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Análise regionalizada das polarizações e centralidades

CAPÍTULO 2. UMA ANÁLISE REGIONALIZADA DA COMARCA DO RIO DAS MORTES

2.5 Análise regionalizada das polarizações e centralidades

As nucleações que se desenvolveram ao longo das três rotas aqui apontadas e se tornaram polarizadoras são as seguintes:

 Na rota dos muares (utilizada pelo tropeirismo), proveniente das províncias ao sul do Brasil, passando por Minas: Pouso Alto, Pouso Alegre, Passa Quatro, Cruzília, Baependi, Campanha, São João Del Rei e prosseguindo em direção a Vila Rica e ao distrito diamantino.

 Na rota dos boiadeiros baianos e pernambucanos em direção a oeste do Rio São Francisco, conectando com a Bahia, e com uma variante

Ver ainda: CHAVES, Cláudia Maria das Graças. Tropas e tropeiros no abastecimento da

região mineradora no período de 1693 a 1750. Revista de História. Ouro Preto: LPH, 1991.

BRIOSCHI, Lucila Reis Et allii. Entrantes no sertão do Rio Pardo: o povoamento da freguesia de Batatais- século XVIII e XIX. São Paulo: CERU, 1991.

Ver: MARCONDES, Renato Leite. O abastecimento de gado do Rio de Janeiro (1801-1811). Texto para discussão. Série Economia. Campus Ribeirão Preto: FEA/USP, 2000. Disponível em:

http://www3.fearp.usp.br/pesquisa/images/Anexos/Publicacoes/Textos_discussao/REC/2000/w pe15.pdf

178 Maria Thereza Schorer Petrone (1973) estudou o comércio de gado e as correntes de comércio interno do registro e da feira de Sorocaba em São Paulo e sua articulação com a região mineradora de Minas Gerais.

para Goiás, pelas trilhas das antigas Picadas de Goiás: Barroso, Prados, Bom Sucesso, Rio Vermelho, Lavras, Oliveira, Claudio, Tamanduá (atual Itapecerica), Divinópolis, Pitangui, Velho da Taipa (atual Paraopeba).

 Na rota do celeiro agrícola, na parte sul da Comarca do Rio das Mortes, em diversas ramificações nas fazendas de: Aiuruoca, Alfenas, Arrepiados, Caldas, Campanha, Barbacena, Queluz, Lavras, São João del Rei, Barbacena

Observamos que há núcleos urbanos que figuram em mais de uma das três rotas: Lavras, Campanha, Barbacena, São João Del Rei. Porém não se trata de coincidência. São cidades mineradoras da Comarca com bom nível de centralidade, ou seja, locais de maior inserção econômica, com ligações financeiras internas e externas agregadoras de negócios com a praça comercial do Rio de Janeiro. Esses núcleos se mantiveram importantes até 1840. Daí em diante, foi flagrante a acensão dos vales do Paraibuna e do Paraiba, até que, na década de 1870, Juiz de Fora, Mar de Espanha e Leopoldina se tornaram os centros da fronteira cafeeira, cujas expansões urbanas e as poderosoas fazendas do café deslocaram a centralidade da cabeça da Comarca em direção à mata mineira e ao sul mineiro em conexões com o Rio e São Paulo, por meio das ferrovias do café.

A polarização externa mais importante que se deu entre a zona mineradora da Comarca e o litoral fluminense foi aquela estruturada em função do fluxo abastecedor da Corte no Rio de Janeiro, após 1808 e que se consolidou com o período do café.

No XIX, a polarização entre Minas e Goiás cresceu. Ainda outra polarização que se estruturou de forma crescente, em fins desse século, foi a da industrialização, motivada, a partir de 1870, por São Paulo, que desse período em diante a impulsiona em âmbito nacional. Materializam-se, então, as polarizações modernas oitocentistas na Comarca: a do abastecimento mercantil, a polarização entre Minas e Goiás e a polarização da industrialização nascente em terras paulistas. Especialmente o sul da Comarca do Rio das Mortes cresceu economicamente com as polarizações modernas oitocentistas.

Vamos retroceder a análise ao século XVIII para entender como e quando começou a mudar a hierarquia dos polos urbanos da Comarca. No final do século XVIII, houve uma expansão urbana rumo ao sul, ao sudoeste e à Mata mineira. Que condições atraíram novas fundações urbanas? Será que ao fim da exploração do ouro, a chamada ‘fuga da mineração’, vinda de Vila Rica e arredores, teria contribuído na

expansão urbana na região sul-sudoeste da comarca do Rio das Mortes?179 Tudo

indica que sim. Waldemar de Almeida Barbosa (1971) e outros pesquisadores apontaram evidências que os potentados do ouro e do diamante investiram parte da riqueza na implantação de fazendas de gado e de agricultura na Comarca do Rio das Mortes, onde o solo era muito mais fértil que o da região de Vila Rica e do que no distrito diamantino. Segundo Barbosa (1995), quando decaiu a produção de ouro e do diamante, os mineradores solicitaram permissão à Coroa para transferência gradativa dos negócios e os plantéis de escravos para as fazendas ao sul da Comarca, daí se diz que houve uma “ruralização” da economia do Rio das Mortes.

A população pioneira que se fixou em seus primeiros núcleos urbanos se concentrou em lugares próximos aos negócios de mineração. Em volta das minas, se organizaram núcleos menores em relação de interdependência. Os fluxos econômicos foram se estruturando conforme as cadeias produtivas da mineração do ouro, com seus negócios principais e secundários, conforme as possibilidades produtivas oferecidas naquele território minerador.

Quanto mais bens e serviços os núcleos mineradores passaram a oferecer, maior se tornou sua área de influência. Assim, com a mineração do ouro, nasceu a primeira hierarquia dos pólos urbanos da Comarca. Essa hierarquia não permaneceu imutável, alterou-se com o passar do tempo, em função das mudanças dos negócios. Consideramos que São João Del Rei, Barbacena e Campanha foram os pólos mais importantes no século XVIII. Havia pólos secundários: Baependi, Pouso Alegre, Queluz, Jacuí, Oliveira, Lavras, Pitangui, Itapecerica, relativos a negócios ligados à mineração direcionada ao centro de decisões políticas emanadas de Vila Rica, a capital da capitania.

No século XIX, após a Independência do Brasil, essa polarização de São João Del Rei, Barbacena e Campanha, em estreita articulação com Vila Rica, começou a mudar, culminando em meados do século XIX com o deslocamento do pólo de São João Del Rei em direção a Juiz de Fora, Mar de Espanha, Leopoldina. Vila Rica, embora houvesse perdido sua superioridade com o esgotamento do ouro, manteve-se como sede da Província. São João Del Rei perdeu sua importância face ao pujante crescimento da moderna Juiz de Fora e ao café do sul de Minas.

179 Consta que, depois do ouro, na ‘fuga da mineração” de Vila Rica rumo ao sul de Minas, mudaram para a comarca “25 mil almas”. Esse número refere-se às pessoas que migraram de Vila Rica em direção ao sul de Minas após a decadência do ouro, em fins do século XVIII (1789) (FURTADO, 2002, p.88 e p.90).

Por volta de 1855, os fluxos interprovinciais da comarca passaram a convergir do sul mineiro e da Mata mineira em direção ao Rio de Janeiro e a São Paulo. As áreas cafeeiras de São Paulo e Rio que faziam limite com a comarca eram: as vilas paulistas de Areias, Bananal, Lorena e a fluminense Resende. As polarizações mudaram, mas rede urbana da comarca é uma permanência: mudou de hierarquias, mas permaneceu se expandindo.

Rodarte (1999, p. 31-34180), retomando a ideia da centralidade, em Christaller

(1966), associada aos métodos de análise classificatória de ‘clusters’; e Everittt (1986), que entendeu que, numa dada rede urbana, cria-se agrupamentos humanos, podendo ser analisados conforme técnicas de hierarquia, técnicas de otimização, técnicas de densidade, técnicas de ‘clumping’181.

Rodarte estudou as comarcas mineradoras mineiras e apontou que a hierarquia dos pólos urbanos nasce da sua maior importância no lugar; aplicou formulações para formar grupos urbanos com altíssima similaridade e fez junções.

Estudou também a movimentação da população entre os lugares centrais de uma região e estabeleceu tipologias de núcleos maiores e menores, cuja polarização tem uma relação de interdependência e também uma relação entre os fluxos econômicos e as estruturas produtivas compreendidadas naquele território.

Assim, Rodarte, utilizando o método de cluster (conforme Método de Ward 182. RIBEIRO Et All., 2004. RODARTE, 1999, p. 96) chegou à definição dos principais núcleos da rede de cidades da Província de Minas Gerais, entre 1830 e 1870.

180 Ver: RODARTE, Mário Marcos Sampaio (1999), sobre o processo de ocupação demográfica na Província de Minas Gerais entre 1830-1870.

181 Clumping

aqui, neste contexto, se traduz como “agrupamento”. É um conceito tomado de empréstimo da área de pesquisa biológica sobre proteínas e doenças infecciosas, onde há uma rápida proliferação de elementos que precisam ser inibidos. Em Biologia, o desejável é uma inibição de proliferação – ‘binding inihibition’. O termo ‘biding’ significa conexão, enlaçamento, amarramento, adesão. No Urbanismo, no método de análise de ‘clusters’ é necessário medir o grau de conexão, de amarramento, de enlaçamento entre os núcleos urbanos, para se certificar se aquele núcleo urbano se encontra (ou não) conectado a um dado ‘cluster’. Buscando analogia da Biologia com o Urbanismo, estudiosos de ‘clusters’ entendem que o ‘binding’ é necessário para o sucesso de um ‘cluster’. ‘Cluster’ significa em português ‘cacho’- um ‘cacho’ de uvas, por exemplo, deve estar bem enlaçado, bem conectado... Em se tratando de ‘clusters’ em zonas de plantas comerciais, ou plantas industriais e zonas de plantas residenciais, é necessário, para o sucesso do ‘cluster’, que haja conexões entre essas plantas. Portanto o ‘binding’ é crucial para o sucesso de um ‘cluster’. No estudo de Rodarte (1999), foi medida a conexão dos núcleos urbanos mineiros no século XIX, em relação à polarização de Vila Rica, enquanto ali ainda havia ouro, comparando com o período depois da decadência do ouro. Rodarte concluiu que o ‘cluster’ de Vila Rica se desfez em fins do século XIX.

182 Ver: Método Ward de Agrupamento de Dados. Ver também Método Quantitativo de análise de Cluster. Em Urbanismo, o Método Ward é utilizado e teorias do “urban mosaic” (tecido urbano). O Método Ward mede a variância mínima de ligação entre núcleos de um ‘cluster’.

Rodarte obteve o seguinte resultado, organizado por níveis de centralidade: as cidades do ‘ouro amarelo’ e do diamante (Ouro Preto e Serro) perderam poder político, prestígio, negócios e população para as novas cidades do ‘ouro verde’ (QUADRO 05).

QUADRO 05- Níveis de centralidade dos principais núcleos da rede de cidades da Província de Minas Gerais no começo e no fim do século XIX

Período Nível de centralidade Núcleos da rede urbana 1831-1840 Nível de centralidade 1 Ouro Preto, Serro

Nível de centralidade 2 São João Del Rei, Barbacena, Campanha

1872

Nível de centralidade 1 Juiz de Fora, Mar de Espanha

Nível de centralidade 2 São João Del Rei, Campanha, Pouso Alegre, Baependi, Formiga, Serro Nível de centralidade 3 Ouro Preto

Fonte: Adaptado de Rodarte, 1999, p.92.

Após a decadência da extração do ‘ouro em metal”, já na fase do ‘ouro verde’, no período da pujança da fronteira cafeeira, o nível de centralidade mudou. “A partir de meados do XIX, Vila Rica perde sua superioridade inconteste”. (CUNHA, SIMÕES e PAULA, 2008, 2008, p. 22-23). Em 1872, Vila Rica passou ao ‘Nível de Centralidade 3’, conforme classificação de Rodarte, caindo da posição principal para o nível inferior. O que Rodarte (1999) chama de ‘nível de centralidade’ significa o conjunto de fluxos econômicos e suas estruturas produtivas concentradas no território.

No Quadro 02 vimos que a permanência de São João Del Rei, Campanha e Barbacena como ‘Nível de Centralidade 2’ nas duas análises (de 1831 a 1840 e a análise de 1872), ao passo que Juiz de Fora desponta em 1872 como ‘Nível de Centralidade 1’, em decorrência da ferrovia, dos investimentos na modernização das infraestruturas e da implantação de indústrias. Essas mudanças nos níveis de centralidade nos mostram que, ao longo de quarenta anos no século XIX, a estabilidade hierárquica das três cidades que eram rivais políticas (São João Del Rei, Barbacena e Campanha), no Império, não foi alterada, permaneceram sólidas mantendo-se em importância político-econômica na rede de cidades da Comarca.

No início da tese, havíamos discorrido sobre uma conceituação de ‘centralidade’ enquanto aquela do crescimento do tecido urbano por sobre as franjas

Para aprofundamento, ver exemplo prático de cálculos no artigo de Ribeiro e outros (2004). In: RIBEIRO, Luiz Carlos de Santana. NAHAS, Mariana Medeiros Pereira Leite Pedrosa. SIMÕES, Rodrigo Ferreira. AMARAL, Pedro Vasconcelos Maia do. Distribuição espacial da indústria

do lazer no Brasil. Artigo. Belo Horizonte: Cedplar/ UFMG, 2004, p.1-17. Disponível em:

http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/seminarios/ecn/ecn-

da cidade, adentrando na zona rural. Abordamos e conceito de ‘centralidades’

lefebvrianas. Prosseguimos nossa análise tendo como referência a ideia de

centralidade em Christaller, da hierarquia entre os pólos urbanos de um lugar.

Outra perspectiva sobre ‘centralidade’, na Comarca, é a do urbano como uma centralidade persistente, fruto de um padrão urbano socialmente construído. As nodalidades são centralidades que conseguem persistir.

As famílias que se fixam no urbano se organizam em ‘nodalidades’, transformando a geografia, dando sentido social e cultural ao lugar.

Segundo Soja (1993, p.282),

“[...] A nodalidade situa e contextualiza a sociedade urbana, dando uma forma material às relações sociais essenciais. Somente com uma centralidade persistente é que se pode haver cidades externas e urbanização periférica. De outro modo, não existe urbano algum”.

Para Soja, a expansão urbana é fruto de um padrão urbano socialmente construído a partir de sentidos advindos de centralizar e descentralizar, aglomerar e dispersar, formar e dissipar. Anthony Giddens (1984) 183 vê com clareza uma “[...]

geografia (urbana) multiestratificada de regiões nodais socialmente criadas e diferenciadas, alojadas em muitas escalas diferentes em torno dos espaços pessoais móveis do corpo humano e nos locais comunitários mais fixos dos assentamentos humanos.” (SOJA, 1993, p. 15).

A centralidade, nas nucleações urbanas da Comarca do Rio das Mortes, foi bastante expressiva no século XVIII, muito polarizada por São João Del Rei e sua relação direta com a capital mineira, Vila Rica. Dos XIX em diante, mudou essa noção de centralidade. Alternaram-se ritmos de centralização e descentralização. Quando Vila Rica perdeu seu lugar central com o fim do ouro, mudou também o direcionamento da expansão urbana. As nucleações que gravitavam em torno das áreas mineradoras do ouro se descentralizaram. As cidades passaram a ‘alastrar-se’ pelo território da Comarca, ao sabor do deslocamento da mineração para a agropecuária, ao sabor das ferrovias, nas fronteiras do café, ao longo de novas estradas e em plantas industriais das novas siderurgias que despontavam na região de Congonhas e Nova Lima, nos fins do XIX ...

183 GIDDENS, Anthony. The constitution of society outline of the theory of structuration. Cambridge: Polity Press, 1984. Citado por SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas : a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Antigos centros urbanos fundados na América Portuguesa, como as primeiras nucleações da Comarca do Rio das Mortes, e também a cidades oitocentistas são riquíssimas por evidenciar formas e funções urbanas e nos levam a questionar a maneira como hoje pensamos a cidade pós-moderna. Aldo Rossi (1995, p.22-23), em

Arquitetura da cidade, afirma que a cidade não é fruto exclusivo de um plano pré-

concebido, e sim acúmulo de camadas históricas sucessivas, complementárias. Nessas camadas históricas há sempre algo que persiste. Há algo de persistente na agregação das pessoas e na sua relação social que criou um ambiente onde foi possível a adesão de outras pessoas, vindas de fora, e o seu enraizamento na comarca. Há algo de persistente na fixação de pessoas em volta de uma capela católica ou outro ‘santuário’ 184. Há algo de persistente na vigilância cívica coletiva e no

controle do povoamento que moldou a geografia humana das cidades e seus processos geradores.

Quais seriam, então, os processos geradores que estão por trás da urbanização na Comarca do Rio das Mortes?

A expansão urbana desenvolvida nos séculos XVIII e XIX foi marcada por processos de dispersão e concentração, por centralização e descentralização. A mineração do ouro provocou processos de concentração urbana, mas também causou dispersão, quando os mineradore resolveram reinvestir em fazendas na Comarca.

As mudanças nos níveis de centralidade, conforme o raio de ação de uma atividade econômica, mostram-nos que, ao longo do século XVIII e século XIX, ocorreu também centralização (em torno do ouro) e descentralização (com o declínio do ouro). Diríamos que no fim do século XIX, os lugares que permaneceram centrais na Comarca do Rio das Mortes foram os seguintes: Juiz de Fora e Mar de Espanha, em maior grau, eSão João Del Rei, Campanha, Pouso Alegre, Baependi, Formiga, em posição imediatamente a eles secundária.

184 A fixação populacional em localidades onde havia uma fundação eclesial (templo religioso, que podia ser uma capela, uma igreja, uma matriz, ou ermida) nos remete à função do

santuário como símbolo comunal, como símbolo de uma comunidade católica de imigrantes

que ali iniciava uma nova história de vida em inóspitas terras americanas. O “santuário” (sobretudo a igreja e seu cemitério) sempre teve o poder, junto à população católica da comarca, de “[...] trazer à tona o pré-consciente e o inconsciente coletivo. [...]” A capela, a igreja, o cemitério católicos foram (na comarca) símbolos genuínos da fé cristã dos primeiros povoadores. Ali era o lugar do rito cerimonial. Ali era o lugar onde as pessoas buscavam inspiração espiritual. Era o lugar onde as pessoas compartilhavam a responsabilidade individual com os outros membros da mesma comunidade cristã, com os irmãos das irmandades, com os membros das ordens terceiras. Era o lugar onde as pessoas se sentiam empoderadas para criar uma nova visão de mundo no Brasil dos séculos XVII-XVIII. Adaptado de: MAY, Rollo. A coragem de criar. 11. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1975.p .107-8.

Assim, à medida que o século XIX avançava, outros pólos surgiram por força de mercados internos provinciais oitocentistas, como o do café, do couro, do fumo, do açúcar e, em fins do século XIX, sob impacto das ferrovias.

As novas polarizações internas no Dezenove na Comarca mudaram em decorrência da expansão da fronteira cafeeira e das demais fronteiras agrícolas, do fortalecimento do comércio com a praça do Rio de Janeiro, com o redirecionamento da mineração na Comarca, com a implantação de forjarias em direção a Congonhas e Morro Velho e com o início da industrialização em Minas. A expansão ferroviária em direção ao centro-oeste, rumo a Goiás, também incidiu num vetor de expansão urbana significativo, com o fortalecimento de núcleos urbanos ao longo da EFOM.185

O território da Comarca chega, ao século XXI, como uma rede urbana densa, conformada por 317 municípios, com predomínio de cidades menores de 20.000 habitantes.

A Tabela 04 aponta o número atual de municípios, indicando qual o percentual de municípios atuais se localizam no território da antiga Comarca do Rio das Mortes. Podemos observar que muitos nomes das microrregiões aqui apontadas são nomes de núcleos urbanos que tiveram papel de centralidade no XVIII e XIX.

A Figura 07 mostra o mapa de Minas Gerais por Mesorregião e Microrregião, correspondentes ao antigo território da Comarca. (Ver, também, listagem de Municípios contidos no território da antiga Comarca do Rio das Mortes conforme mesorregiões geopolíticas do IBGE -2010, em Anexo). Neste mapa assinalamos o contorno aproximado do território da antiga Comarca do Rio das Mortes.

185 A Estrada de Ferro Oeste de Minas foi construída em 1881 e ligava Antônio Carlos a Barra do Paraopeba. Os núcleos urbanos que cresceram com a ferrovia foram: Sítio, Barroso, Prados, Bom Sucesso, Rio Vermelho, Lavras, Oliveira, Claudio, Tamanduá, Divinópolis, Pitangui, Velho da Taipa, Paraopeba. (SANTOS, 2009, p. 118).

Tabela 04- Resumo da comarca tomando por base a classificação do IBGE- 2010

MESORREGIÃO MICRORREGIÃO

MUNIC.