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4.2 REDES SOCIAIS VIRTUAIS

4.2.1 Redes sociais

4.2.1.2 Fluxo de informações em redes sociais

De acordo com Morigi, Semensatto e Binotto (2006, p. 198), o conceito de fluxo da informação, anteriormente citado, tem sua origem ligada ao fluxograma, por sua vez, advindo dos estudos administrativos, nos quais o fluxograma tem a função de sintetizar, de

modo sistêmico, rotinas, procedimentos e processos com o objetivo de esquematizar a informação para analisar-se a situação existente e realizar melhorias, se necessário. Para os autores, no contexto informacional, o fluxo carrega a idéia de ―representar os tráfegos, os circuitos comunicacionais, isto é, o modo como fluem as mensagens, sejam elas orais, audiovisuais ou escritas. Como ocorre esta sequência contínua da troca de informações entre os sujeitos emissores e receptores‖ (MORIGI, SEMENSATTO, e BINOTTO, 2006, p. 198). Barreto (1998, p. 122) compreende o fluxo informacional como ―uma sucessão de eventos, de um processo de mediação, entre a geração da informação por uma fonte emissora e a aceitação da informação pela entidade receptora‖, sendo, assim, o que liga gerador e receptor da informação. Sobre o fluxo, Dias (2006, p. 148)37 apud Floriani (2007, p. 32) é categórico ao afirmar que ―os fluxos, de todo tipo – das mercadorias às informações pressupõem a existência de redes‖.

Segundo Barreto (2002, p. 55), há o estudo dos fluxos informacionais internos ao sistema que contemplam ―desde a seleção, aquisição, catalogação, classificação, indexação, armazenamento, recuperação e disponibilidade para uso de itens de informação‖, e dos fluxos informacionais externos ―localizados nas extremidades [entrada e saída da informação em um dado sistema de informação] deste fluxo interno [...] Em uma das extremidades há a criação da informação e na outra a assimilação da informação pelo receptor, ambos transcendem o conceito de organização da informação‖. Com isso o autor diz que estudar os fluxos de informação externos, que incluem informações criadas por membros de redes sociais, é um dos principais focos de pesquisa da CI.

Conforme ressalta Marteleto (2001, p. 72), a ARS ―pode ser aplicada no estudo de diferentes situações e questões sociais‖, como em sua utilização para se investigar os fluxos de informação e as construções simbólicas de grupos a serem analisados, atentando- se a como as informações circulam e são empregadas como recurso, pois

O estudo das redes sociais coloca em evidência [...] que os indivíduos dotados de recursos e capacidades propositivas, organizam suas ações nos próprios espaços políticos em função de socializações e mobilizações suscitadas pelo próprio desenvolvimento da rede (MARTELETO, 2001, p. 72).

Nesse sentido, salienta-se que o método de ARS parece ser o mais adequado para se estudar as relações entre atores com propósitos similares, bem como os fluxos de informações entre tais atores (FREITAS e PEREIRA, 2005, p. 13-14). Para Haythorthwaite (1996, p. 323), a análise de redes sociais é ―uma abordagem e um conjunto de técnicas usados para estudar a troca de recursos entre atores (indivíduos, grupos ou organizações). Um desses recursos é a informação‖ (tradução nossa).

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DIAS, L. C. Redes: emergência e organização. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. (Org.). Geografia: conceitos e temas. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, cap. 5, p. 141-162.

Sobre o papel da informação na rede social, Tomaél, Alcará e Di Chiara (2005, p. 93) afirmam que ―a inserção em rede é determinante para o compartilhamento da informação e do conhecimento. Isto porque as redes são espaços valorizados para o compartilhamento da informação e para a construção do conhecimento‖. Assim, a idéia de rede remete à idéia primitiva de caça e, ―por transposição, a rede é assim um instrumento de captura de informações‖ (FANCHINELLI; MARCON; MOINET, 200438 apud TOMAÉL, ALCARÁ e DI CHIARA, 2005, p. 94), sendo as redes sociais responsáveis por

manterem canais e fluxos de informação em que a confiança e o respeito entre atores os aproximam e os levam ao compartilhamento de informações que incide no conhecimento detido por eles, modificando-o ou ampliando-o [...]

Favorecem, igualmente, ligações entre atores com o poder de direcionar os fluxos de informação a indivíduos que partilham de interesses comuns (TOMAÉL; ALCARÁ; DI CHIARA, 2005, p. 102).

A informação é o que mobiliza as redes sociais, tornando-as vetor estratégico importante e contumaz, visto que a necessidade de informação é natural ao ser humano e as redes sociais são o caminho natural para buscar-se tais informações (TOMAÉL; ALCARÁ; DI CHIARA, 2005, p. 102). Essa visão é compartilhada por Araújo (2001, online), para quem as práticas informacionais ―estruturam as redes sociais, pois são, em última instância, conjuntos de múltiplas relações de associações coletivas‖, e Floriani (2007), que observa serem as redes sociais um instrumento ―que conecta indivíduos e permite o intercâmbio de informações no fluxo‖ (FLORIANI, 2007, p. 77). Também sob essa ótica, Silva (2004, p. 5) ressalta que ―as redes são animadas por fluxos. São dinâmicas e ativas, mas não trazem em si mesmas seu princípio dinâmico, que é um movimento do social‖.

Sobre a troca de informações em redes sociais, Haythorthwaite (1996) a considera uma troca intangível (informação, suporte social ou influência) e não uma troca tangível (bens, serviços ou dinheiro) e conceitua relacionamento (relationship), relacionamentos informacionais (information relationships), padrão de relacionamentos (pattern relationships), padrão de transferência e recepção (patterns of forwarding and

receipt), como alguns elementos a serem considerados ao analisar-se tal troca.

Para Haythorthwaite (1996, p. 324), o relacionamento é um tipo específico de interação entre atores; os relacionamentos informacionais são as interações entre atores da rede que propiciam a troca de informações, sendo também indicadores do tipo de informação compartilhada, entre quais atores e para que finalidade; o padrão de relacionamentos revela como provavelmente os indivíduos estão expostos a tipos específicos de informação e os critérios de relevância; padrão de transferência e recepção

38 FRANCHINELLI, Ana Cristina; MARCON, Christian; MOINET, Nicolas. A prática da gestão de redes: uma

necessidade estratégica da sociedade da informação. Disponível em:

mostra como a informação se move em um meio e como os atores estão posicionados para facilitar ou controlar o fluxo de informações na rede.

Acerca dos padrões regulares de relacionamento nas redes sociais, a autora observa que eles mostram os atores como nós em rede, e os relacionamentos entre os atores como conectores entre tais nós. Nesse sentido, Haythorthwaite (1996, p. 325) pondera que a visualização das redes sociais em gráficos pode ser comparada com a visualização de estradas, que revelam as estruturas através das quais os fluxos de recursos (como o fluxo de informações) ocorrem entre os atores, sendo que tais visualizações são uma fotografia das estruturas sociais, para auxiliar o entendimento e a explicação da rede representada. Assim, de acordo com Haythorthwaite (1996, p. 331) na visualização das redes sociais por meio de grafos ―os atores são pontos nos gráfico, e os relacionamentos são linhas entre os atores, conectando-os. Gráficos de redes sociais são assim referidos como sociogramas‖ (tradução nossa, grifo nosso).

Segundo a autora, há questões básicas ao se analisar os relacionamentos informacionais dentro das redes sociais, como:

‗Quais os diferentes tipos de informação são trocados pelos diferentes atores?‘, ‗Como os laços de parentesco, trabalho ou amizade afetam o caminho pelo qual os atores compartilham a informação?‘, ‗Como os atores são afetados pelas informações que eles compartilham?‘, ‗Quem fornece qual tipo de informação para quem?‘, ‗Quem não recebe certa informação?‘ e ‗Como as ações se diferem baseado em de quem a informação é recebida?‘ (HAYTHORNTHWAITE, 1996, p. 326, tradução nossa).

Nesse sentido, Haythotnthwaite (1996, p. 326-328) frisa que para explorar as referidas questões básicas é preciso também questionar-se sobre os três atributos básicos dos relacionamentos informacionais em redes sociais: conteúdo, os tipos de informações compartilhadas entre os atores, frisando que um tipo particular de conteúdo pode ser priorizado na análise dependendo do que é estudado; direção, quais atores fornecem informações a quais outros atores, visto que quando a informação é compartilhada ela flui em certa direção; e intensidade, o quanto de informação é fornecida considerando- se os laços que propiciam os relacionamentos informacionais entre os atores da rede. Tais laços são definidos pela autora como laços informacionais fortes – quando a troca de informações ocorre frequentemente, indicando vontade de compartilhar informação –, e laços informacionais fracos – quando a troca de informações ocorre com menos frequência, mas apesar de indicar menor troca informacional entre dois dados atores, pode indicar que um ator possui acesso a um número maior e diferente de informações, pois tal ator pode manter vários relacionamentos informacionais em diferentes redes.

A autora observa ainda que a estrutura da rede pode, nos aspectos anteriormente descritos, influenciar o fluxo de informações, o que é sintetizado da seguinte forma:

examinar a troca de informações pela perspectiva da rede mostra quais atores têm melhor acesso à informação e se a rede deles tem maior extensão, caso eles sejam membros de mais e amplas redes, e se os contatos deles também forem membros de amplas redes que não se sobreponham às próprias redes deles (HAYTHORNTHWAITE, 1996, p. 338, tradução nossa).

Dito isso, as oportunidades de acesso dos atores à informação em redes sociais são afetadas por: ―a) com quem os atores podem estabelecer contato, b) que informação o outro ator pode fornecer, c) quais atores existem na rede para que determinada informação possa provocar um resultado positivo‖ (HAYTHORNTHWAITE, 1996, p. 338, tradução nossa).

Sobre a tradicional divisão do estudo das redes sociais enquanto redes egocêntricas (visualização da rede sob a perspectiva de um ator em rede) e redes completas (visualização da rede sob a perspectiva da estrutura completa de um meio), Haythorthwaite (1996, p. 328-329) aponta o que pode ser estudado acerca dos relacionamentos informacionais em redes egocêntricas e em redes completas. Assim, a autora observa que o estudo informacional de redes egocêntricas permite mostrar o tipo de informação que um ator dá e recebe de outros atores da rede e como tal processo ocorre, foco usual quando se estuda redes formadas por um número grande de atores, enquanto o estudo informacional de redes completas pode evidenciar como grupos de indivíduos se engajam em comportamento informacionais similares e necessitam de tipos similares de informações e/ou de serviços de informação.

Faz-se necessária também a diferenciação entre a rede social em sentido amplo e a rede social virtual, pois, ―as redes sociais na Internet não deveriam ser vistas como um reflexo completo das redes sociais offline, mas como desveladoras de vários aspectos destas e como complexificadoras de seu espaço de atuação‖ (RECUERO, 2009c, online).