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48 fundações - 1 arraial, 25 vilas, 1 vila e presídio, 1 freguesia civil, 1 município e cidade, 1 município e vila, 2 municípios, 2 distritos, 13 desmembramentos, 1 mudança de denominação, 1 quilombo.

Fonte: Dados organizados pela autora, 2015. Adaptados a partir de Menezes (1936), Trindade (1945), Costa (1979), Barbosa (1995).

O resultado da compilação da Tabela 06 acima nos mostra 48 fundações civis na comarca em estudo, entre 1711 e 1891.

3.5 A expansão da rede judicial

Nos séculos XVIII e XIX, a organização do Poder Judiciário em Minas resultou na criação das Comarcas, dos Juizados Municipais, dos Juizados de Paz, na Polícia e Presídios (quartéis de guardas militares)212, entre outros.

A implantação das quatro primeiras comarcas mineiras (Vila Rica, Sabará e Rio das Mortes, em 1714, e Serro, em 1720) ocorreu quando a Coroa portuguesa intensificou a estratégia de controle geopolítico sobre a América Portuguesa, recrudescendo os instrumentos de repressão sobre a nascente sociedade mineradora local. A rede urbana que ali se estruturava era o lugar onde esse controle mais se evidenciava.

A expansão da rede judicial brasileira, em especial na Comarca do Rio das Mortes, deve ser relacionada às reformas judiciárias implementadas em Portugal no século XVIII e início do século XIX, as quais tiveram importantes repercussões em Minas Gerais. Ao final do XIX, a lentidão dos processos de titulação urbana no Brasil e a morosidade da Justiça forçaram Portugal a traçar projetos de reforma judiciais metropolitanos, à luz de ideias modernizadoras, liberalizantes. Na época do Ministro Martinho de Mello e Castro213, implantou-se em Portugal a Lei da Reforma das Comarcas (de 1790), parte do projeto iluminista português de reforma judiciária do

Reino, que teve claras repercussões em Minas, bem como na Comarca do Rio das Mortes, durante o longo processo de criação da vila de Campanha (cuja titulação começou por volta de 1741 e se estendeu até 1798), e da vila de Paracatu (criada em 1798).214

212 Entendemos que Presídios no período analisado, eram instituições militares e não judiciais. No entanto, por não serem, de forma alguma, da rede eclesial, nem tampouco da rede civil, optamos por encaixá-los no cômputo das fundações da rede judicial (até mesmo porque, no século XX, viriam a ter tal destinação). Essa classificação pode parecer um tanto anacrônica, mas é a que mais se aproxima para fins de contagem (Nota da autora, 2015). 213 Martinho de Mello e Castro foi um diplomata e político português que desempenhou cargos de grande relevo nos reinados de D. José I e de D. Maria I e que se notabilizou como reformador do sistema colonial português quando exerceu as funções de secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1770 e 1795. Foi primeiro-ministro da Rainha D. Maria I.

214 Campanha foi elevada a freguesia pelo Bispado do Rio de Janeiro (em 1741). A condição para a criação da vila de Campanha adveio do seu prestígio político junto ao Visconde de Barbacena, governador de Minas. Campanha viria a rivalizar com São João Del Rei pela disputa da cabeça da Comarca do Rio das Mortes, porém essa mudança não ocorreu. Campanha teria sido cotejada por Varnhagen em 1851 para vir a ser a capital mineira de uma

O amadurecimento político do país passando da Colônia, ao Império e à República, no trajeto da progressiva descolonização e irreversível separação de Portugal, apoiou-se numa lenta construção da estruturação da Justiça no Brasil, cujas instituições sempre sediavam em núcleos urbanos. Quanto mais importante o núcleo urbano se tornava, mais aparato Judiciário, Militar e Comercial ali se instalava. Percebe-se a clara relação entre a hierarquia da rede urbana e a hierarquia do Judiciário.

Vejamos, a seguir, algumas considerações sobre o amadurecimento da Justiça brasileira e seus reflexos na rede judicial (urbana) da Comarca do Rio das Mortes.

Na comarca em estudo, em sua longa duração (1714-1791), houve grandes mudanças administrativas de governo: de 1714 a 1823 tem-se o Governo Colonial; de 1824 a 1888, o período Imperial, no qual Minas foi submetida ao Governo Provincial; de 1889 a 1892, já nos encontrávamos no regime Republicano, no Governo Provisório (em Minas, o Governador era, então, Afonso Pena)215.

À medida que entidades jurídicas, militares e comerciais ancorassem postos na rede urbana nascente, e quanto mais se reforçasse o sistema Judiciário, tanto mais se organizavam os núcleos urbanos para absorver a sua rotina de funcionamento, criando ali estruturas administrativas de apoio. Havia um imbricamento entre a rede judicial e a rede civil, no urbano, que se fez presente na Comarca desde o século XVIII: quanto mais aparato jurídico se instalasse em determinado assentamento

humano, mais importância sócio-política ele adquiria, atraía mais habitantes e a

população local sentia que havia seu ‘reconhecimento oficial’, ainda que houvesse ali precariedade urbana.

As anotações seguintes partem da sinopse de estudo feito pelo jurista Ives Gandra da Silva Martins Filho (1999) sobre a evolução histórica da estrutura judiciária brasileira216. No século XVI, a Justiça Brasileira se fazia por meio do Ouvidor Geral

(lotado na Bahia), a quem os Ouvidores das Comarcas (em cada Capitania) recorriam para solução das contendas nas vilas. Em cada Comarca, o Corregedor era a

proposta de reordenamento territorial brasileiro com repartição das províncias, a proposta foi apresentada por Varnhagen a Dom Pedro II, mas não foi aprovada nem posta em prática no Império (Nota da autora).

215 Detalhando a periodização dos governos mineiros, temos: 1693 a 1709, a Capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. De 1710 a 1717, temos a Capitania de São Paulo e Minas Gerais. De 1720 a 1814, a Capitania Independente de Minas.

216 MARTINS Filho, Ives Gandra da Silva. Evolução histórica da estrutura judiciária brasileira. Revista Jurídica Virtual, v.1. N. 5. Set., 1999. Disponível em:

autoridade superior ao Ouvidor da Comarca, que, por sua vez, comandava o Juiz Ordinário e o Juiz de Fora217 . O primeiro Tribunal Brasileiro foi instalado na Bahia, em

1609. Em 1734, criou-se o segundo Tribunal Brasileiro no Rio de Janeiro, para desafogar o excesso de processos e absorver as demandas do Sudeste da América Portuguesa. A Comarca do Rio das Mortes, desde o terceiro quartel dos XVIII, passou a se reportar à Relação do Rio de Janeiro, tal como era nomeado o tribunal fluminense.

Aos poucos, foi-se estruturando a Justiça no Brasil, com a criação das Cortes da Bahia e do Rio. Era importante também a presença, no mundo urbano em expansão na América portuguesa setecentista, dos tribunais e juizados especializados: as Juntas Militares e seus Conselhos de Guerra, as Juntas da Fazenda e as Juntas do Comércio.

As pequenas causas cíveis, de localidades com até vinte famílias, eram geridas pelo Juiz de Vintena. Essa instância, mais próxima do cidadão, era parte do Juizado de 1ª Instância, do qual também faziam parte o Juiz Ordinário, eleito na localidade, para causas comuns. Além destes, o terceiro era o Juiz de Fora, nomeado pelo rei, para aplicar leis gerais. O Juizado de 2ª Instância era composto pelos tribunais da Bahia (onde estavam os Desembargadores) e no Rio de Janeiro.

No Governo Colonial, o Brasil já possuía uma rede de tribunais próprios, mas, eventualmente, era preciso que os magistrados recorressem a “Instâncias recursais derradeiras instaladas em Portugal” (MARTINS Fº, 1999, s.p.). Caso houvesse necessidade de apelar para Portugal, em Lisboa encontrava-se o Juizado da 3ª Instância, organizado em três esferas: a Casa de Suplicação, para apelar sobre uniformização da interpretação do Direito Português em relação à Metrópole e suas Colônias. Havia também o Desembargo do Paço, que era o tribunal de “graça e clemência para os casos de pena de morte” (MARTINS Fº, 1999, s.p.) e a Mesa da

Consciência e Ordens, que era regida pelo Direito Canônico para as questões

religiosas e de consciência do rei. A Mesa foi criada, em 1532, por D. João III, para orientar o regime do Padroado e a Missionação nas Colônias de África, Brasil e Índia, realizar batismo de escravos e provimento de bispados ultramarinos, tendo influência direta na estrutura eclesiástica implantada nos assentamentos humanos da Comarca do Rio das Mortes, cuja estrutura eclesial sempre foi expressiva.

217 A Comarca do Rio das Mortes teve um Juiz de Fora que deu nome à cidade criada à

Com a vinda da família real para o Rio de Janeiro, em 1808, muita coisa mudou. Em 1808, o Tribunal do Rio passou a ter mais importância para os mineiros que o de Salvador e os de Lisboa. A proximidade do Rio com a cabeça da Comarca deslocou para São João Del Rei um direcionamento de melhorias, que logo se fizeram sentir em seu fortalecimento jurídico e no aprimoramento de suas redes eclesial, civil e judicial.

As jurisdições especializadas que aqui se instalaram eram a militar, da Consciência e Ordem, o Juizado Conservador da Nação Britânica em terras brasileiras (funcionou de 1808 a 1831), a Intendência Geral da Polícia e a Junta Comercial, que foram instalados no Rio.

Quando a Constituição de 1824 deu nova feição à Justiça Brasileira, no período Imperial, entre 1828 e 1832, houve notável progresso, sobretudo com a promulgação do Código Criminal de 1830, que ainda mantinha a pena de morte, porém julgava os crimes no ‘Juízo de Jurados’, inspirado no modelo inglês – esse período corresponde à estreita aproximação de Portugal e Inglaterra, contra os franceses bonapartistas. Entre 1808 e 1849, foram desmembradas mais três comarcas da Comarca do Rio das Mortes: a de Lavras (1833), a do Rio Grande (1839) e a do Rio Verde (1839).

No período Regencial (1831- 1840), a “universalização da judicatura”, devido à menoridade de D. Pedro II, além da criação das três comarcas já citadas logrou a implantação de diversas modalidades judiciárias, que alcançaram a rede urbana da Comarca do Rio das Mortes: o Juiz Municipal, escolhido pelo Presidente da Província dentre uma lista tríplice da Câmara Municipal; o Juiz de Paz, eleito pela população da cidade ou vila; e o Juiz de Direito, nomeado pelo Imperador (em substituição ao extinto Juiz de Fora), para atuar como Chefe de Polícia.

Além desses, a partir da promulgação do Código Comercial de 1850, no Rio, Pernambuco e Bahia, os Tribunais de Comércio eram o foro privilegiado para os comerciantes. Entre 1850 e 1869, foram desmembradas da Comarca do Rio das Mortes mais cinco novas comarcas: Três Pontas (1850), Rio Pomba (1850), Jaguari (1855), Baependi (1855) e Muriaé (1855).

Em 1873, foram criados mais sete Tribunais de Relação no Brasil, sendo um em Ouro Preto, no qual foram lotados sete novos Desembargadores, evidenciando o prestígio político de Minas Gerais no Império e já prenunciando a preparação jurídica para a futura transferência da capital mineira. Entre 1870 e 1891, houve um “boom” de novas comarcas. No território da ‘comarca-mãe’, foram criadas outras 47, a grande maioria instituída em 1891. Com a Constituição de 1891, republicana, foram criados os

Tribunais Federais de Justiça, alguns em Minas Gerais. Com a reorganização do sistema judiciário no Brasil, extingue-se a velha Comarca do Rio das Mortes, que atualmente passou a se chamar Comarca de São João-del-Rei, nos novos tempos republicanos.A Comarca do Rio das Mortes foi, portanto, subdividida em outras 55 comarcas como veremos na Tabela 07 a seguir, articuladas ao longo dos tempos conjunturais das sete ondas de expansão urbana, propostas como periodização218.

Tabela 07- Rede judicial na comarca- 1711 a 1891

Conjuntura Ondas de expansão Fundações da rede judicial na Comarca do Rio das Mortes

Rede judicial (1711-1730)

1ª onda de expansão urbana 1 Comarca do Rio das Mortes (1714).

Rede judicial (1731-1744)

2ª onda de expansão urbana Nenhuma fundação judicial na comarca.

Rede judicial (1745-1760)

3ª onda de expansão urbana Nenhuma fundação judicial na comarca.

Rede judicial (1761-1807)

4ª onda de expansão urbana Nenhuma fundação judicial na comarca.

Rede judicial (1808-1849)

5ª onda de expansão urbana 1 presídio; 3 comarcas (Juiz de Fora/ 1833.Lavras/ 1833, Rio Grande/ 1839; Rio Verde/ 1839); 2 Distritos de Paz.

Observação- A Comarca do Rio Grande foi extinta e não foi computada.

Rede judicial (1850 a 1869)

6ª onda de expansão urbana 5 comarcas

Rede judicial: 1870- 1891

7ª onda de expansão urbana 47 comarcas, 1 distrito de paz

SOMATÓRIO