rizomas, foram escolhidas plantas adultas, sadias, vigorosas e pro- dutivas. A touceira (Figura 1a) foi ex- traída completamente do solo evitando cortes como estratégia preventiva contra a entrada de patógenos. Seguindo a me- todologia proposta por Visgueira et al., (2004), foram selecionados quatro tipos de rizomas: sem gemas laterais (classi- ficados como testemunha) e com uma, duas ou três gemas laterais.

O preparo dos rizomas consistiu no corte, com auxílio de tesoura-de-poda, das raízes e hastes a 20 cm da inserção do rizoma (Figura 1b), seguido da se- paração dos rizomas de acordo com os tratamentos. O tratamento fitossanitário consistiu na submersão do material pro- pagativo em uma solução de hipoclorito de sódio comercial a 2 % e fungicida Or- thocide 500 a 0,8 % (Figura 1c), confor- me recomenda Criley (1986), por cinco minutos, exceto para a testemunha que não foi tratada.

Como parte do experimento foi também avaliada a composição da mis- tura-substrato de desenvolvimento dos rizomas após o plantio, onde os diferen- tes componentes foram combinados com base volumétrica na proporção de 1:1:1 (v:v:v), preparando-se quatro formulados: solo, vermiculita e esterco bovino; solo, serragem e esterco bovino; solo, esterco bovino e algas de igarapé; e, solo, serra- gem e composto orgânico Plantimax®.

O solo apresentava textura arenosa e foi procedente do próprio local, cole- tado a 10 cm de profundidade. As algas foram obtidas em igarapés urbanos e após

a coleta foram desidratadas e trituradas, antecedendo seu uso. Após a aplicação do tratamento fitossanitário, os rizomas foram secos à sombra (Figura 2a), e em seguida plantados (Figura 2b). Como re- cipientes foram utilizados sacos de polie- tileno preto, drenáveis, com capacidade para 3 L de mistura-substrato. Em seguida foram transportadas para o viveiro e de- positadas em duas condições de sombrea- mento: com 50 e 100 % de luminosidade. Após o plantio, as parcelas com reci- pientes foram abrigadas no viveiro, e re- cobertas com uma estrutura de madeira com dimensões de 1,5 m x 7,0 m x 1,5 m, correspondente à altura, comprimento e largura, proporcionando os dois níveis de sombreamento (50 e 100 %). Durante a brotação e desenvolvimento das mudas

as práticas de irrigação foram diárias, para evitar o ressecamento e morte dos rizomas. Posteriormente, após as brotações foi feito o controle manual de pragas, quando ne- cessário, eliminando-se pulgões, cochoni- lhas, lagartas ou gafanhotos.

Na avaliação das plantas, efetua- da aos cinco meses de enviveiramento, foram considerados: o número de bro- tações por rizoma e o número de folhas presentes nestas brotações, a altura da parte aérea das brotações (mensurada do ponto de inserção no rizoma até o topo da maior folha), sendo também explora- da a razão entre o total de folhas emiti- das e o número de brotações. Nesta etapa do ensaio, as mudas foram retiradas dos sacos (Figura 3a), destorroadas (Figura 3b), lavadas (Figura 3c) e, com auxílio Figura 1. Touceira de plantas-matrizes de alpínia (Alpinia purpurata), cultivadas no Horto Municipal de Manaus,

AM (a); rizomas agrupados após a limpeza (b) e, durante a submissão ao tratamento fitossanitário (c).

A B

de tesoura de poda, separadas em parte aérea e raízes, determinando-se a bio- massa fresca e seca do material colhido. A secagem foi feita em estufa a 50°C, até atingirem peso constante, que foi deter- minado em balança de precisão.

O delineamento experimental utili- zado foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4 x 4 x 2 (quatro tipos de rizomas, quatro formulações de mistu- ra-substrato, duas condições de sombrea- mento), totalizando 32 tratamentos, com três repetições. Os dados foram subme- tidos à análise de variância, e as médias obtidas foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5 % de probabilidade (Banzatto

e Kronka, 1992), utilizando-se o Programa Estat, Unesp, versão 2010.

PRÁTICAS FITOTÉCNICAS DE