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Capítulo 3 – Análise do impacto da participação dos GPEDs nas CGVs sobre a captura de valor

3.2. Análise dos Resultados no período de rápida expansão global (2000 a 2008)

3.2.1. Impacto da integração dos GPEDs nas CGVs para o segmento industrial:

A Tabela 5 mostra as estimações da equação (10) pelo método de Efeitos Fixos para o período de 2000 a 2008, comparando-se a utilização da variável de integração nas CGVs segundo a metodologia de Wang et al. (2016) estimada neste trabalho com a metodologia convencional de participação nas CGVs conforme TiVA/OCDE.

Os resultados obtidos tanto do uso da variável de integração na CGV extraída da base TiVA/OCDE quanto a estimada neste trabalho segundo Wang et al. (2016) são convergentes. Ambas apontam para uma relação negativa e significativa entre a integração dos países nas CGVs para trás e a captura de valor entendida como a participação do PIB do setor do país no PIB global do setor no período de 2000 a 2008.

Na integração na CGV para frente, o efeito sobre a captura de valor foi negativo em ambas metodologias, mas estatisticamente significativo somente na metodologia Wang et al. (2016), segundo a base TiVA/OCDE não se mostrou significativo. Portanto, o sinal dos coeficientes de integração nas CGVs para frente e para trás não apresentaram o sinal positivo esperado pela literatura em nenhuma das estimações da Tabela 5.

Tabela 5 – Resultados das estimações (2000 a 2008) para o segmento industrial Var. dependente: (1) (2) VApst/VAst CGV_fpst -0,228*** (0,0813) CGV_tpst -0,359*** (0,117) Tiva_fpst -0,125 (0,0839) Tiva_tpst -0,354*** (0,0723) Lpst 0,335*** 0,318** (0,120) (0,131) Kpst 0,267*** 0,224*** (0,0745) (0,0705) D 2001 -0,0283* -0,0292 (0,0169) (0,0198) D 2002 -0,0227 -0,0363 (0,0273) (0,0296) D 2003 -0,0396 -0,0508 (0,0377) (0,0400) D 2004 -0,000392 -0,00712 (0,0512) (0,0538) D 2005 0,0393 0,0283 (0,0649) (0,0696) D 2006 0,0981 0,106 (0,0781) (0,0846) D 2007 0,115 0,137 (0,0892) (0,0959) D 2008 0,138 0,178 (0,104) (0,112) Constante -10,53*** -7,892*** (1,444) (1,463) N. observações 1.081 1.081 R2 0,535 0,516 N. países/setores 121 121

Fonte: Elaboração própria. Notas: Erro-padrão entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%

Vale notar também as semelhanças nas magnitudes dos coeficientes estimados para integração nas CGVs para trás apesar das diferenças de metodologia dos indicadores de participação nas CGVs. Os coeficientes das variáveis de pessoal ocupado e estoque de capital, por sua vez, apresentaram sinal positivo, significativo e de magnitude próxima nas duas estimações, reforçando a robustez do modelo.

Como a estimação da Tabela 5 foi realizada somente com os setores industriais, conclui-se que a maior participação de setor industrial dos GPEDs nas CGVs não se refletiu em maior participação do PIB industrial desses países no PIB industrial mundial no período de

2000 a 2008. Essa relação negativa é válida tanto para a integração do país na CGV para frente quanto para trás, mas o efeito negativo da integração na CGV para trás foi ainda maior do que para frente. Isso significa que as importações de insumos intermediários impactaram negativamente a parcela do PIB global industrial pertencente aos GPEDs de maneira mais intensa do que as exportações de bens intermediários.

Esse resultado vai em direção oposta à expectativa da literatura, pois se esperava que a maior proporção de exportações e importações de insumos intermediários pela indústria dos GPEDs levasse a ganhos repercutidos em aumento da participação desses países no VA global industrial. Ou seja, a expectativa seria de que a maior integração nas CGVs para frente e para trás levariam a ganhos de captura de valor industrial.

Contra intuitivamente, o aumento das exportações de bens intermediários industriais não se refletiu em ganhos relativos de valor adicionado pelos setores industriais dos GPEDs em relação ao mundo. Esse resultado poderia apontar para maior habilidade dos países desenvolvidos em capturar valor dada sua superioridade tecnológica (geralmente detentores de patentes e das marcas mundiais). Contudo, deve ser relativizado pois na análise por país, o impacto da integração na CGV para frente foi inconclusivo no segmento industrial conforme Tabela 6.

A relação negativa entre o aumento das importações de bens intermediários industriais e a captura de valor, por sua vez, pode estar relacionada a baixa complementaridade com a produção nacional, ocorrendo em substituição a esta.

Convém também avaliar o impacto da integração nas CGVs por país no segmento industrial. A Tabela 6 mostra os resultados das equações estimadas para cada país em desenvolvimento da amostra, considerando apenas o segmento industrial. As dummies temporais foram omitidas da tabela por simplificação, e continuarão sendo omitidas nas próximas estimações deste capítulo.

Tabela 6 – Resultados das estimações (2000 a 2008) para o segmento industrial por GPED

Var. dependente: (1) (2) (3) (4) (5) (6)

VApst/VAst Brasil Brasil China China Índia Índia

CGV_fpst -0,163 -0,108 0,116 (0,153) (0,191) (0,171) CGV_tpst -0,664** 0,250** -0,478* (0,312) (0,0944) (0,248) Tiva_fpst 0,00704 0,116* 0,0285 (0,129) (0,0615) (0,0836) Tiva_tpst -0,620*** 0,169 -0,495* (0,170) (0,137) (0,245) Lpst 0,462* 0,515** 0,359** 0,362*** 0,181 0,177 (0,221) (0,230) (0,133) (0,119) (0,169) (0,126) Kpst 0,558** 0,578** 0,183** 0,129 -0,00694 -0,0889 (0,246) (0,268) (0,0764) (0,0754) (0,217) (0,230) N. observações 154 154 162 162 162 162 R2 0,848 0,836 0,889 0,891 0,723 0,727 N. setores 18 18 18 18 18 18 Continuação da Tabela 6 Var. dependente: (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13) (14)

VApst/VAst Indonésia Indonésia México México Rússia Rússia Turquia Turquia

CGV_fpst -0,0445 0,0864 -0,317 -0,147 (0,0985) (0,0864) (0,242) (0,133) CGV_tpst -0,524*** -0,603 -0,723*** -0,312 (0,102) (0,379) (0,198) (0,229) Tiva_fpst -0,138 0,271** 0,0578 -0,301*** (0,0926) (0,120) (0,264) (0,0775) Tiva_tpst -0,260* 0,154* -0,792* -0,117 (0,130) (0,0799) (0,444) (0,0991) Lpst 0,143* 0,114* 0,309** 0,0325 1,161*** 1,133*** -0,00110 0,0535 (0,0742) (0,0626) (0,122) (0,210) (0,285) (0,227) (0,0678) (0,0865) Kpst 0,112 0,122 -0,305* 0,0583 -0,286 -0,541 0,229* 0,0964 (0,115) (0,0957) (0,159) (0,133) (0,454) (0,460) (0,123) (0,115) N. observações 162 162 171 171 117 117 153 153 R2 0,779 0,746 0,445 0,469 0,898 0,888 0,882 0,900 N. setores 18 18 19 19 13 13 17 17

Fonte: Elaboração própria. Notas: Erro-padrão entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%

Observando primeiramente o impacto da integração na CGV para frente segundo a metodologia de Wang et al. (2016) sobre a captura de valor do segmento industrial no período de 2000 a 2008 não houve nenhum coeficiente estatisticamente significativo, apresentando-se positivo na Índia e no México e negativo nos demais países. Em contraposição, analisando-se os coeficientes da integração nas CGVs para frente segundo a base TiVA/OCDE, verifica-se

que o impacto sobre a captura de valor global industrial foi positivo para a maioria dos países, mas significativo somente na China e no México.

Nos resultados das estimações com os dados de TiVA/OCDE percebe-se maior convergência com a literatura já que China e México teriam se beneficiado da integração nas CGVs para frente. Como os estudos de maneira geral utilizam a mesma abordagem de TiVA/OCDE para retratar a inserção dos países nas CGVs é natural que esse resultado esteja mais próximo dos demais estudos na literatura.

Vale lembrar que o indicador estimado neste trabalho com base em Wang et al. (2016) considera como integração na CGV para frente todo o VA doméstico incorporado nas exportações de bens industriais intermediários, independentemente de serem reexportados por outros países (como é o caso dos indicadores convencionais) e é medido em relação ao VA doméstico total da produção, não em relação às exportações brutas (que já são parte do VA). Outro aspecto é o controle de heterogeneidade das firmas na China e no México realizado pela OCDE. Portanto, as divergências nos resultados são provenientes dessas diferenças entre as metodologias.

Quanto ao impacto da participação dos GPEDs nas CGVs para trás, os resultados das diferentes metodologias convergem entre si, de maneira geral. No Brasil, na Índia, Indonésia e Rússia, os coeficientes das variáveis de integração nas CGVs para trás em ambas as metodologias se mostraram negativos e significativo pelo menos a 10%.

A integração na CVG para trás foi positiva para o crescimento da captura de valor somente para a China em ambas as metodologias, e significativa somente na metodologia de Wang et al. (2016). Isso evidencia empiricamente como o segmento industrial chinês se beneficiou do VA estrangeiro42 incorporado nas importações de bens e serviços intermediários. O caso chinês parece ser o único entre os GPEDs em que as importações de VA estrangeiro não concorreram com o VA doméstico a ponto de substituir a produção nacional de 2000 a 2008. Portanto, encontram-se evidências de que a integração chinesa na CGV para trás estimulou maior criação de VA no segmento industrial chinês relativamente ao mundo, o que possivelmente está relacionado às políticas industriais chinesas, por exemplo, de transferência de tecnologia em IDE.

O México é o único país em que a conclusão quanto ao impacto da integração na CGV para trás se altera completamente de uma metodologia para outra. Enquanto a maior

42 Ainda que o indicador de participação na CGV para trás contenha VA doméstico re-importado em bens e

serviços intermediários, isso representa parcela desprezível do indicador, então por simplificação menciona-se apenas o VA estrangeiro.

integração na CGV para trás do segmento industrial mexicano na metodologia estimada se reflete em perda não significativa de captura de valor, a maior participação na CGV para trás de acordo com a base TiVA/OCDE se relaciona a ganho significativo de captura de valor. A metodologia TiVA/OCDE de inserção na CGV para trás considera o VA estrangeiro incorporado nas exportações mexicanas, mas desconsidera o VA estrangeiro utilizado no processo produtivo doméstico para consumo local. Como o México tem a tradição maquiladora é de se esperar que na ótica do comércio, ou seja, pelo TiVA/OCDE o impacto sobre a captura de valor industrial seja positivo. Na ótica produtiva, expressa pelo indicador de Wang et al. (2016) o impacto é negativo, mas estatisticamente insignificante. Outro fator que pode influenciar na diferença de resultados é o controle de heterogeneidade das firmas presente nos dados de TiVA/OCDE para China e México.

3.2.2. Impacto da integração dos GPEDs nas CGVs para todos os setores da economia, por