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O nível de democraticidade da estrutura institucional, onde as instituições públicas e privadas se relacionam, pode influenciar no exercício da cidadania (O‟DONNELL, 1998; DAGNINO, 2004, 2006), bem como gerar efeitos sobre a gestão pública e seus resultados. (COELHO, 2007; CREIGHTON, 2005; GASTIL, 2000; SOUZA, 2001). Diversas avaliações sobre os efeitos das instituições participativas vêm sendo desenvolvidas, por exemplo: os estudos de Marquetti, Campos e Pires, (2008); Avritzer e Pires (2004); Baiocchi, Shubham, Heller (2005) relacionadas a orçamentos públicos; os estudos de Tatagiba (2002, 2004); Teixeira (2003), Coelho (2004), Cortes (2002, 2005) sobre conselhos; e de forma mais ampla tem-se a pesquisa coordenada por Avritzer (2009) que avalia os potenciais impactos de instituições participativas sobre governos e políticas locais.

No campo do turismo, estudos têm enfatizado a importância dos fóruns e conselhos participativos para a construção de uma gestão mais descentralizada e participativa tanto na esfera nacional, estadual ou municipal. (CAVALCANTI, 2006; BRANDÃO, 2010). No geral, trata-se de estudos de casos que objetivam compreender o funcionamento e os papéis desempenhados pelos conselhos municipais de turismo (GUIMARÃES, 2013) e apontar desafios para democratizar o processo de políticas públicas (ARAÚJO, 2013b) por entenderem que a participação social gera efeitos no desenvolvimento turístico (SOARES et al., 2012). O estudo de Soares et al. (2012), por exemplo, analisa como os conselhos municipais de turismo e o ICMS Turístico estimulam a participação social em prol do desenvolvimento turístico.

Com esse mesmo entendimento o governo brasileiro vem adotando ações para o fortalecimento do modelo de gestão compartilhada, coordenadas pelo Programa de Regionalização do Turismo em atuação conjunta com o Sistema Nacional de Turismo. A interação e o diálogo entre os governos, órgãos paraestatais, organizações sem fins lucrativos, setor privados e representantes da comunidade têm sido concebidas como estratégia de gestão descentralizada e participativa capaz de influenciar na competividade, e como consequência, no desempenho turístico. (MTUR, 2013a).

O desempenho turístico é considerado, para efeitos dessa análise, como a performance econômica da atividade turística resultado dentre outros aspectos das ações públicas executadas. O desempenho, numa acepção ex post apresentada por Johns e Mattsson (2005), é examinado com base em dados sobre o fluxo de turistas e as receitas por eles geradas.

Cabe ressaltar que no Brasil, ainda que no âmbito conceitual tenha se adotado uma perspectiva mais ampla, os resultados da gestão pública do turismo no país vêm sendo medidos, basicamente, pelos indicadores de fluxo turístico global (estrangeiros e nacionais) e de receita turística. Não por acaso, esses dois indicadores são recorrentemente postos como metas prioritárias dos Planos Nacionais de Turismo. Além disso, esses indicadores enquanto elementos de uma série histórica de mensurações configuram-se na perspectiva governamental como mecanismos de acompanhamento estratégico do desempenho dos destinos. (MTUR, 2009). Para o Ministério do Turismo (MTUR, 2008) o desempenho dos destinos ocorre principalmente por meio da elaboração e implementação de instrumentos de oferta e de demanda21 que, de acordo com o modelo de gestão descentralizada e participativa adotado pela Política Nacional do Turismo no Brasil, são pensados e articulados no âmbito das instâncias de governança.

São nas instâncias de governanças – como os conselhos e fóruns de turismo – que as instituições públicas e privadas devem se reunir para discutir as problemáticas do setor de turismo e planejar ações para a superação desses problemas. Além disso, são nessas instâncias onde podem ser desenvolvidas – pela integração de diversos atores ligados à cadeia de turismo – redes de relacionamentos que podem resultar em estratégias conjuntas e em acordos de cooperação público-privada. Esses espaços constituem-se ainda como um canal para a participação política da sociedade nas decisões sobre as atividades e projetos turísticos.

Todavia, mesmo pressupondo-se que o desempenho do turismo seja passível de influência por políticas de cunho mais participativo, de modo geral, ainda não se tem o real conhecimento sobre como as decisões políticas podem

21 Entre os instrumentos de oferta destacam-se a disponibilização de incentivos e adoção de mecanismos de controle, provimento de infraestrutura, incentivo ao desenvolvimento de produtos capazes de atrair turistas, bem como prestação de serviços de qualidade. Dos instrumentos de demanda, encontra-se a adoção de estratégias que requerem compreensão do mercado e também da oferta.

factualmente ser influenciados por processos e procedimentos mais participativos e descentralizados. E ainda se a estrutura institucional, mais ou menos democrática, dos espaços públicos tem de alguma forma contribuído para uma participação política e um bom desempenho do setor.

Esse é um desafio que se impõe para a compreensão dos efeitos da democraticidade dos espaços públicos sobre a gestão pública, bem como para a compreensão do papel efetivo da participação política nos resultados das ações públicas. Os resultados das ações públicas para o desenvolvimento do turismo vêm sendo avaliados, mas restritos ainda são os estudos sejam acadêmicos ou governamentais que analisam a relação entre a participação política nos espaços públicos e o desempenho turístico.

O Ministério de Turismo, por exemplo, tem utilizado o Índice de Competividade para avaliar a eficiência das políticas nacionais para o setor de turismo, através de instrumento pautado na noção ex ante, com foco nas características estruturais dos destinos. (MTUR, 2013a). Esse índice considera aspectos para a avaliação da competitividade no âmbito das instâncias de governança, tais como: periodicidade das reuniões, facilidade de acesso, estrutura física e disponibilidade de recursos próprios (MTUR, 2013a). Recentemente, a competividade do turismo brasileiro passou a incorporar as metas do Plano Nacional de Turismo 2013-2016 (MTUR, 2013b). No entanto, os aspectos ponderados pelo Índice de Competitividade não permitem uma avaliação sobre a democraticidade dessas instâncias.

Nesse intuito, esse estudo propôs e aplicou o Índice de Democraticidade dos Espaços Públicos (IDEP) nos fóruns e conselhos de turismo dos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte para mensurar a democraticidade (Conforme abordado nas seções 5.2 e 6.1) por meio da análise de redes sociais. Os procedimentos adotados permitiram aferir níveis distintos de democraticidade, para posteriormente, correlacioná-los com o desempenho turístico, enquanto um possível resultado das estratégias pensadas e elaboradas via instituições participativas.

Notadamente, o uso de indicadores da análise de redes sociais, bem como a sua relação com indicadores de desempenho tem ganhado destaque na literatura, particularmente no contexto das empresas (VALE, GUIMARÃES, 2010; LOIOLA, LAGEMANN, 2013), mas também no contexto de associações (CRUZ et

al., 2013). Outro exemplo, é o estudo de Mendes-da-Silva et al. (2009) que associa os efeitos da estrutura de rede de conselhos e desempenho, concluindo que a centralidade, densidade e coesão dos conselheiros estão relacionados com o desempenho das firmas estudadas.

Ainda na perspectiva das experiências participativas, Moura e Silva (2008) indicam que as relações estabelecidas entre o Estado e a sociedade em espaços de ampliação da democracia apresentam implicações no ponto de vista das políticas públicas e de seus efeitos. Isso porque a participação e interação desses atores nos processos decisórios apresentariam possibilidades de que as políticas públicas incorporassem as reivindicações e propostas dos segmentos partícipes.

(1) Resultados do Desempenho Turístico

Os resultados de desempenho do turismo brasileiro, medidos por meio dos indicadores de fluxos turísticos domésticos e entrada de divisas estrangeiras, registram avanços do setor. (MTUR, 2010). O fluxo doméstico – principal fonte propulsora do turismo no Brasil (MELLO, GOLDENSTEIN, 2011) – alcançou uma taxa média de crescimento entre o período de 2003 a 2011 na ordem de 12,8% referente ao número de desembarques nacionais. (MTUR, 2013a, 2013b). E ressalte-se que o transporte aéreo responde por apenas 11% das viagens de turismo doméstico no Brasil (MELLO, GOLDENSTEIN, 2011). Já o fluxo internacional de turistas no país apresentou uma taxa de crescimento média no mesmo período de 3,8%. Mesmo diante da pouca variação no número de turistas estrangeiros e da tendência de estabilização, a receita cambial turística apresentou um incremento positivo (a exceção de 2009), com saldo22 de 13,40% de crescimento médio. (MTUR, 2013b)

A região nordeste também vem mantendo taxas de crescimento positivas. Em 2011, apresentou um incremento de 61,7% do fluxo turístico global com relação ao ano de 2003. Nesse período obteve uma taxa de crescimento média de 6,2%. (CTI-NE, 2012). Como resultado, as receitas turísticas geradas nas capitais

22 Valor calculado com base na média geométrica das variações interperíodos das receitas cambiais turísticas dos anos de 2003 a 2011. A receita cambial turística refere- se ao volume gasto por turistas do Exterior no Brasil.

nordestinas também atingiram uma taxa de crescimento média, entre 2003 e 2011, de 6,2%.

Nessa conjuntura, os estados da Bahia, do Pernambuco, do Ceará e do Rio Grande do Norte se destacam entre os principais destinos nordestinos na formação do fluxo turístico global23 da região (SOUSA et al., 2010; CTI-NE, 2012), conforme mostra a Tabela 11.

Tabela 11: Fluxo Turístico Global dos Estados do NE (mil) com variação média geométrica, no período de 2003 a 2011. Estados 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 V. M.G.* NORDESTE 15.883 17.096 18.599 19.572 20.109 20.485 22.069 24.069 25.702 6,20 Bahia 4.709 4.897 5.093 5.348 5.493 5.502 5.980 6.279 6.593 4,30 Pernambuco 3.313 3.352 3.498 3.530 3.643 3.776 3.945 4.258 4.558 4,07 Ceará 2.396 2.806 3.150 3.299 3.368 3.528 3.997 4.361 4.614 8,54

Rio Grande do Norte 1.452 1.783 2.082 2.187 2.180 2.201 2.327 2.475 2.754 8,33

Alagoas 1.519 1.428 1.651 1.603 1.521 1.527 1.644 1.872 1.946 3,14 Maranhão 728 958 1.061 1.410 1.536 1.497 1.581 1.787 2.049 13,81 Sergipe 509 487 534 536 586 600 602 694 747 4,91 Paraíba 759 949 1.018 1.096 1.151 1.194 1.271 1.360 1.409 8,04 Piauí 498 435 512 563 631 661 722 883 1.032 9,54 Fonte: CTI-NE (2012)

* Variação Média Geométrica em % de 2003 a 2011.

Além disso, esses estados são os que mais recebem turistas domésticos do Nordeste (SOUSA et al., 2010). Dentre as cinco cidades do país mais visitadas pelos turistas brasileiros estão Salvador e Fortaleza em terceiro e quarto lugar, respectivamente. (SOUSA et al., 2010; BRANCO; SOUZA; VARELA, 2012). Todavia, em termos de variação média geométrica tem-se que o estado do Maranhão (13,81%) e do Piauí (9,54%) apresentaram melhores taxas de crescimento de 2003 para 2011.

De modo mais detalhado, apresenta-se a Tabela 12 que consolida as informações sobre fluxo e a receita turística dos estados da Bahia, Ceará,

23

O fluxo turístico global refere-se a quantidade de turistas que visitam uma determinada região, considerando tanto os turistas internacionais como os domésticos. Os turistas internacionais são oriundos de países estrangeiros, e os domésticos são os turistas brasileiros.

Pernambuco e Rio Grande do Norte, no período de 2003 a 2011, com suas respectivas variações anuais.

Tabela 12: Fluxo e a receita turística dos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no período de 2003 a 2011, com suas respectivas variações anuais.

Estado Ano Fluxo Turístico Global (mil) Variação % (ano a ano) Receita Turística (R$ milhões) Variação %

(ano a ano) IDEP

Variação % (ano a ano) BA 2003 4.709 - 1.041.150,00 - 0,6589 - 2004 4.897 4,0% 1.093.210,00 5,0% 0,536 -18,7% 2005 5.093 4,0% 1.188.970,00 8,8% 0,4095 -23,6% 2006 5.349 5,0% 1.268.630,00 6,7% 0,3607 -11,9% 2007 5.493 2,7% 5.100.000,00 302,0%* 0,4089 13,4% 2008 5.502 0,2% 5.068.000,00 -0,6% 0,3496 -14,5% 2009 5.980 8,7% 5.068.000,00 0,0% - - 2010 6.279 5,0% 6.708.500,00 32,4% - - 2011 6.593 5,0% 7.000.000,00 4,3% - - CE 2003 2.396 - 2.006.738,47 - 0,2423 - 2004 2.806 17,1% 2.762.984,25 37,7% 0,2233 -7,8% 2005 3.150 12,3% 3.680.441,84 33,2% 0,2874 28,7% 2006 3.299 4,7% 3.993.842,94 8,5% 0,3437 19,6% 2007 3.368 2,1% 4.119.487,40 3,1% 0,3543 3,1% 2008 3.538 5,0% 4.724.111,38 14,7% 0,4659 31,5% 2009 3.997 13,0% 5.880.012,09 24,5% - - 2010 4.361 9,1% 6.586.388,64 12,0% - - 2011 4.614 5,8% 7.439.686,02 13,0% - - PE 2003 3.313 - 1.555.620,00 - - - 2004 3.352 1,2% 2.019.030,00 29,8% - - 2005 3.498 4,4% 2.350.640,00 16,4% - - 2006 3.530 0,9% 3.362.260,00 43,0% 0,4227 - 2007 3.643 3,2% 3.503.870,00 4,2% 0,3168 -25,1% 2008 3.776 3,7% 3.651.510,00 4,2% 0,2899 -8,5% 2009 3.945 4,5% 3.805.420,00 4,2% - - 2010 4.258 7,9% 3.965.880,00 4,2% - - 2011 4.558 7,0% 4.133.170,00 4,2% - - RN 2003 1.452 - 926.856,29 - 0,5147 - 2004 1.783 22,8% 1.179.330,99 27,2% 0,4687 -8,9% 2005 2.082 16,8% 1.372.330,74 16,4% 0,5246 11,9% 2006 2.187 5,0% 1.290.600,32 -6,0% 0,5626 7,2% 2007 2.180 -0,3% 1.102.563,41 -14,6% 0,5154 -8,4% 2008 2.201 1,0% 1.507.017,77 36,7% 0,4828 -6,3% 2009 2.327 5,7% 1.184.608,24 -21,4% - - 2010 2.575 10,7% 1.246.000,00 5,2% - - 2011 2.754 7,0% 1.629.142,51 30,7% - -

*A variação média do estado da Bahia, entre os anos de 2006 e 2007 (302%), não expressa a taxa real de crescimento da receita turística nesse período. Essa variação pode ser resultado de mudanças de metodologias de mensuração, por exemplo, o uso de efeito multiplicador (propensão marginal a consumir).

Fonte: Baseado nos dados de CTI-NE (2012, 2014); Ceará (2012); Pernambuco (2008); FIPE (2011); Bahia (2011); SETUR/RN (2009, 2010); BNB (2005)

Ressalva-se que o monitoramento da atividade turística é um dos principais desafios da gestão pública brasileira, principalmente nas escalas locais. Mesmo com os esforços realizados para a implementação da Conta Satélite do Turismo (CST), o Brasil ainda não dispõe de um sistema integrado de informações que garantam a homogeneidade, comparabilidade e qualidade das estatísticas do turismo. Essa situação se agrava nos destinos turísticos que não dispõe de um sistema de indicadores de desempenho do setor. A pesquisa de competividade dos 65 destinos indutores (MTUR, 2013a) diagnosticou que mais de um terço desses destinos não realizam monitoramento permanente do perfil da demanda turística. O monitoramento da atividade turística, em 2013, apresentou o pior desempenho entre as dimensões analisada pelo Índice de Competitividade.

É importante ressaltar esse cenário para que se compreendam os limites dos indicadores de fluxo e receita apresentados. Os indicadores de fluxo turístico foram compilados do Relatório da Conjuntura do Desempenho do Turismo no Nordeste: 2002/11 (CTI-NE, 2012) e os dados relativos a receita turística foram dos órgãos oficiais de turismo dos estados investigados. Embora em alguns casos, como na Bahia, houvesse dados de fluxo turístico mensurados por pesquisas encomendadas pelo governo, optou-se em utilizar os dados da Fundação CTI-NE para se permitisse uma melhor comparabilidade entre os estados.

Dito isso, observa-se nos dados apresentados na Tabela 12 que o fluxo turístico dos estados investigados no período de 2003 a 2011 exibiu uma tendência de crescimento em todos os estados, com exceção do estado do Rio Grande do Norte que em 2007 manteve-se relativamente estável. Em Pernambuco a taxa de crescimento médio foi de 4,1%, seguindo do estado da Bahia com 4,5%. Já o fluxo turístico do Ceará e do Rio Grande do Norte obtiveram um crescimento médio no período investigado de 8,6%.

Quanto à receita turística, observa-se que em 2007 no estado da Bahia registra-se uma taxa de crescimento de 302% em relação ao ano anterior. É provável essa elevada variação seja decorrente da mudança de base de dados ou

ainda de metodologias de mensuração. Além disso, em 2008 e 2009 a receita apresentada pela pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE, 2011) encontra-se com valores repetidos, fato que não provocou variação entre esses anos. Por conta, dessas questões, considerando a quebra ocorrida em 2007, observa-se que entre 2003 a 2006 a receita turística da Bahia teve uma taxa de crescimento média de 6,9% e entre 2008 e 2011 de 9%.

No estado do Ceará a receita turística atingiu a maior taxa de crescimento média, 18,3%. Faz-se importante notar que esse valor é relativo à receita gerada pelos turistas que chegaram ao estado via Fortaleza. De modo que não reflete a totalidade da receita turística estadual. Mesmo assim, são os valores mais próximos mensurados.

Em seguida, posiciona-se o estado de Pernambuco com uma taxa de crescimento média de 13,8%. Os dados de receita turística do Pernambuco foram derivados de projeções apresentadas no Plano Estratégico de Turismo de Pernambuco (PERNAMBUCO, 2008). Por isso, a variação de crescimento entre os anos de 2007 a 2011 apresenta-se com um percentual constante de 4,5%. Nota-se que o órgão oficial de turismo desse estado forneceu informações sobre o PIB Turístico de Pernambuco para o período de 2005 a 2009, entre as quais o valor bruto da produção (VBP) do período, valor mais próximo da receita turística. No entanto, optou-se por manter os valores projetados por dois motivos: (1) por causa da incompletude da série temporal do VBP; (2) e para manter certo alinhamento metodológico com os demais estados investigados.

Já a receita turística do Rio Grande do Norte não seguiu um padrão consistente, apresentando variações positivas e negativas ao longo dos anos. Nos anos de 2006, 2007 e 2009 a receita turística potiguar apresentou um decréscimo médio de 14%, enquanto que nos demais anos houve um crescimento médio de 23,2%. No geral, a taxa de variação média foi de 9,3%.

A democraticidade dos espaços públicos calculada via IDEP (2003 a 2008) foram correlacionados com os dados de desempenho turísticos (2003 a 2011) dos estados investigados, através do teste de correlação de Spearman's rho. A correlação de Spearman's rho (COSTA, SOARES, EMMENDOERFER, 2011) é um teste não paramétrico utilizado para testar a associação entre duas variáveis, de modo que a hipótese nula e a alternativa sejam as seguintes: (não há correlação entre as duas variáveis); e (há correlação entre as duas variáveis). Onde: designa o coeficiente de correlação de Spearman's rho para a população inteira.

Um aspecto importante é que a existência de uma correlação entre essas duas variáveis não implica uma relação causal. Ou seja, tanto a democraticidade dos espaços públicos pode influenciar no desempenho, quanto o desempenho pode afetar na democraticidade dos espaços públicos. No entanto, é mais provável que uma decisão política tomada em um espaço público que tenha se convertido em uma ação pública venha gerar efeitos sobre o desempenho da atividade em anos subsequentes.

Não se pode esperar que em um período curto de tempo as decisões tomadas no âmbito dos espaços públicos possam gerar efeitos imediatamente e impactantes sobre o desempenho. Assim, conjectura-se que em uma correlação ano a ano seja mais provável que o desempenho da atividade turística esteja associada a uma maior participação política, do que a participação política esteja influenciando o desempenho.

Reconhece-se que a política envolve um conjunto de decisões e o desenvolvimento de ações no tempo, mais do que uma decisão isolada. Por isso, a depender da natureza do problema e das circunstâncias contextuais o tempo de retorno de uma política pública é variável. Embora não se tenha determinado o horizonte temporal entre a tomada de decisão e seus resultados, as experiências de planejamento público mostram que alguns resultados têm um período previsível para ter efeitos diretos.

No geral, um conjunto das políticas públicas do governo brasileiro orienta- se a partir dos Planos Plurianuais (PPA) elaborados pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Os PPA‟s são um instrumento destinado a organizar e viabilizar a ação pública num período de 4 anos (MPOG, 2014). Como

consequência, parte significativa das políticas setoriais, como é o caso da Política de Turismo, conformam-se dentro desse escopo de tempo.

Dessa maneira, as orientações estratégicas para o desenvolvimento da atividade turística no Brasil encontram-se delineadas para um percurso temporal de três anos. Como pode ser constatado, por exemplo, no Documento Referencial Turismo no Brasil (2011-2014) e nos Planos Nacionais de Turismo (PNT 2003-2007; PNT 2007-2010; PNT 2013-2016). É possível presumir que uma ação pública proposta em 2003 venha a ter efeitos diretos mais efetivos em 2007, quando novas ações públicas são propostas. Mesmo que efeitos processuais sejam já observados.

Por isso, a associação entre as variáveis foi testada em quatro perspectivas: correlação entre as variáveis de desempenho de um ano com o IDEP do mesmo ano; correlação entre as variáveis de desempenho de um ano com o IDEP do ano anterior; correlação entre as variáveis de desempenho de um ano com o IDEP médio dos dois anos anteriores; e correlação entre as variáveis de desempenho de um ano com o IDEP médio dos três anos anteriores.

A Tabela 18 expõe os resultados da associação da democraticidade dos fóruns/conselhos de turismo mensurados via IDEP com o fluxo e a receita turística – variáveis de desempenho da atividade turística utilizadas nesse estudo.

Tabela 13: Associação entre o Índice de Democraticidade dos Espaços Públicos e as variáveis de desempenho da atividade turística

IDEP Spearman's rho Fluxo Turístico Receita Turística

Ano a Ano Coef. de Correlação -0,195 -0,577***

Significância 0,383 0,005

Ano para o ano anterior Coef. de Correlação -0,246 -0,576***

Significância 0,269 0,005

Média dos dois anos anteriores Coef. de Correlação -0,280 -0,597***

Significância 0,140 0,001

Média dos três anos anteriores Coef. de Correlação -0,165 -0,603***

Significância 0,391 0,001

Nota: *Significativo a 10% **Significativo a 5% ***Significativo a 1%

A partir da análise de correlação apresentada na Tabela 18, e tão somente por ela, observa-se que o IDEP e o desempenho turístico estão associados, especificamente quanto a receita turística, dado que a correlação de Spearman's rho resultou em um alto nível de significância em todos os pares testados dessa variável ( ). Enquanto que a correlação do IDEP com o fluxo turístico não apresentou significância ( ).

Os dados revelam ainda que se trata de uma associação negativa. O que significa que a democraticidade do espaço público (considerando que o melhor resultado do IDEP é igual a zero) se comportou na mesma direção da receita turística. Isso sugere dois resultados possíveis: (1) que uma alta democraticidade do espaço público tende a aumentar o desempenho econômico da atividade turístico; (2) ou inversamente, que o aquecimento econômico da atividade turística tende a intensificar a democraticidade nos espaços públicos.

Portanto, através dos dados apresentados não é possível estabelecer qualquer relação de causalidade entre essas duas categorias. Esses resultados indicam apenas uma pressuposição de que estados nos quais se constatou maior democraticidade em seus espaços públicos de turismo, são, também, aqueles que, sistematicamente, tenderam a apresentar melhores resultados de receita turística.

É possível concluir ainda que a receita turística obteve uma maior significância e força na relação, medido pelo coeficiente de correlação, quando correlacionada com a média do IDEP de dois a três anos anteriores em todos os pares investigados. Esse resultado apresenta indícios que corroboram com a perspectiva sobre o tempo médio de retorno das ações públicas. Mas, também sugere que é suscetível que uma expectativa de um desempenho futuro, positivo ou negativo, venha a conduzir um maior ou menor nível de democraticidade dos espaços públicos no tempo presente.

Dessa forma, os níveis de significância encontrados entre os valores do IDEP e a receita turística, em todos os horizontes temporais são suficientes para que a hipótese seja rejeitada. E inversamente, os níveis de significância entre o IDEP