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Desde o início, a narrativa busca envolver o espectador na história, a partir da apresentação de situações cujo enfoque principal consiste em causar fortes emoções. Convida o espectador a se identificar com determinadas personagens e a participar dos acontecimentos como se partilhasse de seus destinos. O enredo é complexo e repleto de informações que desde o princípio serão determinantes para a compreensão da trama. A primeira cena se inicia a partir da apresentação dos planos ambiciosos do vilão contra inocentes vítimas, e é notório o quão inescrupuloso e ardiloso ele é.

Já no primeiro ato, De La Torre consegue prejudicar Fernando e sua família, matar Perdinari e ainda se tornar tutor de seu filho. Percebemos através deste breve resumo que se trata de um início bastante turbulento e, por isso, peculiar. Mesmo que seja comum aos melodramas principiarem de maneira tensa e conflituosa, esta peça mostra uma verticalização neste aspecto. O espectador é levado de um sobressalto a outro, que lhe impede de fazer uma análise crítica sobre a sucessão dos fatos. Para Huppes: “O melodrama, de sua parte, é generoso na composição. Acumula elementos plásticos e golpes de enredo, sem a preocupação demasiada em subordiná-los aos imperativos da lógica.” (2005: 128). Devido à rapidez e articulação dos acontecimentos, não há espaço para o questionamento das ações de De La Torre, o espectador é envolvido sentimentalmente por elas e torce para que seus planos fracassem.

No momento da entrada de Perdinari o público já imagina e espera o que virá, mas deseja assistir como se dará o assassinato e se algum fator o impedirá. A dramaticidade da cena cresce com o comentário do italiano sobre sua pretensão em recontratar Fernando, por ser um excelente funcionário, e justificar a demissão como uma punição provisória em relação à desobediência das normas da fábrica. A piedade no público aumentará ainda mais quando De La Torre comenta o boato, por

ele inventado, de que o empregado deseja matá-lo, porém o italiano não acredita que Fernando seja capaz de matar nem mesmo uma mosca.

Estas informações reacendem no público a esperança de que algum dado novo possa reverter as ações do vilão. Em seguida há uma mudança de enfoque do assassinato para um desentendimento cômico entre Velasco e o industrial. Antes de sua resolução, o vilão atira e mata Perdinari, surpreendendo o público quanto ao momento do tiro e a possibilidade de mudança da situação. Este é um procedimento comum dos melodramas: anunciar um importante acontecimento, porém antes de sua execução apresentar outras possibilidades que não chegarão a se concretizar, como a possível readmissão do funcionário. Além de incluir, nestes momentos de tensão, cenas cômicas que tirem o foco da problemática, criando sempre a importante oposição entre apreensão e relaxamento.

Para abarcar esta complexa narrativa, grandes espaços de tempo separam alguns atos: onze anos do primeiro para o segundo, e cinco meses do terceiro para o quarto. Os principais acontecimentos transcorridos entre estes períodos são narrados através da confidência10 entre duas personagens, visando contribuir para a compreensão da história. Antenor Pimenta, além de optar por este procedimento, e não pelo aparte11, escolhe um interlocutor que ouve a narrativa pela primeira vez. Este fator permite que ele esboce mais reações e se encontre na mesma posição do público, muitas vezes fazendo indagações semelhantes às imaginadas pelos espectadores. Como ocorre no segundo ato durante a conversa de abertura entre D. Santa e Marli, na qual a segunda realiza este papel.

Neste mesmo ato, Neli narra com detalhes um sonho que tivera com Alberto, no qual antecipa aspectos importantes da história. No sonho, os dois andavam por uma estrada cheia de flores que conduzia a um portão, o Reino da Felicidade, porém, de repente, uma tempestade os surpreendeu e separou. Ela então seguiu sozinha para o reino e somente adentrou o portão depois de reencontrar Alberto.

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Os apartes, monólogos e confidência são utilizados amplamente no melodrama, se referem a falas que visam completar o retrato das personagens principais e situações. A confidência necessariamente é dita para outra personagem – o confidente.

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Fala direcionada para o público, a qual as demais personagens não escutam. Tem a característica de romper com a ilusão teatral por revelar claramente a construção cênica.

Dessa forma, a história é preparada para o desfecho trágico que terá mais à frente, com a morte dos dois, que é indicado também através do nome da peça. Ao longo da encenação, entretanto, o espectador possivelmente esquecerá a possibilidade de morte do casal, pois estará envolvido na trama, torcendo pelo sucesso desta união.

Antecipar informações é uma característica do gênero melodramático que favorece a onisciência do público em relação à história. Entretanto, ao mesmo tempo que existe a preocupação em adiantar informações, o espectador é envolvido pela narrativa e a consciência da trama permanece em segundo plano. Esta, porém, serve para gerar expectativas e instigar um olhar atento até os últimos momentos da peça. Assim como o sonho de Neli, De La Torre, na abertura da maioria dos atos, apresenta seus planos, através de uma conversa com seus parceiros, e deixa o público ansioso para saber como se dará a execução destas ideias, e torcendo para o seu fracasso. Estes diálogos possibilitam a transmissão de muitas informações que dinamizam a história e a tornam mais complexa, quando comparada à maioria das narrativas do circo-teatro brasileiro.

O principal aspecto da trama, que mais instigará os espectadores a acompanharem motivados e atentos, são os impedimentos que o casal principal sofrerá para ficar junto. Este tipo de situação é muito comum nos melodramas, folhetins, novelas de televisão, porém devemos ressaltar que nesta peça há uma importante diferença:

As questões de família: crianças perdidas e reencontradas, heranças, duelos, ciúmes, casamentos, matrimônios desiguais faziam parte, desde muito, da temática do melodrama. Com a ascensão de novos estratos sociais o diálogo castelo-choupana vem para o centro da cena. Os direitos de precedência e os preconceitos familiares e sociais são estudados sob a forma de quadros de costumes pintados com bastante justeza. (THOMASSEAU, 2005: 103)

O trecho acima se refere a uma fase do melodrama na qual é classificado por Thomasseau como de Costumes e Naturalista, em meados do século XIX. Neste momento, o gênero desenvolve e apresenta histórias com diferenças sociais em diálogo. Existiram textos que preconizaram a reconciliação entre as classes sociais, porém o mais comum era sublinharem o contraste entre os ambientes e as pessoas. Percebemos algumas semelhanças do melodrama tradicional francês com o circo- teatro brasileiro, explicitado, nesta peça, através do fato de os amamentes se

gostarem e quererem se unir, independentemente de sua diferença social. O castelo, casa de Alberto e De La Torre, e a choupana, casa de Neli e D. Santa, entram em cena, revelando ambientes sociais com particularidades distintas. Entretanto é justamente a diferença social que trará a desgraça ao casal, pois De La Torre quer casar Alberto com uma moça rica para que sua fortuna possa aumentar e não consente que case com uma pobre, ainda mais se tratando de Neli. O contraste social costuma aparecer com frequência nos temas de histórias melodramáticas circenses, no cinema e em algumas peças teatrais, inclusive em todas as peças estudadas por esta pesquisa.

Dessa forma, esta história dialoga com um público formado por diferentes classes sociais frequentadores do circo no começo e meados do século XX. Este tipo de espetáculo, desde seu surgimento, com os saltimbancos, até os apresentados em ambientes fechados, agrega distintos públicos e busca agradar a todos eles de alguma forma. O melodrama terá ampla aceitação no espetáculo circense por partilhar deste princípio, uma vez que “prenuncia a arte que se declara como artifício. A arte que é matéria construída por um homem com o objetivo de produzir determinadas reações em outros homens – os consumidores – a quem deseja agradar.” (HUPPES, 2000: 30). Huppes também comenta sobre a responsabilidade do autor em dosar os elementos que provocam sofrimento e aqueles que geram risadas, e assim conseguir agradar e atrair ainda mais os espectadores, tal como era feito com a catarse grega desde a antiguidade.

Nesse sentido, percebemos que a construção da heroína apresenta uma clara intenção de cativar a plateia, pois o autor equilibra aspectos opostos de sua personalidade com as situações por ela vividas. Antenor opta por torná-la mais carismática e atraente para o público, uma vez que, diante dos acontecimentos da narrativa, poderíamos esperar uma moça sofredora e angustiada. Ao contrário, ela se demonstra bem-humorada, simpática e afetuosa, uma heroína alegre e positiva. Estes aspectos, junto com o fato de ela ser independente e ativa, a distanciam da heroína convencional, apresentada pela maioria dos enredos, e permitem observar uma maior singularidade na personagem. Ela nos surpreende quando, no quarto ato, revela o impulso de se matar e em seguida ameaça o vilão com uma arma. Geralmente este tipo tem a característica marcante de consentir, embora amargurada, com a situação em que se encontra e não agir em oposição. Mesmo

que Neli não realize nenhuma destas ações, incabíveis neste gênero, ela cogita estas possibilidades e por isso se distancia das convenções mais esperadas do gênero.

Dona Santa também apresenta características que nos surpreende e cativa. É a personagem representativa da dramaticidade da peça, diante dos infortúnios vividos, apesar de muitas vezes demonstrar um otimismo reconfortante. Revela um grande anseio pela felicidade de sua família, o que parece estar em oposição às sucessivas desilusões e à realidade imposta através das ações do vilão. Podíamos, neste caso, encontrar uma personagem amargurada e pessimista, entretanto suas falas revelam uma forte emotividade que, juntamente com a fragilidade de sua figura, emocionará o público. Até mesmo no momento em que ela tira a venda, no último ato, e enxerga a neta no caixão, diz uma longa fala muito dramática e ao mesmo tempo esperançosa, reação esta que surpreende o público. É a única personagem que demonstra um sentimento mais leve diante da morte da neta, pois diz que Deus a chamara para acabar com seu sofrimento. Dessa forma, apresenta os valores religiosos da época, que confortam, como a apoteose seguinte, a reação atônita decorrente da tragédia.

A apoteose concilia os corações aflitos dos espectadores por acompanharem e torcerem pela união do casal e se verem frente a uma tragédia irreconciliável. Então virá a apoteose, apaziguadora e reconfortante: Neli, vestida de noiva, desce uma escada de nuvens para buscar o amado, então os dois sobem lentamente para o céu. Com isso os aspectos religiosos e morais eram reforçados e estavam em diálogo com a população brasileira de meados do século XX.

O final trágico das histórias melodramáticas é bastante comum e causa um maior impacto nos espectadores, comentado por Huppes (2000: 38) por ser mais eficaz em garantir fortes emoções. Os espectadores saem do teatro refletindo em qual ponto a história poderia ter sido revertida e, portanto, esse tipo de final gera mais comentários e desdobramentos. Esta narrativa garantia sobremaneira este aspecto, tamanha é a dramaticidade do desfecho.O final é trágico, através da morte dos amantes decorrida dos impedimentos familiares para a sua união. Duas famílias inimigas por conta da morte de Perdinari, no primeiro ato, cujos filhos se amam e pretendem, mesmo com todos os problemas, ficar juntos.

Esta trama nos lembra a história de Romeu e Julieta de William Shakespeare, tanto no que se refere à problemática principal quanto ao seu desfecho. Talvez por isso que ...E o Céu Uniu Dois Corações se tornou um texto representado através de gerações, sendo ainda encenado nos dias atuais dentro dos circos-teatros brasileiros. A peça, por não abordar um fato histórico datado, atravessa os costumes e épocas, dialogando com o inconsciente coletivo do amor proibido e preterido pelas opostas famílias. Um amor individual que ignora as barreiras sociais, representado através de conflitos e oposições familiares.

3.3 –Personagens

De La Torre, segundo a análise de Daniele Pimenta (2005: 153), é classificado como um cínico absoluto, por ser o principal motivador das ações do espetáculo e suscitar a maioria dos acontecimentos relevantes para a trama, apesar de a história não ser contada de sua perspectiva. O vilão é a personagem que pratica o mal em proveito próprio, sem medir as consequências negativas para os outros. De La Torre, em especial, apresenta ações muito cruéis e planos sórdidos que dependem sempre da submissão e apoio de seus parceiros Francisco, avô e neto. A motivação de suas ações será a ambição de riqueza, em detrimento alheio, sem que para isso tenha que trabalhar e fazer qualquer esforço.

O cínico se refere a uma nomenclatura utilizada pelos circenses para denominar o vilão, interpretado pelo ator que, de acordo com os tipos apresentados no capítulo O Circo Nerino e o teatro melodramático, mais se adequasse ao efeito pretendido pela trama. Dependendo da idade da personagem, das características apresentadas pelo dramaturgo e sua importância no enredo, seria destinado a um intérprete correspondente a estes atributos. No caso desta peça provavelmente seria destinado ao centro da companhia, por ser uma personagem complexa e importante. O ator central costuma ser experiente na arte da representação, apresenta uma idade um pouco mais avançada, ambas qualidades condizentes com esta trama. No geral, um bom cínico conquista a rejeição da plateia, ainda mais se tratando de De La Torre, único responsável pelas inúmeras desgraças sofridas pelo casal. Na

montagem do Circo Nerino, quem o interpretou foi Heros Arruda, ator experiente e ensaiador de algumas peças da trupe.

Francisco avô e neto são os comparsas de De La Torre, sem os quais não conseguiria colocar em prática suas vilanias. Trabalham com ele em momentos diferentes da história e têm grande importância dramatúrgica. Desempenham a função de interlocutor das confissões e planos, responsáveis por deixar o público ciente e apreensivo pelo andamento do enredo. Também realizam a importante função de ajudar De La Torre na execução de seus intentos. Entretanto não apresentam características que os particularizem, nem suas falas demonstram forte personalidade.

O fato de existirem duas gerações, avô e neto, tem um importante fundamento dramatúrgico. Na situação em que De La Torre adultera a carta de Neli, ele precisa justificar a falsa traição da moça com um jovem rapaz, no caso Francisco Neto, seu atual comparsa. O avô aparece somente no primeiro ato, e escreve a carta de confissão, que será responsável por solucionar parte da trama.

O herói da peça é conhecido por defender o mais fraco e agir em contraponto com o vilão. Assim podemos compreender as ações de Alberto, as quais geralmente estão em oposição às de De La Torre. Filho de um rico industrial, Perdinari, que fora criado, sem saber, pelo assassino de seu pai. É apaixonado por Neli, filha de Fernando, homem culpado e preso pela morte do italiano. Não tem o perfil típico do herói absoluto, responsável por movimentar a trama, uma vez que a história apresenta um vilão preponderante.

As ações de Alberto, principalmente no começo do espetáculo, são submetidas às de De La Torre, devido ao próprio contexto conflituoso em que está inserido: um jovem criado pelo seu principal inimigo e amante de Neli. Ganha a empatia do público mais à frente ao mostrar-se, em oposição às artimanhas de De La Torre, comouma personagem mais ativa que combaterá suas perversas ações, principalmente depois da viagem a Portugal. Sua trajetória é de amadurecimento e suas ações visam restaurar a justiça, através das cartas e provas, portanto sua conduta não é motivada pela vingança.

Alberto seria representado pelo galã do elenco, o qual deveria ser jovem. Segundo o catálogo de tipos de Otávio Rangel, deve apresentar uma “beleza consensual” a todos. Se isto não fosse possível, poderia apresentar uma simpatia

irradiante, ser carismático ou sedutor. Na obra de Rangel existem oito subtipos de galã e Alberto se enquadra no galã amoroso, o qual se expressa em nome do amor e suas ações dependem da amada. A característica fundamental deste sentimento é a de ser guiado pelo bom senso, respeito e desprovido de sensualidade. O galã do Circo Nerino geralmente era interpretado por Roger Avanzi, filho de Nerino, quem representou Alberto nesta montagem.

O par amoroso de Alberto é Neli, a heroína da peça, destinada a sofrer nas mãos do vilão até ser salva pelo herói. Daniele Pimenta destaca o diferencial e o traço marcante desta personagem:

(...) bem humorada e simpática, afetuosa, mas prática, diferente da heroína sofredora que se poderia esperar depois das situações por ela vividas. Essa construção faz com que a empatia do público pela personagem se confirme. (PIMENTA, 2005: 162)

Destoa um pouco da heroína convencional, sofredora e conformada, também pela sua coragem na maneira de enfrentar as situações adversas e pertencer a uma outra classe social, o que possibilita mostrar o ambiente e as relações dos menos favorecidos economicamente. Como ela está apaixonada apresenta um otimismo e alegria reconfortantes para o espectador, responsável por gerar a identificação com a plateia. Além de apresentar a possibilidade da relação e conciliação, ao menos no imaginário das pessoas, entre as duas classes sociais, desde que seja por sentimentos amorosos.

A heroína seria interpretada pela ingênua da companhia, que se tratava de uma atriz jovem, entre os 15 e 20 anos, podendo estar em fase de amadurecimento profissional. As qualidades que a intérprete deveria apresentar, para facilitar a identificação com o público, é a delicadeza, beleza, serenidade, elegância, discrição e sua voz deveria ser límpida e suave. É uma figura que está sempre presente nos melodramas. A ingênua do Circo Nerino nesta peça foi Tereza Avanzi Silva uma jovem atriz, muito bonita e simpática.

A avó de Neli, mãe de Fernando, é a personagens que carrega a maior carga dramática na peça, em contraponto com a heroína bem-humorada e simpática. Sua condição reflete isso, por ser cega devido ao acidente de automóvel que matara sua nora e arruinara sua família. D. Santa é responsável pela empatia do público.

Seu anseio pela felicidade da família em contraste com as sucessivas desilusões, a força da emotividade de suas falas em contraste com a fragilidade de sua figura, tudo isso emociona o público e se constitui em um desafio para as atrizes que a representam. (PIMENTA, 2005: 159)

A cegueira acentua a fragilidade e contribui para a concretização de algumas situações dramáticas, como a conversa dos amantes no segundo ato. Nesta situação, permanece em seu quarto com Marli enquanto sua neta conversa tranquilamente com Alberto, na sala de sua casa. É um desafio para as atrizes que a interpretarão, porque seus sentimentos e falas são contrastantes, alternando fraqueza e força constantemente. Devido a esta dificuldade, a atriz da companhia destinada a este papel seria a dama central. Geralmente são intérpretes mais maduras, e este seria o último papel destinado a elas. Interpretam personagens que normalmente exigem muita sensibilidade e conhecimento cênico, e D. Santa é um excelente exemplo. No Circo Nerino era interpretada por Armandine Ribolá Avanzi: atriz mais madura e dona da companhia junto com seu marido, Nerino Avanzi.

Em contraposição a ela, Juca, o cômico da peça, moleque responsável por criar momentos agradáveis de descontração. Apresenta-se como uma personagem muito carismática, principalmente por se vincular ao núcleo do bem e ser amigo de Neli. A comicidade desta personagem ocorre através de sua dificuldade em falar e se expressar naturalmente e também por apresentar uma ingenuidade somada a uma tolice que o particularizam. A partir da leitura das peças circenses deste período, em especial as melodramáticas, é possível reconhecer que os momentos cômicos são criados a partir da fala e comunicação das personagens, como por exemplo, a gagueira de Juca e a surdez de Velasco. Esta é a maneira mais aparente de comicidade revelada pelos textos, principalmente por ser o instrumento que o autor tem para criar e expressar estes momentos de descontração necessários ao gênero melodramático.

Sua simplicidade e ingenuidade são seu grande trunfo. Age despretensiosamente, interfere e modifica a história, mas sempre com leveza e simpatia. Juca, assim como a maioria das personagens cômicas dos melodramas,