• Nenhum resultado encontrado

2 OS MEANDROS DA PESQUISA: MÉTODO E METODOLOGIA

2.2 PESQUISA EMPÍRICA E COLETA DE DADOS

A coleta de dados, para Quivy e Campenhoudt (2005, p. 155), é uma etapa que considera "o conjunto das operações através das quais os conceitos e as hipóteses são submetidas aos testes dos fatos e confrontados com dados observáveis" (apud Bley, 2017). Com isso, tem-se a construção dos dados e das hipóteses e a análise dos dados para ser procedida.

Aqui resta definido o campo de análise e a seleção do universo de pesquisa, o instrumento técnico utilizado na coleta de dados e o uso do software IRAMUTEQ para se gerar os gráficos e dendográficos analisados. As entrevistas tiveram os seguintes eixos:

Caracterização da escolaridade e atuação profissional acadêmica dos docentes

Atitudes dos docentes diante de manifestações de humor em sala de aula Uso do humor enquanto recurso técnico-didático

Concepção de humor e de cidadania Objetivos ao educar

A coleta de dados se constituiu, portanto, das entrevistas realizadas com os docentes. Em seguida, foi feita a interpretação dos dados por meio da Análise Textual utilizando-se o software de plataforma livre desenvolvido por Pierre Ratinaud chamado IRAMUTEQ (MARCHAND & RATINAUD, 2012). O IRAMUTEQ tem seu funcionamento ancorado a outro software chamado R-Project, também de plataforma livre. A busca de validação quantitativa por meio do software estatístico designa a análise quantitativa do corpus.

2.2.1 Campo de análise e seleção do universo de pesquisa

O número de textos analisados pelo IRAMUTEQ no corpus foi 47, o que confere fidedignidade para o número de 6 docentes entrevistados, por se constituírem um grupo homogêneo para fins da pesquisa. Ghiglione e Matalon (1993) consideram que, em entrevistas, situação em que as falas constituem textos mais extensos, num grupo homogêneo, entre 20 e 30 textos são suficientes.

Como já se fez referência nesta tese, ao se falar de humor na escola, não se trata apenas do ensino superior, mas particularmente do ensino fundamental e médio. Porém, na perspectiva da busca de informações empíricas de como o humor é percebido na escola, optou-se por entrevistar seis pessoas, professoras e professores, também com experiências no ensino superior. Esta opção se deu em decorrência de três aspectos interconectados:

1. Entende-se que a prática do ensinar contém equivalências independentemente do nível do ensino. Assim, mesmo que neste estudo o foco primordial foi o do ensino fundamental e médio, busca-se simultaneamente um diálogo com profissionais do ensino superior;

2. Optou-se por escolher professores e professores para a entrevistas com experiências no ensino fundamental e médio, e também no ensino superior, na perspectiva de se abordar a questão de uma forma mais vasta possível;

3. Todos os educadores foram alunos de todos os níveis de ensino no Brasil. O relatório emitido no processamento de dados feito pelo software IRAMUTEQ considerou 47 textos constituídos pelas oito peguntas feitas para cada um dos seis entrevistados, dado o volume de material produzido nas gravações

transcritas.

A caracterização dos participantes se deu pelo critério de encontrar docentes que pudessem contribuir para o fornecimento de informações relevantes para a pesquisa. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz em suas competências 9 e 10 a importância da empatia, diálogo e da resolução de conflitos, bem como a flexibilidade e a resiliência. Fazem parte das ciências sociais as áreas que os educadores entrevistados lecionam atualmente no ensino superior. A escolha se deu também por se compreender que nas Ciências Sociais se fundam as competências que constam da BNCC mais relacionadas aos benefícios que o emprego do humor em sala de aula pode ter aplicação. No quadro seguinte, são apresentadas as competências gerais de empatia, cooperação, responsabilidade e cidadania:

Quadro 1 - Base Nacional Comum Curricular Competência

geral Texto

Empatia e cooperação

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Fonte: Quadro elaborado a partir da Resolução 2 do CNE/2017 (Brasil, 2017a) por Lamóglia e Boneti (2019).

Nas Ciências Humanas, a BNCC estabelece que fazem parte as disciplinas de Geografia e História, tendo sido escolhida uma educadora historiadora para ser entrevistada. As contribuições que poderiam ser úteis numa entrevista referente a cidadania, educação e humor justificam escolher docentes que possuem experiência em lecionar nos cursos de Direito, Pedagogia, Letras e Psicologia. E a escolha de Administração de Empresas por ser um curso amplo, que se compõe de uma formação ampla, que conta com conhecimentos de diversas áreas.

Trata-se, portanto, de um grupo de seis educadores com atuação na educação superior e na pós-graduação de áreas das Ciências Sociais, todos com mestrado ou doutorado, e pelo menos dez anos de prática enquanto educadores. Compreende-se que esses educadores pesquisados estão contribuindo para formar novos educadores, que vão se alocar em todos os níveis educacionais. Dessa forma, conforme o quadro a seguir, tem-se a seguinte caracterização dos participantes de pesquisa:

Responsabilidade e cidadania

Quadro 2 - Participantes de pesquisa

Caracterização Gênero Escolaridade

Experiência como educador (a) Atualmente lecionando em instituição Educadora da área de psicologia

Feminino Mestre 28 anos Privada

Educadora da área de pedagogia

Feminino Doutora 22 anos Privada

Educador da área de administração de empresas

Masculino Mestre 28 anos Privada

Educadora da área de história Feminino Mestre 15 anos Pública Educador da área de direito Masculino Mestre 12 anos Privada Educador da área de letras Masculino Doutor 32 anos Pública Fonte: Quadro elaborado por Lamóglia e Boneti (2019)

Definida a intenção de se buscar entrevistados docentes com experiência no ensino fundamental, médio e superior, tornou-se necessário levantar nomes de educadores para serem entrevistados. No mês de agosto de 2017 foram feitas entrevistas-piloto com educadores que fazem parte dos relacionamentos profissionais do pesquisador e, dessas entrevistas, surgiram indicações de educadores que poderiam contribuir significativamente para a pesquisa.

Para esta etapa foi empregado uma ferramenta de comunicação chamada "caixa de ícones", que consiste num recipiente que contém dezenas de tipos diferentes de objetos de variadas cores, tamanhos, formatos, texturas e materiais a serem escolhidos pelo participante, a partir de uma instrução verbal do pesquisador, para constituir uma montagem de objetos (chamados de ícones), e explicar a sua montagem. O recurso foi empregado com o embasamento do Método de Mapeamento Icônico (MMI). Segundo Ferreira e Lamóglia (2017, p.48), com o uso desse recurso, "os indivíduos ficam muito mais livres para expressar seus conteúdos internos quando se utilizam dos ícones porque estes são muito plásticos, aderem facilmente a diferentes significados subjetivos, permitindo muito mais as metáforas e a conotação".

As montagens icônicas feitas pelos participantes dessa etapa remeteram o diálogo a uma condição de leveza, tanto pelo aspecto lúdico envolvido, quanto pela atmosfera de informalidade que foi construída. A partir dessas entrevistas-piloto feitas com o emprego dos ícones e do MMI, foram sugeridos alguns nomes de entrevistados participantes da pesquisa, que foram escolhidos a partir de uma análise suas atuações profissionais conforme constam em seus curriculum lattes. Em seguida, foi feito o convite por telefone para participar dessa pesquisa tendo sido assegurado a todos o anonimato.

Dois educadores, ambos da área de letras, não formaram parte da entrevista pois não responderam às mensagens enviadas com o pedido de entrevista via facebook. Os demais foram contactados pelo telefone A abordagem teve a seguinte estrutura:

Olá, meu nome é Fernando, quem me deu o seu contato foi o professor Fulano. O motivo da minha ligação é que estou selecionando professores para uma entrevista pessoal gravada, que será feita com o anonimato assegurado para fins da tese que estou escrevendo na área de Educação, sob orientação do professor doutor Lindomar Boneti.

Quando aceito o convite, me desloquei fisicamente até o local designado pelos entrevistados e efetuei as entrevistas, em dias e lugares distintos, todos em Curitiba. Procedi a gravação, com a devida autorização para uso dos dados para fins acadêmicos e com o alerta da garantia do anonimato.

As entrevistas ocorreram ao longo do mês de setembro de 2018, sendo todas gravadas em gravador digital de voz e transcritas pelo pesquisador. Cada transcrição contou com cerca de duas horas para ser realizada.

2.2.2 Procedimento técnico da coleta de informações

As falas dos entrevistados foram gravadas em gravador digital e transcritas pelo autor. Em seguida, para se preservar o anonimato, procedeu-se uma codificação aleatória (1 a 6) dos entrevistados.

Bourdieu (1999) traz a sugestão ao entrevistador que não proceda uma mera transcrição mecânica daquilo que foi gravado, mas que registre os momentos de silêncio, gestos, risos e variações de tonalidade de voz dos entrevistados, pelo fato de que isso também traz informações que podem ser relevantes numa análise.

Tal consideração foi levada em conta. Assim, nos momentos em que se recorre a uma transcrição de parte da entrevista nessa tese e há algo significativo nesse sentido, é feita a menção.

2.2.3 Roteiro de entrevistas

A elaboração das perguntas obedece a critérios para se proporcionar uma integridade maior da coleta de dados. Vieira (2009) alerta que as perguntas devem ser formuladas com clareza e precisão, levar em conta o nível de informação do interrogado, não sugerir respostas e deve se referir a uma ideia de cada vez, além de que deve possibilitar uma única interpretação.

ao pesquisado, permitindo uma adaptação de características conforme as circunstâncias. Também permite o esclarecimento de pontos não compreendidos e traz mais elementos do que a aplicação de um questionário. Por meio dela foi obtido o corpus utilizado na análise textual.

Com esses pontos considerados, as entrevistas semi-estruturadas tiveram o seguinte roteiro:

1. Como você reage quando um aluno se expressa durante a sua aula por meio do humor?

2. Quando o humor em sala de aula não é bem-vindo?

3. O humor está presente de alguma forma nas suas aulas? De que maneira? 4. Quando que o humor em sala de aula pode contribuir para bons resultados didático-pedagógicos?

5. O que você entende por cidadania ?

6. O que você entende por humor? O que é humor para você? 7. Que relação você vê entre cidadania e humor?

8. Com que objetivo você educa?