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5.2 O IDEP E SEUS INDICADORES

5.2.2 Uso efetivo do direito de fala

5.2.6.2 Direção do fluxo de informação

Aonde quer que se pense o funcionamento democrático pode-se considerar a direção do fluxo comunicacional como uma categoria analítica fundamental. A direção do fluxo de informação diz respeito ao sentido em que as informações circulam dentro do espaço público, e esse sentido por sua vez tende a refletisse na estrutura e no funcionamento desse espaço.

A depender da direção do fluxo comunicacional o espaço público pode ser caracterizado como uma estrutura mais ou menos democrática. A partir de uma perspectiva de interação dialógica a direção do fluxo de informação pode ampliar ou reduzir a democraticidade de um espaço público.

A direção do fluxo de informação da rede pode ser examinada obtendo-se o grau médio da rede e sua distribuição. Cabe ressaltar que dependendo da aplicação, as arestas de uma rede (que representam as informações compartilhadas) podem ou não ter direção.

Quando as arestas não tem direção associada (edges), tem-se um grafo não-direcionado. (WASSERMAN, FAUST, 1994). Por conseguinte, nesse caso, não é possível medir a direção das informações. Pode-se, no entanto, utilizar a distribuição de graus da rede completa (Partition Degree All) para inferir sobre o nível de balanceamento entre a receptividade e a expansividade das informações.

Quando as arestas têm uma direção associada (arcs) tem-se um grafo direcionado (i.e dígrafo). (WASSERMAN, FAUST, 1994). Em um grafo direcionado a direção do fluxo de informação pode ser observada pelos valores dos semi-graus (semi-degree): out-degree e in-degree. (BANG-JENSEN; GUTIN, 2007; SIMÕES- PEREIRA, 2013).

No contexto dos espaços públicos, o out-degree de uma instituição refere- se a sua medida de expansividade de informações; enquanto que o in-degree refere- se a sua medida de receptividade de informações. E são calculadas pelas fórmulas descritas no Quadro 4.

MEDIDA INDICADOR DESCRIÇÃO FÓRMULA

Medida de expansividade

da informação Out-degree

Grau de saída do ator ouvinte

Grau de saída do ator falante

Medida de receptividade

da informação In-degree

Grau de entrada do ator ouvinte Grau de entrada do ator falante Quadro 4: Medidas de Expansividade e receptividade da informação: indicadores, descrição e fórmulas.

Fonte: Elaboração Própria (2014)

Repare-se que nessas condições o out-degree de um ator que apenas escuta/recebe informações no espaço público será igual à zero ( ); enquanto que o out-degree de um ator falante será sempre igual ao número de instituições presentes na reunião menos ele mesmo, portanto . Já no que se refere ao in-degree, um ator que apenas escuta/recebe de informações na rede será igual ao número total de falantes ( ). E os atores que utilizam o direito de fala apresentarão o in-degree igual ao número total de falantes menos 1 ( ).

Deste modo, os graus de entrada e de saída são úteis para analisar a relação sociométrica das relações comunicacionais e caracterizar o espaço público quanto a sua democraticidade. Além disso, o valor dos semi-graus dos atores que compõem a rede política podem indicar os papéis desempenhados por cada um nos espaços públicos, conforme propõe a classificação Wasserman e Faust (1994, p.128), ilustradas no Quadro 5:

Valor do Grau Tipo de Ator Direção

Isolado (isolate) Sem direção (desconexa)

Transmissor (transmitter) Unilateral (mão-única)

Receptor (receiver) Unilateral (mão-única)

Transportador(carrier) Bidirecional (Mão-Dupla) e/ou Comum (ordinary) Bidirecional (Mão-Dupla) Quadro 5: Direção do Fluxo de Informação pelo Grau do Vértice

Fonte: Baseado em Wasserman e Faust (1994, p.128)

Dentre essas tipologias, é desejável que um espaço público seja formado relativamente por uma maioria de atores caracterizados como transportadores ou comuns. De tal modo que o fluxo de informações seja mais bidirecional do que unilateral.

A unilateridade do fluxo da informação caracteriza uma rede como hierárquica. Quando a comunicação se dá de forma hierarquizada e linear há um processo de concentração ou de desconexão em curso que afeta a democraticidade do espaço público. A comunicação vertical e assimétrica se constitui, no modo de ver de Beltrán (1981 apud 2007), como uma forma antidemocrática. Uma rede verticalizada se comporta como um funil, numa estrutura de comunicação “poucos- pra-muitos”. Essa estrutura enfraquece o debate e reduz o volume do fluxo de informações e consequentemente limita a democraticidade do espaço público.

Em contraposição, uma rede de conectividade recursiva o fluxo de comunicação é bidirecional. Nesse caso, em uma estrutura de comunicação “todos-

para-todos”, os atores que compõem a rede política participariam ativamente do debate político nos espaços públicos, fornecendo e recebendo informações em iguais proporções. Tais características refletem as condições de participação ideal de um espaço democrático, levando a consentir que a democratização é uma horizontalização – no sentido topológico de distribuição – das informações.

O fluxo de informação bidirecional representa um funcionamento desejável do espaço público e de interação democrática pela ruptura de uma estrutura comunicacional hierárquica. Em um espaço público de alta democraticidade a estrutura comunicacional permite uma maior difusão de informações relevantes para a tomada de decisão e, por conseguinte, contribui para ampliar a influência da sociedade na definição da agenda política. Bem como para gerar uma cultura política ativa.

Para que isso ocorra faz-se necessária uma participação substancial das instituições na receptividade e, sobretudo na expansividade das informações. Não se trata tão somente de ampliar o acesso às informações nos espaços públicos, mas, sobretudo, de permitir com que os atores atuem como sujeitos ativos na produção de informações que circulam na rede.

Em outras palavras, o fluxo de informações bilateral pleno seria atingido quando todos os presentes utilizassem de seu direito à fala. Nesse caso, o grau de entrada e saída dos atores falantes seria igual ( ), não existindo controle institucional nem centros de poder no processo comunicacional.

Em situações de redes reais, dificilmente encontram-se fluxos de informação com direção totalmente unilateral ou bilateral, por isso torna-se mais adequado falar em direções mais ou menos unilaterais e bilaterais. Uma rede de conectividade forte significa que a direção do fluxo de informações trocadas por todos os atores encontra-se mais próxima de uma configuração bilateral do que unilateral. Do mesmo modo, uma rede de conectividade baixa significa que existe uma grande quantidade de atores que emitiram ou receberam informações unilateralmente.

Mesmo que a bilateralidade plena não se configure, ela serve como parâmetro para medir a direção do fluxo de informação. Assim, em uma rede direcionada construída excluindo-se os loops e as linhas múltiplas (considerando apenas o número de instituições, independente do número de representantes por

instituição que usufruíram o direito da fala) a direção do fluxo de comunicação pode

ser medida por: , onde: é o in-degree do grupo de falante; e, é o grau médio máximo da rede, dado por: ( ) Assim: .

O resultado dessa equação permite a seguinte caracterização, apresentada no Quadro 6:

DFI Resultado do

Grau

Conectividade/

Direção Fluxo Estrutura

Democraticidade do Espaço

1 Desconexa/ Sem

direção Sem Fluxo Sem estrutura Sem classificação Unilateral/Mão-única Linear Vertical Hierárquica

Fraca Forte 0 I – 1 Bidirecional ou Recursiva/Mão- Dupla (conexa) Distribuído (Todos-para- Todos) Horizontal Democrática Quadro 6: Direção do Fluxo de Informação segundo Democraticidade do Espaço Público

Fonte: Elaboração Própria (2014)

Quanto menor e próximo de zero for o resultado dessa equação, mais fortemente conectada estará a rede. Uma rede com conectividade forte corresponde a uma rede com fluxo de comunicação mais horizontal e maior será a democraticidade do espaço. Ao contrário, quanto maior for o resultado dessa razão mais hierarquizado será o fluxo de comunicação no espaço público.

A hierarquização ou democratização do fluxo de comunicação pode também ser percebida através da distribuição dos graus em gráfico de dispersão log-log. No entanto, ao se distribuir em apenas dois clusters, não é possível verificar se a distribuição segue uma lei de potência. Apesar disso, é possível inferir que uma rede segue uma lei de potência baseando-se na existência de hubs.

Já em uma rede direcionada construída excluindo os loops e mantendo as linhas múltiplas (considerando o número de representantes por instituição que usufruíram o direito da fala) os graus dos atores são distribuídos em quantidades de clusters que variam de acordo com a quantidade de representantes falantes de cada instituição. Com essas características é possível traçar a linha de tendência da distribuição log-log e verificar se a rede tende a seguir ou não a lei de potência.

A distribuição de conectividade que tende a ser dada por uma lei de potência apresenta características mais autocráticas do que democráticas. Essa rede tem um vasto número de atores com baixa conectividade e alguns poucos atores – os hubs – altamente conectado. Em outras palavras, nessa rede um pequeno grupo de indivíduos envia mensagem para um grande, mas limitado, número de outros indivíduos.