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2 OS MEANDROS DA PESQUISA: MÉTODO E METODOLOGIA

2.1 MÉTODO DE PESQUISA

O método teórico, para Boneti (2015), corresponde a um procedimento técnico de coleta de informações relativas a um meio social. Trata-se de um olhar teórico do pesquisador referente ao real investigado a partir do qual são escolhidos os procedimentos técnicos relativos à coleta de dados.

Gamboa (2012, p.165) destaca que existem diversas abordagens de investigação, assim como variadas e até mesmo contraditórias concepções de homem. Isso reflete o questionamento de modelos tradicionais em que a visão de mundo do investigador fornece elementos peculiares que lhe permitem integrar "a lógica da pesquisa e relacionar os processos do conhecimento e os interesses que o orientam."

A questão do método envolve algo que transpassa a parte instrumental da pesquisa. Esta visão permite compreender os métodos num contexto menos técnico e mais epistemológico. A esse respeito:

Para entender os métodos utilizados na investigação científica, é necessário reconstruir os elementos que a determinam e as relações que estes têm com outras dimensões implícitas nos processos de produção do conhecimento, tais como as técnicas, os instrumentos de aquisição, organização e análise de dados e informações e as concepções epistemológicas e filosóficas nas quais se fundamentam os processos de investigação; dimensões estas que supõem uma articulação entre si, uma coerência interna e uma lógica própria, que, por estarem implícitas no processo da elaboração da pesquisa, precisam ser reveladas ou reconstituídas. (GAMBOA, 2012, p.70)

Os meandros da pesquisa foram se formando a cada nova aproximação do objeto cognoscível. O sujeito cognoscente se vê cada vez mais cercado de questionamentos que conduzem para onde seguir, de que maneira e como se certificar de que aquele caminho chegará a seu destino com maior probabilidade do que outros. Gamboa (2012, p.94) considera que "o método é considerado como a maneira de se relacionar o sujeito e o objeto". É o caminho que o sujeito percorre diante do objeto de pesquisa.

A probabilidade contribui para se notar a humildade epistemológica, uma compreensão de que a verdade absoluta está para a ciência assim como a certeza de quem somos é dada pelo autoconceito que formamos a cada momento de vida. Nenhuma verdade deve ser estabelecida definitivamente na epistemologia.

Ainda que se compreenda a dificuldade de se distanciar do objeto da pesquisa em muitas situações, o pesquisador deve manter suficiente distanciamento de modo a garantir níveis desejados e satisfatórios do rigor científico, dada a situação de que não existe neutralidade na pesquisa.

O universo de educadores é amplo e complexo. Para tanto, foram considerados docentes com experiência nos ensinos fundamental, médio e superior, por representarem uma continuidade dos estudos de mestrado referente ao público pesquisado. Além disso, justifica-se este estudo ter como participantes entrevistados educadores de cursos de graduação e pós-graduação por estarem em contato com os educadores em formação. Reconhece-se que muitas outras possibilidades de pesquisas junto de docentes e discentes de outros níveis de ensino poderiam ter sido feitas, mas para se proporcionar uma maior fidedignidade da pesquisa optou-se por essa delimitação dos participantes investigados.

Em diversos momentos desta pesquisa emergiram os desafios de se distanciar do apreço natural que tenho pela defesa do humor no ambiente escolar. Quiçá como resposta ao mundo de uma educação por mim experimentada enquanto aluno, que contou com diversos momentos de hostilidade pedagógica representada por algumas punições fundamentadas em atitudes irreverentes, cujos risos efêmeros se converteram em duradouras sanções disciplinares.

Estas memórias de uma expressão de humor no ambiente escolar que tenho precisam, a todo tempo, ser enquadradas para que não tornem o pesquisador um defensor de interesses travestido de uma pretensa e natimorta intenção neutra. O exame de qualificação foi suficientemente impactante para checar se em alguns momentos o desejo de defender o humor em sala de aula não contaminou o modo pelo qual me aproximei dos dados para interpretá-los.

Diante dessas considerações, a nível técnico-instrumental definiu-se uma entrevista semi-estruturada de seis participantes de pesquisa. A análise textual (AT) contou com o apoio do software estatístico R e do IRAMUTEQ. Camargo e Justo (2013) esclarecem que a análise textual se constitui num tipo específico de análise de dados que pode ser utilizada em entrevistas e análise de material verbal transcrito. Para tanto, emprega-se a análise textual.

A análise textual, também conhecida como mineração de texto, abrange um amplo campo de abordagens teóricas e métodos tendo o texto como informação de entrada. A AT utiliza grandes coleções em linha de texto que permitem a descoberta de novos fatos e de tendências a respeito do mundo em si.

Nascimento-Schulze e Camargo (2000) consideram que a AT é um tipo específico de análise de dados na qual tem-se um material verbal transcrito, que são os textos. Esta análise se mostra adequada para entrevistas, pois a partir dela é possível descrever um material de modo a possibilitar o estabelecimento de relações em função de variáveis específicas. Cada uma das respostas de cada participante das entrevistas é um texto e o conjunto dos textos é designado corpus de análise. As entrevistas estão compiladas no Anexo B e as suas transcrições foram feitas de

modo a possibilitar o processamento do software estatístico, com linhas de comando ou "linhas com asteriscos", que designam o número de cada participante e de cada pergunta correspondente. A partir do corpus, que é formado pelos textos, o software efetua um processamento desses dados para constituir os segmentos de texto. Estes dados textuais podem ser analisados de diversas maneiras, dentre elas, pela análise textual discursiva (ATD).

A ATD é utilizada para examinar processos de análise textual qualitativa, em que se verifica o ciclo unitarização, categorização e comunicação. Estes ciclos permitem uma reorganização que enseja novas compreensões dos dados (MORAES, 2003). Enquanto procedimento de pesquisa, Moraes e Galiazzi (2006) consideram que a análise textual discursiva permite reconstruir o entendimento de ciência, seus caminhos de produção, bem como o objeto de pesquisa e sua correspondente compreensão, além da competência de produção escrita e do pesquisador.

Para se proceder a análise textual, utiliza-se um software específico, o IRAMUTEQ, que considera os corpus textuais para produzir resultados, tais como: estatísticas textuais, análise de similitude de palavras no texto, nuvem de palavras, pesquisa de especificidades feitas por segmentação de texto, Classificação Hierárquica Descendente (CHD). Vale ressaltar que o uso desse recurso tecnológico não tem o condão de captar a subjetividade dos participantes da pesquisa.

Nas análises promovidas considera-se corpus como o conjunto de textos ou de segmentos analisados. Nesta pesquisa, o corpus corresponde às perguntas e respostas dos docentes entrevistados. Na verificação feita pelo autor, não foram encontrados estudos que envolvessem humor, educação e cidadania no Brasil com o enfoque da Análise Textual e da organização dos dados pela Classificação Hierárquica Descendente.