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Equidade Política via Potencial para a Atividade Comunicacional

5.2 O IDEP E SEUS INDICADORES

5.2.7 Equidade Política via Potencial para a Atividade Comunicacional

A concepção ideal de um espaço público democrático pressupõe que todos os atores participem, em condições de igualdade, na vida política. A partir de uma reflexão comunicativa, a equidade política implica no fundamento prático do processo de reconhecimento dos atores enquanto iguais em importância no processo de tomada de decisões públicas. A consequência dessa igualdade, quando mantidas condições minimamente equitativas de expressão, será a possibilidade de tornar os espaços públicos uma esfera de debate autêntico.

O debate público autêntico possui um papel central tanto para a política democrática quanto para a justiça social. De tal modo, a importância equitativa entre os atores configura-se como uma base indispensável para a democraticidade do espaço público. O processo de tomada de decisão baseada na interação entre atores interdependentes consiste na possibilidade de participação sem controle, imposições ou preferências ou quaisquer distinções de poder.

No entanto, o espaço público não é uma esfera imune às desigualdades, é também lugar do conflito, das disputas e de exercício do poder de influência de um grupo sobre o outro. De tal modo que a paridade de instituições públicas e privadas,

o acesso livre e o direito à fala não são garantias de interação igualitária. Isso porque as desigualdades de importância ou de proeminência de um ator, adquiridas fora dos espaços públicos, afeta diretamente as interações que ocorrem em seu cerne e, consequente à construção participativa de políticas públicas.

Nem por isso, os atributos diferenciais suscitados no processo interativo devam ser desconsiderados em função tão somente dos oriundos fora do processo. Pelo contrário, nesse cenário é fundamental evidenciar os atributos internos, notadamente os gerados pelo poder comunicativo, inclusive como medida de enfrentamento. Vale notar que a questão do enfrentamento diz respeito a consolidação de estruturas comunicativas que permitam dar oportunidade para que todas as vozes sejam ouvidas e, assim, se possa ampliar o debate político.

Em que pese a existência dessas desigualdades, o poder gerado comunicativamente dentro do espaço público contribui para promover uma equidade política. Sem equidade política interna, os atores que dispõem de mais recursos econômicos e maior capacidade organizacional possuem maior possibilidade de exercer influência sobre as decisões políticas.

A equidade política pelas vias discursivas representa a distribuição do poder comunicacional nos processos decisórios e parte do reconhecimento da razão pública dos atores e das suas capacidades em vincular suas ações às decisões que forem deliberadas coletivamente.

Um espaço público com estrutura comunicacional distribuída tende a evitar com que princípios democráticos sejam utilizados instrumentalmente para legitimar a autocracia, ou seja, que uma decisão seja tomada e/ou influenciada por grupos de poder. Mas sim, para possibilitar um lugar onde todos participem e contribuam como um ser político, como um interagente na rede política. Um lugar tecido por um conjunto de atores que “convivem entre iguais (isonomia) em uma rede pactuada de conversações em que a livre opinião proferida (isegoria) é equitativamente valorizada em princípio (isologia)”. (FRANCO, 2007, p. 307)

Dito isso, entende-se que a importância equitativa pode ser avaliada, mas não determinada, pela distribuição das posições dos atores com relação ao processo comunicacional. É sabido, que a real importância de um ator não se dá pelo uso do direito à fala, mas sim e, sobretudo quando essa fala é incorporada a agenda política. Por outro lado, há de se reconhecer que esse ato comunicativo é

condição elementar e basilar para uma comunicação em padrão de rede e, portanto, para a democraticidade dos espaços públicos.

Freeman (1979, p. 220) explica que na medida em que o processo de comunicação acontece em um espaço público, um ator que está em uma posição que permite contato direto com muitos outros atores começa a ver-se e ser visto por aqueles outros como um grande canal de informação e consequentemente de poder de influência.

Para esse autor, em certo sentido, o ator que ocupa essa posição é um ponto focal de comunicação, pelo menos com relação às pessoas com que ele está em contato. E, é provável que ele desenvolva uma sensação de estar no controle do fluxo de informações na rede. No extremo oposto, complementa, é também provável que um ator que se encontre em posição com baixo grau venha a se ver e ser visto por outros como periférico. Tal posição limita-o de uma participação ativa no curso do processo de comunicação.

Partindo dessa leitura, a importância ou proeminência de um ator de uma rede política e sua influência no processo de democratização do espaço público podem ser examinadas pelas medidas de centralidade, que é relativa às posições ou pontos de localização que um determinado ator ocupa na rede durante o processo de tomada de decisão; e de centralização da rede, que proporciona uma visão sobre a igualdade de distribuição das falas e a participação dos atores do grupo.

A posição central ou periférica de um ator em espaços públicos é decorrente, segundo Freeman (1979), de três fatores principais: potencial para a atividade comunicacional, potencial de controle e pela independência comunicacional. Esses fatores são medidos pela centralidade de grau, centralidade de intermediação e centralidade de proximidade, respectivamente.

No entanto, levando em consideração a configuração estrutural do espaço público, a interpretação de proximidade para as informações que fluem por replicação simultânea, onde todos os caminhos possíveis são seguidos ao mesmo tempo, inclusive o mais curto a centralidade de proximidade é inapropriada para mensurar a equidade política. Do mesmo modo, a medida de centralidade de intermediação provavelmente também é não apropriada para medir a capacidade de um ator controlar o fluxo de informação da rede.

Vistos em termos imediatos, Borgatti (2005, p.62) considera a centralidade de grau como apropriada para todos os processos de replicação simultânea, uma vez que nesses casos a probabilidade de receber informação será inteiramente em função do número de atores falantes. Dito isso, equidade política será medida pelo potencial para atividade comunicacional.

A visibilidade ou potencial para a atividade comunicacional (FREEMAN, 1979) de uma instituição dentro de um espaço público é mensurado pela sua centralidade de grau de saída (output degree centrality), ( ) A centralidade de grau de saída corresponde aos graus de conectividade gerados pela emissão de informações na rede. Logo, o potencial de atividade comunicacional será medido por: ( ) ( ) ( ).

Considerando as configurações das redes investigadas nas quais foram eliminadas as linhas múltiplas é possível verificar, no âmbito das instituições, a formação de apenas dois grupos (cluster): os que possuem e os que não possuem potencial para atividade comunicacional. Instituições que compõem o primeiro grupo – dos falantes – constituíram uma clique e terão igual ao número de presentes menos uma unidade, . E as instituições que compõem o segundo grupo terão sempre o igual à zero, assumindo uma postura passiva no processo decisório.

Ancorando-se nas explicações de Freeman (1979) o grupo com potencial para atividade comunicacional (PAC) compõem-se pelos atores mais participativos no processo de tomada de decisões, nos relacionamentos e na disseminação de informações na rede. Logo, se configuram como as instituições mais centralmente posicionadas na rede.

Essa configuração permite aludir duas questões principais. Primeira, que uso de direito a fala é determinante para a geração do potencial para a atividade comunicacional. Segunda, que o potencial para a atividade comunicacional confere prestígio estrutural a uma instituição dentro do espaço público, e esse por sua vez está provavelmente relacionado ao prestígio político.

Ou seja, as questões discutidas por um ator com maior potencial para a atividade comunicacional dentro do espaço público tenderão a receber mais atenção do que as discutidas por atores com menos prestígio estrutural. Denotando que a

distribuição de graus de saída é um caminho para perceber o nível de equidade política de um espaço público.

A distribuição de grau de saída, no Pajek, contém os escores da centralidade de grau de uma instituição expressos em proporção do grau máximo da rede. Assim inspecionar esses escores serve para identificar as instituições com maior prestígio no espaço público, e em decorrência auferir o seu nível de democraticidade.

Um espaço público que apresente uma grande quantidade de instituições com o igual a zero, e uma pequena quantidade de instituições com o elevado é caracterizada como uma rede altamente centralizada. Uma rede altamente centralizada para Nooy, Mrvar e Batagelj (2005) é aquela em que há uma fronteira clara entre o centro e a periferia. E que, portanto, possui sua democraticidade limitada.

Perceba-se, no entanto, que esse procedimento não permite identificar entre as instituições falantes quais são mais centralizadas, dado as relações estariam conformadas por um padrão regular. Todavia, considerando o problema da assimetria comunicacional gerado pela multiplicidade de representação observada geralmente nos espaços públicos verifica-se a existência de uma variação nos graus de conectividade das instituições falantes. Isso porque uma instituição em que mais de um ator a represente gerará um maior fluxo comunicacional na rede e consequentemente implicará na variação do potencial de atividade comunicacional entre os que exercem o direito a fala.

Uma forma de se avaliar essa variação é considerar o indivíduo enquanto elemento de análise. Nesse caso, torna-se necessário levar em consideração o número de representantes por instituições que utilizam o direito a fala. Assim, o de uma instituição passa a ser multiplicado pelo número de representantes falantes de cada instituição ( ). ( ) ( ) ( ) .

Para comparar o potencial de atividade do ator de diferentes redes precisa-se de uma medida a partir da qual o efeito do tamanho da rede seja removido (FREEMAN, 1979). Com esse intuito, normaliza-se o valor do observado dividindo-o pelo , que nessas condições, corresponderá ao número de instituições presentes do espaço público menos uma unidade ( ). A

equação normatizada indicada por Freeman (1979, p. 229) é: ( ) ( ) ∑ ( )

.

Dito isso, nota-se que os resultados da fórmula proposta para medir o potencial de atividade comunicacional de uma instituição específica não irão compor o Índice de Democraticidade dos Espaços Públicos. Esses resultados poderão ser analisados separadamente para avaliar e comparar as instituições mais centralizadas em diferentes reuniões/ano de um mesmo espaço público; bem como em espaços distintos.

O indicador que irá compor o Índice será o potencial para atividade comunicacional da rede – , medido pela centralização de grau que, segundo Kovačič e Lužar (2011) fornece informações sobre a extensão da igualdade a respeito de como a comunicação em uma rede política é distribuída e a medida sobre a qual seus membros participam no processo de tomada de decisão.

O índice de centralização da rede permite verificar ainda se a configuração comunicacional da rede é mais ou menos favorável ao crescimento e manifestação do poder autocrático ou democrático. Uma comunicação fortemente centralizada em poucos atores não é considerada como uma característica democrática. A democratização plena, na verdade, seria resultado da ausência de centralidade – propriedade de uma rede distribuída.

Dessa forma, o potencial para atividade comunicacional da rede é medido pelo valor da centralização da rede calculado pelo Pajek através da seguinte equação geral proposta por Freeman (1979, p. 230): ∑ ( ) ( ), onde: ( ) é o maior valor de ( ) em qualquer ponto da rede.

A centralização de grau de uma rede ( ) será igual a zero se e somente se todas as centralidades de grau dos atores ( ( )) forem iguais; e a centralização da rede será igual a 1 se e somente se um ponto, , dominar completamente a rede com relação a centralidade. (FREEMAN, 1979, p. 228). Assim sendo uma rede com centralização de grau igual a zero será uma rede plenamente democrática.

No entanto, a de se reconhecer que, na prática, a ausência de centros não se valida. Devendo-se, portanto tratar-se de graus de distribuição ou, inversamente, em graus de centralização. A não ser em termos matemáticos, como

limites ou modelos ideais para finalidade de comparações. Essa equação determina a centralização da rede em termos de grau, independente do tamanho da rede, e por isso permite a comparação entre redes diferentes. Faz-se importante ressaltar que por ser uma rede direcionada deverá ser considerada a centralização de grau de saída da rede (Network Output Degree Centralization).

6 A DEMOCRATICIDADE DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE TURISMO E SEUS EFEITOS SOBRE O DESEMPENHO TURÍSTICO