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Análise da decomposição do valor adicionado e da produção de bens finais

Capítulo 2 – Análise da participação dos GPEDs nas CGVs

2.2. Análise de Resultados

2.2.1. Análise da decomposição do valor adicionado e da produção de bens finais

Antes de aprofundar a análise nos índices de participação nas CGVs, é importante ter um panorama da decomposição do PIB na ótica da CGV para frente (conforme metodologia da seção 2.1.2) e da decomposição da produção final na ótica da CGV para trás (conforme metodologia da seção 2.1.3).

A decomposição do PIB na ótica da CGV para frente demonstra que para todos os países analisados, o percentual do valor adicionado doméstico para atender a demanda doméstica é predominante, conforme Figura 4. O Brasil é o país cuja participação do valor adicionado doméstico para consumo doméstico27 é maior, representando em 2014 quase 90%

do PIB brasileiro.

Esse resultado vai ao encontro de uma tendência já apontada por Sarti e Laplane (2003) de que a internacionalização no Brasil teve como alvo o mercado doméstico, tanto pelo aumento da presença de empresas estrangeiras com estratégia predominante de market seeking quanto pelo aumento do conteúdo importado na produção, como será visto adiante.

27 É verdade que uma parcela do VA doméstico integrado a CGV para frente também pode atender a demanda

doméstica por meio do VA doméstico exportado que retorna ao país, conforme Figura 2. Contudo, na prática seu valor é praticamente zero quando medido em relação ao PIB. Portanto, será desconsiderado nesta análise.

Figura 4 – Decomposição do PIB dos GPEDs na ótica da CGV para frente (2000/2008, 2010/2014)

Depois do Brasil, a Índia é a que apresenta maior parcela do PIB destinado ao consumo doméstico. A Rússia, por sua vez, é a economia menos dependente do consumo doméstico entre os GPEDs, mas ainda assim a parcela do PIB para satisfazer a demanda doméstica correspondeu a mais de 70%28 na maior parte do tempo.

A Rússia, dentre as economias em desenvolvimento analisadas é a que apresenta maior parcela do PIB integrada à CGV para frente. Em 2000, auge da integração russa à CGV para frente, 32,6% do VA doméstico russo era incorporado nas exportações de intermediários para atender a demanda estrangeira. Atrás da Rússia, a Indonésia é o país que tem maior parcela do PIB integrada à CGV para frente, mas ainda assim bem abaixo da integração russa.

Entre os GPEDs, o Brasil é o menos integrado na CGV para frente, apesar do crescimento da participação (no PIB) do VA doméstico incorporado nas exportações de bens e serviços intermediários para atender a demanda externa entre 2000 e 2008. Essa questão, contudo, será explorada mais detalhadamente na seção seguinte.

A participação do comércio tradicional refere-se à parcela do PIB referente ao VA doméstico incorporado nas exportações de bens e serviços finais para atender a demanda externa que não envolve atividade de produção entre fronteiras. A parcela do PIB relacionada ao comércio tradicional no Brasil também é uma das mais baixas entre os GPEDs na ótica das CGVs para frente. Somente 2,5% do PIB brasileiro, em 2014, correspondia à exportação de VA doméstico incorporado em bens finais para consumo dos parceiros comerciais. Exceto pela Rússia, em que essa parcela também é reduzida (2,2% em 2014), os demais GPEDs têm um comércio tradicional mais relevante para suas economias, o que aponta para uma provável dificuldade de o Brasil exportar VA doméstico em bens e serviços finais.

Os países cujas economias mais dependem do comércio tradicional são México, China e Turquia, com participação do VA doméstico das exportações de bens finais (em relação ao PIB) de 8,4%, 9,7% e 11%, respectivamente, em 2014.

Chama atenção também o fato de o mercado doméstico ganhar importância como consumidor final do VA doméstico na China, Índia, Indonésia e Rússia depois da crise financeira internacional. Ainda assim, o PIB do Brasil tem sido mais dependente do consumo doméstico relativamente aos outros GPEDs, o que pode ser consequência das dificuldades brasileiras de exportar bens e serviços finais e ampliar sua integração nas CGVs para frente.

A Figura 5, a seguir, mostra a decomposição da produção de bens finais dos GPEDs na ótica da CGV para trás.

Figura 5 – Decomposição da produção final dos GPEDs na ótica da CGV para trás (2000/2008, 2010/2014)

Do ponto de vista da CGV para trás, verifica-se que a produção final de todos os países é constituída em sua maior parte por VA doméstico para consumo doméstico, conforme Figura 5. Esse resultado já era esperado pois o componente doméstico da decomposição da produção final reflete o VA doméstico (dos setores a montante) incorporado em bens finais produzidos internamente para consumo doméstico.

Como na ótica da CGV para trás decompõem-se a produção final de acordo com os setores a montante, deve-se levar em consideração que também há incorporação de valor adicionado estrangeiro além de VA doméstico.

Dessa forma, a participação na CGV para trás refere-se ao VA estrangeiro incorporado na produção doméstica que pode ser consumido internamente ou exportado. Conforme equação (7) (da seção 2.1.4), a parcela da produção de bens finais integrada à CGV para trás contém uma parte de valor adicionado doméstico exportado que retorna ao país. Contudo, na prática esse valor é muito próximo de zero quando medido em relação à produção de bens finais. Portanto, por simplificação, diremos que toda a parcela da produção de bens finais integrada a CGV para trás é constituída de valor adicionado estrangeiro.

A parcela de VA estrangeiro que compõe a produção de bens finais apresenta os maiores valores na Turquia. Nesse aspecto, o Brasil teve sua produção de bens finais mais integrada à CGV para trás do que China e Rússia em todos os anos destacados na Figura 5 e uma participação na CGV para trás semelhante à de Índia, Indonésia e México.

Esse resultado é surpreendente pois seria de se esperar que a China tivesse integração maior do que do Brasil, o que evidencia o diferencial da metodologia adotada neste trabalho em relação aos cálculos comumente utilizados para analisar a integração nas CGVs. Essas diferenças serão abordadas com mais detalhes na próxima seção.

Por ora, vale também mencionar que a parcela da produção final relacionada ao comércio tradicional na ótica da CGV para trás é muito menor no Brasil se comparado aos demais GPEDs em quase todos os anos. Assim como na ótica da CGV para frente a participação do comércio tradicional no PIB era baixa no Brasil, na ótica da CGV para trás também é, uma vez que se está somando o VA doméstico dos setores a montante da produção de bens finais destinados à exportação para consumo final direto, sem compartilhamento internacional de produção.