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5 HUMOR NA ESCOLA

5.4 ANÁLISE TEXTUAL

Camargo (2013) considera a análise textual como uma análise de dados feita a partir de um material verbal transcrito. As entrevistas transcritas tiveram um tratamento de linguagem para que pudessem ser lidas pelo software estatístico IRAMUTEQ, tendo as separações por entrevistado e por resposta, conforme descrito no capítulo que tratou do método.

O corpus geral foi constituído de 47 textos, separados em 146 segmentos de texto (ST), dos quais foram aproveitados em análise 106, o que corresponde a 72,6% do corpus. Percentuais superiores a 70% de retenção indicam a fidedignidade da classificação. Foram constatadas 4.969 ocorrências (palavras, formas ou vocábulos), das quais 1.169 palavras distintas. O conteúdo analisado foi categorizado em 6 classes: classe 1, 15 ST (14,2%); classe 2, 15 ST (14,2%); classe 3, 18 ST (17%); classe 4, 19 ST 17,9%; classe 5 17 ST 16%; e classe 6, 22 ST (20,75%). Para efeitos das análises, foram desconsideradas as palavras que apresentaram o teste qui-quadrado de Pearson inferior a 3,80% (p<0,05).

O IRAMUTEQ disponibiliza a classificação de Reinert na aba "Análise de texto". A partir desse recurso foram encontradas 6 dimensões ou classes. A figura 4 apresenta as classes e a proporção explicativa dos dados. Conforme Camargo (2013), cada classe possui segmentos de texto que apresentam vocabulários

semelhantes entre si e diferentes dos segmentos de texto das outras classes. O dendrograma apresentado nesta figura apresenta a classe 1 como distinta das demais. As classes 4 e 5 formam um agrupamento. As classes 6, 2 e 3 formam mais dois agrupamentos, sendo que as classes 2 e 3 compõem um mesmo agrupamento:

Figura 4 - Dendograma das classes da análise textual das entrevistas dos docentes

Fonte: Composição feita em análise estatística com o uso do software IRAMUTEQ, por Lamóglia e Boneti (2019)

As principais palavras empregadas em cada classe estão representadas na Figura 5 organizadas pelo critério de correlação. Nessa representação é possível perceber os entrelaçamentos entre agrupamentos que são considerados pelo IRAMUTEQ como classes correlacionadas, como ocorre nas classes 4 e 5, representadas pelas cores azul claro e azul escuro. As cores correspondem às classes da figura 4:

Figura 5 - Principais palavras empregadas em cada classe

Fonte: Composição feita em análise estatística promovida com o uso do software IRAMUTEQ, por Lamóglia e Boneti (2019)

Na representação da figura 5 é possível notar as palavras selecionadas estatisticamente, cujo tamanho e proximidade são critérios de análise interpretativa. Na cor cinza, as palavras "problema" e "intervenção", designadas na classe 2, apontam para um fato que contribui para que o professorado não utilize como poderia o humor em sala de aula. A palavra "professor" se situa na classe 2, mas a sua proximidade com a importante palavra "recurso" permite fazer essa interpretação. O entrevistado 5 menciona que o humor "é um recurso que bem utilizado pode fazer toda a diferença". Uma interpretação da inflexão empregada no pronunciamento da expressão "bem utilizado" remete a uma certa desconfiança, em

que é possível extrair a possibilidade de haver situações do humor ser mal utilizado. Essa é mais uma questão do problema da intervenção docente por meio do humor no ambiente escolar.

Na figura a seguir, o dendograma do tipo filograma estabelece uma sequência de palavras significativas empregadas para caracterizar cada classe:

Figura 6 - Filograma

Fonte: Composição feita em análise estatística promovida com o uso do software IRAMUTEQ, por Lamóglia e Boneti (2019)

A figura 6, que traz o filograma, apresenta as classes obtidas pelo método de Reinert, conforme explica Camargo (2013). As seis classes são estatisticamente diferentes entre si por conta do conteúdo analisado pelo software IRAMUTEQ. no entanto, apenas a classe 1, de cor vermelha, não é considerada uma classe que compartilha características comuns com as demais suficientes para apresentar ramificações. A classe 1 é nominada no Quadro 11 como "Cidadania, direitos e deveres". Nas demais classes nota-se a característica de formarem grupos de classes, sendo eles constituídos e nominados conforme o Quadro 10:

Quadro 10 - Grupos de classes

Grupo Classes

presentes Cores

Ambiente escolar e cidadania 1, 2, 3, 4, 5 e 6 Todas

Ambiente escolar 2, 3, 4, 5 e 6 Cinza, verde, azul claro, azul escuro e rosa

Dificuldades e problemas 2, 3 e 6 Cinza, verde e rosa

Humor problema/prejudicial 2 e 3 Cinza e verde

Humor contribui para o clima escolar saudável

4 e 5 Azul claro e azul escuro

Fonte: Nomeação de grupos de classes feita a partir do dendograma. Lamóglia e Boneti (2019)

A nominação de grupos se deu por uma análise feita pelo pesquisador, ao notar as palavras significativas que o software IRAMUTEQ relacionou em cada classe e os agrupou conforme a figura 6.

O grupo constituído pelas classes 1 a 6 foi nominado "Escola, sociedade e cidadania"; o grupo 2, 3, 4, 5 e 6 traz características da "Escola e sociedade"; o grupo 2, 3 e 6 se refere a "Dificuldades e problemas", sendo o grupo 2 e 3 nominado "Humor problema/prejudicial". Nas classes 4 e 5, de cores azul claro e escuro, verifica-se a característica comum do humor contribuir para o clima escolar saudável. E isso leva essas classes a serem consideradas como subdivisões de origem comum. O que diferencia a classe 4 da 5 é que na 4 o humor é considerado enquanto possibilidade de descontrair e mobilizar a atenção, enquanto na classe 5 ele se relaciona mais à capacidade de promover a socialização.

Por meio da aba Typical Text Segments (TTS) do Iramuteq, foram estudados os segmentos de classe para se nomear cada uma delas:

Quadro 11 - Nomeação de classes e grupos de classes

Classe/grupo Cor Nomeação

1 vermelha Cidadania direitos e deveres

2 cinza Problema de como usar o humor em aula

3 verde Humor prejudicial na sala de aula

4 azul claro Humor descontrai e desperta a atenção na aula 5 azul escuro Humor proporciona socialização

6 rosa Humor é um recurso pessoal

Fonte: Nomeação das classes feitas a partir do dendograma por Lamóglia e Boneti (2019)

A classe 1, nomeada "Cidadania, direitos e deveres", encontra no entrevistado 5 um escore de 103,23, que assim discursou: "[a cidadania] é uma questão de

consciência dos seus direitos e deveres. Eu acho que isso é um bom começo da ideia de cidadania, você saber até onde você pode ir quando existe o espaço do outro."

O entrevistado 3 apresentou escore 101,98 para o seguinte segmento de texto: "e aí eles foram percebendo que a cidadania diz respeito a condições estruturais de vida. É mais do que é um direito que está lá impresso na Constituição. Ela diz respeito a um desejo, uma necessidade social e ela não é restrita a 1988."

Na classe 2, nominada "Problema de como usar o humor em aula", o entrevistado 4 apresenta um escore de 69,52 para o seguimento:

[...]ou mesmo porque eu deixo escapar algum preconceito meu de maneira que possa ser um pouco inconsciente da minha parte ou até que seja consciente, mas que eu desejaria não expressar e acabo deixando vazar porque o humor está muito perto dessa ideia do ato falho que vem quando estou mais espontânea.

Com o escore 69,25, o entrevistado 5 relata a respeito dessa perspectiva do problema de usar o humor no ambiente escolar:

Quando a maneira é boa, que a turma dá risada eu entro no jogo também, já emendo uma piadinha também. Agora, quando isso gera um tipo de mal estar ou porque o pessoal não gosta muito dele [do aluno] na turma ou a piada não é boa mesmo, eu fico um pouco constrangido.

O entrevistado 3, com escore de 65,35, revela que "não adianta você ficar rindo sozinho, porque isso às vezes acontece [...]"

Na classe 3, intitulada "O humor pode ser prejudicial em sala de aula", são condensados relatos que podem indicar a dificuldade de se utilizar o humor na escola. Esta característica fortalece a lógica da racionalidade, em que o humor não condiz com o ambiente escolar, pois ele pode perturbar a ordem, e não só por isso, pois nessa classe se inserem os riscos do humor estigmatizar, aprofundar desigualdades e promover preconceitos, entre outras possibilidades negativas.

O entrevistado 4, com escore de 69,52 traz a seguinte passagem que expressa a dualidade entre usar ou não usar o humor em sala de aula:

[...] o humor tem essa relação com a espontaneidade, de acabar ofendendo alguém com o que eu estou dizendo ou por ser mal interpretada, ou mesmo porque talvez eu deixe escapar algum preconceito meu de maneira que possa ser um pouco inconsciente da minha parte, ou até que seja consciente, mas que eu desejaria não expressar.

O entrevistado 5, com um escore de 69,25, diz que "[quando a piadinha] gera um tipo de mal estar [...] ou a piada não é boa mesmo, eu fico um pouco constrangido, gera um certo constrangimento".

Na classe 6, analisada antes das classes 4 e 5, notam-se aspectos relativos ao grupo 2, 3 e 6, daí se verificar as suas características nessa sequência. Nas palavras significativas observadas no filograma (figura 6), lê-se palavras a exemplo de "recurso, personalidade, interessar, mais, entender, etc". A conexão aparente entre elas parece conduzir a um discurso positivo, do humor enquanto recurso que possa levar a mais entendimento.No entanto, ao se verificar os segmentos de textos fornecidos pelo TTS da classe 6, nota-se a presença de uma ambiguidade, em que se fala do humor enquanto recurso sempre com alguma ressalva ou negação, a exemplo do entrevistado 5 com escore de 85,69, que refere: "não acho que [a pessoa] deva usar o recurso do humor. Tem que ter a ver com a pessoa, com um traço de personalidade".

A partir da classe 6, como forma de aprofundar o estudo estatístico, foi feita uma seleção das 13 palavras mais significativas estatisticamente. Em seguida, foi utilizada uma ferramenta nativa do IRAMUTEQ para se proceder uma análise do gráfico de clusters, utilizando-se o escore Pearson. Foram marcados os campos "comunidade" e "halo" para obter as correlações representadas na figura seguir:

Figura 7 - Clusters por escore Pearson da classe 6

Fonte: Composição feita em análise estatística promovida com o uso do software IRAMUTEQ por Lamóglia e Boneti (2019)

Da figura acima é possível se construir o seguinte discurso: humor leva a pensar; no entanto, ele é mais um traço de personalidade, que faz a gente entender algo sério e importante de um modo legal. O humor é um recurso que se pode utilizar para deixar tudo interessante.

Ao se considerar o humor enquanto traço de personalidade, aparentemente nega-se nele uma perspectiva de ensiná-lo como recurso a docentes de modo geral. Treinamento e formação docente para uso do humor é uma possível solução para o aspecto relacionado à classe 2 "Problema de como usar o humor em aula", que

atenta para o problema da intervenção feita com humor no ambiente escolar. O entrevistado 5, apontado pelo software como representativo da classe 6, menciona as seguintes passagens extraídas da análise TTS: "[...] o humor bem feito, autêntico [...] é um recurso que bem utilizado pode [...]". Nelas, nota-se que se há um humor bem feito, e bem utilizado; logo, tem-se a possibilidade do humor "mal feito" e "mal utilizado", o que remete às características "Dificuldades e problemas" que compõem o grupo 2, 3 e 6.

Na classe 4, em que se nominou "Humor descontrai e desperta a atenção na aula", emerge um conjunto de palavras que mostram as palavras "ajuda" e "gostoso", entre as de maior expressão. Ao final da figura 6, no filograma, lê-se a última palavra "agressivo", que nos perfis sequer consta das palavras da classe que possui como último vocábulo da lista "mundo", com chi2 de 2,25, portanto de baixa representatividade. O entrevistado 6 aparece como mais representativo e, em uma resposta com escore 68,63, diz: "às vezes a turma está dispersa e numa situação de humor todo o mundo quer participar". O entrevistado 4, numa resposta com escore 61,57, revela que "curto muito fazer meus alunos rirem para descontrair."

Na classe 5, nominada "Humor proporciona socialização", encontra no entrevistado 6 a seguinte fala, com escore 151,11: "normalmente eu busco participar da brincadeira. Eu acho o humor em sala de aula muito bem-vindo. Sempre procurei estabelecer uma pauta de humor em sala de aula". O entrevistado 3, com fragmento de escore 122,44 diz: "São várias formas de se expressar com o humor [...] e eles então fazem comentários e navegam junto com o teu humor [...] daí você tem o diálogo".

Outra possibilidade de se analisar as entrevistas é por meio da nuvem de palavras:

A nuvem de palavras as agrupa e as organiza graficamente em função da sua frequência. É uma análise lexical mais simples, porém graficamente bastante interessante, na medida em que possibilita rápida identificação das palavras-chave de um corpus.

Assim, por meio do método de nuvem de palavras, tem-se a palavra "humor" utilizada cem vezes, seguida de "não", com 81 incidências. "Aluno" conta com 32 incidências e "professor", 19. "Cidadania" aparece 23 vezes, conforme a figura adiante:

Figura 8 - Nuvem de palavras

Fonte: Nuvem construída com contagem de palavras por Lamóglia e Boneti (2019)

O humor aparece em maior destaque, o que faz sentido dentro de uma análise em que parte considerável das perguntas se refere a essa temática. O "não" parece expressar uma racionalidade da escola, em que a negação se apresenta como uma regra que traz em si um controle, a proibição, a repressão à espontaneidade e, como notado, ao humor e à própria expressão da individualidade do ser. A incidência do "não" também traz uma noção de norma de conduta, o que coaduna com uma escola que é racional, que "não" permite a felicidade, que é hierárquica e disciplinadora. A nuvem de palavras proporciona uma visão caracterizada pelas palavras que mais se repetiram no corpus, portanto não fornece dados relativos aos segmentos de texto que, nessa tese, são considerados como de maior relevância nessa análise qualitativa dos dados tratados pelo viés estatístico.

A análise de similitude, a partir da qual segundo Brígido Camargo (2013, p. 23) é construída a "árvore de coocorrências", gerou a figura adiante a partir do uso do recurso que compõe o software IRAMUTEQ:

Figura 9 - Análise de similitude: Árvore de coorrências

Fonte: Composição feita em análise estatística promovida com o uso do software IRAMUTEQ por Lamóglia e Boneti (2019)

O humor é apresentado como elemento central na análise de similitude. E as sete correspondências identificadas entre o humor e as formas que o circundam representadas pelas palavras de maior representatividade "achar, forma, aluno, mais, não, como e aula" são analisadas à luz do uso do recurso Typical text segment (TTS) do IRAMUTEQ.

O humor é circundado por palavras que expressam um sentido de que ele remete ao riso, ajuda a pensar e a entender o mundo, mas relaciona-se com agressividade, preconceito e desagregação. Algumas dessas passagens são encontradas nas entrevistas, como exemplifica o trecho do entrevistado 5: "[...] tem

as coisas do preconceito que estão afloradas por causa de outras coisas, eu acho que tem que ter mais cuidado com o humor que possa mexer nesses pilares."

O humor associado ao "achar", que se relaciona ao verbo "considerar" remete a uma narrativa dos entrevistados que poderia ser enunciada da seguinte maneira: os docentes consideram o humor como algo importante, que remete a brincadeiras e acham importante saber lidar com ele. Consideram também que ele possui uma relação com o binômio direito/dever e que ele corresponde à cidadania prevista na Constituição, além de fazer parte do convívio social. No entanto, não se verifica nenhuma palavra nesse campo analisado que remeta ao ambiente escolar. Fala-se da importância, relacionam-se as expressões cidadania, constituição, direitos e deveres, mas nada relacionado à escola, à sala de aula, à relação entre professor e aluno.

O entrevistado 5 ilustra essa composição quando questionado se percebe uma relação entre o humor e a cidadania:

Eu acho que as questões que se discute hoje sobre cidadania, sobre direitos, sobre deveres, política, se fosse trabalhado com uma dose um pouco maior de humor, as coisas seriam, além de mais fácil entendimento, as pessoas se interessariam mais por isso. (ENTREVISTADO 5)

O humor, enquanto forma de transmitir conhecimento contribui para a democracia; no entanto, as palavras "humor", "como" e "professor" aparecem conectadas, o que leva a perceber um óbice ao uso do humor em sala de aula: como fazê-lo? Esta análise corresponde à classe 2, "Problema de como usar o humor em sala de aula" da classificação feita pelo método de Reinert. Os entrevistados 4, 5 e 3 referem a situações inconvenientes que podem ocorrer em sala de aula envolvendo o humor, entre elas expressar preconceito, gerar mal estar e ficar rindo sozinho.

Correlato da problemática relativa a como o professor maneja o humor em sala de aula, está o conjunto que apresenta a relação entre humor e aluno, e entre esse e intervenção, problema e educar. Da mesma forma, humor se correlaciona a sala de aula e a conteúdo. A relação entre eles permite construir a seguinte frase: "Há um problema na intervenção por meio do humor na educação do aluno, ainda que se seja possível usar o humor para transmitir conteúdo em sala de aula."

O humor faz parte do mundo da vida e essa relação aparece quando se verificam as palavras "mais", "espontâneo" e "gente" relacionadas. Disso pode se analisar que o humor torna a gente mais espontâneo.

No núcleo faltante, em que o humor possui uma forte correlação com o vocábulo "não", tem-se outro subconjunto. Dessa forma pode-se analisar que ao se negar o humor, nega-se a expressão da vida, mas essa negativa permite falar sério.

Um questionamento fica com essa última assertiva: de onde se origina a ideia de que não é possível falar algo sério por meio do humor? Quiçá a resposta se relacione aos fundamentos da racionalidade.

As possibilidades que parecem mais contribuir para essa tese poderiam ter outras perspectivas de análises; no entanto, ao se construir essa árvore de coocorrências, observou-se a dificuldade que existe dos docentes de lidar com o humor e com as situações de humor no ambiente escolar. A dicotomia do humor bom/mal é notada na medida em que o humor traz possibilidades de mais espontaneidade, de se relacionar com a brincadeira, de ser importante e de ser, ao mesmo tempo, relacionado a problema a ser negado em nome da seriedade.

Esta seriedade que emerge do discurso dos docentes entrevistados reforça um pressuposto da racionalidade, em que o humor pouco ou em nada agrega para finalidades cartesianas que interessam a uma educação meritocrática, que valoriza mais a formação para o trabalho do que para o exercício da cidadania.

É possível notar que há subsídios para dizer que humor não é melhor empregado no ambiente escolar porque carece de método, de formação docente para o seu emprego benéfico nos propósitos de aprendizagem e demais aplicações em sala de aula.

As teorias do humor podem ser observadas em alguns trechos das entrevistas, o que dá sentido ao fato de caracterizá-las no contexto das teorias clássicas e contemporâneas. Para uma melhor compreensão do humor no ambiente escolar pode-se verificar as contribuições de cada uma delas. Por exemplo: algumas das faces negativas do humor em sala de aula podem ser melhor compreendidas quando se verificam características da Teoria da Superioridade. Isso contribui para definir estratégias de gestão de conflitos, por se notar a presença de uma intenção de um sujeito afirmar o próprio valor em comparação à imperfeição do outro.

Numa das passagens, entrevistado 3 disse: “[O humor] é importante e às vezes, necessário. E o humor sobretudo no grupo. Quando ele é feito no grupo e cria uma rede aí é porque ele aconteceu mesmo”. A resposta considera o aspecto da socialização que o riso promove, como propõe Bergson (1983). O entrevistado 1 menciona que “não há intervenção que atrapalhe”, com ou sem humor, e isso parece demonstrar que o docente se sente à vontade com as manifestações de humor. No entanto, isso é dito no ambiente de entrevista e não há garantia de que o comportamento do educador em sala de aula expresse, em sua linguagem verbal e não-verbal, uma prática associada a seu discurso.

As entrevistas foram tratadas enquanto dados pelo software estatístico IRAMUTEQ, mas a interpretação dos dados coube ao pesquisador com o apoio dos teóricos estudados.