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Informação e emoção nos estudos de usuários da informação

4.3 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL E CULTURA INFORMACIONAL

4.4.6 Informação de ajuda e suporte e amor enquanto necessidade de informação

4.4.6.1 Informação e emoção nos estudos de usuários da informação

Sob a ótica do estudo das necessidades sociais e emocionais dos usuários da informação, Preece (2007, xv-xvi) diz que as pesquisas em CI sempre utilizam o termo informação associando-o com busca, recuperação, transferência, organização e comunicação da informação, mas o que ainda é pouco discutido pela área é o que escritores, designers, ilustradores, profissionais do marketing e produtores de filmes já perceberam: a todo tempo as pessoas reagem emocionalmente à informação, esteja tal informação em jornais, livros, bases de dados ou em uma informação online. A autora frisa que apesar de instintivamente sabermos que a informação possui inerentemente uma qualidade emocional e afetiva, tal qualidade ainda tem sido pouco discutida pelo campo da CI, com exceção de um pequeno grupo de pesquisadores que focam seu trabalho nas emoções dos usuários ao interagir com a informação, grande parte deles com seus trabalhos reunidos no livro Information and emotion (NAHL e BILAL, 2007).

De acordo com Nahl (2007a, p. xvii-xxix; 2007b, p. 23-31), os trabalhos em CI focados nas emoções do usuário ao interagir com a informação são pesquisas emergentes na área, atuantes em um aspecto antes pouco explorado, investigadoras das questões afetivas em situação de busca e uso da informação, sob a perspectiva e experiência do usuário. Para a autora, trata-se de um emergente paradigma afetivo nos estudos de comportamento informacional, influenciado por trabalhos em educação e ciência cognitiva, dentre os quais se destacam: a teoria do desenvolvimento psicossocial, publicada em 1950 pelo psiquiatra Erik Erikson; a taxonomia do domínio afetivo ou classificação de objetivos de processos educacionais, publicada em 1956 pelo pedagogo e psicólogo Benjamin Bloom e um grupo de pesquisadores por ele coordenados, e que até hoje é utilizada em pesquisas sobre processos de internalização do conhecimento; o trabalho do cientista político e pesquisador em administração de empresas Herbert Simon, publicado em 1967, que identificou a emoção como um desafio para a ciência cognitiva ao constatar que a emoção exerce forte papel sobre a cognição.

Segundo Nahl (2007a), o primeiro trabalho do paradigma afetivo do comportamento informacional é realizado por Simon (1967183) quando ele definiu essa área de pesquisa para a CI ao dizer ―Desde que se percebeu que a motivação real e a emoção do comportamento humano são as maiores influências sobre a evolução do comportamento cognitivo, uma teoria geral do pensamento e resolução de problemas deve considerar essas influências" (SIMON, 1967, p. 29 apud NAHL, 2007a, p. xvii, tradução nossa). Nahl (2007a) diz que nas últimas décadas vários pesquisadores têm se atentado ao papel vital das emoções e do afeto nas tarefas de processamento e uso da informação, podendo-se citar como estudos iniciais especificamente do campo da CI os trabalhos de Belkin (1980)184; Dervin (1983)185; Ingwerson (1992)186; Kuhlthau (1988)187; Mellon (1986)188; Nahl e Jakobovits (1985)189; Wilson (1981)190; entre outros.

4.4.6.1.1 Paradigma afetivo do comportamento informacional

Investigando o entendimento do meio informacional nos estudos do paradigma afetivo do comportamento informacional, focando-se em comunidades formadas por usuários da informação, Nahl (2007a) diz que a tecnologia está implantada em um mundo de emoções e pensamentos dos usuários, assim

O atual meio informacional é de fato a esfera de interações de um grupo de pessoas que ordenam em sua vida social as emoções e intenções que elas escolhem exercitar entre si. Uma comunidade de informação difere de outra comunidade de informação pela qualidade de tais escolhas. Os sócios diferem na satisfação de emoções particulares que adicionam valor a um jogo de escolhas, e elas diferem nas intenções por meio das quais eles desejam aperfeiçoar uma facilidade de informação. Esta é a realidade emocional sobre a qual todo o edifício da tecnologia da informação é construído (NAHL, 2007a, xix, tradução nossa, grifos nossos).

A autora observa que no paradigma afetivo do comportamento informacional há um esforço dos pesquisadores em mapear as qualidades emocionais do meio informacional em uma variedade de esferas sociais e em diversas populações. Nahl (2007a) observa

183

SIMON, Herbert A. Motivational and emotional controls of cognition. Psychological Review, v. 74, n.1, p. 29- 39.

184 BELKIN, N. J. Anomalous state of knowledge for information retrieval. Canadian Journal of Information

Sciences, 5, 133-143, 1980.

185

DERVIN, Brenda. An overview of sense-making research: Concepts, methods and results. Paper presented at the annual meeting of the International Communication Association, Dallas, TX, 1983.

186

INGWERSON, P. Information retrieval interaction. London: Taylor Graham, 1992.

187 KULTHAU. C. Perceptions of the informational search process in libraries: A study of changes from high

school through college. Information processing & management, v. 24, n. 4, 1988, p. 419-427.

188 MELLON, C. Library anxiety: A grounded theory and its development. College & Research Libraries, v. 47, n.

2, 1986, p. 160-165.

189 NAHL, D.; JAKOBIVITS, L. A. Managing the affective micro-information enviroment. Research Strategies, v. 3,

n. 1, 1985, p. 17-28.

ainda que a aceitação ou rejeição da informação é consequência do valor emocional que os indivíduos em uma comunidade dão à informação , assim como o uso da informação é atrelado ao querer fazer algo com a informação, como comunicá-la a outra pessoa, conseguir algo de modo mais eficaz etc. Portanto, a busca, a recepção e o uso da informação são dependentes de sentimentos sociais, emoções e intenções, o que deve ser considerado na esfera sociocultural da informação para se entender de modo mais completo o comportamento informacional (NAHL, 2007a, xix; xxvii).

Segundo Dervin e Reinhard (2007), as emoções nos estudos de comportamento informacional, definidas pelos autores como ―um estado de ser que ocorre dentro de indivíduos e está associado, de alguma forma com os estados de ser que os leigos chamam de sentimentos‖ (p. 53, tradução nossa), têm sido abordadas, principalmente, sob as seguintes perspectivas e como: a) sendo causadas por ou decorrentes de situações, tarefas ou contextos ou sub-partes de tais situações, tarefas e contextos; b) sendo atributos da pessoa – suas personalidades, características, demográficas, genéticas, fisiológicas, ou experiências passadas; c) sendo causadoras ou inibidoras da ativação de motivações; d) causando ou conduzindo a metas específicas do indivíduo ou de atividades; e) sendo os traços deixados em codificações de informações, mensagens, ou pacotes de texto; f) servindo como estados de ser que têm valor informativo (para ver exemplos de estudos sob tais perspectivas consultar DERVIN e REINHARD, 2007, p. 54-55).

Os autores frisam que a maioria dos trabalhos que abordam informação e emoção estão preocupados em localizar a emoção durante os momentos de busca e uso da informação e em identificar o impacto positivo ou negativo da emoção na busca e uso da informação. Enquanto outros trabalhos, como a teoria do Sense-Making de Dervin – pertencentes ao último tipo acima descrito, o de abordar a emoção no comportamento informacional – trabalham com a emoção como ―uma orientação potencialmente transitória em direção a um momento no tempo-espaço que poderia ser motivadora ou inibidora, útil ou inútil, facilitadora ou interveniente, mas sempre informativa em maior ou menor grau‖ (p. 55, tradução nossa). Nessas pesquisas, Dervin e Reinhard (2007, p. 54) explicam que as emoções como estados de ser que têm valor informativo ao indivíduo, se dão por meio de: informações como contribuições (conteúdo informador), estratégias (modos definidos de busca e uso da informação) ou utilidades (os modos como os usuários avaliam algo como auxiliar ou impeditivo), informação sobre uma situação, seja para encontrar respostas ou avaliar se tal situação é útil ou não para o que o indivíduo busca.

Tendo discutido-se teoricamente as redes sociais virtuais, o comportamento e a cultura informacional, as representações sociais e o amor, apresenta-se, na sequência, descrições e teorizações acerca do site Orkut, contexto informacional da presente pesquisa.