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As teorias a respeito do humor procuram situá-lo no que tange à temporalidade, ao que provoca o riso, às maneiras de conceber o humor e o riso ao longo dos séculos. Nenhuma teoria parece conseguir esgotar o tema e estabelecer um consenso a respeito do que seria o humor em termos de conceitos, fundamentações, usos e até mesmo no próprio sentido dele na vida das pessoas e das instituições.

Morreall (1987) apresenta a classificação das teorias do humor em duas categorias: teorias tradicionais do riso e do humor e teorias contemporâneas do riso e do humor. Nas teorias tradicionais, contribuíram diversos pensadores, dos quais este autor destaca: Platão, Aristóteles, Cícero, Thomas Hobbes, René Descartes, Francis Hutcheson, David Hartley, Immanuel Kant, Arthur Shoppenhauer, William Hazlitt, Soren Kierkegaard, George Santayana, Herbert Spencer, Sigmund Freud e Henri Bergson. Dentre os pensadores que fazem parte das teorias contemporâneas estão John Morreall, Robert Latta, Michael Clark, Roger Scruton e Mike Martin.

Esta lista não se esgota nos nomes citados. Para efeito de caracterização de cada teoria clássica do humor, foram escolhidos ao menos dois autores de cada uma delas para compreender as suas bases. considerando, para tanto, a classificação oferecida por Morreall (2009) e os estudos de Provine (2000) acerca dos teóricos estudados.

Diversos outros pensadores também apresentaram contribuições para o humor e é importante destacar que o modo como cada qual concebia o humor e o riso não posicionava necessariamente tais temas como centrais em suas produções, mas como elementos periféricos dentro de uma construção de um pensamento. Alguns autores abordavam o riso sem a pretensão de construir alicerces teóricos para desvendá-lo. No entanto, suas considerações constituem um modo de conceber o humor e o riso que influenciou outros pensadores, constituindo assim correntes teóricas que proporcionaram uma visão sócio-histórica desses temas.

Platão (428-348 a.C.) é apontado por Provine (2000) como sendo quem enunciou a teoria do humor mais remota encontrada na filosofia. Assim referencia2:

Em sua [obra] República, Platão discutiu as consequências negativas de abandonar a nós mesmos para o riso violento. Para não corromper os jovens guardiões em treinamento de seu estado ideal, ele chegou a recomendar que a literatura fosse editada para excluir a menção de deuses ou heróis serem dominados pelo riso. (PROVINE, 2000, p.13)

2 Publicação original: "In his Republic, Plato discussed the negative consequences of abandoning ourselves to violent laughtes. So as not to corrupt the young guardians-in-training of his ideal state, he went so far as recommending that literature be edited to delete mention of gods or heroes being overcome with laughter." (PROVINE, 2000, p.13)

Enquanto objeto estudado pela filosofia, o humor e o riso referenciados desde Platão, como asseverou Morreall (1987, p.10), compreendem a diversão como uma emoção que pode levar à perda do controle racional, portanto, algo a ser evitado. Platão (2018) aborda o riso na obra Filebo, aludindo a uma possibilidade de humor baseada na relação entre a superioridade e a inferioridade. No fragmento a seguir é possível perceber que, embora a emoção decorrente do humor proporcione divertimento, este se dá por um contentamento destrutivo da condição inglória do outro:

Sócrates - E quando rimos, alegramo-nos ou sofremos? Protarco - É evidente que nos alegramos.

Sócrates - É alegrar-se com a desgraça do amigo, já não concluímos que é produto da inveja?

Protarco - Forçosamente.

Sócrates - Logo, sempre que rimos do ridículo dos amigos, diz nosso argumento que ao misturarmos o prazer com a inveja, misturamos prazer com dor, pois há muito já admitimos que a inveja é dor da alma, e o riso, prazer, vindo ambos a reunir-se na presente conjuntura. (PLATÃO, 2018, p.56)

Ao se demonstrar contentamento com a desgraça alheia, o interlocutor reafirma a sua condição de superioridade. É uma falta de autoconhecimento do outro que o coloca numa condição de inferioridade, o que é percebido nesse termo comparativo a um padrão cuja diferença é notada por aquele que se julga superior, e acompanhada do riso3:

Em Filebo, Platão sugere que o que torna uma pessoa rir é o vício, especialmente a falta de autoconhecimento entre os relativamente sem poder. (Os poderosos foram mantidos em outros padrões). (PROVINE, 2000, p.13)

Em Aristóteles (384-322 a.C), é possível localizar o que Abbagnano (2007), considera como sendo a definição mais antiga do cômico, o que guarda uma relação umbilical com o que se verificou no pensamento de Platão. A mais antiga definição do cômico se relaciona ao “errado”:

O ‘errado’ como caráter do cômico significa o caráter imprevisto, porque irracional, da solução apresentada pelo cômico para um conflito ou uma situação de tensão. Essas ideias permaneceram substancialmente inalteradas na história da filosofia. (ABBAGNANO, 2007, p.153-154)

A visão de Aristóteles acerca do humor representa a raiz histórica de um olhar que categoriza o cômico como “errado” por transgredir o que é considerado racional, traduzindo um pensamento de que o que é racional é o “certo”, por opor-se ao errado. Esta noção parece não apenas ter sobrevivido ao longo da história da

3 No original: "In Philebus, Plato suggests that what makes a person laughable is vice, specially the lack of self-knowledge among the relatively powerless. (The powerful were held to other standarts)."

filosofia, mas a sua capilaridade impactou também a educação.

Evidentemente, também neste campo existe uma demasia e uma deficiência em confronto com o meio-termo. Os que levam a jocosidade ao excesso são considerados farsantes vulgares que procuram ser espirituosos a qualquer custo e, na sua ânsia de fazer rir, não se preocupam com a propriedade do que dizem nem em poupar as suscetibilidades daqueles que tomam para objeto de seus chistes; enquanto os que não sabem gracejar, nem suportam os que o fazem, são rústicos e impolidos. Mas os que gracejam com bom gosto chamam-se espirituosos, o que implica um espírito vivo em se voltar para um lado e outro; com efeito, tais agudezas são consideradas movimentos do caráter, e aos caracteres, assim como aos corpos, costumamos distinguir pelos seus movimentos. (ARISTÓTELES, 1991, p.93-94)

O riso é uma caraterística humana para Aristóteles, como Bevis (2013, p,20) enfatiza4: “Na tradição aristotélica, o homem é o animal que ri. Ou melhor, ele se

distingue dos animais pelo fato de poder rir. Homo ridens é o homem pensante". O homem pensante é aquele cujo pensamento está assentado na racionalidade defendida por Aristóteles e esse é o homem que ri. Aparente contradição?

Uma das possibilidades do humor é declarada inimiga da racionalidade aristotélica. Tal consideração, conforme assentada em Aristóteles (1991, p.93-94) aponta para a primeira dicotomia entre o riso saudável e o não-saudável. A noção do que é saudável parece ir para um caminho da espirituosidade ou, como disse o filósofo no fragmento supracitado: “os que gracejam com bom gosto”. A distinção também pode ser percebida na seguinte passagem:

Não é, porém, difícil descobrir o lado ridículo das coisas, e a maioria das pessoas deleitam-se mais do que devem com gracejos e caçoadas; daí serem os próprios chocarreiros chamados espirituosos, pelo agrado que causam; mas o que dissemos acima torna evidente que eles diferem em não pequeno grau dos espirituosos. (ARISTÓTELES, 1991, p.94)

O espirituoso se distingue do chacorreiro. Esta é uma diferença entre Platão e Aristóteles notada por Provine (2000, p.15):5 “Aristóteles difere de Platão ao

acreditar que uma risada de bom gosto é algo desejável”. A distinção é percebida nesta passagem:

Esse é o homem que observa o meio-termo, quer o chamemos homem de tato, quer espirituoso. O chocarreiro, por outro lado, é o escravo da sua dicacidade, e para provocar o riso não poupa nem a si nem aos outros, dizendo coisas que um homem fino jamais diria, e algumas das quais nem ele próprio desejaria escutar. O rústico, por seu lado, é inútil para essa espécie de intercâmbio social, pois em nada contribui e em tudo acha o que censurar. Mas os lazeres e a recreação são considerados um elemento necessário à vida. (ARISTÓTELES, 1991, p.95)

4 No original: In the Aristotelian tradition, man is the laughing animal. Or, rather, he is distinguish from the animals by the fact that he can laugh. 'Homo ridens' is the thinking man"

5 No original: "Aristotle differs from Plato in believing that a little tasteful laughter is a desirable thing.” (PROVINE, 2000, p.15).

Aristóteles (1996) revela pistas importantes de seu pensamento sobre o humor ao tratar da comédia. Bevis (2013, p.93) esclarece que “Comédia não é sempre uma questão de riso”6. O humor, nesse raciocínio traz uma possibilidade da

reflexão, em que na comédia aludida por Aristóteles também estariam presentes as características da relação entre a superioridade e a inferioridade, remetendo o cômico ao feio, o que se contrapõe ao belo, o que é preferível em virtude da própria relação de superioridade:

A comédia, como dissemos, é imitação de pessoas inferiores; não, porém, com relação a todo vício, mas sim por ser o cômico uma espécie do feio. A comicidade, com efeito, é um desfeito e uma feiura sem dor nem destruição; um exemplo óbvio é a máscara cômica, feia e contorcida, mas sem expressão de dor. (ARISTÓTELES, 1996, p.35)

A imitação de pessoas inferiores em Aristóteles é comentada por Bevis (2013, p.64)7: “Na Poética (c.335 a.C), Aristóteles diz que a comédia é ‘uma imitação de

personagens de um tipo inferior’ (muitas vezes com um estilo de demóstico para combinar)” .

A tradição oral era bastante presente nesse período, por isso o orador e filósofo romano Cícero (106-43 a.C.) examinou o humor nos discursos públicos, abordando técnicas a exemplo do exagero, do sarcasmo e do uso de palavras que possuíam mais de um sentido. Provine (2000, p.17) referencia o humor na oratória e na retórica por Cícero e Quintiliano. Na mesma esteira do pensamento aristotélico, Cícero trouxe uma contribuição original relativa à distinção da piada que pode ter embasamento tanto em coisas que provocam o riso quanto na escolha das palavras:8 “[...] a distinção entre humor no que está sendo falado e humor decorrente

da linguagem usada.” (MORREALL, 1987, p.17)

Essas noções de que embasam uma relação entre a depreciação alheia conquanto se reafirma um autovalor superior recebeu o nome de “Teoria da Superioridade do humor”. Seu berço está assentado em Platão e Aristóteles e suas bases também foram corroboradas por Thomas Hobbes (Morreall, 1987, p.19). Cada qual com suas distintas contribuições, no entanto, mantendo a originalidade da existência de um binômio superior/inferior.

Em Leviatã, Hobbes (1651) afirma que o riso é apresentado como uma manifestação da nossa superioridade, não especificamente pelo nosso sucesso, mas que se diverte pelo fracasso alheio. Pode-se depreender que esta forma particular de concepção do riso se baseia num disputado jogo de forças em que a

6 No original: “Comedy is not always a laughing matter"

7 No original: “In the Poetics (c.335 BC), Aristotle says that comedy is ‘an imitation of characters of a lower type’ (often with a demostic style to match)”

8 No original: “[...] the distinction between humor in what is being talked about, and humor arising from the language used.”(MORREALL, 1987, p.17)

característica, por vezes obsessiva, das pessoas se autoafirmarem como melhores do que as demais, leva-as (ou nos leva) a exercer o riso como um indicador de uma ferramenta capaz de atestar a nossa superioridade diante da falência do outro.

Propp (1992, p.55) considera que "[...] o riso é provocado pela repentina descoberta de algum defeito oculto. Quando esse defeito não existe ou não o identificamos, não rimos.". A constatação, portanto, passa pela percepção de si mesmo, do outro e da comparação que fazemos entre as duas percepções.

A manifestação do riso, na Teoria da Superioridade, está relacionada a uma depreciação alheia, de conotação negativa, como alternativa às comparações que elevam a condição humana. O riso, nesse olhar, atesta a fraqueza e a falta de coragem de assumir as próprias limitações:

O entusiasmo súbito é a paixão que provoca aqueles trejeitos a que se chama riso. Este é provocado ou por um ato repentino de nós mesmos que nos diverte, ou pela visão de alguma coisa deformada em outra pessoa, devido à comparação com a qual subitamente nos aplaudimos a nós mesmos. Isto acontece mais com aqueles que têm consciência de menor capacidade em si mesmos, e são obrigados a reparar nas imperfeições dos outros para poderem continuar sendo a favor de si próprios. Portanto um excesso de riso perante os defeitos dos outros é sinal de pusilanimidade. Porque o que é próprio dos grandes espíritos é ajudar os outros a evitar o escárnio, e comparar-se apenas com os mais capazes. (HOBBES, 1651, p.25)

Hobbes (1997, p.53) chamou de erro quando se conjectura algo que precedeu qualquer coisa ou algo que a sucederia, sendo que tais hipóteses foram refutadas, seja para explicar o passado, seja para predizer fatos e acontecimentos. E ressalta que ao erro estão sujeitos até mesmo os mais prudentes. Para este filósofo, o erro não se confunde com o absurdo:

Mas quando raciocinamos com palavras de significação geral, e chegamos a uma inferência geral que é falsa, muito embora seja comumente chamada erro, é na verdade, um absurdo, ou um discurso sem sentido. (HOBBES, 1997, p.53).

O humor parece se situar no absurdo proposto por Hobbes. O fragmento a seguir propõe o que pode ser uma regra essencial da construção de uma piada, que pode ser considerada um desencadeador do humor e, eventualmente do riso:

E as palavras com as quais nada mais concebemos senão o som são as que denominamos absurdas, insignificantes e sem sentido. E, portanto, se alguém me falasse de um quadrado redondo, ou dos acidentes do pão no queijo, ou de substâncias imateriais, ou de um sujeito livre, livre-arbítrio, ou qualquer coisa livre, mas livre de ser impedida por oposição, não diria que está em erro, mas que as suas palavras eram destituídas de sentido, ou seja, absurdas. (HOBBES, 1997, p.53)

A contribuição de Hobbes para a Teoria da Superioridade é compreendida por Morreall (1987) por um prisma das disputas de poder, em que ocorre um monitoramento daqueles com quem nos comparamos e, ao identificarmos os elementos que reafirmam que somos melhores, vem à tona um regozijo, uma comemoração pela via do riso9:

Os seres humanos, na sua opinião, estão em constante luta uns com os outros pelo poder e pelo que o poder pode trazer. Nesta luta, o fracasso de nossos concorrentes é equivalente ao nosso sucesso. E assim estamos todos constantemente procurando por sinais de que somos melhores que os outros, ou, o que conta como a mesma coisa, que os outros estão em situação pior do que nós. O riso nada mais é que uma expressão de nossa súbita glória quando percebemos que, de algum modo, somos superiores a outra pessoa. (MORREALL, 1987, p.19)

Descartes também apresentou, dentro do que se enquadra na Teoria da Superioridade, as suas considerações relativamente ao humor na obra "As paixões da alma", trazendo uma explanação fisiológica do riso:

Art. 124. Do riso. O riso consiste em que o sangue que, vindo da cavidade direita do coração da veia arterial e enchendo súbito e repetidas vezes os pulmões, obriga o ar que eles encerram a sair com impetuosidade pela laringe, provocando sons inarticulados e vibrantes; e tanto os pulmões a encheram-se como o ar ao sair excitam todos os músculos do diafragma, do peito e da garganta, fazendo desse modo mover os do rosto que com eles têm qualquer conexão. E é apenas esta ação do rosto com esses sons inarticulados e vibrantes que constituem o riso. (DESCARTES, 2018, p.130)

Além dessa consideração, Descartes (2018) também escreveu acerca do humor enquanto ridículo. Provine (2000, p.21) analisa que Descartes não considerou o humor como forma de divertimento e, ao citar que existem seis emoções básicas, − maravilhamento, amor, ódio, desejo, alegria e tristeza − encaixa o humor nas categorias de "maravilhamento", "ódio" e "alegria". Na emoção revelada por Descartes (2018) como "wonder", dito "fascínio" em tradução livre, o humor foi considerado como uma surpresa diante de algo que é incongruente, o que fornece elementos para o que mais tarde nomeou como Teoria de Incongruência.

A Teoria da Superioridade também serviu como embasamento para as considerações sobre o riso propostas por Henri Bergson. Morreall (1987, p.119) esclarece que para Bergson o riso é estritamente humano e o componente social é valorizado10: “Por mais espontâneo que pareça, o riso sempre implica numa espécie

9 "Human beings, in his view, are in constant struggle with one another for power and what power can bring. In this struggle the failure of our competitors is equivalent to our success. And so we are all constantly watching for signs that we are better than others, or, what count as the same thing, that others are worse off than we are. Laugher is nothing but an expression of our sudden glory when whe realize that in some way we are superior to someone else." (MORREALL, 1987, p.19)

10 No original: “However spontaneous it seems, laugher always implies a kind of freemasonry, or even complicity with other laughers, real or imaginary.”

de maçonaria, ou mesmo uma cumplicidade com outros risos, reais ou imaginários.” O riso tem em suas possibilidades saudáveis humanizar, socializar e revitalizar as relações; no entanto, ele também pode induzir a sentimentos negativos e ser manejado com o propósito agressivo. E, ainda que não seja esse o propósito, ele pode ocorrer, pois o senso de pertencimento ou não a um grupo que ri junto pode concretizar essa possibilidade, como considera Lorenz (1966):

Segundo o etólogo Konrad Lorenz (1966), o riso desenvolveu-se provavelmente por ritualização, a partir de um movimento de ameaça reorientado. Com este, o riso faz faz imediatamente nascer entre os participantes um forte sentimento de camaradagem, junto com uma ponta de agressividade contra os que não fazem parte do grupo. (apud OTTA, 1994, p.32)

Bergson destacou o quanto o riso forma parte do processo de humanização, característica que também acontece no âmbito das relações sociais:

Já se definiu o homem como ‘um animal que ri’. Poderia também ter sido definido como um animal que faz rir, pois se outro animal o conseguisse, ou algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela característica impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele faz. (BERGSON, 1983, p.7)

Esta passagem de Bergson é referenciada por Morreall (2009, p.130), ao abordar o rico senso de humor dos existencialistas, em passagens que retratam o conflito entre o indivíduo e um grupo, como se verifica em Sartre: "O inferno são os outros."11; em Mark Twain: “A fonte secreta de humor em si não é alegria, mas a

tristeza. Não existe humor no céu”12; e em Nietzsche que disse que: “[...] os

humanos são os únicos animais a rir porque somente eles sofrem tão profundamente”13 .

Morreall (2009) anota dois temas existencialistas que se tornaram teorias do humor. O primeiro deles se refere ao fato de que a razão não é capaz de captar o mundo da vida:14

Dois temas existencialistas se tornaram teorias do humor. Um é a incapacidade da razão para capturar adequadamente o mundo da experiência vivida. Essa é a essência das análises de humor de Schopenhauer baseadas em uma discrepância entre conceitos e percepções. O prazer da diversão reside no triunfo da percepção sobre a concepção, em ver "aquela governanta estrita, incansável e problemática, a 11 No original: “Hell is the other”

12 No original: “The secret source of humor itself is not joy but sorrow. There is no humor in heaven” 13 No original: “[...] humans are the only animals that laugh because they alone suffer so deeply” 14 No original: "Two themes of existentialist have even become theories of humor. One is the inability of reason to adequately capture the world of lived experience. That's gist of Schopenhauer's analyses of humor as based on a discrepancy between concepts and perceptions. The pleasure of amusement lies in the triumph of perception over conception, in seeing 'that strict, untiring, troublesome governess, the reason,' fall flat on her face." (MORREALL, 2009, p.130)

razão" cair de cara no chão. (MORREALL, 2009, p.130)

E o segundo tema existencialista traz Bergson como referência, que preserva elementos da Teoria da Superioridade, assim chamadas as contribuições antes desenvolvidas por Platão, Aristóteles e Hobbes, como principais vultos:15

O outro tema existencialista que se tornou uma teoria do humor é a diferença categórica entre uma pessoa e uma coisa, e a inautenticidade de uma pessoa como uma coisa. Essa é a fórmula de Henri Bergson em Laugher: o que nós rimos é da inelasticidade mecânica, onde esperamos encontrar a flexibilidade viva de um ser humano. A função do riso de acordo com Bergson, é humilhar a pessoa inflexível em agir humanamente mais uma vez. (MORREALL, 2009, p.130)

Bevis (2013, p.34) referencia que, para Bergson, o verdadeiro sujeito cômico não possui a autoconsciência de sua comicidade, e isso é percebido por alguém que traz à tona essa característica que nele se repete como uma compulsão:16

De acordo com Bergson, a figura verdadeiramente cômica é uma espécie