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Para Bauer, Gaskell e Allum (2008), a pesquisa social é a que se apóia em dados sociais resultantes e produzidos nos processos de comunicação, divididos em dois modos de dados sociais: comunicação formal e comunicação informal, que podem ser produzidos em três meios, texto, imagem e som. De acordo com os autores, o modo de dados sociais de comunicação informal é gerado quando o pesquisador interessa-se por ―como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e como elas pensam sobre suas ações e a dos outros‖ (p. 21), sem a exigência de um conhecimento especializado como se dá com os dados sociais de comunicação formal.

Ao analisar a metodologia para a pesquisa social, Minayo (2009a, p. 21) afirma que o objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo, por tratar-se dos conjuntos das expressões humanas presentes nas estruturas, processos, representações sociais, expressões da subjetividade, símbolos e significados. Assim, a autora pondera que a pesquisa qualitativa nas Ciências Sociais ocupa-se com o universo da produção humana, que dificilmente pode ser traduzido em números e/ou indicadores quantitativos.

Segundo Flick (2009a, p. 16), a pesquisa qualitativa não possui modelos precisos, por isso, uma de suas principais características e necessidades é o princípio da adequação como orientador na pesquisa qualitativa: ―os métodos devem ser adequados àquela questão e devem ser abertos o suficiente para permitir um entendimento de um processo ou relação‖.

6.1.1 Metodologia de pesquisa em CI

Do mesmo modo que a pesquisa qualitativa, a pesquisa em CI também não possui uma metodologia específica e deve atentar-se à adequação das estratégias metodológicas à problemática em estudo, pois, conforme ressalta González de Gomez (2000, online), a CI apresenta-se desde seu início ―como conjunto de saberes agregados por questões antes que por teorias‖. Com isso, a autora observa que

Quando são abordadas as práticas e ações de informação [como na presente pesquisa], devemos usar estratégias comunicacionais seja para reconstruir a produção de sentido dos atores sociais, seja para construir e interpretar indicadores operacionalizados sobre produtos e resultados observáveis das ações de informação. O acesso comunicacional aos fenômenos culturais da informação requer estratégias metodológicas descritivas, interpretativas, próprias da antropologia, a sociolinguística, os estudos sociais da ciência, entre outras (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 2000, online).

Nesse sentido, para a objetivação e produção do conhecimento no campo da CI, a referida autora observa que tais tarefas requerem pontos de partida conceituais e metodológicos diferentes, assim, sugere que no estudo das ações de informação dos atores sociais considere-se a seguinte associação entre conceitos e metodologia de pesquisa:

QUADRO 3

Metodologia de pesquisa social aplicada à CI Estratos

informacionais Modalidades Formas de ação/ operação Condições de produção do conhecimento Informação

(semântica) Modos intersubjetivos de significação; definição cultural e social de uma evidencia ou ―testemunho‖ de informação, suas condições de geração, de transmissão, de recepção e de adesão Ações abertas e plurais/ polimórficas, conforme diferenciais semânticos / pragmáticos dos atores Conhecimento antropológico- linguístico (Regras/ usos/ práticas)

Assim, ao estudar-se o estrato informacional relacionado à produção subjetiva da informação, como na presente pesquisa, o objeto da CI deve ser considerado como a ―construção de significado de segundo grau a partir das práticas e ações sociais de informação, que constituem seu domínio fenomênico‖ (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 2000,

online). Nesse sentido, tratando-se da construção dos modos intersubjetivos de significação

e da definição cultural e social de uma evidência de informação sobre amor, recorre-se ao uso da teoria e metodologia das representações sociais.

6.1.1.1 Representações sociais enquanto metodologia

Para Flick (2009a), o uso da teoria das representações sociais na pesquisa qualitativa é uma escolha metodológica/perspectiva de pesquisa que se concentra ―em experiências sociais de quem teve determinadas experiências‖, não para reduzir a variedade dos dados coletados a um conceito ou modelo teórico fundamental, mas para se verificar como o conhecimento teórico em estudo é adotado por um grupo (p. 35-38): ―A teoria da representação social é um exemplo de uma perspectiva [de pesquisa qualitativa] de cima para baixo (dos conceitos teóricos e modelos científicos às práticas do dia a dia‖ (p. 38). Assim, considerando-se a teorização do amor anteriormente apresentada, para se estudar a representação social do amor feita pelos usuários em estudo, adota-se o seguinte esquema:

FIGURA 14 – Modelo para estudo das representações sociais.

FONTE: Adaptado da estrutura metodológica de Flick (2009a, p. 37).

Objetivação no contexto estudado por meio da informação

Objetivação no âmbito geral

Origens do contexto social pesquisado no qual ocorrem as ações de informação

TEMA EM ESTUDO Origens da representação social

no âmbito geral da sociedade

Representação social em estudo Nível Gênese Objetivação Ancoragem Utilização Consequências s Práticas:  (em estudo) Conhecimento cotidiano de:

 (em estudo)

Sob essa ótica é importante dizer que as representações sociais sempre ―são representações de alguma coisa ou de alguém. Elas têm um conteúdo específico – implicando, esse específico, além do mais, que ele difere de uma esfera ou de uma sociedade para outra‖ (MOSCOVICI, 2007a, p. 106), sendo que, no caso da presente pesquisa estuda-se as representações sociais que têm o amor como especificidade.

Ao revisar pesquisas em ciências sociais que utilizam a teoria das representações sociais, Moscovici (2007a, p. 89-109) percebe e recomenda quatro princípios metodológicos para o estudo das representações sociais: a) obter material de amostras de conversações normalmente usadas na sociedade, considerando que as interações ocorrem naturalmente no decurso das conversações e possibilitam aos indivíduos e grupos se familiarizarem com objetos e idéias incompatíveis e assim lidar com eles; b) considerar as representações sociais como meio de re-criar a realidade, ao se entender que toda a realidade é a realidade de alguém ou é realidade para algo, concedida a partir da comunicação entre pessoas e grupos que propicia uma realidade física a idéias e imagens, a sistemas de classificação e fornecimento de nomes, reconstruindo abstrações em realidades; c) entender que o caráter das representações sociais é revelado especialmente em tempos de crise e insurreição, quando mudanças ocorrem motivando as pessoas a entender um mundo não-familiar e perturbado; d) ver as pessoas que elaboram as representações sociais como professores amadores e os grupos que formam como equivalentes às sociedades de professores amadores existentes há um século.

Segundo o autor, as representações sociais devem ainda: ser examinadas no aspecto simbólico dos relacionamentos e dos universos consensuais nos quais se habita; não ser descoladas do contexto no qual são produzidas; ser descritas cuidadosamente, considerando sua estrutura e evolução, e que elas são históricas, desenvolvendo-se com os indivíduos da infância à maturidade (MOSCOVICI, 2007a).