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4.3 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL E CULTURA INFORMACIONAL

4.4.5 Amor sintético: o amor na cultura de massas

Conforme discutido anteriormente, a cultura exerce papel fundamental tanto para a informação quanto para as representações sociais (MARTELETO, 1995; MOSCOVICI, 2007b). Sob a luz da Antropologia da Informação, afirma-se que lidar com a informação ―como artefato ou dimensão da cultura, requer trabalhar com centralidade o conceito de cultura, com consciência de sua diversidade de abordagens e com a escolha de uma abordagem preferencial‖ (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 2000, online). Assim, segundo Morin (2009), a cultura é

um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo trocas mentais de projeção e de identificação polarizadas nos símbolos, mitos e imagens da cultura como nas personalidades míticas ou reais que encarnam os valores (os ancestrais, os heróis, os deuses) (MORIN, 2009, p. 15).

Nesse sentido, para o autor, a cultura de massas é a cultura:

produzida segundo as normas maciças da fabricação industrial; propagada pelas técnicas de difusão maciça (que um estranho neologismo anglo-latino chama de mass media); destinando-se a uma massa social, isto é, um aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas internas da sociedade (classes, família, etc.) (MORIN, 2009, p. 14).

Assim, Morin (2009), ao discutir a presença do amor na cultura de massas, diz que o amor é o tema obsessional de tal cultura e central da felicidade contemporânea. Apesar de o amor aparecer em produções culturais de séculos passados, Morin (2009) acredita que a cultura de massas universaliza, principalmente por meio do cinema, a obsessão pelo amor em todos os setores.

Para Morin (2009), a partir da década de 1930, com o happy end181 – a

supervalorização da felicidade a todo custo – o amor se torna triunfal. De acordo com o autor, isso ocorre porque o amor, nesse contexto de priorização pelo final feliz, transpõe a barreira sexual para realizar-se na união dos corpos; supera os obstáculos da vida para realizar-se no casal; e estabelece o casamento, se chocando menos com ele. Segundo Morin (2009), até a concretização da cultura de massas

o tema do amor burguês se esgotava no conflito triangular entre o marido, o amante e a mulher, e os temas populares do amor se desenrolavam segundo uma espécie de jogo, em que se tratava de transpor obstáculos e armadilhas (MORIN, 2009, p. 133).

181 ―O happy end é a felicidade dos heróis simpáticos, adquirida de modo quase providencial, depois das provas

que, normalmente, deveriam conduzir a um fracasso ou uma saída trágica [...] A idéia da felicidade [...] se torna o núcleo afetivo do novo imaginário‖ (MORIN, 2009, p. 92-93).

Entretanto, para o autor, o cinema ocidental faz o amor se converter para a realização pessoal e tomar nova forma no imaginário. Com isso, o amor da cultura de massas não é mais o amor da princesa que se bate contra as instituições, nem o amor integrado ou o desintegrado, mas sim o ―fundamento tornado necessário e evidente de qualquer vida pessoal‖ (MORIN, 2009, p. 133).

Morin (2009) afirma que o amor se torna, com a cultura de massas, integrador e sintético. Para ele, o amor sintético se contrapõe à tradição do amor ocidental, que reforça, a partir do século XIII, a oposição do amor sexual e do amor da alma. Assim, na década de 1930, as várias mudanças sociais e culturais ocorridas durante os séculos resultam no amor sintético, que é ao mesmo tempo espiritual e carnal, e no amante sintético, que possui prestígios eróticos e sedutores e a pureza da alma do herói e da virgem. No amor sintético, o autor acredita que ―a atração sexual e a afinidade das almas se conjugam num sentimento total‖ (MORIN, 2009, p. 134).

Dessa forma, Morin (2009) afirma que o beijo na boca é o símbolo do amor sintético. Para o autor:

o beijo na boca não é só o substituto cinematográfico da união dos corpos proibida pelos censores, é também o encontro de Eros e Psyché [...] o beijo na boca é um ato de duplo consumo antropofágico, de absorção da substância carnal e de troca de almas (MORIN, 2009, p. 134).

Segundo Morin (2009), o amor sintético é responsável pela totalidade dos laços afetivos, que se concentram no casal, a personagem central desse amor. Assim, para o autor, o amor se torna a aventura justificadora da vida e é tão total e necessita de eternidade quanto o amor romântico. Apesar disso, no amor sintético a necessidade de eternidade não é conflitante e insere-se no happy end, que o mostra como o que resiste no final e é forte como a morte. Nessa ótica, para o autor:

O amor nuclear, sintético, total, tal como o delineia o imaginário da cultura de massa, é de natureza dupla: é profundamente mitológico, porque supera todos os conflitos, escamoteia o incesto, a sexualidade e a morte. É profundamente realista, porque corresponde às realidades vividas do amor moderno: de fato, o amor do casal tende a se tornar o fundamento do casamento; de fato, a virgindade foi desvalorizada; de fato, a maldição que se abatia sobre a sexualidade foi aliviada e efetuam-se osmoses entre o amor espiritual e o amor sexual; de fato, às barreiras de classe, de raça, de família, opõem-se uma resistência enfraquecida do amor; de fato, o amor se torna um valor cada vez mais central da existência. O cinema apresenta, pois, não tanto uma imagem invertida, quanto um reflexo ideal da vida amorosa (MORIN, 2009, p. 137).

Sendo assim, Morin (2009) considera que o amor da cultura de massas busca seus conteúdos na vida e nas necessidades reais e, a partir disso, lhes fornece seus modelos. Para o autor, é principalmente através do tema do amor que o cinema efetua suas influências e que a idéia da necessidade absoluta da aventura amorosa se impõe. Morin (2009) afirma que: ―a necessidade de amor experimentada no decorrer da vida encontra no

filme seus modelos, seus guias, seus exemplos; estes passam a aparecer na vida e dão forma ao amor moderno‖ (MORIN, 2009, p. 137).

Entretanto, Morin (2009) salienta que o amor, na cultura de massas, não aparece apenas no cinema, pois sua temática é presente na televisão e em toda a imprensa. O autor acrescenta que ao mesmo passo que a cultura de massas prioriza o amor sintético e o incentiva, ela condena o amor louco, como os crimes realizados por paixão.

Concluindo, Morin (2009) afirma que os olimpianos, as celebridades contemporâneas182, através das perturbações de suas vidas amorosas e da constante troca de parceiros, inserem o mito do amor na realidade do tempo e do nosso tempo. Apesar disso, o amor torna a renascer, com ênfase na constante busca do amor.

4.4.6 Informação de ajuda e suporte e amor enquanto necessidade de