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Ao assumir a interação comunicacional da rede política como foco de análise, a Análise de Redes Sociais (ARS) se apresenta como uma ferramenta analítica que permite criar modelos simplificados de representação e gerar uma variedade de parâmetros e indicadores possíveis de serem utilizados para mensurar e interpretar, por meios de aspectos diferenciados, elementos básicos de uma estrutura comunicacional mais ou menos democrática.

No entanto, dada a variedade de métricas geradas pelo uso dessa ferramenta, a escolha das mais representativas e adequadas ao contexto dos espaços públicos, mostrou-se como um procedimento imprescindível. Outro procedimento demandado foi a construção de um índice que reunisse um conjunto de indicadores que ajudasse a mensurar a democraticidade via interação comunicacional em espaços públicos.

O esforço da mensuração dos espaços públicos em termos de um maior ou menor grau de democraticidade mostra-se relevante por dois motivos principais. Em primeiro lugar, essa mensuração pode contribuir para uma descrição mais refinada das semelhanças e diferenças entre estados no que tange aos esforços para democratização da gestão turística via projetos participativos. E em segundo lugar, pode auxiliar na explicação da variação de desempenho turístico entre os estados.

Portanto, o processo de construção e proposição do Índice de Democraticidade dos Espaços Públicos (IDEP) foi composto por quatro etapas principais: definição das redes; geração das redes; manipulação das redes; cálculo das propriedades das redes; e escolha das métricas relevantes.

5.1.1 Definição das Redes

A primeira etapa para a construção do Índice de Democraticidade dos Espaços Públicos foi a definição das redes a serem trabalhadas. Considerando o contexto dos fóruns e conselhos estaduais de turismo, escolheu-se trabalhar com redes das instituições públicas e privadas que participam do processo de tomada de decisão e que se inter-relacionam através de um agir comunicativo nos espaços públicos durante o período de 2003 a 2008.

Faz-se importante notar que embora o indivíduo esteja no cerne das relações, optou-se por trabalhar com a instituição. A escolha dessa perspectiva analítica deve-se a dois motivos principais. Primeiro, porque os fóruns e/ou conselhos investigados são espaços públicos institucionalizados por excelência. As instituições têm assumido lugares preponderantes nos espaços públicos e na vida política, tanto em termos organizacionais quanto de estruturação do comportamento político dos indivíduos. Segundo porque, ao se trabalhar com casos de territórios geográficos distintos, a leitura institucional possibilita refletir comparativamente sobre a atuação dessas instituições nos territórios tanto em termos de quantidade e intensidade de interações.

Inicialmente, seriam tratadas as redes políticas dos fóruns e/ou conselhos estaduais de turismo localizados na região nordeste do Brasil, a partir de dados extraídos das atas de suas reuniões disponíveis nos sites das respectivas Secretarias Estaduais de Turismo e/ou fornecidas pelas mesmas por meio de correspondência eletrônica e convencional. No entanto, após pesquisa e contatos com os órgãos municipais de turismo apenas os estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte possuíam armazenadas e/ou divulgadas as atas das reuniões referentes ao corte temporal adotado pelo estudo. De modo que os demais estados tiveram que ser excluídos da amostra.

Para cada fórum investigado foram criados bancos de dados com as atas das reuniões realizadas no período de 2003 a 2008, conforme informações básicas sistematizadas na Tabela 1.

Tabela 1: Informações básicas das reuniões dos espaços públicos realizadas no período de 2003 a 2008. Espaço Público Período Atas do período Nº de reuniões- atas Nº de páginas Nº de Instituições* Nº de Atores** BA 2003 Ata 1 1 13 43 146 2004 Ata 2-5 4 32 57 215 2005 Ata 6-9 4 52 69 269 2006 Ata 10-11 2 22 63 228 2007 Ata 13-16 4 42 54 104 2008 Ata 17-20 4 35 54 106 2003-2008 - 19 196 210 1068 CE 2003 Ata 4-8 5 31 46 90 2004 Ata 9-13 5 106 71 254 2005 Ata 14-18 5 89 83 201 2006 Ata 19-22 4 57 62 104 2007 Ata 24-25 2 38 99 244 2008 Ata 26-27 2 31 72 182 2003-2008 - 23 352 109 1075 PE 2003 - - - - - 2004 - - - - - 2005 - - - - - 2006 Ata 1-3 3 23 36 81 2007 Ata 4-7 4 27 41 123 2008 Ata 8-11 4 21 41 108 2003-2008 - 11 71 46 312 RN 2003 Ata 21 e 23 2 28 122 324 2004 Ata 24-27 4 63 123 549 2005 Ata 28-32 5 92 156 781 2006 Ata 34 1 16 63 148 2007 Ata 35-38 4 53 116 580 2008 Ata 39-43 5 70 111 544 2003-2008 - 21 322 258 2926

* Esse número corresponde ao total de instituições que participaram ao menos de uma reunião no período considerado.

** Esse número representa a soma dos atores que participaram de cada uma das reuniões que ocorreram no período.

Fonte: Dados da Pesquisa (2014)

As atas em formato imagem ou pdf (Portable Document Format) foram convertidas para o formato Microsoft Word através ABBYY FineReader 11 para

facilitar o manejo das informações e pré-tratamento manual necessário para a geração das redes.

5.1.2 Geração das Redes

Para a geração das redes políticas foram extraídos das atas todos os nomes de pessoas ou representantes de instituições presentes em cada reunião e daqueles que realizaram alguma manifestação verbal. Para a organização dessas informações foram criadas no Microsoft Excel planilhas eletrônicas em três modelos:

Modelo 1: planilhas com lista dos indivíduos presentes e falantes, por

reunião, ano e período;

Modelo 2: planilhas consolidadas com nome de instituições representadas

e quantidade de representantes presentes e falantes, por reunião e ano;

Modelo 3: planilhas consolidadas com instituições em formato *Vertices e

com as relações entre as instituições presentes e falantes em formato *arcslist, por ano.12

Após essa organização, as informações tanto das planilhas individualizadas quanto das consolidadas serviram de base para a criação de arquivos txt. com codificação ANSI, e posteriormente transformados em arquivos .net, ou seja, as redes de atores foram criadas. Tratam-se de redes direcionadas, devido a importância do sentido do fluxo de informações para a compreensão do nível de democraticidade do espaço público.

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Relação dos vértices (instituições) nos Apêndices 1 a 4 para que sirva como legenda dos grafos dos espaços públicos investigados no período de 2003 a 2008.

Para cada rede real investigada foram geradas redes aleatórias correspondentes, seguindo o modelo de Erdös-Rényi (ERDÖS, RÉNYI, 1959, 1960). As redes geradas aleatoriamente servem como parâmetro comparativo e são criadas a partir no número de vértices ( ) e grau médio ( ) da rede real. Por se tratarem de redes direcionadas, nota-se que para a criação das redes aleatórias seguindo essas diretrizes foi preciso utilizar o valor do grau médio13 da rede real calculado pela fórmula ⁄ . Onde, é o número de linhas (i.e relações) geradas.

5.1.3 Manipulação das Redes de Atores

Antes de iniciar o cálculo dos índices as redes foram reduzidas a grafos simples, que implica em excluir os seguintes dados de interação:

(1) Os loops: relações geradas quando as informações são recebidas pelo

próprio emissor da mensagem; e quando as informações são recebidas por outro ator que represente a mesma instituição. Os loops foram excluídos através do Pajek.

(2) As linhas múltiplas (multiple lines): relações geradas quando o mesmo

representante envia mais de uma informação; e quando mais de um representante da mesma instituição utilizam-se da fala para transmitir informações para outros no fórum. As linhas múltiplas geradas quando o mesmo representante envia mais de uma informação foram excluídas ainda no processo de construção das redes; enquanto que as linhas geradas pela fala de mais de um representante da mesma instituição em alguns casos foram excluídas através do Pajek.

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O grau médio da rede calculado no Pajek corresponde a duas vezes esse valor; e quando calculado no Gephi o valor corresponde a ½ do valor gerado pelo Pajek. Por isso, para efeito da criação de redes aleatórias é preciso dividir o grau médio gerado pelo Pajek por dois, ou utilizar o grau médio da rede gerado pelo Gephi.

5.1.4 Cálculo das Propriedades de Redes

Após a manipulação das redes originais tornou-se possível plotar seus dados no Pajek (Win 32, 4GB) 3.13 e no Gephi 0.8.2 beta para calcular os índices da Teoria de Redes Complexas e da Teoria de Redes Sociais, e realizar a primeira inspeção visual das redes. Foram calculadas as seguintes métricas: caminho mínimo, caminho mínimo médio, diâmetro, grau médio do vértice e da rede (out- degree, in-degree, all-degree), coeficiente de aglomeração, coeficiente de aglomeração médio, distribuição de grau, densidade, centralidade de grau, centralidade de intermediação, centralidade de proximidade e outras.

Dada a variedade das métricas calculadas tornou-se necessário escolher as mais representativas em termos da investigação. Para tanto, foi realizada uma triagem baseada na literatura adotada pelo estudo com a finalidade de ponderar como essas métricas e quais delas poderiam ser utilizadas para avaliar a participação política nos fóruns e/ou conselhos estaduais investigados, bem como examinar a democraticidade nesses espaços.

Além disso, esse procedimento permitiu não apenas escolher as métricas resultantes da análise de redes sociais como também indicar outras provenientes das informações contidas nas atas das reuniões. Em seguida, cada indicador proposto foi definido teoricamente e em termos matemáticos e passaram a compor um único índice, o Índice de Democraticidade dos Espaços Públicos.