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4.3 COMPORTAMENTO INFORMACIONAL E CULTURA INFORMACIONAL

4.3.2 Fases e elementos do comportamento informacional

4.3.2.1 Necessidade de informação

Para Wilson (1997), o conceito de necessidade de informação é basilar dos modelos de comportamento informacional e de busca da informação, pois é a necessidade de informação que motivará o comportamento informacional. Ao definir a necessidade de informação o autor também sugere como identificá-la. Assim, diz ser tal necessidade

uma experiência subjetiva que ocorre na mente da pessoa que necessita e, consequentemente, não é diretamente acessível para um observador. A experiência de necessidade pode apenas ser deduzida a partir de um comportamento ou através de relatos da pessoa que necessita (WILSON, 1997, p. 552, tradução nossa).

De modo quase similar, Silveira e Oddone (2007) definem necessidade de informação como uma ―experiência subjetiva que ocorre na mente de cada indivíduo em determinada circunstância ou como condição objetiva observável quando uma informação específica contribui para atender ao motivo que a gerou‖ (SILVEIRA; ODDONE, 2007, p. 118).

Ao analisar a necessidade de informação, Barreto (2000) recorre à hierarquia das necessidades humanas, determinantes do comportamento dos indivíduos, mapeada por Maslow (1970)80 apud Barreto (2000), para fazer uma analogia e esquematizar as necessidades de informação em suas estruturas básicas, bem como o comportamento informacional atrelado a elas (ver FIGURA 2, f. 71). Assim, segundo o autor, na pirâmide das necessidades humanas, o indivíduo movimenta-se da base para o topo, avançando para um estágio superior somente quando as necessidades no estágio atual forem satisfeitas. Como pressupõe a figura da pirâmide, há mais pessoas na base, em busca da satisfação de necessidades básicas do que no topo, em que a busca é pela satisfação das necessidades de autorealização. Transpondo a metáfora para o contexto informacional, Barreto (2000) aponta três estágios na pirâmide das necessidades de informação: a base, o estágio intermediário e o topo.

FIGURA 2 – Pirâmide das necessidades informacionais e comportamento informacional correlato.

FONTE: Barreto (2000, online).

Na base (necessidade de informação utilitária), de acordo com Barreto (2000), estariam aqueles que buscam satisfazer suas necessidades básicas representantes da segurança de existir em determinado espaço (garantias de alimentação, habitação, vestuário, saúde e educação) e o comportamento associado seria o de buscar informação de utilidade para garantir a segurança, ordem e liberdade, visando minimizar o medo provocado por possíveis ameaças.

Para o autor, no estágio intermediário (necessidade de informação contextual) estão os indivíduos que, tendo satisfeito suas necessidades básicas, tentam saciar sua necessidade de participação (pertencer ao grupo no trabalho e na comunidade de convivência, e manter os contatos sociais). A demanda é por informação contextual que garanta a permanência nos diversos contextos em que os indivíduos habitam e desejam permanecer, enquanto o comportamento associado a este estágio é o comportamento participativo. Ainda nesse estágio, os indivíduos elaboram a informação em proveito próprio e dos grupos que participam (BARRETO, 2000, online).

No topo da pirâmide (necessidade de informação para autorealização) estão os indivíduos que, após satisfazerem suas necessidades de participação, buscam atender às suas necessidades de autorealização e, assim, vinculam-se à informação seletiva em um comportamento de reflexão, criatividade e realização de seu potencial profissional e pessoal. Assim, o fluxo de informações na pirâmide agregaria qualidade no sentido da base para o topo (BARRETO, 2000, online).

Para Silveira e Oddone (2007),

Informação utilitária Informação contextual Informação seletiva Necessidades básicas Necessidade de participação Necessidade de autorealização Segurança Participação.Pertencer ao grupo de trabalho, contatos sociais e à comunidade de convivência Reflexão, criatividade, realização profissional e pessoal

ao menos dois dos elementos que integram os diferentes conceitos de necessidade informacional podem ser identificados com segurança. O primeiro deles é que há sempre implícito um motivo ou propósito. O segundo é sua natureza de processo cognitivo, que diferencia as necessidades informacionais das fisiológicas, por exemplo (SILVEIRA; ODDONE, 2007, p. 120).

Discute-se, a seguir, a motivação sob a luz das necessidades de informação.

4.3.2.1.1 Motivação e necessidades de informação

Segundo Núñez Paula (2004), as necessidades de informação são geradas por mecanismos psicológicos e sociais, sendo que os dois pontos de partida essenciais ao estudo das necessidades de informação são a atividade e a comunicação, sob ótica psicológica. Para a autora tais pontos são relevantes porque a natureza social do homem e suas relações baseadas na linguagem, na consciência e na transformação consciente da realidade, condicionam a relação sujeito-objeto (por exemplo, usuário-fonte/sistema de informação) a ser mediada cognitiva e afetivamente através da comunicação pelo histórico de suas relações, em seu contexto social com outras pessoas ou grupo.

Nesse sentido, a atividade é compreendida como a forma em que transcorre a vida, formada por um componente externo e observável – o comportamento –, e um elemento interno – a atividade psíquica –, tendo sua direção e impulso determinados por um motivo, por sua vez determinado por uma necessidade – carga afetiva do motivo e reguladora da atividade (NÚÑEZ PAULA, 2004, p. 2). Com isso, a autora observa que a atividade é o contexto no qual se forma e se transforma a personalidade do indivíduo – seus conhecimentos, habilidades, hábitos, capacidades, emoções e sentimentos – através da comunicação com o meio ambiente social no qual se está inserido.

Ressalta-se que a interação das atividades e da comunicação, resultantes em comportamentos, como o comportamento informacional (atividade informativa externa), evidencia as necessidades de informação serem sempre a expressão de uma personalidade em um contexto histórico-social particular. Considerar esses elementos implica em entender que a determinação das necessidades de informação levam obrigatoriamente à determinação das características dos problemas enfrentados e das atividades realizadas pelo usuário, bem como ao diagnóstico dos recursos potencialmente úteis e das características sócio-psicológicas do usuário (NÚÑEZ PAULA, 2004, p. 4; 10-11).

De acordo com Núñez Paula (2004, p. 20), é notório um duplo condicionamento entre o objetivo e o subjetivo na necessidade de informação, no qual o objetivo na necessidade de informação são as atividades realizadas pelo usuário da

informação, suas temáticas, passos componentes, e as condições práticas e sociais para realização de tais atividades, e o subjetivo na necessidade de informação são as características pessoais do usuário.

Em análise similar, Wilson (1997, p. 553-555) relata alguns estudos de comportamento informacional segundo os quais as necessidades de informação são emergentes de motivações do indivíduo, sendo a motivação da necessidade de informação entendida, em um sentido geral, como uma razão auxiliar para o indivíduo se engajar em um comportamento de busca da informação (BURNKRANT, 197681; WILSON, 1981; MORGAN e KING, 197182; FISKE, 199083; MCQUAIL, 197284; CACIOPPO, PETTY e KAO, 198485; VERPLANKEN, HAZENBERG, PALENEWEN, 199286 apud WILSON, 1997). Sobre tais motivações, Morgan e King (1971) apud Wilson (1997, p. 553) elencam três tipos de motivações da necessidade de informação: motivação fisiológica, como fome ou sede; motivos de desconhecimento, como curiosidade ou estimulação dos sentidos; e motivação social, como o desejo de pertencimento, aprovação, status, ou agressão, divisão que parece similar à da pirâmide das necessidades informacionais de Barreto (2000).

Para Wilson (1997), a noção de motivação também está implícita na teoria da satisfação (gratification theory) de Fiske (1990), desenvolvida no contexto dos meios de comunicação de massa, e segundo a qual os indivíduos têm necessidades diversas e buscam satisfazê-las através de diferentes mídias, sendo que a mesma mensagem pode satisfazer a indivíduos diferentes em necessidades diferentes. Assim, as pessoas seriam ativos buscadores da informação capaz de satisfazer suas necessidades (FISKE, 1990; RUBIN, 198687 apud WILSON, 1997, p. 553).

Sob essa ótica, McQuail (1972) apud Wilson (1997) lista as principais categorias de satisfação (comumente chamadas de necessidades afetivas) às quais a informação pode ajudar a satisfazer, sendo elas: diversão, como necessidades de escapismo e libertação emocional; relacionamentos pessoais, como companheirismo e utilidade social; identidade pessoal, como comparação com a vida de outros, exploração da realidade, e avaliação de reforço.

Ainda sobre as motivações da necessidade de informação, Wilson (1997, p. 553) acrescenta que a motivação pode ser uma motivação cognitiva, que resulta em uma

81 BURNKRANT, R. E. A motivational model of information-processing intensity. Journal of Consumer Research,

3, 1976, p. 21-30.

82 MORGAN, C. T.; KING, R. A. Introduction to psychology, 4ª ed. New York: McGraw-Hill, 1971. 83

FISKE, J. Introduction to communication studies, 2º ed. London: Routledge, 1990.

84 MCQUAIL, D. Sociology of Mass Communications. Harmondsworth: Penguin, 1972. 85

CACIOPPO, J. T.; PETTY, R. E.; KAO, C. E. The efficient assessment of need for cognition. Journal of Personality Assessment, n. 42, p. 306-307, 1984.

86

VERPLANKEN, B.; HAZENBERG, P. T.; PALENEWEN, G. T. Need for cognition and external information search effort. Journal of Research in Personality, n. 26, 1992, p. 128-136.

87

RUBIN, A. M.. Uses, gratifications and media effects research. In : J. Bryant and D. Zillmann (Ed.). Perspectives in media effects. Hillsdale NJ: Lawrence Erlbaum.1986, p. 281-301.

necessidade por cognição, quando há a necessidade de encontrar ordem e significado em um meio, expressa no desejo de conhecer e de ser informado.

Diante da dificuldade de definir as necessidades de informação, Weigts et al. (1993)88 apud Wilson (1997, p. 553) apontam os seguintes tipos de necessidades de informação: necessidade de novas informações; necessidade de elucidar a informação obtida; e necessidade de confirmar a informação obtida – ambas de ordem cognitiva. Assim, Wilson (1997, p. 553) acrescenta as necessidades da ordem das crenças e dos valores: necessidade para elucidar crenças e valores, e necessidade de confirmar crenças e valores.

Segundo Wilson (1997, p. 554), para o entendimento do comportamento informacional e das necessidades de informação há a teoria da tensão e enfrentamento (stress and coping) vinda da psicologia. Segundo tal teoria, a tensão ocorre quando a relação entre o indivíduo e o ambiente é avaliada pelo indivíduo como ultrapassando sua capacidade para administrá-la, e o enfrentamento se daria quando o indivíduo se empenha em dominar, tolerar ou reduzir as demandas criadas por situações de tensão (FOLKMAN, 198489; FOLKMAN, LAZURUS, 198590 apud WILSON, 1997, p. 554). Para Wilson (1997), a idéia de tensão/enfrentamento é válida para o estudo do comportamento informacional por mostrar que o indivíduo, de um ponto de vista informacional, passará por vários estágios, motivado pela intolerância da incerteza e pela intolerância do excesso de estímulos, buscando informações para superar as situações de tensão e enfrentamento.