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Capítulo 2 – Análise da participação dos GPEDs nas CGVs

2.3. Conclusões do capítulo

Os dados estimados neste trabalho mostram evidências contrárias ao senso comum que diria que as economias em desenvolvimento apresentam indicadores de participação nas CGVs para frente maiores do que para trás, por serem grandes fornecedoras de insumos intermediários para o resto do mundo, especialmente países desenvolvidos. Exceto pela Rússia e pela Indonésia, cujos indicadores de participação na CGV para frente são superiores aos indicadores de inserção nas CGVs para trás, os demais GPEDs são mais integrados nas CGVs como importadores do que como exportadores de insumos intermediários.

No período de rápida expansão global, de 2000 a 2008, quando também ocorreu o

boom de commodities, a maioria dos GPEDs conseguiu expandir sua integração nas CGVs para

frente, exceto Rússia e Indonésia. Conclui-se, contudo, que o Brasil não aproveitou a oportunidade de maior integração nas CGVs para frente como a China e a Índia fizeram, pois seu indicador de participação na CGV para frente não cresceu na mesma intensidade que nesses países. Dessa forma, a inserção do Brasil nas CGVs para frente continuou sendo a mais baixa em relação a sua economia comparativamente aos outros GPEDs.

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 2000 2008 2010 2014 CGV para frente 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 2000 2008 2010 2014 CGV para trás

Em oposição, a integração do Brasil às CGVs para trás era equivalente à da maioria dos GPEDs, inclusive acima da China e da Índia em 2000. A tendência desses três países no período de rápida expansão global foi de ampliar a inserção nas CGVs para trás. Contudo, após a crise financeira interacional, no período de 2010 a 2014, China e Índia decresceram consideravelmente sua participação nas CGVs para trás, enquanto o Brasil elevou um pouco mais sua integração nas CGVs à montante. Assim, o Brasil em 2014 era o segundo país em desenvolvimento mais integrado à CGV para trás. É provável que o desalinhamento cambial persistente de 2010 a 2014 combinado a outros aspectos estruturais tenham contribuído para facilitar essa ampliação, dada a maior parcela de insumos intermediários importados na produção final brasileira.

Alguns aspectos interessantes também podem ser destacados em relação à análise da evolução das CGVs por setor de atividade econômica segundo as categorias de intensidade tecnológica e de conhecimento. Apesar da importância do setor de produtos primários no Brasil e do elevado crescimento da integração na CGV para frente, o país mais integrado a CGV a jusante no setor primário é a Rússia ao longo dos dois períodos analisados (2000-2008 e 2010- 2014).

Na indústria de baixa tecnologia, a Indonésia é o país mais integrado na CGV para frente e a Turquia também se destaca por apresentar elevada inserção no setor tanto na CGV para frente como trás. Na indústria de média-baixa tecnologia o destaque da integração turca nas CGVs para frente para trás é mais evidente do que no de baixa tecnologia nos dois períodos analisados, ultrapassando a marca de 50% do PIB do setor integrado a CGV para frente.

Na indústria de média-alta tecnologia, o país em desenvolvimento com maior inserção nas CGVs tanto para frente quanto para trás é o México. Esse resultado juntamente com importância da participação na CGV para trás na indústria de alta tecnologia mexicana, representando mais de 60% da sua produção final, reforçam o papel das maquiladoras no país. Em todos os setores industriais de menor intensidade tecnológica a China não se destacou comparativamente aos demais GPEDs como o país mais integrado nas CGVs. Somente no setor industrial de alta tecnologia a China assume a liderança no período analisado, mostrando-se o país com maior participação na CGV para frente nesse segmento. O México recentemente também se destacou na integração para frente da indústria de alta tecnologia. Contudo, o índice de participação na CGV para trás da indústria de alta tecnologia mexicana revelou elevada dependência de insumos estrangeiros enquanto a indústria de alta tecnologia chinesa demonstrou maior autonomia, reduzindo consideravelmente a proporção de VA

estrangeiro importado de 2010 a 2014 em consonância com sua estratégia de liderança global na indústria de alta tecnologia31.

Quanto ao Brasil e a integração de seus setores industriais nas CGVs, verifica-se que o país se destaca somente na participação nas CGVs para trás com elevados índices, ou seja, importando insumos intermediários do resto do mundo e, portanto, utilizando VA estrangeiro acima da média dos outros GPEDs relativamente ao tamanho de suas economias. Na integração nas CGVs para frente, apenas na indústria de baixa tecnologia pode-se dizer que o Brasil não ficou muito atrás dos demais GPEDs. Mesmo assim a parcela de insumos intermediários exportados pelo setor de baixa tecnologia brasileiro representou pouco mais de 10% do PIB do setor, abaixo da parcela de insumos intermediários importados na produção final que representou mais de 20% nos anos analisados.

Por fim, nos setores de serviços, a Índia é o país que se destaca com maior integração para frente nos setores intensivos em conhecimento e de alta tecnologia, como destacado na literatura, mas com tendência decrescente no período pós crise financeira internacional.

Nos setores pouco intensivos em conhecimento, os GPEDs tendem a apresentar baixo nível de participação nas CGVs para frente e para trás, exceto a Rússia que se destacou com elevada inserção do setor nas CGVs para frente. Sua elevada integração para frente nesse setor se justifica em boa parte devido ao amplo fornecimento de gás, especialmente para Europa.

No setor de serviços financeiros, a Turquia é que se destaca com a maior integração nas CGVs para frente. Brasil e México, por sua vez, são os GPEDs menos integrados na CGV para frente, tanto no setor de serviços financeiros quanto nos demais serviços. Isso reforça a dificuldade desses países em fornecerem serviços competitivos ao mercado global.

Portanto, este capítulo traz contribuições importantes para a literatura ao apontar alguns resultados diferentes do convencional e apresentar uma análise setorial da inserção nas CGVs por nível tecnológico e intensidade do conhecimento. O objetivo não foi tratar exaustivamente os dados nem encontrar fatores explicativos, mas analisar de maneira exploratória a evolução dos índices de integração nas CGVs. A partir dos dados de inserção nas CGVs estimados neste capítulo será possível avaliar os efeitos da integração nas CGVs sobre a captura de valor por meio de análises econométricas no próximo capítulo.

31 Ver ISDP (2018).

Capítulo 3 – Análise do impacto da participação dos GPEDs nas CGVs sobre