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4.5 ORKUT

4.5.2 O Orkut enquanto ciberespaço para redes sociais e comunidades virtuais

4.5.2.4 Constatações qualitativas acerca do uso brasileiro do Orkut

Pesquisadora do Orkut há alguns anos, Recuero (2009a, 2009e) pondera sobre a apropriação cultural do Orkut no Brasil. Para a autora, tal apropriação dos sites de redes sociais virtuais é mutante, dependente do capital social gerado pela ferramenta (o Orkut, por exemplo) e consistente na ―ressignificação através da qual uma ferramenta passa ao ser incorporada ao dia a dia de um grupo de pessoas‖, de acordo com os valores que as pessoas enxergam no uso dela (RECUERO, 2009a, online).

Sobre a apropriação do Orkut no Brasil, Recuero (2009a) diz que o site começa a ser apropriado pelos brasileiros por eles verem nele, principalmente, os seguintes valores:

1) proporcionar uma forma de contato com amigos e familiares que estavam longe; 2) proporcionavam um possível contato com pessoas interessantes que poderiam ser visualizadas na rede; 3) permitiam uma representação de si (visibilidade); 4) agregavam comunidades onde esses usuários ‗interessantes‘ estavam que tinham informações relevantes (não ordenei por importância) (2009a, online).

Com isso, de acordo com a autora, os primeiros usuários do Orkut valorizam conectar-se com alguém que julgam interessante, estar visível aos outros membros do site, e poder construir reputação por meio da participação nas comunidades – que deixam de ser o lugar criado para priorizar a interação e se tornam lugares de representação e identidade,

com algumas exceções. A autora faz tal observação, pois, segundo ela, os usuários do site, muitas vezes, não interagem no fórum de tais comunidades, mas apenas participam delas para, através dos temas e/ou nome das comunidades, mostrarem seus gostos e idéias.

Recuero (2009a) pondera que inicialmente os usuários brasileiros adicionam apenas as pessoas conhecidas, mas com o tempo de uso do Orkut passam a adicionar desconhecidos, aumentando o número de amigos da rede e criando uma prática não prevista pelo site: colecionar amigos e perfis. Assim, a autora observa que toda apropriação é criativa e não estática, pois muda de acordo com o grupo e também com o tempo, modificando ainda o uso de outros usuários. Para ilustrar, Recuero (2009a) diz que durante a apropriação brasileira do Orkut, os brasileiros entram em comunidades de idiomas estrangeiros e conversam em português, o que leva os membros de outros países a deixarem o site, até o Google dividir as comunidades por país e idioma.

Dentre as apropriações gerais do Orkut pelos usuários brasileiros, a autora cita ainda os usos do site em relação à identidade e à conversação. Acerca da identidade, Recuero (2009e) diz ser ela um modo de dizer quem o usuário é para a própria comunidade, um discurso sobre si construído por textos, fotos, e pelas comunidades que o usuário participa. Em relação à conversação, a autora observa que no Brasil o Orkut é uma ferramenta principalmente social, ficando a conversação, por meio dos perfis, recados, ou comunidades, sob uma perspectiva socializante, que usa o sistema para construir e reconstruir laços sociais.

Sintetizando os resultados desses usos do Orkut pelo internauta brasileiro, Recuero (2009e) pondera que o uso no Brasil das comunidades para construção de identidade, do scrapbook (livro de recados) como chat, e da lista de amigos para demonstrar popularidade, desviaram o uso planejado do site, caracterizando-o em nosso país como, principalmente, uma grande lista de pessoas, em análise generalista da apropriação. No entanto, a autora pondera existirem

apropriações diferentes dentro das diferentes classes sociais, dentro dos diferentes grupos de interesse e dentro das diferentes comunidades linguísticas. O Orkut tornou-se um universo e, por isso, extremamente diferente nas suas minúncias

Analisando o uso do Orkut no Brasil sob o ponto de vista das relações ocidentais contemporâneas, marcadas, principalmente, pela fragmentação e pela efemeridade, Pithan e Timm (2007a) realizam estudo

relacionado com uma sociedade em que os estilos de vida do consumidor e o consumo de massa dominam a vida dos seus membros, de acordo com as identificações de cada grupo, classe, etnia, idade, preferências (online)

Desse modo, as citadas autoras concluem que o Orkut: ilustra uma das principais tendências de uso da Internet, a busca efetiva de conexão social, pois através da

participação nas comunidades virtuais do site os membros destas sentem-se incluídos socialmente ao satisfazer seus mais variados interesses, e expressarem-se, com a possibilidade de serem lidos e respondidos. Nesse sentido

As pessoas procuram situações para vibrar em comum (Maffesoli, 2000196) e o Orkut

é uma tecnologia que atraiu a atenção dos usuários, favorecendo que criassem seus próprios totens, em torno dos quais estão juntos. Ferramentas como o Orkut servem para expor as idéias comuns a cada pequeno grupo de identificação, que contaminam e formam o cimento social dentro de cada um e no coletivo de grupos. Redes como essa são bem aceitas, pois seus usuários buscam o que lhes atrai, o que seu imaginário reflete ou reconhece como algo que apraz. Possivelmente, o que está por trás dessa identificação é a vontade de fazer parte de algo maior, vontade de existir em uma coletividade, a busca pela visibilidade, do existir no olhar do outro, a busca pelo reconhecimento, do fortalecimento do eu pelo apoio do outro (PITHAN; TIMM, 2007a, online).

As autoras salientam que mesmo que os temas das comunidades virtuais do Orkut sejam cotidianos, ou aparentemente banais e superficiais, tais comunidades proporcionam interações e agregações sociais, bem como troca de informações e/ou mensagens que dinamizam a sociedade, agregando valor ao convívio social, ao reunir usuários pela lógica da identificação.

Em outro estudo, sobre a regulação interna das comunidades virtuais do Orkut, Pithan e Timm (2007b) observam que a ausência de um controle severo e rígido do site possibilita a existência de comunidades de todos os tipos, tanto comunidades sobre temas em desacordo com os padrões morais culturalmente aceitos, quanto comunidades que realizam trabalhos de conscientização, dentre outras temáticas de comprovada relevância. Para as autoras, é desse modo que o Orkut mostra não fugir da realidade por reunir interesses que podem ser vistos como positivos e interesses que podem ser avaliados como negativos, equilibrando-se assim, por meio do desequilíbrio. Com isso, Pithan e Timm (2007b, 10) ressaltam também que

O Orkut representa parte importante das características da sociedade brasileira que tem acesso a computadores e à internet. A dominação técnica do social, o individualismo exacerbado, os valores morais absolutos da modernidade, a abordagem racionalista do mundo, ou seja, as características ou fatores envolvidos na modernidade são substituídos por novas variáveis e valores: a coletividade, a visão subjetiva do mundo, a fragmentação, a construção de mitos instantâneos, o tribalismo, a exposição do eu, enfim, características de uma nova condição social que ainda está em definição (p. 10).

Sob o mesmo ponto de vista, Pithan (2007, p. 18-19) afirma que, no Brasil, o Orkut é um fenômeno de comunicação com papel importante nas interações sociais e que potencializa a disseminação da informação, interações fundamentais na contemporaneidade, pois, por meio delas, a comunicação, motor social, otimiza-se sem o

196 MAFFESOLI, M. 2000. Mediações simbólicas: a imagem como vínculo social. In: F.M. MARTINS e J.

MACHADO DA SILVA (Orgs.). Para navegar no século XXI. Porto Alegre, Sulina/EDIPUCRS, 2000, 2 ed., p. 43- 54

deslocamento físico dos atores. Acerca das críticas sobre conteúdos no Orkut tidos como irrelevantes, Pithan (2007) diz que, para o Orkut alcançar suas potencialidades citadas, é preciso que o usuário seja consciente e crítico na interpretação e apropriação das mensagens. Portanto, o Orkut ―não é um mecanismo de comunicação condenável, mas, sim, uma forma potencializada de comunicação. Isso talvez gere críticas exacerbadas, as quais não representam toda a realidade complexa desse novo meio‖ (PITHAN, 2007, p. 19).