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Börzel (1998, p. 259) afirma que “as redes políticas são apenas um modelo analítico, um quadro de interpretação, em que diferentes atores estão localizados e ligados por sua interação em um setor político e em que os resultados desta interação são analisados”. Enquanto que Howlett e Maragna (2006) defendem que a análise desta interação se consolida em mais do que uma metáfora, como uma base legítima para a teorização e para a modelagem.

Desse modo, a análise das redes sociais apresenta-se como um método que desenvolve meios para mapear e quantificar as relações sociais, bem como visualizar e analisar as estruturas da rede política (SANDSTRÖM; CARLSSON,

2008). Por isso, torna-se, para Howlett e Maragna (2006), um componente significativo para investigações em políticas públicas, como também para práticas de gestão pública. Isso porque esse método permite reconhecer que as redes contribuem na ampliação da capacidade de gerar soluções para problemas políticos, obtida através da colaboração interorganizacional. Esta colaboração é necessária para promover a eficácia da gestão pública, e, consequentemente, o desenvolvimento de suas ações.

Uma rede política eficaz e inovadora é constituída por um conjunto de atores heterogêneos que estão central e densamente integrados, em função da mobilização de recursos ou de priorização no processo de decisão política. O conhecimento resultante da Análise de Redes Sociais proporciona um significativo poder explicativo sobre as redes políticas, e apresenta-se como uma forma de avançar em suas possibilidades (SANDSTRÖM; CARLSSON, 2008).

Dessa maneira, conclui-se que a análise de redes sociais (ARS ou SNA, da expressão em inglês Social Network Analysis) é um método, uma ferramenta analítica cujos fundamentos estão intrinsecamente relacionados à Teoria dos Grafos e a Teoria de Redes, e que cujo referencial teórico liga-se, conforme Braga Martes et al. (2006), à Sociologia das Organizações, à Teoria Organizacional, à Teoria Institucional, à Sociologia Econômica e à Teoria da Escolha Racional.

A ARS tem, nas últimas décadas, mais especificamente a partir de 1950, interessado a pesquisadores de vários campos no conhecimento. A análise de redes sociais tem sido usada para investigar o comportamento e as estruturas de diversos tipos de redes: redes tecnológicas, redes biológicas, redes de informação, redes econômicas, redes semânticas, redes neurais, redes de disseminação de enfermidades, redes políticas, redes sociais, entre tantas. Na análise das políticas públicas, embora não seja uma proposta nova, pode-se afirmar que como metodologia não é uma ferramenta amplamente utilizada na área.

Essa ferramenta permite mapear as relações (i.e arestas, laços) estabelecidas entre atores (i.e vértices) e representá-las na forma de matrizes e grafos que possibilitem a realização de análises qualitativas e quantitativas.

Através do uso de softwares – como, por exemplo, o UCINET e o Pajek – e de diversas outras técnicas e métodos para trabalhar com redes é possível, em

diferentes contextos, calcular os índices da teoria das redes complexas e os índices da análise de redes sociais, tais como:

 Caminho: Caminho é uma cadeia na qual a orientação das arestas é sempre a mesma, a partir de um vértice inicial. E cadeia é uma sequência de arestas adjacentes que ligam dois vértices. (NEWMAN, 2003)

 Caminho mínimo: Caminho mínimo ou caminho geodésico é o menor caminho entre dois vértices. Note-se que pode haver, e muitas vezes há, mais do que um caminho geodésico entre dois vértices. (NEWMAN, 2003)

 Caminho Mínimo Médio: Caminho mínimo médio é a média dos caminhos mínimos de uma rede. Esta medida é dada pela média das geodésicas da rede e é indicada por: ( )∑ ( ). Onde ( ) corresponde à distância entre o vértice e o vértice . (NEWMAN, 2003; PEREIRA et al., 2011).

 Grau do vértice: o grau de um vértice é o número de arestas incidentes em um determinado vértice (WASSERMAN; FAUST, 1994; NEWMAM, 2003). Newman (2003) nota que o grau não é necessariamente igual ao número de vértices adjacentes a um vértice, uma vez que pode haver mais do que uma aresta entre quaisquer dois vértices.

Em redes direcionadas, o grau de um vértice precisa ser auferido considerando tanto os arcos que saem (out-degree) quanto os que chegam (in-degree) até ele, e esses correspondem aos números de arestas in-coming e out-going respectivamente (NEWMAN, 2003, p.5). Por definição, o in-degree, ( ), de um determinado vértice é o número de arcos adjacentes a ele, e o out-degree, ( ), é o número de arcos que partem deste referido vértice.

 Grau médio da rede: o grau médio da rede é dado pela soma do grau de todos os vértices dividido pelo número de vértices. O grau médio de uma

rede não-direcionada é denotado por: ∑ (PEREIRA et al., 2011). Já para uma rede direcionada é preciso calcular in-degree e out-degree médio de uma rede.

Para Wasserman e Faust (1994, p. 127) in-degree e out-degree médio de uma rede podem ser calculados por: ∑ ( ) e ∑ ( ), respectivamente. Uma vez que ∑ ( ) ∑ ( ) , então simplificando . Onde refere-se ao número de arestas da rede e ao número de vértices da rede.

 Distribuição de Grau: a distribuição de graus de uma rede é caracterizada por uma função de distribuição ( ), onde essa função descreve a probabilidade de um determinado vértice selecionado aleatoriamente tenha um grau . Um gráfico de ( ) para uma determinada rede pode ser formado fazendo um histograma dos graus de vértices. Este histograma é o grau de distribuição para a rede (NEWMAN, 2003, p.13).

 Coeficiente de aglomeração: O coeficiente de aglomeração de um vértice , denotado por , mede a proporção das arestas existentes entre vizinhos do vértice , e o número máximos de arestas:

( ). Este indicador mostra o grau em que os amigos de um indivíduo são amigos um do outro. (WATTS, STROGATZ, 1998; PEREIRA et al., 2011).

 Coeficiente de aglomeração médio: o coeficiente de aglomeração médio da rede é calculado pela soma dos coeficientes de aglomeração de cada vértice dividido pelo número de vértices. Conforme método de Watts e Strogatz (1998) aplica-se a seguinte fórmula: ∑ , onde corresponde ao número de vértices da rede e é o coeficiente de aglomeração do vértice .

 Densidade: a densidade é a função entre o número de arestas (i.e laços, relacionamentos) existentes e os relacionamentos máximos possíveis em uma rede. (BORGATTI, EVERETT, 1997).

A densidade da rede dirigida é calculada dividindo-se o número de arcos pelo número possível de arcos da rede, aplicando-se a fórmula:

( ). O resultado pode variar de 0 a 1. Se ∆ = 1 tem-se uma rede em

que todas as díades são mútuas, existindo reciprocidade entre todos os vértices (WASSERMAN; FAUST, 1994, p.129).

Em uma rede não dirigida, a densidade, ( ) , é o total de arestas existentes ( ) dividido pelo número máximo possível de arestas ( ( ) ⁄ ). (PEREIRA et al., 2011)

 Centralidade: A centralidade é um atributo estrutural fundamental em análises de rede sociais. Trata-se de uma medida relacionada ao posicionamento do ator na rede e que reflete a importância desse na rede. Mostra o quão acessível um ator está em relação aos demais e permite entender como os diversos atores estão interligados. (FREEMAN, 1979; BORGATTI, EVERETT, 2006).

 Centralidade de grau (centrality degree): refere-se ao percentual de vértices do grafo que estão conectados a um determinado vértice, quando normatizado. Se o grafo é dirigido definem-se duas centralidades de grau: de saída (outdegree) e de entrada (indegree). (FREEMAN, 1979; WASSERMAN, FAUST, 1994). A centralidade de grau é definida como quantidade do número de arestas adjacentes a um vértice, de tal modo que esse indicador coincide com o próprio grau do vértice. A centralidade de grau é normatizada por: (BORGATTI, 2009).

 Centralidade de intermediação (betweenness centrality): A centralidade de intermediação mede quantas geodésicas entre todos os pares de vértices do grafo passam através de um determinado vértice.

Para Freeman (1979) esse índice reflete o quanto um ator será intermediário se existirem conexões não adjacentes com os outros atores. Borgatti (2009) diz que a centralidade de intermediação se refere à soma das ações de caminhos mais curtos que passam por um dado vértice, sendo definida pela equação: ∑ ∑

, onde é o número de caminhos geodésicos do vértice para o vértice , e é o número de caminhos geodésicos de para que passam por .

 Centralidade de proximidade (closeness centrality): Centralidade proximidade, ∑ , é ordinariamente definida como a soma das distâncias geodésicas a partir de um vértice para todos os demais vértices de um grafo. Ou seja, representa o número mínimo de passos que o ator deve seguir para entrar em contato com os demais atores da rede. É geralmente normalizada, segundo Borgatti (2009) por: .

A partir dos dados gerados por esses índices é possível modelar, a partir de um quadro de meta-matrizes (meta-matrix), as relações entre os atores investigados e explicitar/explicar a estrutura de uma determinada rede caracterizando-a segundo os principais modelos topológicos de redes complexas: Redes Aleatórias (Modelo Random), Redes Pequeno Mundo (Modelo Small World) e/ou Redes Livres de Escala (Modelo Scale Free).

A caracterização das redes segundo esses modelos permite entender as implicações dos padrões de relacionamentos em uma rede para o desempenho e desenvolvimento desta rede. E as análises das relações permitem, entre outros, reconhecer, caracterizar, identificar ou simular as estruturas de funcionamento dos fenômenos dinâmicos que fazem parte das redes sociais e complexas (e.g crescimento, desenvolvimento, modificações, etc.).

Além disso, a análise de redes sociais oferece novas abordagens descrever e estudar estrutura social. Esse método possibilita integrar diferentes níveis de análises: “o modo como a ação individual cria a estrutura social, uma vez criada constrange a ação individual e coletiva; o modo como as atitudes e

comportamentos dos atores são determinados pelo contexto social em que a ação ocorre”. (MARSDEN; LIN, 1985, p. 10).

A análise de redes sociais “permite identificar detalhadamente os padrões de relacionamento entre atores em uma determinada situação social, assim como as suas mudanças no tempo”, apresentando “[...] grande potencialidade para o estudo da relação entre público e privado na formulação e gestão de ações do Estado” (MARQUES, 1999, p. 46).

Diante dessas possibilidades, adota-se a Análise de Redes Sociais como instrumental para investigar a democraticidade dos fóruns e conselhos de turismo enquanto um lócus de encontro e interação de instituições públicas e privadas para a formulação de políticas públicas de turismo. A análise de redes sociais constitui- se em uma ferramenta conceitual, analítica e metodológica que permite investigar os processos de participação política em espaços públicos via interação comunicacional.

4 DEMOCRATICIDADE, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E COMUNICAÇÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS SOB ENFOQUE DAS POLICY NETWORKS

Ainda que na atualidade seja aceitável a noção de graus de democracia, ainda não há consenso sobre como medir a democracia, haja vista que suas próprias definições são empregadas evidenciando significados e usos diferentes (DAHL, 1997). Por outro lado, a democracia provavelmente é um dos conceitos mais teorizados no campo dos estudos da política (MUNCK, 2010).

Para alguns, segundo O‟Donnell (1998, p. 38), a democracia é vista “como um tipo de regime político independente das características do Estado e da sociedade”, e para outros como “um atributo sistêmico, dependente da existência de um grau significativo de igualdade socioeconômica e/ou de uma organização social e política geral orientada para a realização dessa igualdade”.

Mesmo sem desconsiderar a importância dessas duas correntes, O‟Donnell (1998, p. 52) defende, para efeitos analíticos, que a democracia é um regime político poliárquico, mas não só. É também “um modo particular de relacionamento, entre Estado e cidadãos e entre os próprios cidadãos, sob um tipo de princípio da lei que, além da cidadania política, preserva a cidadania civil e uma rede completa de accountabilities”.

Vista desse ângulo é possível ponderá-la do ponto de vista da democraticidade do Estado, conforme defendem O‟Donnell (1998) e Dagnino, Olvera, Panfichi (2006). Em uma abordagem institucional, o conceito de democraticidade (i.e democraticness), aqui trabalhado, refere-se a medida em que uma instituição governamental é regida por critérios e princípios democráticos, dentre os quais se destaca a participação política dos cidadãos (THURAU, 2011). Faz-se importante esclarecer que o uso do termo democraticidade ao invés de nível ou grau de democracia justifica-se para evitar qualquer confusão criada pelo uso constante da palavra democracia, que é frequentemente associada a um sistema de governo (THURAU, 2011).

Para Greco-Santos (2014, p. 293), a democraticidade da gestão pública é apurada com base na responsividade de suas ações em relação aos interesses sociais. Na perspectiva desse autor, a descentralização da gestão por meio da

participação social em espaços públicos se constitui como um dos mecanismos de implementação de responsividade da atuação estatal e de aproximação entre o Estado e a sociedade.

Assim sendo, a democraticidade do espaço público corresponde ao grau em que a estrutura e o funcionamento desse espaço atende a critérios de qualidade democrática11, fundando-se em dois elementos principais: a liberdade e a igualdade política. Nesse sentido, uma maior ou menor democraticidade “se mede precisamente pela maior ou menor liberdade de que desfrutam os cidadãos e pela maior ou menor igualdade que existe entre eles”, conforme Bobbio (1996, p. 8).

Para O‟Donnell (1998), e Dagnino, Olvera e Panfichi (2006) entender a democraticidade do Estado significa assumir que: (1) o Estado e a sociedade civil existem na e pela relação um com o outro em um jogo de inter-relações complexas, expressadas em uma multiplicidade de relações; (2) A estrutura institucional do Estado pode variar em níveis de democraticidade e centralização do poder, no aprofundamento ou na limitação de práticas mais democráticas; e (3) as relações entre o Estado e a Sociedade recebem influência do nível de democraticidade da estrutura institucional em que se relacionam e podem influenciar no exercício da cidadania e, portanto no processo democrático. (O‟DONNELL, 1998; DAGNINO, OLVERA, PANFICHI, 2006).

Nessa perspectiva, o caráter relacional apresenta-se como um elemento de democraticidade. Perceber as complexidades e as multiplicidades das relações entre o Estado e a sociedade civil e suas influências no aprofundamento das práticas democráticas constitui-se como um dos muitos caminhos para a compreensão de regimes democráticos, inclusive na abordagem sistêmica. Isso porque, esse relacionamento é uma das principais particularidades de um Estado Democrático. Um Estado Democrático, conforme Dahl (1997, p. 26), relaciona-se com os cidadãos e os oferecem oportunidades de formularem suas preferências e

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Nota-se que o conceito de democraticidade é um elemento importante para designar gradativamente a qualidade daquilo que é democrático. Um espaço público com maior democraticidade corresponde a uma estrutura e funcionamento com características mais democráticas, e inversamente um espaço com menor democraticidade corresponde a uma estrutura menos democrática. Quando a intensidade da democraticidade do espaço público for muito baixa, sua estrutura poderá ser considerada como mais hierárquica. Por isso, ainda que a democraticidade seja um conceito norteador nesse trabalho, em alguns momentos admite-se o uso da expressão mais ou menos democrática/hierárquica.

expressá-las aos concidadãos e ao governo através da ação individual ou coletiva, e de tê-las igualmente contempladas na conduta do governo.

No entanto, na realidade mesmo em um Estado Democrático esse relacionamento é marcado pela distribuição assimétrica de poderes – influenciada pelas deficiências nas condições sociais, econômicas, políticas e institucionais – revelando a existência de níveis distintos de democraticidade. Nessa mesma linha Signates (2012, p.13) entende que o conceito de “gradiente de democraticidade” constitui uma categoria de análise política.

Esse fato faz da democracia um projeto em construção. Mesmo diante dos avanços, a democracia enfrenta dificuldades peculiares a cada sociedade para consolidá-la em termos de igualdade e justiça. Tais dificuldades por sua vez acenam para a importância de ampliação da participação da sociedade nos processos de decisões públicas enquanto uma via capaz de contribuir para um processo político mais democrático, como também para uma sociedade menos desigual econômica e socialmente.

Não restam dúvidas que a participação é, enquanto um direito político, constitutiva do sistema democrático, e, portanto condição necessária nos espaços de decisão política. Independente das correntes teóricas que se dedicam ao tema, a participação consolida-se no mundo moderno – mundo do estado democrático representativo – como um elemento cuja análise torna-se distintiva para examinar a questão democrática.

Examinar a questão democrática, sob a lente da participação, requer antes de tudo reconhecer que a participação da sociedade na vida política através de instituições participativas apresenta reais possibilidades de influência nos processos decisórios com efeitos sobre a gestão pública. Autores como Coelho (2007), Creighton (2005), Gastil (2000) e Souza (2001), reconhecendo tais possibilidades, defendem a adoção de mecanismos participativos mais efetivos, principalmente diante aos benefícios gerados à elaboração e execução de políticas e programas governamentais.

Schevisbiski (2008) argumenta que a participação da sociedade nos debates políticos é importante para a democracia por dois aspectos principais. Primeiro, pela capacidade de desenvolver uma cultura política de cunho democratizante, bem como por alavancar a ação coletiva fortalecendo práticas

políticas como a negociação, a contestação e a reivindicação. E segundo, por exprimir uma maior transparência das decisões e alinhamento aos interesses dos indivíduos que estão diretamente afetados pelas ações resultantes das decisões tomadas.

É por isso, que se encontra um universo diversificado de índices de medição de graus da democracia (tais como: Freedom House, Índice de Democracia da The Economist Intelligence Unit – EUI) que incorporam a participação entre suas variáveis democráticas. Essa incorporação se faz relevante dado que os indicadores de participação podem contribuir não apenas para diagnosticar o estado da democracia como, sobretudo, para instigar transformações tanto em nível de projeto político participativo quanto de desenvolvimento da sociedade.

Igualmente, participação política tem sido objeto de inúmeros trabalhos teóricos e empíricos nas ciências sociais e políticas. Estudos (CASTRO, 1992, 2004; PORTO, 1997; MACUANE, 2000; PEREIRA, CAMINO, 2003; OLIVEIRA, 2004; MORAIS, 2010; MARTINS JÚNIOR, DANTAS, 2004; BAQUERO, 2009; EISENBERG, VALE, 2009; BRAGA, NICOLÁS, FRANÇA, 2011; BRENNER, 2011; SANTOS, 2012) têm sido realizados para medir e investigar os graus de participação política em campos que abrangem desde processos eleitorais, leitura de notícias sobre política, militância em partidos políticos, adesão a boicotes, protestos e manifestações, posicionamentos em mídias sociais, debates em espaços públicos, dentre outras formas.

Entretanto, diante da complexidade que envolve a participação política, trata-se de uma dimensão que não é fácil de medir. Por mais amplos que sejam os esforços, existem ainda aspectos a serem estudados, principalmente no que se refere às análises do ponto de vista da participação da sociedade na esfera pública.

Para Jacobi (1999), a participação em espaços públicos é um dos aspectos mais desafiadores para a análise do processo democrático. Isso porque a participação ao mesmo tempo em que se configura como um instrumento de fortalecimento da sociedade civil, também permite a execução eficiente de políticas de ajuste estrutural e de liberação da economia. A esfera pública, segundo Jacobi (2003, p.318) “representa a construção da viabilidade ao exercício da influência da sociedade nas decisões públicas assim como coloca uma demanda de publicização

no Estado.” De tal forma que a participação política nesse espaço transforma-se no referencial de fortalecimento dos mecanismos democráticos.

Entretanto, cabe notar que para a consolidação do ideal democrático torna-se imprescindível não apenas a criação e institucionalização de esferas públicas participativas, mas uma efetiva consolidação dos direitos de natureza relacional, voltados para assegurar a articulação política e prática discursiva de cidadãos iguais e livres nesses espaços. Pois, como alerta Dagnino (2002), não basta defender a participação, deve-se qualificá-la. De fato, nem sempre a relação entre Estado e Sociedade se reflete na democracia (MELO, 1996). Muitas vezes essa relação reproduz padrões de pensamentos, de ação e de interação característicos de uma tradição autocrática.

Nessa acepção, a democratização dos espaços públicos funda-se no seu potencial dialógico, ou seja, na possibilidade de integração social e comunicação mediada pela linguagem (HABERMAS, 1984). É partir da comunicação em espaços potencialmente dialógicos que a participação política pode ser entendida como uma expansão da democracia. (CHAMBERS, 2002).

Entendendo a comunicação como modo de ser da democracia, Signates (2012, p. 13) afirma que o fortalecimento e ampliação dos processos comunicacionais deva ser uma ação permanente para a preservação da democracia. E chama atenção de que a “democracia não é algo que simplesmente existe ou não existe, e sim um processo, demarcado pela existência em maior ou menor grau de cada uma de suas condições, inclusive e, sobretudo as de comunicabilidade entre indivíduos, grupos e instituições entre si.”

Dito isso, propõe-se que a democraticidade de espaços públicos seja avaliada considerando a interação dialógica entre os atores como parte fundamental para o entendimento da participação política. Até mesmo porque, como explica Habermas (1984), a esfera pública constitui-se como um ponto de encontro entre o privado e o público no qual as informações podem fluir livremente e os assuntos de